Jun Lin decidiu que era hora de explorar a casa do lenhador. Apesar de seu tamanho modesto, cada canto estava repleto de mistérios e histórias. O cheiro de madeira envelhecida misturava-se ao aroma de ervas secas, evocando memórias de sua vida anterior. Enquanto se movia, o rangido do piso sob suas patas pequenas ecoava em seus ouvidos, lembrando-o de que não era mais humano.
Ao atravessar a sala principal, a luz filtrava-se pelas janelas empoeiradas, criando sombras dançantes que faziam o coração de Jun Lin acelerar. Ele se dirigiu a um depósito no fundo da casa; a porta rangia ao ser aberta. O espaço era escuro e apertado, repleto de ferramentas enferrujadas e caixas cobertas de poeira, cada objeto parecendo sussurrar histórias esquecidas.
De repente, um barulho inesperado o fez parar. Um gato grande e desgrenhado pulou de uma prateleira, segurando uma garrafa de rum em suas patas. Jun Lin ficou paralisado e confuso, os olhos arregalados ao perceber que o gato estava falando.
"Olha só, um rato aventureiro," disse o gato com uma voz rouca, acomodando-se de forma relaxada.
"O que faz aqui? Perdido ou à caça de tesouros?"
Jun Lin sentiu o coração disparar, perguntando-se como era possível que um gato pudesse falar, sem conseguir articular uma resposta. O gato, percebendo a hesitação, riu e continuou:
"Com essa cara de quem viu um fantasma, você parece mais perdido do que um rato numa loja de gatos! E falar coisas sem sentido consigo mesmo? Não me diga que você é um esquizofrênico!"
A zombaria do gato atingiu Jun Lin como um golpe. O medo tomou conta dele e, em um ataque de pânico, ele se encolheu, a respiração acelerada. Jun Lin se perguntava como o gato podia ouvi-lo, já que ratos possuem uma voz muito baixa. O gato, então, aproximou-se com um sorriso ameaçador.
"Pequeno rato, gostaria de entrar de bom grado em minha boca?"
A simples menção fez Jun Lin estremecer. O coração disparou em seu peito, e ele sentiu uma onda de pavor invadindo seu corpo. Mal conseguia pensar; suas patas tremiam, e uma sensação de desespero o dominava.
O gato, ao notar a expressão aterrorizada de Jun Lin, começou a gargalhar, suas risadas ecoando pela sala enquanto lágrimas escorriam de seus olhos.
"Você... você é hilário!" ele exclamou entre as gargalhadas. "Nunca vi um rato tão apavorado! Isso é ouro puro!"
Após o período de gargalhadas, o gato finalmente adotou um tom sério.
"Sabe, eu também vim de outro mundo," disse, olhando fixamente nos olhos de Jun Lin.
A menção fez o coração do rato bater mais rápido, sua mente girando com perguntas. Uma onda de emoções invadiu Jun Lin: confusão, alívio e um medo ainda maior do que antes.
"Eu venho de um planeta que já não lembro o nome, localizado na galáxia de Messier 87," continuou o gato, com sua expressão grave. "Era um lugar onde eu vivia como um bêbado, tentando esquecer o passado. Morri pelas mãos dos terráqueos, uma raça humanoide que veio da Via Láctea. Eles não tinham ideia do que estavam fazendo; me mataram por diversão, como se eu fosse apenas um brinquedo quebrado. Agora, estou preso aqui, em um corpo de gato, sem entender por quê."
O tom do gato se suavizou um pouco, mas seu olhar permanecia firme.
"Eles pensaram que eram superiores, mas não entenderam a dor que causaram. Agora, estou aqui, tentando encontrar meu caminho de volta."
Antes que Jun Lin pudesse responder, ele sentiu uma onda de aflição. Com a voz trêmula, perguntou:
"Que ano era? Tanto no seu planeta quanto na Terra?"
O gato franziu a testa, um brilho de curiosidade nos olhos.
"Ano? Você realmente acha que isso importa em um lugar como este? O tempo é apenas uma ilusão."
Jun Lin respondeu com raiva:
"Importa sim! Eu preciso saber!"
O gato o observou por um momento antes de responder com leve incerteza.
"Bem, meu planeta tem apenas cerca de 4 mil anos de idade. E quanto à Terra… acho que, de acordo com o calendário gregoriano, é algo em torno de 6 trilhões. Eu... acho."
Nesse momento, Jun Lin ficou em silêncio, a magnitude das informações pesando sobre ele. Com um profundo suspiro, murmurou:
"Eu vivi no planeta Terra. O ano em que morri era 2027 do calendário gregoriano. Eu... peço perdão a você por meus descendentes terem te matado de forma tão cruel."
As palavras saíram com uma sinceridade que ele não havia esperado, e a expressão do gato se suavizou por um breve instante.