Um Deus e 300 homens

Passamos duas horas discutindo um plano para prosseguir.

Separamos 3 forças. Melvor com 200 homens, Evalyn (A soldada com rosto de ferro que acompanhava Melvor onde quer que ia) com 540 homens e eu acompanhado de 300 mal treinados.

O plano: "desviar os Gorgons da vila".

Sart fica escondida entre 2 montanhas e rodeadas por florestas. As bestas não devem sabem que Sart se quer existe. Aconteceu dela estar no caminho da investida dessas criaturas e Melvor ter descoberto antecipadamente. Apesar do que foi dito, que eles são atraídos pelo poder que carrego. O atributo "Poder" se quer é relevante estando em "1".

Melvor também não mencionou esse fato e parece que nem lembrara de quando comentou isso. Enfim, eu continuava com poucas hipóteses sobre o porquê de "Mental" ter aumentado, só sei que meu raciocínio voava quando estávamos planejando nosso posicionamento nisso tudo. Talvez ele tivesse sido estimulado pela carga de adrenalina que foi ver aquelas tropas vindo com tudo em nossa direção. Mas, nada certo. 

A realidade é que essa é uma tentativa desesperada. 22 mil bestas sedentas contra pouco mais de mil homens era ridículo. Também só me foi dado um papel de liderança, pois Melvor era surpreendentemente capaz quando se tratava de convencer os outros.

Houndrick não me olhou com bons olhos depois de eu lhe repreender e dizer pra enfiar na bunda a sua espada. Mas, acreditou no que seu colega dizia. Para confiar em quem descobriu a catástrofe antes dela acontecer.

Melvor me apresentou de forma estranha para os que iriam me acompanhar na infantaria. Mas, usou sua autoridade e a do Chefe de Sart para soltar algumas meias mentiras sobre mim que para olhos de leigos pouco alfabetizados, que era o que pareciam, me fizeram parecer quase um general de guerra. "Alguém que como eu nunca vi em batalha", ou algo como "Corre em suas veias o sangue de heróis". Eu não precisei dizer uma única frase e todos foram estranhamente convencidos que eu era mais do que capaz para a tarefa. Mais ainda que as pessoas que conviveram a vida toda e os próprios familiares.

Primeiro, todos que residiam e em Sart e não podiam lutar estavam a caminho das montanhas acompanhados de mais 200 homens, fechando o total de pessoas disponíveis para lutar.

Segundo, não era possível montar barricadas, cavar ou qualquer outra estratégia que demande tempo, pois isso nós não temos. Então iriamos nos bastar nas armadilhas misteriosas de Melvor. Ele garantiu que faria um show interessante.

- Chefe! - um dos homens que me acompanhavam me chamou.

Todos estavam visivelmente pálidos e a moral estava baixa, ou melhor, inexistente.

- Diga.

- Onde eles estão?

O nome desse rapaz era Edric, pedi que ficasse na linha de comando depois de mim junto de outro chamado Uri. Nenhum era um guerreiro, mas eles tinham um porte maior que os outros e trabalhavam como lenhadores, por isso tinham machados e eu sabia a força que se precisa ter para derrubar árvores com essas ferramentas. Os dois iriam se concentrar em cem homens cada e eu falaria mais alto para todos.

- Vamos escutar as armadilhas quando chegarem.

Li poucas coisas sobre guerras, cercos e infantarias. Mas, criar líderes que seu pessoal confiava e conhecia era substancial para que tudo não se desfaça quando o caos se disseminar. E, as pessoas precisam entender o plano para não acharem que só estavam indo até a morte certa.

- Estamos na retaguarda, Edric. Iremos nos juntar a Evalyn quando começar.

Nosso papel era identificar para que lado os Gorgons iriam se direcionar quando Melvor usasse o que estava guardando. Para onde a maioria fosse, o resto iria acompanhar, como uma marcha de formigas irracionais. Só que agora elas são duas vezes o tamanho de um homem e tem mais de vinte mil delas.

Se a maioria fosse para a esquerda, direção da montanha onde estavam todos de Sart, iriamos nos juntar a Melvor e chamar a atenção destes do lado oposto. Se fossem para a direita, correríamos para Evalyn que estava fazendo frente a montanha com a maioria de nossas forças e mataríamos os que se perdessem da maioria. A segunda opção era de longe a melhor.

Haviam muitas coisas que estavam fora de ordem nesse plano. E se eles se dissipassem? Se eles não fossem para nenhum lado em específico, mas se espalhassem pela floresta. Todos que estavam fora da montanha defendida seriam aniquilados pelos números. Se eles seguirem reto, iriam ter visão ampla das pessoas na montanha a esquerda e todos iriam morrer da mesma forma.

O exército estava próximo, eu conseguia sentir a pressão e a marcha impiedosa das bestas. Meu sangue fervia e o temor dos que estavam comigo era estranho para mim, pois eu estava curiosamente animado. Me vi sorrir de canto. Algo empolgante estava acontecendo com minha vida agora. Pessoas dependiam de minhas ações e a minha própria vida estava em risco. Que favor você pediu para mim, Melvor. É um baita de um favor que vou cobrar depois.

Eu segurava uma espada de ferro com firmeza. Os outros se viravam com lanças artesanais de madeira ou bastões. Os cavalos foram usados nas carroças pelo povo para seguirem o mais rápido possível, por isso nem os soldados treinados estavam montados. Outra função nossa era aguentar até que as mulheres e crianças chegassem na montanha.

- Senhor, algo está acontecendo...

Uma explosão interrompeu a frase de Uri e todos entraram em estado de alerta. As árvores tremeram e os pássaros voaram depressa. 

Era chegada a hora. 

Pouco tempo passou. Olhei para o céu e vi fumaça vermelha. Era o sinal.

Os Gorgons foram pro lado errado.

- Homens! - eu me virei para eles e vi medo. Até Uri e Edric estavam paralisados.

- Nós temos um dever a cumprir! Não é por nós. É pelos amigos de cada um, pelas mulheres que lhes esperam em casa e que rezam aos Deuses que matemos cada um das bestas que estão vindo para voltarmos para casa.

eles não gritaram animados, mas cada um pôs a arma em prontidão e ergueu a cabeça. Ninguém iria fazer isso por eles, a não ser eles mesmos. Eu me virei para olhar o foco de todo o caos iminente e cerrei o punho.

- Vamos correr, nosso mago precisa de ajuda.