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Despedida Silenciosa

A noite avançava silenciosamente, trazendo consigo uma brisa leve que fazia as folhas das árvores sussurrarem segredos antigos. João e Clara ainda saboreavam a vitória recente no videogame, quando o toque agudo do telefone interrompeu o momento.Clara, um pouco surpresa pela ligação a essa hora, pegou o telefone e atendeu. A voz de sua mãe soava estranha, carregada de urgência e preocupação.— Clara, querida, precisamos que você volte para casa agora — disse a mãe, a voz trêmula.

— Mas, mãe, estou na casa do João. Não posso voltar depois? — Clara respondeu, tentando entender a pressa repentina.— Não, Clara. É sério. Seu pai... — houve uma pausa dolorosa — Ele faliu. Estamos arruinados e precisamos sair do país imediatamente. Se não formos agora, ele pode ser preso.Clara sentiu o chão sumir sob seus pés. Tudo parecia girar em torno dela, mas a necessidade de agir rapidamente a fez focar. Ela desligou o telefone e olhou para João, que a observava com uma mistura de curiosidade e preocupação.

— O que houve, Clara? — perguntou ele, tentando decifrar a expressão no rosto da amiga.Ela abriu a boca para responder, mas as palavras não saíram. Como poderia explicar algo tão repentino e devastador? Em um impulso, Clara deu um passo para trás, pegou sua mochila e, sem conseguir olhar João nos olhos, murmurou:— Eu... eu tenho que ir. Desculpa, João. Eu... — sua voz falhou, e ela saiu correndo, deixando para trás um João perplexo e preocupado.O caminho até sua casa parecia mais longo naquela noite. Cada passo era pesado, e as lágrimas que ela tentava conter começavam a rolar silenciosamente por suas bochechas. Ao chegar em casa, encontrou sua mãe arrumando malas freneticamente, e seu pai sentado na mesa da cozinha, com o rosto nas mãos, exalando uma tristeza profunda.

— Vamos, querida. Temos que ir agora — disse a mãe, tentando manter a calma.Clara, sentindo-se tomada pelo medo de perder João e de deixar sua vida para trás, se rebelou contra a decisão de ir embora. Em um momento de desespero e raiva, seu pai, descontrolado, lhe deu um tapa. O impacto físico foi menor do que o choque emocional. Ele imediatamente começou a chorar, pedindo desculpas.— Desculpa, Clara. Eu... eu tenho medo de ser preso. Eu não queria fazer isso... — disse ele, soluçando.Helena, a mãe de Clara, começou a chorar ao ver o estado do marido e a situação desesperadora em que se encontravam. Ela lamentou em voz alta:— Ricardo, como você se deixou enganar pelo filho do sócio? Ele sempre foi um sem caráter, e agora trouxe a nossa falência.Ricardo começou a gritar em desespero, a voz carregada de frustração e arrependimento. Clara, tentando acalmar o pai, se aproximou e colocou a mão no ombro dele.— Pai, por favor, vamos nos acalmar. Vamos passar por isso juntos — ela disse, com lágrimas nos olhos.

A visão de seu pai chorando, quebrado e vulnerável, só aumentou a sensação de desamparo de Clara. Ela percebeu que não havia escolha. Em questão de horas, ela se viu dentro de um carro, afastando-se do bairro onde crescera, do amigo que nunca teve a chance de se despedir, e de uma vida que, até aquela noite, parecia segura e estável.Enquanto o carro se afastava, ela olhou pela janela, as luzes da cidade ficando cada vez mais distantes. No coração de Clara, uma sensação de perda e incerteza se instalava, mas também uma promessa silenciosa: ela encontraria uma forma de reencontrar João um dia. Afinal, a amizade deles era forte o suficiente para sobreviver a qualquer distância.No entanto, para João, o amanhecer seguinte trouxe apenas uma ausência dolorosa e muitas perguntas sem respostas. O que teria acontecido com Clara? E, mais importante, quando a veria novamente? O quarto que antes estava cheio de risos e celebrações agora parecia estranhamente vazio e silencioso, refletindo a nova realidade que ambos teriam que enfrentar.