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06. Desculpa, ok?

(Passado)

Agnes Velazco me beijou novamente naquela noite, na festa. Lógico que eu gostei, apesar de ser atrás de uma árvore e não ser nada idealizado, talvez eu tivesse esperando magia demais nas coisas, quanta baboseira. Eu pensava em Agnes muitas vezes ao dia, acho que não mais que o saudável e recomendável, acho...

Estava ansiosa para a quermesse de Ação de Graças, Agnes e eu teríamos um encontro, ela quem chamou disso em um dia qualquer na nossa aula de Física. Todos os anos nessa quermesse havia a competição de tortas, minha mãe sempre ganhava desde que mudamos para Tifton e todo ano ela entrava em confusões com as outras participantes. Minha mãe era boa no que fazia, não tinha como negar, por mais que eu nem gostasse muito de tortas e minha aversão por elas triplicasse com o tempo por culpa da mãe de Agnes e da minha própria mãe.

Assim que cheguei já me distanciei da minha família, Anya tinha voltado de Nova Iorque apenas para passar alguns dias com a família e Hope estava agarrada em meus pais, por ainda ser uma criança. Fui para barraca de cachorro quente o mais rápido possível, dando de cara com Agnes, ela segurava o que era o final de seu sorvete em uma mão e na outra estava em sua perna, onde batia os dedos repetidas vezes. Agnes me viu de longe e rapidamente levantou do banco que estava. Quando cheguei mais perto ela disse 'oi' e logo me abraçou, ela era tão fofa e carinhosa.

— Oi. — Respondi com vergonha, ainda era estranho que as pessoas me abraçassem sem que eu pedisse, mas Agnes não me incomodava tanto nesse aspecto. — Gostei da sua roupa, está linda.

É, eu não sabia o que falar. Então procurei por algo que pudesse elogiar, eu poderia elogiar tudo nela, Agnes é perfeita. Mas elogiar a roupa dela me pareceu mais apropriado, apesar de genérico para o momento.

— Obrigada, você está mais fofa usando esse vestido. — Agnes encostou seus dedos em uma das pregas do meu vestido florido, balançando em uma brincadeira. — Eu diria que você é garota mais bonita daqui, mas não quero parecer presunçosa.

Meu rosto estava quase num tom de vermelho vivo demais, de tanta vergonha, ao mesmo passo que estava com vontade beijar Agnes por me encher de elogios.

— Você quer me matar de vergonha? — Questionei Agnes e ela riu negando. — Você está bem perto de conseguir. — Ela me ofereceu sorvete com um gesto apenas e eu prontamente neguei, fazendo com que ela apenas olhasse envolta e procurasse uma lixeira.

— Eu não quero te envergonhar, estou apenas falando a verdade. — Agnes agarra minha mão, nós andamos até uma lixeira e ela joga o sorvete lá. — Eu queria poder te beijar em um desses brinquedos, mas não acho seria algo bem aceito e não quero que nós passemos por isso aqui, só quero aproveitar com você, ok?

— Sim, ok. — Respondi rapidamente entendendo o ponto dela. — Ainda temos que nos submeter em coisas desse tipo, é uma pena...

Agnes concorda e então me puxa para algum lugar, era em uma dessas casas cheias de monstros que as pessoas vão para levar sustos. O irmão de Agnes trabalhava lá, ele era um zumbi se não me engano. A Velazco pagou nossas entradas e depois procurou por seu irmão que abriu uma porta 'secreta' para nós, não era grande coisa aquela sala cheia de teias de aranhas falsas e fantasminhas de plástico. Mas era melhor ali do que beijar alguém escondido em um banheiro, mesmo que fosse beijar Agnes, ainda era um local nojento.

******

Agnes e eu passamos quase uma hora dentro daquele cômodo, até que o irmão dela bater na porta e gritar: 'vai começar a competição em 10 minutos!'

— Camila, nós vamos ter que para isso por hoje. — Agnes nesse ponto estava sentada no meu colo e minhas mãos em seu quadril e bunda. Concordei com ela lhe lançando um sorriso, criei coragem para me inclinar e deixar um beijo em seu pescoço, demorando mais do que o previsto ali. — Camila... É parar...

— Ok. — Resmunguei e ela levantou do meu colo, buscando sua jaqueta jeans ao lado do sofá que estávamos. Agnes logo vestiu sua jaqueta e eu ajeitei meu vestido, nada mais fora do lugar depois de ajeitar o cabelo e então partimos para fora daquele 'lugar secreto'.

— Garota bonita, Ag! — o irmão de Agnes pisca e ergue os polegares, Agnes revira os olhos para o irmão.

— Sim, ela é bonita... Bonita demais para você, Jose.

Agnes rebateu e seu irmão resmungou um: eu nem estava querendo ela mesmo. Agnes e eu saímos de mãos dadas da casa mal assombrada, indo para a competição que eu já desconfiava ser de tortas.

— Ele sabe... Hmm, de você? De nós...

— Sim, minha família sabe. — Agnes explica sem parecer problema para ela. — Mamãe fica um pouco preocupada por conta de as pessoas serem intolerantes, mas ela me aceita também, apesar de ser a mais resistente sobre minha sexualidade.

— Você é tão bem resolvida. — Elogiei Agnes e tentei dar seguimento na conversa. — Uh, queri...

Tentei. Mas não consegui.

— A VIGÉSIMA TERCEIRA EDIÇÃO DO CONCURSO DE TORTAS DE TIFTON, GEÓRGIA, COMEÇA AGORA SENHORA E SENHORES!

O apresentador do concurso gritou tão alto no microfone que eu até dei um pulinho de susto, Agnes olhou para os lados assustada e largou minha mão para colocar sobre o próprio peito.

— Caramba, que louco!

— É sua primeira vez realmente. — Impliquei com Agnes. Apesar de todos os anos eu acompanhar minha família nessa competição, nunca me acostumei com o quão louco o apresentador da competição pode ser, além de exagerado na animação.

— Ele me assustou muito. — Agnes riu e me olhou, ela fazia meu coração acelerar com pouco e meu estômago dar cambalhotas, só de simplesmente me olhar.

O narrador deu seguimento no concurso, a mãe de Agnes estava participando e o narrador destacou por vezes que Clara Velazco era uma forte candidata e que Consuelo Oleja, minha mãe, era a vencedora das últimas edições. Eu via a troca de olhares no palco, obviamente minha mãe estava irritada com Clara, e eu só queria que nada entre elas acontecesse, por mais que no fundo eu soubesse que ia dar alguma merda naquela competição.

Agnes estava ficando desconfortável ao meu lado por conta das nossas mães, ao que parece sua mãe não era mansa também. É... A confusão estava formada.

Em algum momento nossas mães começaram uma discussão e era quase uma briga física quando Agnes me olhou e se aproximou para sussurrar:

— Vou ficar com a minha família, nos vemos na escola?

— Sim, nos vemos lá... — Agnes me abraçou por alguns segundos, deixando um beijo no meu rosto e se afastando. Agarrei a mão dela e a encarei, eu sabia que quando chegasse em casa os Velazco virariam nossos inimigos, assim como as últimas três famílias em que as matriarcas competiram com minha mãe no concurso de melhor torta de Tifton. — Desculpa, ok?

Acho que Agnes entendeu quando se afastou, ainda me olhando, que aquilo era o fim do que quer que fosse o que nós tínhamos naquela época.