A Companhia, Parte 2

Assim que todos estavam sentados, a mulher na ponta da mesa se levantou e ajeitou a blusa.

"Bem-vindos, Senhoras e Senhores. Creio que aqui não são necessárias apresentações, então vamos direto ao assunto." A mulher disse com uma voz confiante.

"Nesta reunião, discutiremos os últimos desenvolvimentos sobre Nova Éden e o que precisa ser feito para assegurar ainda mais o nosso sucesso com o título." Ela acrescentou.

Em seguida, ela usou um pequeno controle remoto para escurecer as luzes na sala de reunião. Ao mesmo tempo, algumas persianas desceram sobre as grandes janelas, bloqueando a maior parte da luz.

Com outro toque em seu controle, um projetor desceu do teto e zumbiu até ligar. Um gráfico então foi projetado na parede atrás da mulher.

No gráfico, via-se uma linha subindo e descendo enquanto viajava da esquerda para a direita. À esquerda do gráfico estava escrito 'Popularidade', e sob o gráfico podiam-se ver datas.

Do começo ao meio do gráfico a linha ziguezagueava para cima e para baixo, mas do meio para o final ela apenas subia.

Todos os presentes sorriam ao ver o gráfico. Para a maioria deles, isso significava mais dinheiro no bolso.

A mulher ao lado do gráfico permitiu que todos olhassem por mais alguns segundos antes de clicar no controle novamente.

O gráfico que estava presente se encolheu e então se alongou. A palavra previsões apareceu acima dele também.

Este gráfico era muito menos lisonjeiro. Onde a linha originalmente parava, ela subia um pouco mais e depois caía.

Ele oscilava para cima e para baixo algumas vezes, sempre indo mais para baixo. Os investidores e acionistas começaram a franzir a testa ao ver.

"O que é essa farsa, presidente Constantine?" Um homem idoso com uma voz de barítono disse.

Dan reconheceu o homem idoso. Ele era um poderoso e rico magnata da terra.

O homem possuía metade da cidade se você acreditasse nas palavras da rua. Seu nome era Jack Boudreau.

Era um tronco de homem como se tivesse treinado a vida inteira. O homem era um ex-militar e tinha usado sua pensão para lançar seu império imobiliário.

Podia se dizer olhando para ele que era do exército. Seus ombros eram quadrados, suas costas retas, e uma aura de autoridade emanava dele.

Ele também tinha um grande talho na bochecha direita, aparentemente de ter levado um tiro.

"Isso não é uma farsa, Sr. Boudreau. Estas são as projeções para as próximas semanas." A presidente respondeu, mantendo a expressão neutra.

"Você está ciente dos eventos recentes acontecendo com o nosso título?" Ela então perguntou.

"Nos ilumine, presidente." Jack disse, se apoiando na mesa e juntando as mãos.

A mulher sorriu e clicou no controle novamente. Na parede atrás dela, a imagem mudou para um artigo.

A imagem do artigo era de um homem no pronto-socorro, entubado e em coma. O título era 'Nova-Éden, um jogo ou um perigo para nossos filhos?'.

Então ela clicou mais algumas vezes, mostrando muitos artigos semelhantes com fotos diferentes de jovens adultos no hospital, com diferentes graus de doença.

"Há muitos casos como estes sendo relatados. Crianças entram em nosso jogo e esquecem que não é a vida real. Elas esquecem de sair do jogo por extensos períodos, provocando saídas de emergência e chamadas." A mulher disse, antes de colocar o controle sobre a mesa.

"Isso está se tornando cada vez mais problemático para nossas avaliações. Pais e familiares estão nos pedindo para restringir o tempo de jogo. Outros pedem compensação por seus filhos ou irmãos terminarem no hospital." Ela continuou, cruzando os braços nas costas.

Os homens mais velhos ao redor da mesa começaram a conversar entre si, todos ao mesmo tempo. A sala tornou-se uma bagunça de vozes.

A mulher não deixou virar caos por muito tempo e eventualmente bateu palmas.

"Senhores! Por favor, mostrem algum autocontrole. A EG já tem uma solução." Ela disse, sua voz não aceitando réplicas.

Depois de deixar os homens se acalmarem, ela assentiu ligeiramente e continuou falando.

"É por isso que hoje há um rosto menos conhecido entre nós." A mulher declarou.

Dan sabia a quem ela se referia e seu sangue esfriou no rosto. Ela então imediatamente apontou para ele.

"Este homem lá, é Dan Bergeron, nosso Gerente de Segurança Tecnológica. Ele é quem garante que nossos produtos não matem ninguém." presidente Constantine o apresentou.

Dan se levantou da cadeira, branco como um giz. Fez uma leve reverência e sentou-se de novo.

"Ele está aqui hoje para anunciar algo bom." Ela continuou depois que ele se sentou.

"Estou?" Dan perguntou, confuso.

"Oh, não seja modesto, Dan. Diga-lhes como você finalmente tornou a cápsula segura para uso." A mulher disse, olhando para ele.

No momento, Dan sentiu que estava sendo observado por um predador. Ele engoliu em seco.

Infelizmente, ele não conseguiu falar, pois detestava mentir, e ele também não queria ir contra sua chefe.

Dan manteve a boca fechada. Vendo isso, Constantine deu uma risadinha.

"Desculpem sua timidez, acredito que ele nunca esteve no centro das atenções. O que ele está aqui para anunciar é que os técnicos finalmente garantiram o uso da nossa ferramenta principal para Nova Éden." Ela anunciou.

"A cápsula finalmente passou por todos os testes para distribuição, o que impedirá que essa tendência continue. Os clientes mais assíduos agora poderão permanecer mais tempo no jogo, sem afetar negativamente sua saúde." Ela disse, andando.

"Com essa tecnologia liberada, nossa má imprensa desaparecerá instantaneamente, fazendo com que voltemos a subir no apreço de nossos clientes." Ela continuou, ainda andando ao redor da mesa.

"Vamos também precificar a cápsula em diferentes faixas para diferentes modelos, garantindo que cobrimos a maioria das faixas de riqueza." Ela concluiu, voltando à frente após um círculo completo.

Os homens e mulheres na sala aplaudiram. A maioria voltou a ficar feliz.

Dan manteve a cabeça baixa o tempo todo. Ele estava dividido entre interromper as mentiras dela e manter seu emprego.

Eventualmente ele esperou pelo fim da reunião antes de expor suas preocupações à presidente.

A reunião durou mais uma hora antes de os homens eventualmente saírem um após o outro.

Dan permaneceu sentado até que todos tivessem ido embora. A presidente Constantine tinha visto, por isso ela também ficou com sua assistente.

Uma vez que todos foram embora, ela caminhou até ele e sentou-se ao seu lado, de pernas cruzadas.

"O que há de errado, Sr. Bergeron?" A mulher perguntou, sorrindo gentilmente.

"Senhora, se me permite. O produto ainda não está pronto. Ainda temos semanas de testes antes de termos certeza de que é seguro." Dan eventualmente disse, reunindo sua coragem.

A mulher ao lado dele nunca parou de sorrir.

"Oh, mas Dan, seu supervisor me garantiu que estava seguro. Você está dizendo que ele está errado?" Ela disse, quase zombando.

"Não senhora, o produto é teoricamente seguro. Mas ainda temos muitos problemas menores que precisam ser resolvidos. A segurança ainda não está cem por cento." Ele respondeu, cerrando os punhos.

"Não se preocupe com esses detalhes, Dan. Ainda podemos fazer correções rápidas no programa após o lançamento, então não há nada com que se preocupar." Ela disse, apoiando sua mão na mesa, que estava apoiada no cotovelo.

"Mas senhora..." Dan tentou insistir.

"Não se preocupe. Nós temos a situação sob controle. Você deveria ir para casa. Tire o dia de folga, pago, é claro. Vá descansar." A mulher disse, sorrindo calorosamente.

"... Está bem..." Dan disse, desistindo.

O homem se levantou, com os ombros caídos, e deixou a sala de reunião. Caminhou em direção ao elevador e desceu, indo para casa.

Assim que as portas do elevador se fecharam, o sorriso desapareceu do rosto de Constantine.

"Livre-se dele. Faça parecer limpo." Ela disse, levantando-se e pegando um elevador privativo para sua cobertura.

Ela era dona do prédio, então sua casa era nele, para reduzir a viagem.

Sua assistente assentiu silenciosamente antes de sair da sala separadamente.

Neste dia, Dan Bergeron nunca chegou em casa. Ele perdeu o controle do seu carro perto do São Lourenço e mergulhou nele, se afogando antes que o resgate chegasse ao local.