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CAPÍTULO 19 - PARA SEMPRE UM LÍDER

Acordando de forma desesperada, Uzur juntou em sua mente tudo que havia sentido e ouvido em seu último lapso de consciência.

Aquela dor que ele sentia se repetiu, porém dessa vez não havia um motivo para dor física, tudo estava sendo causado por sua própria mente desesperada.

– "O que está acontecendo?!" – Uzur teve uma forte crise de pânico, tentando se desprender de onde estava.

Diferente da última lembrança que tinha de quando estava deitado em uma cama dura, dessa vez, ele estava preso no teto por uma corda que prendia seus dois braços juntos.

Por mais de ter seu corpo tremendo, ele respirou fundo e se acalmou de toda a dor que imaginava sentir. Aquele desespero que consumia sua mente era real, além de relembrar com clareza sobre tudo que tinha ouvido a pouco.

– "Sonhos?" – Retomando pouco a pouco os seus pensamentos calmos, Uzur formulou em voz sua informação crucial, porém não pôde manter seu pensamento.

– "Sim, aquilo eram lembranças que foram vistas como sonhos."

Uma voz familiar para Uzur entrou naquela sala fria onde ele estava amarrado. Apenas de ouvir aquela voz, ele já havia o reconhecido, se enfurecendo no mesmo instante.

– "Alon, você me manteve vivo?"

– "Sinceramente me impressiona que ainda se lembre da minha voz."

– "Como eu poderia esquecer, fazem poucas horas desde que tivemos nossa luta." – Uzur comentou de forma firme, porém logo teve seu semblante consumido pelo olhar do homem à sua frente.

O rosto de Alon demonstrava uma grande dúvida, principalmente por conta dos fatos evidentes que podiam ser vistos por Uzur, porém que ele ainda não tinha notado.

– "Você não se lembra mesmo? Ah, isso é ótimo. Você já está aqui há anos." – Alon disse, enquanto puxava a pele de seu rosto, a qual estava menos firme e mais mole, evidenciando sua própria velhice.

Ao ver a cena de Alon, Uzur se viu em completo choque. Seu corpo que já estava tenso, agora se cobriu do mais ardente fogo, o qual queimava todo seu corpo e o causava dor e sofrimento.

Sua mente havia se quebrado como uma porcelana ao cair no chão de uma grande altura. Era impossível que ele não se lembrasse de nada mesmo com o passar dos anos.

– "Eu… eu não acredito que seja realmente isso." – Uzur hesitou em crer naquilo que era sua realidade.

– "Não me vejo em culpa por te fazer passar por todos esses anos assim, porém confesso ser a culpa de sua falta de memórias." – Alon olhou para a palma de sua própria mão, retomando novamente sua fala – "Se bem que não acho que eu seja uma pessoa má por te fazer esquecer de seu sofrimento."

Alon se gabava para si mesmo por ser poderoso, cruel e empático ao mesmo tempo, ao menos, ele se auto-intitulava dessa forma.

Por outro lado, Uzur não podia crer realmente naquilo que ouviu ou presenciou, porém tinha que aceitar antes que sua mente se quebrasse por completo.

Tomando finalmente a realidade que vivia, Uzur percebeu algo após olhar ao seu redor.

– "Onde está o Oji?" – Uzur chamou a atenção de Alon, que perdeu sua paciência.

– "Ele está morto, porém cansei de explicar novamente e novamente aquilo que você sempre terá dificuldade em acreditar. Já que me foi confirmado que o remédio funciona, está na hora de você relembrar tudo isso."

Alon usou de seu tom mais rude, retirando a corda de Uzur e o levando nos braços.

Apenas a uma distância mínima do corpo do homem, Uzur pôde notar sua velhice, o que também o fez perceber a sua própria. O tempo havia passado, porém para ele, não pareciam mais do que horas de uma noite de sonhos.

– "Para onde você vai me levar?" – Uzur disse enquanto se debateu nos ombros de Alon

– "Testaremos a possibilidade de você se lembrar de tudo que viveu, assim como testamos a de esquecer."

Alon o bateu contra a parede, o fazendo desmaiar e manter naquele ambiente um grande silêncio.

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Uzur finalmente acordou de seu desmaio. Ao levantar a cabeça, percebeu estar novamente na mesma cama de uma de suas lembranças.

Diferente daquela vez, sua mente estava totalmente alinhada para a realidade e seus sentidos o permitiam se mover e falar.

Por mais de conseguir se mover por vontade própria, era impedido por cordas que amarravam suas mãos e pés nas laterais da cama.

– "O que está acontecendo?" – Uzur perguntou para a figura dona da sombra que estava ao seu lado.

– "Ah, você acordou." – Uma voz nova respondeu.

Se colocando no campo de visão do velho senhor Uzur, o jovem enfermeiro de rosto pálido e olhos fortemente azulados se mostrou totalmente vestido de um jaleco branco.

– "Quem é você?"

– "Eu sou um dos pesquisadores daqui, isso é tudo que você precisa saber sobre mim."

Reparando no resto de seu campo de visão da sala, Uzur não viu a figura de Alon.

– "Onde ele está?"

– "Está falando do senhor Alon?"

– "Sim, onde ele está?" – Uzur mudou seu tom de voz, enchendo de emoção sua fala.

– "Ele está resolvendo coisas importantes com alguém que não devia estar aqui."

Deixando o assunto de lado, o garoto vestido de branco se vestiu de uma máscara, terminando ali a conversa entre eles.

Estendendo a mão para a barriga de Uzur, o jovem garoto o fez sentir uma forte dor e sensação repentina de enjoo.

Naquele momento, Uzur se lembrava de tudo que havia vivido nos últimos anos em que esteve preso naquele local.

– "O que é isso?" – Uzur disse, com os olhos cheios de lágrimas.

– "Funcionou como eu esperava."

Logo, Uzur teve sua consciência tomada por uma sequência de memórias desconexas, as quais não passaram de forma lenta, mas sim de forma rápida.

Suas memórias iam desde o momento em que foi preso até o momento em que perdeu sua memória. Suas primeiras lembranças eram sobre sua captura, onde foi levado junto a Oji para a sala fria, onde foi usado como uma cobaia para testes.

Entre os testes dos quais se lembrou com clareza, viu armas brancas e armas do cristal da defesa que eram usadas em seu corpo para que houvesse o teste de força.

Após diversos testes repetidos de armas, foi necessário que Uzur e Oji fossem levados para a sala de medicina para que fossem cuidados por remédios. Nesse momento, a memória de Uzur se fez viva em sua mente. Era como se ele voltasse a viver aquele momento de forma lenta.

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– "Isso é realmente uma merda." – Oji reclamou enquanto estava deitado sobre a mesa branca que estava no centro da sala coberta por luzes fortes.

– "Já estamos aqui há pelo menos Seis anos, porém ainda somos mantidos vivos como cobaias para testes." – Uzur expressou sua tristeza enquanto olhava fixamente para o teto branco a sua frente.

Os dois estavam presos em mesas uma ao lado da outra. A aparência deles era assustadora, eles estavam com seus rostos totalmente desfigurados e seus corpos carregavam cortes que evidenciam até mesmo sua carne viva.

Por mais de todo o sofrimento que estava em seus corpos, eles não pareciam se deixar levar por toda a dor que sentiam.

– "Me impressiona que ainda esteja tão firme, Oji." – Uzur sorriu de forma leve, tentando amenizar o momento ruim que passavam juntos.

– "Eu também estou surpreso com isso, mas sei que não vou durar tanto quanto eu queria." – Oji respondeu enquanto olhava fixamente para o teto branco que estava reto para sua visão.

O clima entre eles era maravilhoso por mais de tudo ao redor, porém era impossível que tudo fosse simplesmente ignorado por Oji, que sentia perder mais e mais suas forças de se manter vivo.

– "Não é hora de dizer coisas assim, Oji." – Uzur chamou sua atenção, o fazendo parar de olhar fixamente para o teto.

– "Infelizmente essa é a grande verdade, estamos em um teste de medicações, se isso der errado apenas o corpo preparado vai sobreviver." – Oji olhou para Uzur de canto de olho.

– "Então se isso der errado nós vamos morrer juntos."

– "Não, você vai ficar vivo."

Oji Mizu estendeu uma de suas mãos em direção de Uzur, algo que o surpreendeu imediatamente, mas que não gerou nenhuma reação para que não se levantasse suspeita.

Aproveitando do provável erro em deixar um dos braços dele livre, Oji entregou algo para Uzur, colocando diretamente em seu bolso. Aquilo que ele estava entregando era o símbolo de liderança que tinha recebido anos atrás.

– "Fuja, aproveite esse momento para isso." – Uzur disse para Oji em voz baixa, porém não foi ouvido por seu amigo.

– "São nossas ações que nos definem." – Oji se deixou novamente de forma reta na mesa.

Se aproximando deles, um dos médicos os examinou minuciosamente.

– "O da direita." – O médico disse para seu ajudante.

Imediatamente, Uzur foi retirado da sala, deixando que apenas Oji ficasse lá.

– "Porque estão me tirando, ele é o cara da direita." – Uzur tentou resistir, porém não tinha forças para isso.

– "Exatamente por isso, ele será o primeiro teste." – O ajudante respondeu, levando Uzur dali em seus braços.

Oji que estava ficando para trás, não teve nenhuma reação de fuga ou resistência, sendo preso com ainda mais cordas pelo homem que iria realizar os testes.

– "Uzur, você sempre será o líder, porém agradeço por sua confiança e pela oportunidade que você me entregou." – Oji se despediu de Uzur, antes que ele fosse totalmente retirado da sala.

Sem tempo de responder seu amigo, Uzur foi levado de volta para a sala fria, onde esperou por seu amigo enquanto estava amarrado junto ao teto.

Os dias se passaram de forma rápida, porém as semanas e meses se viravam sem que Oji voltasse. Apenas os médicos entravam na sala fria para alimentar Uzur a cada três dias. Durante os outros, apenas havia solidão.

Com o passar dos dias, finalmente aquela data em que se despediu de seu amigo completou 1 ano, sendo coroado pela presença de Alon, a quem Uzur não via desde aquele mesmo dia.

– "Me desculpe por tanto tempo longe. Eu estava terminando de fazer a vacina que vai te curar de tudo o que está presente no seu corpo." – Alon disse sorrindo, porém não foi respondido da mesma forma por Uzur.

Com o semblante fechado e sem esboçar uma fala, Uzur se manteve quieto e calado.

– "Está tudo bem, eu entendo sua frustração em perder seu amigo, porém garanto que dessa vez você não será vítima dos nossos erros."

Levando Uzur de volta para a sala onde tudo tinha ocorrido da última vez, Alon o amarrou na mesma mesa na qual Oji tinha morrido vítima da reação à vacina que lhe foi testada a 1 ano atrás.

Amarrado na mesa prestes a ser testado mais uma vez, Uzur se manteve calado e expressando sua forte tristeza em forma de vazio. Seu rosto não tinha expressão e seus olhos estavam vazios e fundos. Seus pensamentos se faziam totalmente falhos e seus dedos tremiam de forma involuntária.

Aquilo não era medo, era raiva e tristeza. Para ele, morrer naquele momento se tornaria um alívio ainda maior que sobreviver a mais um teste.

– "Vamos lá então." – Alon disse, enquanto aplicava a vacina no corpo de Uzur por seu braço.

Logo, Uzur teve seu corpo totalmente tomado por um grande fogo, que, como mágica, o curou de todos os seus ferimentos, desde o mais fundo deles, até o mais superficial em sua pele.

Toda a sua dor foi levada, porém lhe restaram todas as marcas, tanto físicas, quanto mentais. Seu corpo estava desacostumado a ser testado daquela forma devido a todo o tempo em que passou sem ser usado como cobaia.

– "Deu tudo certo, eu sou o melhor desse país." – Alon se vangloriou, se afastando de Uzur enquanto levantava suas mãos para apontar a si mesmo.

Se aproximando novamente de Uzur, Alon o retirou da mesa e o levou nos ombros para a sala fria.

Aquelas foram as últimas lembranças calmas dele, que voltou a ter suas lembranças aceleradas em sua mente. Era como se sua consciência retornasse aos dias atuais que vivia, porém ainda era bombardeado pelas informações que faltava se lembrar.

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Suas lembranças rápidas voltaram a ser apenas sobre repetidos testes que foram feitos em seu corpo durante os anos desde a morte de Oji, até os dias atuais. Tudo aquilo que passava de forma rápida em sua mente parecia ter um enorme peso, porém diferente de sua memória mais lenta, não tinham um valor sentimental tão forte. Isso explicava o porquê ter se lembrado de forma lenta apenas daquele que foi seu amigo até o dia de sua morte.

Os anos após a morte de seu amigo foram longos e repetitivos, sendo alvo de testes de armas e de remédios, os quais o curavam para que pudesse tornar-se vítima das armas novamente. Isso se estendeu até que se tornasse velho, onde foi submetido ao teste de um remédio para apagar toda a memória, o qual o levou para sua situação atual.

– "Argh!" – Vomitando no chão ao lado da cama onde estava, Uzur retomou sua noção de realidade.

– "Que bom, isso também foi um sucesso." – Alon disse, se mostrando na sala pela primeira e última vez antes de acertar Uzur com um forte chute, o fazendo desmaiar no mesmo instante.

O colocando em seu ombro, Alon que tinha chegado ali a pouco, o levou para a sala fria.

Chegando à sala, Alon prendeu Uzur ao lado de Mizu, que já estava amarrado lá. Provavelmente aquele intruso citado pelo médico para Uzur se tratasse de Mizu.

Deixando os dois juntos amarrados, Alon se retirou dali para se encontrar com a presença que sentiu entrar no prédio de pesquisas.