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CAPÍTULO 4

Bia já imaginava que não teria uma noite fácil. Ao se deitar, percebeu que seu marido se demorava no banho.

Durante vinte anos de casamento, aquele sempre fora o primeiro sinal de que naquela noite haveria sexo. A desculpa secular da dor de cabeça, naquela noite tão verdadeira, não iria funcionar.

E ele saiu do banheiro, limpo e cheiroso,vindo em sua direção vestido apenas com uma toalha que retirou para mostrar o corpo bonito. Allan sempre fora um homem vaidoso e preservava a boa forma física, mesmo aos quarenta e oito

Aproximou-se de Bia e começou a beija-la. Tão diferente de Nika! O cheiro, o beijo, o contato.

Desceu sua boca pelos seios de Bia e nessa hora, por todos esses anos, ela se lembrou do seu pai desgraçado.

Em seguida, ela se sentiu penetrada. Com o pensamento longe e a cabeça doendo, contorceu-se e gemeu alto, fingindo prazer, para que aquilo terminasse logo.

A tática pareceu surtir o efeito desejado, pois Allan movimentou-se rapidamente, chegando ao orgasmo em poucos minutos. Levantou-se e foi para o banheiro, deixando Bia na cama, esperando a vez de ir para o banho.

Ela foi para o banheiro se sentindo suja. Por seu pai, por se submeter ao sexo que não gostava, pela traição à bondade do marido.

Sabia que o restante da noite seria para os pensamentos.

Satisfeito, Allan dormia... E os indesejáveis pensamentos chegaram tão rapidamente...

Talvez se o bom doutor Celso conhecesse o inconsciente de Bia, entendesse melhor o seu olhar triste...

Aos dez anos, depois de ter sido estuprada por seu pai, não restara muita alternativa para Bia ser feliz.

A notícia do estupro se espalhara sob a máscara de que havia sido alguém do bairro. E cada um queria saber quem tinha sido o sortudo que "inaugurara a ninfeta".

Bia estava com onze anos e virara alvo da molecada do colégio. Era necessário que passasse por terrenos baldios antes de chegar em casa.

E no entardecer de uma das suas voltas para casa, o inevitável aconteceu.

Bia se viu rodeada por seis moleques entre doze e dezessete anos. Eles impediram sua passagem por todos os lados.

E segurando-a pelos cabelos e braços, rasgaram suas roupas, caindo como cães famintos sobre ela.

Foram horas de sofrimento, onde cada um deles se revezava entre boca, vagina e ânus...

Bia sentiu que morreria se aquilo continuasse. E como uma benção, a luz de farois iluminou a cena, fazendo com que a molecada corresse.

A menina estava nua e suja, com seios mordidos e vagina dilacerada.

Novamente ao hospital por estupro... Parecia que ia se tornar fato constante na vida de Bia.

Então, o pior aconteceu... O falso moralismo renasceu nos pais e Bia foi jogada na rua. A mãe levou umas poucas roupas para ela em uma sacola de supermercado e disse que ela jamais voltasse em sua casa.

E Bia foi encaminhada a um abrigo de menores.

No horário de visitas, o rapaz que a socorreu foi procura-la no hospital e não mais a encontrou.

Ao ficar sabendo da verdade,conseguiu localizar Bia e começou a mover céus e terra para retira-la de lá. Mas precisava ir ao Juizado de Menores. E lá, os pais não queriam que Bia saisse do abrigo.

Sem suportar tanta opressão, já preparada para viver na rua, num abrigo ou com qualquer outro estranho, Bia desabafou todos os segredos que guardara... Contou sobre o estupro por parte de seu pai, sobre a cumplicidade de sua mãe.

O pai de Bia foi preso e ficou determinado que nem ele nem Ana poderiam se aproximar de sua filha.

E naquele mesmo dia, Bia foi levada pelos pais de Allan, o homem que a salvara e que na época, com vinte e três anos, era um jovem advogado em início de carreira.

Para qualquer garota, seria um conto das mil e uma noites, um príncipe a resgatar a Gata Borralheira.

Dia a dia, ela se dedicou a ajudar nos trabalhos domésticos. Queria agradecer o lar que lhe foi dado.

Voltou a estudar e nunca se envolveu com nenhum garoto.