webnovel

II - David Allans, O Príncipe Do Inverno?

Assim como 'Herói', 'Príncipe Dos Feericos' também era um título que pode e deve ser passado para a próxima geração, afinal, ser o príncipe dos feéricos era um passo importante para a sucessão do trono de Arbor e um príncipe sempre se tornava um rei.

Um príncipe não podia permanecer um príncipe para sempre.

A família real O'Niell era a única que simplesmente não tinha um prazo de vida entre os humanos e feéricos, poderiam ser eternos… se não fosse da realeza.

A coroa pesava muito mais do que deveria, acidentes aconteciam o tempo todo e a coroa de Arbor passava para o herdeiro quando o rei anterior falecia. As vezes, não era necessário a morte. O velho Rei se tornou um espírito e portanto não poderia governar, então seu filho tomou seu lugar. Assim como o garoto a sua frente, cujo o pai fora sentenciado ao mesmo destino que o 'Herói', — condenado a uma maldição que separava sua alma do corpo, — portanto o Príncipe já deveria ter se tornado um monarca, mas as coisas parecem um pouco mais complicados para o garoto do que, de fato, eram na época do velho Rei.

Ser imortal não era tão fascinante quando sua posição já mantinha uma espada em sua garganta o tempo todo.

Toda essa pressão nas crianças da realeza de Arbor, geralmente tornava a personalidade delas mais… reclusas?

O fato é: os Príncipe Dos Feéricos sempre foram forçados a serem emocionalmente controlados. Alguém com tantos segredos, tinha como parte de seu treinamento evitar terem suas mentes controladas ou invadidas.

— Não vim aqui procurar confusão, Vossa Majestade.

Mas ainda parecia irritado, as habilidades de alguém não eram algo a ser divulgado casualmente, mas o Rei sabia ler emoções. Ele não sabia ao certo quando conseguiu esse dom, mas aconteceu.

E mesmo que o príncipe subitamente aparentasse parecer calmo, alguma coisa no apelido anterior pelo qual foi chamado apertou os botões certos para tirá-lo do sério.

Só para o caso de não ser uma coincidência, o Rei resolveu tentar novamente.

— Não estou muito convencido disso, pequeno príncipe.

Ali estava novamente, uma fúria borbulhante a caminho. O Rei meneou a cabeça e cruzou os braços, desapontamento puro refletindo em seus olhos, ele não conseguia entender como um O'Niell poderia ser um fracasso em esconder as emoções numa possível luta. Que terrível!

— Sei que sabe a localização de cada artefato sagrado escondido nessa caverna. Há algo que procuro. Se me disser onde está, juro que jamais colocarei os pés na Caverna Sagrada novamente.

— Não acho que você seja digno de algo desta velha caverna, nada aqui lhe agradaria.

— Se fosse para mim, eu teria que concordar. Felizmente, para quem vai recebê-lo é necessário.

Surpreendendo novamente, o Príncipe parecia melancólico por um instante e o Rei arqueou uma sobrancelha, se sentido curioso contra sua vontade.

— Porque acha que vou acreditar em você? Ainda não me provou que não é um usuário de magia negra. — Murmurou o Rei, pela breve conversa que tiveram, acreditava que veria outra explosão de raiva. Novamente, ser acusado de usar magia negra era um grande insulto, podendo levar até a masmorra em alguns casos.

Porém, de alguma forma, o pequeno príncipe respondeu de maneira diferente, parecendo convicto.

— Bem, Vossa Alteza. Se esse é o caso, como posso provar minha inocência?

O Rei deu um sorriso sarcástico.

— Não pode estar falando sério.

— Posso garantir que sim.

— Dois minutos atrás parecia pensar diferente.

O príncipe deu de ombros, os olhos atentos e brilhantes, algo que não ocorreu desde que ele pisou naquela sala. Qualquer idiota podia chegar na mesma conclusão: o garoto tinha um plano.

— Somente me ocorreu que podemos resolver esse mal entendido de uma vez por todas ao invés de perder tempo. Por sorte, tenho a prova perfeita para apresentar.

Oficialmente: o atual Príncipe Dos Feéricos era de dar dó. Só os céus sabiam como aquela criança obteve aquele título.

— A menos que traga o próprio Osian aqui, não acho que seria tão fácil assim.

O Rei tinha razão, era incrívelmente complicado descobrir se alguém usava magia negra ou provar sua inocência. Apenas uma besta lendária, Osian, — um leão com chifres de cervo, — era capaz de detectar a natureza da magia em alguém. Isso porque Osian conseguia ler a verdadeira essência da alma, ao menos é o que diziam as lendas.

O príncipe novamente deu de ombros.

— Algo assim…

O Rei virou suas costas para o garoto, deixando claro que não desejava mais continuar a conversa.

— Vá para a casa, pequeno príncipe. Se for esperto o suficiente não irá aparecer aqui novamente.

O Rei continuou ali, até ouvir passos recuando e porta ser aberta. Por um impulso que o velho não sabia muito bem como entender, ele parou o garoto quando a porta foi aberta.

— Antes de partir, me diga seu nome.

O Príncipe não olhou para trás, assim como o Rei que se recusou a voltar a olhar pra o garoto. Mas ele parou, permanecendo em silêncio o suficiente para o velho se convencer de que não iria responder. O Rei queria dizer que não se importava com isso, mas seria mentira, a curiosidade o havia vencido mais uma vez.

Os Príncipes de Arbor obtiveram uma regra esquisita ao passar das gerações. Os O'Niells só ganhavam um nome ao fazer um ato grandioso, tal qual salvar o reino ou o mais difícil: ser reconhecido pelo 'Bosque'.

Talvez seja por isso que o garoto é tão desastrado, talvez…

— David. — O príncipe confessa em um tom monótono. — Meu nome é David Allans.

Ah.

— Somente Allans? Não David Allans O'Niell?

— Ainda não sou o rei.

— Compreendo... — Pobre garoto.

Só seria reconhecido como um O'Niell em sua coroação, pois seu próprio pai não tinha escolhido seu nome e nem ninguém de sua família. Pelo contrário, um estranho que o nomeou, portanto ele levaria o sobrenome dessa pessoa. São as regras.

O homem que roubou o corpo do Rei, o antigo monarca de Arbor, Rei Caron, o bondoso, tinha sua alma vagando por essa caverna. Até fazer um pacto com o Feiticeiro Negro e migrar para o corpo do velho Rei.

— Voltarei amanhã, Vossa Majestade.

O velho Rei estava prestes a soltar um "Não se incomode", mas uma súbita compreensão o tomou. O Rei petrificou, sem escutar a porta batendo e o príncipe partindo da caverna.

David.

David…

David Allans!

Vez ou outra, aventureiros ou saqueadores invadiam a caverna quase sempre com as piores intenções. O Rei gostava de ouvir suas histórias para escapar da solidão e do tédio.

Havia um nome que se tornou popular entre eles alguns anos atrás.

David Allans, o Príncipe Do Inverno. O jovem que comandou o massacre do império dos elfos, a batalha responsável para tirar o tirano imperador do poder. David Allans, que diziam ser mais forte e mais sanguinário que qualquer feérico.

Ele era o Príncipe Dos Feéricos?

Aquele Pirralho?