Ao despertar pela manhã, fui saudado pelos alegres cantos dos pássaros e pelos murmúrios animados que ecoavam lá fora. Os primeiros raios de sol começavam a iluminar o ambiente, ainda de forma tímida, como se o astro-rei estivesse escondido por trás das nuvens, relutante em se revelar por completo. A atmosfera ao meu redor ainda mantinha um tom cinzento, emprestando uma certa melancolia ao cenário.
No entanto, mesmo com essa paleta de cores mais suave, a vida pulsava em cada detalhe. A natureza, despertando aos poucos de seu sono noturno, parecia ganhar vida novamente. O suave canto dos pássaros ecoava nos meus ouvidos, trazendo uma sensação reconfortante de harmonia. As árvores balançavam gentilmente ao sopro do vento, espalhando suas folhas verdejantes pelo ar.
Sai para fora e respirei fundo, sentindo o ar puro encher meus pulmões. O mundo ao meu redor estava pronto para ser explorado, mesmo com seu véu cinzento. Caminhei pela grama orvalhada, observando a natureza despertar lentamente. Os pássaros saltitavam de galho em galho, compartilhando seus segredos em melodias animadas.
Fui em direção aos demais, eles estavam todos sentados em uma daquelas grandes mesas de piquenique de madeira, e estavam todos comendo alguma coisa, alguns com pratos de comida, alguns com bebidas como café, e outros comendo salgadinhos.
Dirigi-me em direção ao grupo reunido em torno de uma espaçosa mesa de piquenique, feita de madeira rústica. Ali, todos estavam desfrutando de uma deliciosa refeição matinal. Alguns seguravam pratos repletos de comida caseira, enquanto outros saboreavam bebidas quentes, como café fumegante, que exalava seu aroma tentador. Havia também aqueles que se deliciavam com salgadinhos crocantes, dando um toque de descontração àquela manhã.
O ambiente estava impregnado de conversas animadas e risadas, criando uma atmosfera acolhedora e cheia de camaradagem. Os sons dos talheres se misturavam harmoniosamente com os murmúrios das pessoas compartilhando suas histórias e experiências. Era um momento de comunhão, onde a comida e a bebida uniam a todos em uma alegria comum.
Ao me juntar a eles, senti-me envolvido por uma sensação de pertencimento. As vozes amigáveis e os sorrisos calorosos me recebiam de braços abertos. Compartilhamos histórias, trocamos risadas e saboreamos as delícias que estavam dispostas à nossa frente. Era um momento de pausa, de nutrir tanto o corpo quanto a alma, enquanto celebrávamos a simples e preciosa dádiva de estarmos juntos, compartilhando uma refeição em meio à natureza.
Avistei Dante apreciando um generoso copo de café, enquanto Matias, ao seu lado, saboreava uma refeição caseira em um prato à sua frente. Ao me aproximar do grupo, fui prontamente saudado por Matias:
- Bom dia Daniel.
Juntei-me a eles, sentindo-me acolhido por aquela atmosfera amigável e acolhedora. O aroma tentador do café fresco misturava-se ao cheiro delicioso dos alimentos, despertando meus sentidos e abrindo meu apetite para a refeição que estava por vir. As conversas fluíam naturalmente, permeadas por sorrisos e gestos de camaradagem, enquanto compartilhávamos o prazer de começar o dia juntos.
- Bom dia – Respondi a ele.
- Como passou a noite? – Dante perguntou a mim.
- Bem – Disse, enquanto ainda me espreguiçava.
Dante acenou com a cabeça, compreendendo minha resposta. O clima descontraído e acolhedor do acampamento parecia envolver a todos, criando uma atmosfera de calma e bem-estar. O sol, agora mais radiante, começava a dissipar as últimas nuvens e iluminava o local, trazendo vida e cores vibrantes à paisagem ao nosso redor. Prontamente, juntei-me a eles na mesa, preparando-me para desfrutar de um delicioso café da manhã compartilhado. O aroma tentador da comida caseira e o calor do café fresco me despertaram completamente, afastando qualquer vestígio de sonolência que ainda pudesse existir.
Peguei um prato de vidro que estava sobre a mesa e retirei um pouco de comida, arroz, feijão e carne. Não é muita coisa, mas por mais que tivéssemos toda a comida do mundo disponível para nós, em algum momento ela irá acabar.
Peguei um prato de vidro que repousava sobre a mesa e servi-me com uma porção generosa de arroz, feijão e carne suculenta. Embora a oferta de comida fosse abundante, eu sabia que era importante não desperdiçar e apreciar cada refeição como se fosse única. Olhei ao redor e percebi que todos faziam o mesmo, servindo-se com moderação, conscientes de que os recursos precisavam ser bem administrados. Sentado à mesa, saboreei cada garfada, apreciando os sabores harmoniosos que se mesclavam em meu paladar. Cada mordida era uma pequena celebração, um momento de gratidão pela comida à nossa disposição. Enquanto conversávamos e compartilhávamos histórias, o ambiente ficava preenchido com risadas e o som dos talheres tocando os pratos. Era um momento de comunhão, em que nos alimentávamos não apenas fisicamente, mas também de amizade e união. Ao final da refeição, olhei para o meu prato vazio com uma sensação de satisfação. Embora fosse apenas uma pequena porção de comida, eu sabia que ela havia sido valorizada e aproveitada ao máximo. A consciência da finitude dos recursos nos recordava a importância de cuidarmos uns dos outros e do mundo ao nosso redor, para que pudéssemos continuar desfrutando desses momentos compartilhados no futuro.
- Bom... – Disse Matias, interrompendo as risadas – Nos conte um pouco sobre você Daniel.
Agora pela manhã, com a luz do dia iluminando o acampamento, pude admirar melhor as feições de Matias. Seu rosto exibia uma pele negra radiante, que contrastava harmoniosamente com seus olhos expressivos. Seus cabelos negros trançados conferiam-lhe um estilo único e um ar de autenticidade. Percebi que ele tinha uma postura atlética, revelando um físico bem cuidado e saudável. Aparentava ser alguém de pouca idade, provavelmente não muito mais velho do que eu. Sua presença era marcante, transmitindo uma aura de confiança e simpatia.
- Ah, bem... – Comecei, pensando por um momento sobre como me apresentar. – Eu sou o Daniel, mas meus amigos costumam me chamar de Dan. Tenho 21 anos e tenho um grande interesse pela escrita. Nasci e cresci em Ribeirão Preto, uma cidade do interior.
- Prazer em conhecê-lo Daniel, ou Dan – Disse Matias com um sorriso amigável. – Interessante saber que você tem o hábito da escrita. O que você gosta de escrever? Contos, poesias, romances?
Enquanto ele esperava minha resposta, pude perceber o genuíno interesse em suas palavras e sua curiosidade em conhecer mais sobre mim.
- Escrevo um pouco de tudo – Respondi à sua pergunta. – Costumava escrever livros, principalmente no gênero de suspense e terror. No entanto, só escrevo em um diário pessoal.
Conforme eu compartilhava mais sobre mim, pude perceber o interesse genuíno dos demais à mesa. Seus olhares atentos e expressões curiosas demonstravam que também estavam ansiosos para compartilhar suas histórias e interesses.
Um jovem de aparência única capturou minha atenção. Com pele albina e cabelos negros curtos, cacheados, ele ostentava um par de óculos circulares. Sentado em um dos bancos da mesa, ele ergueu uma câmera e se apresentou com entusiasmo:
- Daniel, é um prazer conhecê-lo! Me chamo David. Sou um amante da fotografia, especialmente quando se trata de paisagens naturais. Sempre que tenho a oportunidade, saio em busca de novos cenários para registrar com minha câmera. Para mim, a fotografia é uma forma de eternizar momentos preciosos e compartilhar a beleza do mundo através das imagens.
Admirei a paixão de David pela arte da fotografia e imaginei como seria maravilhoso poder ver o mundo através de suas lentes, capturando as maravilhas da natureza.
Em seguida, Matias acrescentou:
- Além de me dedicar ao acampamento e cuidar da segurança por aqui, tenho um interesse especial por artes marciais. A disciplina e o autocontrole que elas exigem me fascinam. É uma forma de encontrar equilíbrio entre mente e corpo, além de proporcionar momentos de superação pessoal.
Eu me sentia cada vez mais integrado ao grupo, descobrindo afinidades com essas pessoas tão diversas, mas ao mesmo tempo tão acolhedoras. Enquanto ouvia suas histórias, percebi que estávamos unidos não apenas pela necessidade de sobrevivência, mas também por nossos interesses e paixões individuais. Era uma dinâmica enriquecedora, onde cada um trazia sua contribuição única para o convívio.
- E você, Dante? – Matias perguntou, entusiasmado. – Não vai se apresentar?
- Já me apresentei para ele, Matias – Respondeu Dante.
- Sério? – Exclamou Matias, visivelmente surpreso. – Ele não costuma se apresentar tão cedo. Acho que viu algo especial em você, Dan.
Dei uma pequena gargalhada, pois, de alguma forma, já esperava essa atitude cautelosa de Dante. Ele parecia ser muito cuidadoso quando nos encontramos, então fazia sentido que ele não se apresentasse de imediato e desconfiasse de um novo integrante como eu.
- Você sabe manusear uma arma, garoto? – Perguntou Dante, olhando diretamente para mim.
- Eu deveria saber? – Respondi, sentindo-me um tanto inseguro.
- Claro que sim. Neste mundo, é quase uma obrigação para garantir a sobrevivência - Complementou Matias, destacando a importância da habilidade.
Dante levantou-se do banco, passou um guardanapo em sua boca e começou a caminhar determinadamente em uma direção.
- Venha comigo – Convidou ele, indicando que eu o acompanhasse.
Curioso e um pouco apreensivo, segui Dante, sem saber exatamente o que me aguardava.
Caminhamos por alguns minutos até chegarmos a uma área aberta, cercada por alvos e obstáculos improvisados. Era claramente uma zona de treinamento para a prática de tiro. Dante parecia conhecer aquele lugar como a palma de sua mão, indicando-me que me posicionasse em um local seguro.
Ele pegou uma pistola semi-automática que estava dentro de um caixote próximo a zona e começou a explicar as noções básicas de manuseio, segurança e precisão. Seu conhecimento sobre armas era impressionante, revelando sua experiência em situações desafiadoras.
- Primeiro, vamos falar sobre a postura – Disse Dante, adotando uma posição firme e estável. – Mantenha os pés afastados, alinhados com os ombros. Distribua o peso igualmente em ambos os pés, para manter o equilíbrio. Segure a arma com firmeza, mas sem tensionar demais os músculos.
Enquanto ele me ensinava os princípios básicos, pude notar sua habilidade e destreza ao manusear a arma. Cada gesto era calculado e preciso, demonstrando anos de prática e aprimoramento.
Dante me entregou a pistola e ajustou minha postura, corrigindo pequenos detalhes para garantir que eu tivesse um bom controle da arma. Ele enfatizou a importância de conhecer cada parte da pistola e como realizava uma checagem minuciosa para garantir que estivesse em perfeitas condições de uso.
- Antes de atirar, é crucial estar ciente das regras de segurança – Alertou Dante, com seriedade em seu olhar. – Mantenha sempre o dedo fora do gatilho até estar pronto para disparar. Nunca aponte a arma para algo ou alguém que você não pretenda atingir.
Assenti, absorvendo cada palavra dele com atenção. Era uma responsabilidade que eu precisava entender completamente.
Com paciência, Dante me guiou nos primeiros tiros. Ele me ensinou a controlar minha respiração, a alinhar a mira e a pressionar suavemente o gatilho. A cada disparo, sentia a adrenalina pulsando em minhas veias, combinada com a concentração necessária para acertar o alvo – Mesmo assim não acertei muitos.
Ao longo do treinamento, percebi que a confiança e a habilidade de Dante não eram apenas resultado de prática, mas também de uma mentalidade focada e disciplina. Ele reforçou a importância de manter a calma em situações de pressão e de nunca subestimar a importância do treinamento contínuo.
Após algumas séries de tiros, Dante analisou meus resultados e ofereceu conselhos para melhorar minha precisão. Sua abordagem era paciente e encorajadora, transmitindo sua experiência de forma clara e acessível.
Com o passar do tempo, comecei a me sentir mais confiante e familiarizado com a pistola. Ainda tinha muito a aprender, mas sabia que estava no caminho certo.
- Você está progredindo bem, Daniel – Disse Dante, com um leve sorriso. – O treinamento com armas exige prática e dedicação, mas é uma habilidade valiosa para a sobrevivência nesse novo mundo.
Agradeci a ele pela oportunidade de aprendizado e prometi a mim mesmo continuar aprimorando minhas habilidades. Sabia que estar preparado para qualquer situação era essencial para minha própria segurança e a dos outros ao meu redor.
Enquanto trocávamos tiros na zona de tiro, alguns passos se aproximaram, revelando a chegada de Matias pelo mesmo caminho que havíamos percorrido. Ele se juntou a nós, interrompendo brevemente nossa atividade.
- E aí, pessoal, estão a fim de irmos até a cidade mais próxima? – Matias perguntou, com um ar de determinação.
Dante levantou uma sobrancelha, respondendo com outra pergunta:
- E para quê exatamente?
- Precisamos reabastecer o estoque de medicamentos e munições. Eu não acho que os medicamento que você trouxe serão o suficiente.
- Compreendo, a farmácia estava quase que completamente vazia.
Foi nesse momento que me lembrei dos remédios que havia guardado em minha bolsa, obtidos em uma farmácia antes de nossa partida.
- Bem, na minha bolsa tenho alguns remédios – Informei, compartilhando a informação com eles. – Analgésicos, antibióticos e alguns outros.
Matias olhou para mim, agradecido pela oferta.
- Dependendo da quantidade, pode ser suficiente. Agradeço, Dan – Respondeu ele, demonstrando gratidão pela minha contribuição. – Mas a munição ainda está em falta.
- Nós vamos para cidade então, acho difícil ainda ter algo por lá, porém não custa tentar dessa vez – Dante disse, concordando com o fato de irmos até lá.
- Bom, eu vou com vocês, podemos ver se mais alguém do grupo se voluntaria para ir conosco.
Matias se virou e começou e retornar para o acampamento. Enquanto ele se afastava, Dante dirigiu seu olhar em minha direção, pausando por um momento antes de falar.
- Você pode ficar com a pistola Matias-automática – Disse ele, apontando para a arma ao meu lado. – Ela vai te ajudar. Há um coldre dentro do caixote.
Agradeci a ele com um aceno de cabeça, apreciando a confiança que Dante depositava em mim. Achei o coldre dentro do caixote e o prendi a minha cintura, depois peguei a pistola e coloquei-a com cuidado no coldre, garantindo que estivesse pronta para uso imediato, se necessário.
Dante começou a se afastar, seguindo o mesmo caminho que Matias havia tomado de volta ao acampamento. Observei-o por um momento, admirando sua postura confiante e determinada, e comecei a segui-los.
Depois de um pequeno tempo chegamos de volta ao acampamento, onde o clima de atividade matinal já estava em pleno vigor. As pessoas se movimentavam de um lado para o outro, preparando alimentos, organizando suprimentos e conversando animadamente. Matias se aproximou de um pequeno grupo e começou a conversar com eles, provavelmente explicando nossa missão à cidade.
Enquanto esperávamos, observei a movimentação ao meu redor. Foi então que notei uma jovem de cabelos castanhos curtos até os ombros, que parecia intrigada com nossa discussão. Ela estava sentada na mesa de madeira em que estávamos comendo anteriormente. Seus olhos transmitiam uma curiosidade e uma determinação palpáveis.
Curioso para saber se alguém se voluntariaria para nos acompanhar, Dante fez o anúncio para o grupo.
- Estamos planejando ir à cidade em busca de medicamentos e munições. Alguém gostaria de se juntar a nós?
Houve uma pausa momentânea e olhares se voltaram para a garota de cabelos castanhos. Ela olhou ao redor, avaliando a situação e, finalmente, ergueu a mão timidamente.
- Eu vou com vocês - disse ela, em tom firme.
- Boa Liz – Dante de expressou, animado por ter encontrado mais alguém – Nós quatro então.
Com a equipe formada, agora composta por Dante, Matias e a jovem de cabelos castanhos, nos preparamos para a partida. Reunimos suprimentos adicionais, verificamos nossas armas e garantimos que estávamos prontos para enfrentar o que quer que encontrássemos pela frente.
Enquanto caminhávamos em direção à saída do acampamento, sentia a expectativa e a determinação crescendo em meu peito. Sabia que enfrentaríamos obstáculos, mas também havia esperança de encontrarmos o que precisávamos para manter nossa sobrevivência.
Dirigi-me até meu carro estacionado nas proximidades e peguei minha mochila contendo os mantimentos necessários para a jornada. Removi algumas coisas que considerava desnecessárias, como roupas extras, deixando-as no carro para arrumá-las posteriormente quando retornasse ao acampamento. Em seguida, dirigi-me em direção ao jipe onde Dante, Matias e a Liz já estavam acomodados.
Ao entrar no veículo, tomei assento nos bancos traseiros, percebendo que Dante estava no banco do motorista e Matias ao seu lado, no banco do passageiro. A garota – cujo nome aparentemente o nome era Liz – estava sentada ao meu lado na parte de trás do jipe.
- Trouxe algumas coisas aqui – Comentei, mostrando a minha mochila para eles. – Não é muito, mas pode nos ajudar durante a missão.
Matias olhou para mim com um sorriso e assentiu.
- Ótimo, Dan. Toda contribuição é bem-vinda. Vamos tentar encontrar mais medicamentos enquanto estivermos fora – Disse ele, otimista com a possibilidade de reabastecer nossos suprimentos.
Liz observou com curiosidade o conteúdo da mochila, parecendo interessada em nossos recursos. Me perguntei o que a teria motivado a se juntar a nós nessa perigosa jornada.
Enquanto o jipe dava partida, senti a tensão e a excitação crescendo dentro de mim. Sabia que estávamos rumando para o desconhecido, mas também havia um senso de determinação em encontrar o que precisávamos para garantir nossa sobrevivência.
Seguimos pela estrada em direção à cidade, prontos para enfrentar os desafios que nos aguardavam. O silêncio pairava no ar, preenchido apenas pelo ronco do motor e pela expectativa do que estaríamos prestes a encontrar.