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A Dissipação do Sonho

Ele lançou um olhar ao que, momentos atrás, parecia um vórtice de milhares de cores.

Ao se aproximar, percebeu que não se tratava mais de um vórtice, mas sim de uma esfera iridescente que parecia expandir-se até o infinito, formando algo como uma lente tridimensional de um caleidoscópio.

'Seria isso uma ilusão ótica ou uma singularidade?'

As imagens na esfera moviam-se quase imperceptivelmente, emitindo ondas de luz que se expandiam pelo vazio ao redor, projetando formas geométricas que surgiam e desapareciam em um ciclo contínuo.

Cada mudança na forma criava uma nova dança de cores, como se o espaço e o tempo se fragmentassem e se reorganizassem em um espetáculo sem fim.

Ariandel observava, sentindo que a estrutura daquilo diante de seus olhos desafiava qualquer lógica que conhecia.

O espaço ao redor parecia mudar constantemente, com as bordas da realidade se tornando fluidas.

A voz do Feitiço o puxou repentinamente para fora daquele transe.

[Despertando a Habilidade do Aspecto…]

'Este é o momento da verdade,' pensou Ariandel, com um misto de excitação e nervosismo.

Divino ou não, seu futuro imediato dependia da primeira Habilidade do Aspecto e do Defeito que ele receberia.

Se fosse uma habilidade de combate, ele poderia se tornar mais útil na linha de frente das batalhas contra as Criaturas do Pesadelo. "O que não seria uma boa notícia para alguém acostumado com a segurança."

Se estivesse ligada à magia, ele provavelmente se tornaria um lutador poderoso, mas frágil. "Ser frágil em combate corpo a corpo não é exatamente o ideal."

Se fosse algo de utilidade, ele poderia se tornar uma peça vital nos bastidores do Reino dos Sonhos, uma posição valorizada também no mundo real, onde os Despertos mantinham muitos sistemas essenciais em funcionamento.

"Habilidades poderosas como as de Mordret me manteriam vivo até que eu me adaptasse a essa nova realidade." Afinal, o Amon de GuiltyThree era tão poderoso que sobreviveu a um Supremo como um mero Desperto...

Mas, no início, ele também era impotente. E depende de imensa astúcia para ser o terror psicológico que é hoje.

'Eu não sei qual é a melhor opção, a realidade não é um RPG.'

Tornar-se um curandeiro o ajudaria a sobreviver, mas ainda o deixaria vulnerável, dependendo da própria destreza.

'Preciso confiar na versatilidade e no potencial dos Aspectos Divinos.'

E orar aos deuses mortos para que o Defeito não torne minha vida uma tortura...

[Habilidade do Aspecto adquirida.]

[Nome da Habilidade do Aspecto: Ser Onírico]

Ariandel convocou as runas, tomado por uma onda de emoções. Ele queria ir direto à descrição de sua nova habilidade, mas decidiu primeiro verificar as informações gerais de seu estranho núcleo.

Nome: Ariandel

Nome Verdadeiro: String of Faith

Rank: Sonhador

Classe: Monstro

Núcleo Onírico da Alma: [2/7]

Fragmentos Oníricos: [0/2000]

'Sim, está aqui! Mas... o que é isso?! Como posso ser um Monstro!?'

"Vamos com calma! Com calma! Eu digo!"

Onde estava escrito o rank de seu núcleo de alma, também aparecia o misterioso adjetivo "Onírico". Ariandel olhou fixamente.

'Onírico significa: relacionado ao sonho, fantasioso, imaginativo, delirante.'

Meu núcleo é feito de sonhos, uma projeção do imaginário?

E também…

Ele viu o contador de "Fragmentos Oníricos".

Normalmente, haveria um indicador do número de Fragmentos da "Alma" consumidos, mas havia outro "Onírico" ali.

'Posso confirmar que tenho um caminho de progressão completamente diferente dos outros Despertos.'

A ideia era ao mesmo tempo excitante e assustadora. Não precisar lutar por recursos com outros era uma vantagem imensa. A maior parte da sociedade humana no Reino dos Sonhos girava em torno da coleta de fragmentos de alma.

Se ele não precisasse coletá-los para evoluir... poderia se tornar mais poderoso a uma velocidade incrível e completamente autossuficiente.

Por outro lado, ele não fazia ideia de como adquirir esses fragmentos da alma oníricos. Mesmo assim, já havia conseguido "mil deles"... Simplesmente... De alguma forma...

"Eu sonhei e matei uma criatura que se alimentava de sonhos." Sim, tem algo aí. Seja o que for que ele tenha que fazer, já o fez no Primeiro Pesadelo.

Só espero que, ao receber um núcleo saturado de "graça", o destino não me reserve um caminho com menos recursos do que os de Sunny.

Ariandel suspirou para espantar as preocupações e manter o ânimo.

'Vamos ver essa habilidade logo.'

Memórias: [Arco da Maturidade de Ariandel] [Sonho do Coração Profundo]

Ecos: –

Atributos: [Peregrino] [Vigia da Alma] [Luz da Divindade]

Aspecto: Trama de Sonhos

Rank do Aspecto: Divino

Habilidades do Aspecto: Ser Onírico

Descrição da Habilidade do Aspecto: [Você ganha domínio sobre as percepções da mente e do coração, e seu corpo é sustentado pela Essência da Alma, transcendendo as necessidades biológicas.]

Vamos ignorar aquele arco nas minhas memórias e refletir sobre essa habilidade: 'O que isso quer dizer?'

Ariandel prendeu a respiração e começou a ler a descrição novamente, mas, nesse momento, um novo conjunto de runas surgiu logo abaixo. Ao mesmo tempo, a voz do Feitiço ressoou no vazio negro.

[Todo poder tem um preço.]

[Você recebeu um Defeito.]

[Seu Defeito é: Prisma Imaculado.]

Ariandel leu as runas gravadas no ar, e seus olhos se estreitaram. A expressão que atravessou seu rosto era uma mistura inquietante de fascínio e preocupação.

Defeito: Prisma Imaculado

Descrição do Defeito: "Você deve agir de acordo com quem você realmente é."

Ele piscou lentamente, como se tentasse digerir o significado das palavras. "Isso... parece simples. E, ao mesmo tempo, complicado."

Ele sabia que o Feitiço nunca escolhia suas palavras levianamente, e aquela frase carregava mais peso do que parecia à primeira vista.

"Seja genuíno," ele murmurou para si mesmo. "Seja eu mesmo... O que isso implica? Que não posso disfarçar quem sou? Que não posso omitir nada? Ou que... não posso agir fora do que sinto e acredito?"

A ansiedade rastejava pelo seu peito.

O problema não era ser sincero. Ele já valorizava a verdade. Mas havia uma linha tênue entre honestidade e falta de tato. O pensamento o incomodava. Ele sabia que pessoas sinceras demais frequentemente se tornavam inconvenientes.

Ariandel passou os dedos pelo cabelo, respirando fundo.

A dúvida pesava mais do que qualquer certeza. Como exatamente o Defeito afetaria suas ações? Por enquanto, ele só podia esperar que o preço de ser fiel a si mesmo não fosse mais alto do que ele poderia pagar.

[Desperte, String of Faith!]

E com isso, o vazio desapareceu.

***

Ariandel abriu os olhos.

O teto blindado da sala de segurança da delegacia pendia sobre ele. Mas agora ele não estava mais preocupado com o que havia ao seu redor.

Seu foco estava em si mesmo.

Primeiro, Ariandel sentia-se incrível. Seu corpo exalava poder surreal, sua mente estava aguçada, seu foco de visão ampliado, ele distinguia as cores com maior clareza e conseguia ver até as partículas de poeira no ar.

E ali, à beira de sua consciência, havia algo novo. Um sentido completamente diferente.

Ariandel se concentrou nele, e de repente o mundo se revelou de uma maneira completamente nova. Era difícil de descrever em palavras, assim como é difícil explicar que uma pessoa cega não vê escuridão — apenas não enxerga nada.

Era como se ele pudesse perceber a si mesmo, as pessoas e o espaço ao redor diretamente, sem precisar dos olhos, guiado pelos diferentes graus de pressão que cada um exercia na sua mente.

Instintivamente, Ariandel retraiu a própria pressão que se expandia ao redor, quase encontrando a de Sunny, que ainda dormia, e a da Mestre Jet, que, por algum motivo, não percebeu que ele estava acordado.

Quando sua pressão retornou ao seu corpo, ele percebeu algo mais em algum lugar dentro de si.

'O que é isso? Estou vendo a mim mesmo.' Ariandel percebeu, espantado.

Ele estava tão lindo quanto um sonho. Seus olhos eram iridescentes, sem pupilas, preenchidos com padrões dançantes de um caleidoscópio.

Sua pele morena tinha um tom avermelhado, cheia de vitalidade, e seus cabelos estavam brancos, longos. Ele aparentava uns dezesseis anos, embora com 1,73 metros de altura. E mantinha um físico magro, apesar dos músculos que surgiram com o Despertar.

'Continuo um ectomorfo e já quase indistinguível de gênero.'

Ele normalmente não se incomodava com a falta de masculinidade, mas admitiu que, naquele momento, a ideia de se tornar o sonho de alguém do mesmo sexo lhe soava, no mínimo, intrigante.

"Foco, não é a sua aparência que você queria ver."

Lá estava o que ele buscava.

Além do corpo e do coração, na profundidade da alma, repousavam seus núcleos.

'Agora faz sentido. Foi por isso que vi apenas um núcleo em meu Mar da Alma; eles estavam sobrepostos.'

Com seu novo sentido, Ariandel agora podia distinguir os núcleos que, de outra forma, permaneceriam ocultos para ele.

'Será que consigo tocá-los com esse novo sentido?'

Olhando intensamente para o fenômeno em sua alma, que lhe provocava a mesma sensação de estar diante de um buraco negro, Ariandel engoliu em seco e inspirou fundo. Com um leve tremor na voz, ele murmurou:

"Vamos… vamos fazer isso."

Ele se aprofundou em sua alma e, ao alcançar os núcleos, uma nova sequência de runas apareceu no ar à sua frente.

[Transformar núcleo onírico da alma em uma Refração?]

'Refração?'

"Ó—oooh! Fácil assim?"

A comparação lhe veio de imediato: "Seria como a Habilidade do Príncipe do Nada?"

"Refrações e Reflexões não compartilham a mesma temática, mas devem ter suas similaridades."

As runas cintilavam, cativantes. Mas, por sensatez, ele hesitou.

"Eu preciso explorar o meu Defeito primeiro. E não seria nada prudente testar a separação de um dos meus núcleos aqui na delegacia."

"Aliás, ainda estou preso a está cama, que mais parece um instrumento de tortura..."