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LEMBRANÇAS CLICHÊS

### Capítulo 3: Lembranças clichês

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O ambiente na sala de Endy estava carregado de uma tensão leve e animada. Akiyo e Nenji estavam sentados ao redor da mesa de jantar, papéis e canetas espalhados. O trabalho da vez era a redação sobre a vida deles, um tema que os três haviam decidido explorar juntos.

Nenji, sempre tentando manter a atmosfera leve, virou-se para Endy com um sorriso amigável. "Então, Endy, estamos prontos para ouvir sua história. O que você quer compartilhar com a gente para a redação?"

Akiyo, com um olhar atento e interessado, se inclinou um pouco para frente. "Sim, Endy. Não precisa se preocupar, estamos aqui para apoiar você."

Endy respirou fundo, seus olhos se desviando para o canto da sala, onde as sombras pareciam ocultar suas inseguranças. Ele passou a mão pelos cabelos, tentando reunir coragem. "Certo, vou falar sobre minha infância. É uma parte importante da minha história."

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**Flashback**

No campo de esportes da escola, o sol brilhava, mas para o jovem Endy, a luz parecia fria e distante. Ele estava afastado do grupo de crianças que brincavam e se divertiam. Seu uniforme estava um pouco largo demais, e ele se sentia como um espectador de sua própria vida.

A sensação de inadequação era palpável. Endy observava os outros garotos jogando futebol, correndo e rindo. Seu corpo ainda estava um pouco acima do peso, e ele se sentia desconfortável com a maneira como seu uniforme caía sobre ele. As palavras cruéis dos colegas cortavam como lâminas afiadas. "Olhem só para ele, o gordo rico. Deve ser fácil ser rico e não precisar se preocupar com nada," diziam, rindo em coro. A dor das palavras o esmagava, e Endy se perguntava se algum dia encontraria um lugar onde se sentisse aceito.

O bullying se intensificou, e os ataques se tornaram mais pessoais. "Aquele garoto deve achar que é melhor do que nós só porque tem dinheiro. Olhem como ele fica parado lá, sem saber o que fazer," um grupo de meninos provocava. Eles riam e o empurravam, fazendo com que Endy se sentisse cada vez mais isolado. Seus "amigos" eram apenas parasitas, interessados apenas no que ele podia oferecer – dinheiro e status. Quando o bullying começou, esses mesmos "amigos" desapareceram. Endy se lembrava claramente de um incidente em que um grupo de colegas o cercou, zombando e rindo, enquanto seus "amigos" assistiam de longe, sem oferecer ajuda.

"Por que você não se defende, Endy? É só uma provocação," disse um de seus falsos amigos, tentando parecer preocupado, mas claramente aliviado por não estar no centro do problema. As palavras do "amigo" pareciam uma forma cruel de zombar de sua dor, um lembrete de que ninguém estava realmente ao seu lado.

A traição de seus "amigos" acentuou a ferida. Endy se viu forçado a se proteger e a transformar sua vida. Passava horas sozinho, trabalhando para perder peso e mudar sua aparência. Ele se dedicava a exercícios físicos e dietas rigorosas, determinado a se tornar mais saudável e a ganhar confiança. As lágrimas eram seu único consolo nas noites solitárias, quando ele se sentava em seu quarto escuro, refletindo sobre o que havia perdido e o que ainda desejava alcançar.

Foi durante essa fase de mudança, quando estava mais vulnerável, que conheceu Nenji. Nenji, com seu jeito extrovertido e genuíno, apareceu como uma luz inesperada em meio às trevas. Em vez de estar interessado em status ou dinheiro, Nenji parecia genuinamente interessado nele como pessoa. A amizade que nasceu entre eles foi um farol de esperança, uma âncora em meio à tempestade emocional que Endy estava enfrentando.

Nenji fazia piadas para animar Endy, e a sinceridade em sua amizade ofereceu um contraste tão necessário para a superficialidade dos relacionamentos anteriores de Endy. "Você não precisa se preocupar com o que os outros pensam, Endy. Você é muito mais do que eles conseguem ver," Nenji costumava dizer, ajudando Endy a se sentir mais seguro em sua própria pele.

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**De volta ao presente**

A sala estava envolta em um silêncio carregado após o relato de Endy. Akiyo estava deitada no sofá, com uma almofada cobrindo seu rosto enquanto lágrimas silenciosas escorriam. O impacto das palavras de Endy havia a tocado profundamente. A história de sofrimento e superação ressoava com sua própria experiência de adaptação a uma nova cidade e escola.

Nenji, com uma expressão de surpresa e empatia, olhou para Endy. "Eu não fazia ideia do que você passou. Deve ter sido muito difícil para você."

Akiyo, enxugando as lágrimas, levantou a cabeça e olhou para Endy com uma mistura de tristeza e admiração. "Eu… não consigo imaginar a dor que você sentiu. Como você conseguiu superar tudo isso?"

Endy sorriu com um toque de melancolia e gratidão. "Foi difícil. Cada dia era uma luta, mas eu sabia que precisava mudar. Quando conheci o Nenji, ele me mostrou que havia pessoas que realmente se importavam. A amizade dele foi essencial para minha transformação."

Nenji, com um sorriso gentil, se virou para Akiyo. "E foi exatamente isso que me fez querer ser amigo do Endy. Ele estava passando por tantas coisas, e eu queria fazer parte de algo que o ajudasse a se sentir melhor. Ver alguém que estava tão fragilizado encontrar forças para seguir em frente foi inspirador."

Akiyo balançou a cabeça, ainda processando a magnitude da história. "Como você e Nenji se tornaram amigos? Deve ser uma história interessante."

Endy olhou para o relógio, notando que a noite estava avançada. "Essa é uma longa história. E já está ficando tarde. Vamos deixar isso para outro dia. A redação está quase pronta."

Os três amigos terminaram a redação e se prepararam para sair. Akiyo, ainda emocionada, e Nenji, refletindo sobre o passado de Endy, se despediram e deixaram o apartamento.

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**Após a saída dos amigos**

Com a porta finalmente fechada, Endy se deixou cair em uma cadeira próxima à mesa. As memórias dolorosas estavam frescas em sua mente, e ele sentia um turbilhão de emoções. "Isso é passado," murmurou para si mesmo, tentando encontrar um pouco de paz. "Não vou me abalar por coisas assim."

Endy se levantou e foi para o banheiro. Olhando-se no espelho, ele viu a expressão sombria refletida de volta para ele. Seus olhos estavam cansados, e sua mandíbula estava tensa. Lavou o rosto com água fria, tentando dissipar a intensidade das emoções, mas a expressão sombria ainda estava lá. Ele se perguntava se, apesar do tempo que passou, as feridas do passado ainda tinham o poder de afligi-lo.

Ao voltar para a sala, Endy se sentou no sofá, mas logo sentiu algo rígido sob o assento. Com um susto, ele se levantou rapidamente. "O que é isso? Não pode ser..."

Ele puxou o objeto para fora e viu que era o celular de Akiyo. "Ai, não! O celular da Akiyo!" Endy exclamou, o pânico tomando conta dele. "Não acredito que sentei em cima disso! Será que está quebrado?"

Ele examinou o celular nervosamente, virando-o de um lado para o outro. "Por favor, não esteja danificado." A princípio, parecia estar intacto, e um suspiro de alívio escapou de seus lábios. O celular estava funcionando, e ele notou uma pequena mensagem piscando na tela, quase como se estivesse chamando a atenção de Endy.

"Vou ter que devolver isso para ela amanhã," murmurou, com um sorriso cansado. "Espero que ela não me mate por isso."

Com o celular de Akiyo cuidadosamente colocado de volta na mesa, Endy se acomodou no sofá, tentando relaxar. No entanto, a pequena mensagem continuava a piscando na tela, atraindo sua curiosidade. Ele se inclinou para examinar a notificação, perguntando-se se havia algo importante ou pessoal no celular de Akiyo que não deveria estar ali.

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Na manhã seguinte, Endy se levantou do sofá e esticou os músculos, percebendo que havia dormido ali durante a noite. Ele seguiu sua rotina matinal, preparando o café da manhã. Apesar de sua riqueza, Endy havia decidido não contratar um empregado, achando que isso o tornaria dependente e vulnerável, como antes. "Fazer as coisas por conta própria me ajuda a manter os pés no chão," ele murmurou para si mesmo, enquanto preparava o café. "Não quero voltar a ser aquele garoto mimado e fraco."

Após o café da manhã, Endy tomou um banho rápido e vestiu seu uniforme escolar. Ele estava prestes a sair quando lembrou que ainda tinha o celular de Akiyo. Pegou-o da mesa, sentindo-se aliviado por não ter causado nenhum dano, e saiu para a escola.

Chegando à escola, Endy começou a procurar por Akiyo. Ela não estava em lugar algum, nem mesmo na sala de aula. Ele tentou localizá-la em todos os lugares possíveis, mas sem sucesso. O corredor estava relativamente vazio, e os alunos que passavam pareciam alheios à sua busca.

Endy decidiu verificar a biblioteca, um dos lugares favoritos de Akiyo para estudar. Ao entrar na sala silenciosa, ele olhou ao redor e finalmente a viu, sentada sozinha em uma das mesas, com um livro aberto à sua frente. Seu rosto estava parcialmente escondido por trás das páginas, e ela parecia completamente absorta na leitura.

Endy se aproximou cautelosamente, não querendo interromper. "Akiyo?" ele chamou suavemente, hesitando a dar o próximo passo. Ela levantou a cabeça lentamente, os olhos vermelhos e inchados de quem havia chorado. A expressão dela era um misto de surpresa e alívio ao vê-lo ali.

"Oh, Endy," ela disse, sua voz embargada. "O que você está fazendo aqui?"

Endy sentou-se na cadeira à frente dela, colocando o celular sobre a mesa. "Eu encontrei isso ontem à noite," disse ele, apontando para o celular. "Achei que você deveria tê-lo de volta. Estava na minha sala."

Akiyo pegou o celular, seus olhos se encheram de gratidão. "Obrigada. Eu não sei o que teria feito se tivesse perdido isso." Ela fez uma pausa e então olhou para ele com um sorriso fraco. "Você não precisava vir até aqui só para isso."

Endy hesitou antes de responder, sentindo a necessidade de oferecer um pouco mais de conforto. "Eu me preocupei com você ontem à noite. Você parecia estar passando por um momento difícil. Se precisar conversar, estou aqui."

Akiyo olhou para ele com um olhar agradecido, e as lágrimas começaram a ameaçar novamente. "Eu só... estou lidando com algumas coisas. Às vezes, tudo parece se acumular e se tornar demais."

Endy inclinou-se para frente, mostrando empatia genuína. "Se você quiser falar sobre isso, eu posso ouvir. Às vezes, só ter alguém para desabafar pode fazer uma grande diferença."

Akiyo suspirou profundamente, fechando o livro e colocando-o de lado. "Na verdade, gostaria de falar. Não sei por onde começar, mas sinto que preciso compartilhar."

Endy fez um gesto encorajador, oferecendo-lhe a oportunidade de falar. "Estou ouvindo."

Akiyo começou a contar sobre as dificuldades que havia enfrentado após se mudar para Tóquio. A transição de Kyoto para a nova cidade não tinha sido fácil. Ela havia deixado para trás amigos de longa data e uma vida que conhecia bem. A pressão para se adaptar rapidamente à nova escola e ao novo ambiente parecia esmagadora.

"Eu me sinto tão perdida às vezes," disse ela. "É como se eu estivesse constantemente tentando me encaixar e falhando. A escola é diferente, as pessoas são diferentes, e às vezes sinto como se não soubesse quem sou ou o que quero."

Endy ouviu atentamente, compreendendo a dificuldade da situação. "Mudar pode ser muito desafiador. Eu passei por algo semelhante quando me mudei para cá. Às vezes, as coisas parecem desmoronar, mas com o tempo, você encontra seu lugar e percebe que consegue superar os desafios."

Akiyo acenou com a cabeça, absorvendo as palavras de Endy. "Obrigada por ouvir. É bom ter alguém que entende o que estou passando."

Depois de um momento de silêncio, Endy decidiu mudar o foco da conversa para algo mais leve, para ajudar a aliviar a tensão. "Falando em desafios, ainda precisamos terminar nossa redação. O que você acha de voltarmos a isso agora? Acredito que, ao trabalharmos juntos, podemos fazer um ótimo trabalho."

Akiyo sorriu, um pouco mais animada. "Sim, vamos fazer isso. Agradeço muito pela compreensão e pelo apoio."

Os dois voltaram ao trabalho na biblioteca. O ambiente estava mais tranquilo agora, e Endy ajudou Akiyo a organizar suas ideias. Eles revisaram o conteúdo da redação, adicionando detalhes importantes sobre a história de Endy e aprimorando a estrutura do texto. O tempo passou rapidamente enquanto estavam imersos no trabalho, e a colaboração fez com que a tensão do dia diminuísse.

Finalmente, com a redação quase pronta, Endy e Akiyo decidiram fazer uma pausa. Eles foram para a área externa da escola para respirar um pouco de ar fresco e relaxar. Sentaram-se em um banco no jardim, aproveitando o clima ameno.

"Você está se sentindo melhor agora?" Endy perguntou, olhando para Akiyo. "Espero que nossa conversa tenha ajudado um pouco."

Akiyo sorriu com sinceridade. "Sim, muito melhor. Conversar com você e ver que há pessoas que se importam faz uma grande diferença. Obrigada por estar aqui para mim."

Endy sorriu de volta, satisfeito por ter podido ajudar. "É para isso que os amigos servem, não é? Sempre que precisar, estarei por perto."

O resto da tarde passou de forma tranquila, com Akiyo e Endy trabalhando juntos na redação e conversando sobre diversos assuntos. A amizade deles, que havia começado de forma tímida, estava se fortalecendo à medida que compartilhavam mais sobre si mesmos e enfrentavam desafios juntos.

Ao final do dia, Endy se sentiu renovado. As dificuldades do passado e as emoções intensas haviam sido substituídas por um sentimento de esperança e amizade. Ele percebeu que, apesar dos desafios que enfrentou e das inseguranças que ainda carregava, estava cercado por pessoas que realmente se importavam.

Quando chegou a hora de se despedir, Akiyo e Endy trocaram um abraço caloroso. "Nos vemos amanhã na escola," Akiyo disse com um sorriso. "Vamos continuar trabalhando na redação e em nossa amizade."

Endy acenou com a cabeça, contente. "Sim, até amanhã. Tenha uma boa noite, Akiyo."

Com a noite caindo e a escola vazia, Endy voltou para casa com um sentimento de realização. Ele havia enfrentado memórias dolorosas e ajudado alguém a se sentir melhor, e isso lhe deu um senso renovado de propósito. Ao chegar em casa, ele se preparou para uma noite tranquila, refletindo sobre o dia e sentindo-se grato pelas novas amizades que estava construindo.

O capítulo de sua vida estava em constante evolução, e ele estava pronto para enfrentar o que viesse a seguir, com a certeza de que não estava sozinho nessa jornada.

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A tarde estava amena quando Endy e Akiyo saíram da escola. O sol se escondia lentamente, tingindo o céu de tons alaranjados, enquanto as sombras das árvores se alongavam no chão. O caminho para casa era familiar, mas, naquele momento, o silêncio entre eles parecia carregado de tensão.

Akiyo caminhava ao lado de Endy, sua expressão refletindo uma mistura de curiosidade e inquietação. "Ele não se importa com os olhares, certo? Ou será que está pensando em algo?" Ela se perguntou, desviando o olhar para as cerejeiras que começavam a florescer, suas pétalas caindo como chuva suave.

Enquanto isso,ele pensava o mesmo que ela.

"Droga! Como ela fica a vontade andando lado a lado assim. "

" Se continuarmos assim,vão espalhar rumores de que somos namorados,eca!"

"Você deveria tomar cuidado." — Endy disse de repente, quebrando o silêncio. "Não se aproxime demais de mim."

Akiyo congelou. Aquelas palavras a pegaram de surpresa, e seu coração apertou. "O que ele quer dizer com isso?" Uma onda de confusão a envolveu.

" O que você quer dizer com isso?" — sua voz tremia levemente.

"Eu só..." — ele hesitou, sentindo a pressão das palavras se acumulando. A proximidade entre eles poderia ser mal interpretada.

Os olhos dela brilhavam com uma mistura de frustração e dor. "Eu achei que poderia confiar em você! Pensei que fossemos amigos." — As lágrimas ameaçavam cair enquanto ela falava. " Todos os homens são iguais, idiotas pervertidos que só pensam neles!"

Ele tentou se explicar, mas as palavras escapavam de sua mente. "Não foi isso que eu quis dizer!"

Com um gesto abrupto, Akiyo virou-se e começou a correr. O desespero a impulsionava, e Endy a seguiu, seu coração disparado. A corrida os levou a uma rua repleta de cerejeiras em flor, a cena serena contrastando com a turbulência emocional que sentiam.

Akiyo parou subitamente, admirando as árvores. As pétalas dançavam ao vento, criando um espetáculo etéreo. Endy se aproximou, respirando fundo.

"Olha, Akiyo" — começou ele, tentando encontrar as palavras certas. "O que eu quis dizer era sobre a proximidade física. Poderíamos ser mal interpretados, e isso geraria rumores. Mas não era a intenção ofender você."

Ela virou-se lentamente, ainda com o olhar preso nas flores. "E isso é um problema?" — perguntou, sua voz mais calma, mas ainda carregada de decepção.

"Sim, é um problema!" — Ele gesticulou, tentando enfatizar. "Esse tipo de rumor e sim um problema."

O silêncio se estendeu entre eles, mas Akiyo parecia considerar suas palavras. Enquanto a brisa suave balançava as flores, ela finalmente olhou nos olhos dele.

"Eu só queria ser sua amiga, Endy." — Akiyo disse, a vulnerabilidade evidente em sua voz.

"E nós somos!" — Ele respondeu rapidamente. " Só... não quero que pensem que somos mais do que amigos. Isso não é verdade."

As árvores ao redor deles floresciam em um rosa vibrante, mas a expressão de Akiyo era de uma tristeza suave.

"Por que é um problema para você?" ela pensou.

Mas, apesar da confusão, uma parte dela queria acreditar nele e nas suas motivações.

"Você realmente acha que eu sou uma chata,né?" — ela murmurou, os olhos brilhando.

"Não, não é isso." — Ele se aproximou, sua voz mais suave. — Eu só... tenho dificuldades em me expressar. Para esse tipo de coisa.

"Ainda mais com garotas." — Ele disse levemente envergonhado.

"Você está sendo mais Endy agora." — Akiyo tentou sorrir, mas a dor ainda estava presente. "Isso é... bom,eu acho."

"Isso deveria ser um elogio?" — Ele perguntou confuso.

"Sim! Deveria ser Endy!" — Ela falou de forma tímida e irritada.

Endy sentiu uma onda de alívio ao ver que ela estava começando a perdoá-lo, ainda que um pouco decepcionada. Caminharam lentamente sob as cerejeiras, um silêncio mais confortável envolvendo-os.

"Elas são muito bonitas, não são?" — Endy comentou, tentando quebrar a tensão.

"Sim, são" — Akiyo concordou, olhando para as flores.

Ele sorriu, mas logo percebeu o que devia ter falado.

"Droga! Devia ter dito que ela era mais bonita que as cerejeiras."

Ele então disse.

"Mas a beleza delas não chega perto da sua." — Ele disse na esperança de anima-la.

"Isso é apenas bajulação,não vai te levar a lugar nenhum." — Ela cruzou os braços, mas o leve rubor em suas bochechas não podia ser escondido.

Ele riu e Akiyo o olhou com desaprovação.

"Rude!" — Disse ela com um olhar de desaprovação.

"Eu não posso evitar. Você é fofa e engraçada, e isso me faz rir." — Ele respondeu, divertido.

"Você está muito animadinho,não acha?" — Akiyo levantou uma sobrancelha, tentando entender.

" É porque estou com você. " — A sinceridade na voz dele a pegou desprevenida. "Isso me faz feliz."

Akiyo sentiu o coração aquecer. Os sentimentos que havia tentado reprimir começaram a emergir, e, sem perceber, ela se aproximou novamente dele, seus ombros quase se tocando.

" Você é insuportável." — Ela disse, mas a leveza na voz denunciava seu contentamento. "Mas é um insuportável que eu gosto."

Endy riu, o som soando como música em meio à tranquilidade das flores. O ar estava impregnado do doce perfume das cerejeiras, e por um momento, todas as preocupações e rumores desapareceram.

"Sei,então estou perduado?" — ele perguntou, esperançoso.

"Sim." — Akiyo respondeu, seu sorriso mais sincero agora.

A caminhada continuou, e enquanto as pétalas caíam ao redor deles como uma chuva rosa, Endy e Akiyo sabiam que, apesar das dificuldades, estavam prontos para enfrentar o que viesse, juntos.