webnovel

Yan

Eu definitivamente gostava mais de desinfetar banheiros.

Boa parte dos meus pensamentos foram voltados ao meu emprego de faxineiro em uma escola de ensino médio enquanto eu esperava na chuva durante duas horas pela garota que marcou de sair comigo.

Eu acho que devia ter esperado algo assim. Lembro da "ótima" cara que ela fez quando descobriu com o que eu trabalhava e quanto eu ganhava. Mas, mesmo assim eu fui e, por mais inacreditável que seja, ela parou de me responder desde que eu disse que já tinha chegado no lugar.

O triste mesmo é minha carteira e celular molhados. Espero que ele ainda funcione mesmo que eu já o tenha tentado ligar umas três vezes sem sucesso.

Estava sentado na calçada de um parque enquanto a chuva batia em minhas costas e na minha cabeça. Alguém podia perguntar o porquê de alguém ficar tomando chuva de graça sem nem tentar se abrigar de baixo de alguma cobertura, loja ou restaurante próximo.

A verdade é que eu gosto da chuva. Seu ritmo constante batendo nas minhas costas me acalma e sinto que de alguma forma limpa meus maus pensamentos ou meus pecados, ou alguma coisa assim.

Lembro das goteiras do meu quarto que me fazem ter que sempre botar um balde para não alagar o quarto e mofar minhas coisas.

Eu alugava um quarto em uma casa de um amigo. Pelo menos ele me deixava atrazar o aluguel de vez em quando, porque sabia que trabalhar sem descanso depois do funeral do irmão deixava qualquer um mal da cabeça.

Eu tinha sido criado pelo meu irmão e ele por mim. Ter quase a mesma idade fazia a partida ser ainda mais difícil ainda mais por ele ser o mais novo. Ou ao menos ele "era" o mais novo, porque nem irmão eu tenho mais, pois ele morreu queimado em um incêndio. Bom que ficar triste na chuva não muda muita coisa. Qualquer lágrima se perde no meio das correntezas que se formavam no meu rosto.

Se estivesse chovendo no dia, talvez ele estivesse bem, a água teria apagado o fogo e ele agora estivesse rindo da minha cara quando eu dissesse que me deram um fora e me deixaram na chuva. O Yago ia rir muito mesmo. Era a coisa dele rir enquanto estava nervoso, triste ou com raiva. Eu só ria quando ele começava a rir primeiro. Sou bem careta perto dele.

Ele também ria muito da minha cara nas poucas vezes que suas notas saiam melhor que as minhas. Meu professor e o Yago diziam que eu ia ser um gênio ou quase isso por causa das notas que eu tirava nas provas. E é só por causa do que eles diziam que eu estudava para passar na faculdade. Acabei nem fazendo a prova. Foi no dia que ele faleceu.

Enquanto estava sentado, senti uma luz forte artificial no meu rosto. Levantei a cabeça, era uma carreta indo reto na minha direção. O motorista tentou fazer a curva, mas só fez o veículo capotar em cima de mim.

- Puta merda....