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Novo Patamar

Desta vez, eu acordei olhando para um teto de pedras. Meus músculos doíam. Sentia que estava deitado no chão sujo. Só de inspirar um pouco o ar, percebi que o ambiente cheirava a merda.

Eu levantei a cabeça e vi grades grossas ao meu redor. Imagino que devo me sentir grato por ainda estar vivo. Mas, não me sentia muito melhor sabendo que desmaiei envolta daquelas coisas. Eu lembro que entendia os grunhidos do líder. E de todos os outros Gorgons que rugiram para mim. Não sei se só conseguia compreender suas intenções ou se havia alguma língua estranha que, por algum motivo, eu sabia.

Haviam mais três selas, fora a minha, em meu campo de visão. As quatro eram unidas e formavam um quadrado maior. O quadrado de grades estava entre dois corredores. A pouca luz do ambiente vinha das tochas pregadas nas paredes de pedra destes.

Nem todas as celas estavam vazias. Eu conseguia ver duas silhuetas. Uma a minha direita e outra a minha frente. Os Gorgons fazem prisioneiros? Quando me perguntei isso, me lembrei das pessoas que morreram naquela luta. Edric, Uri e mais quinhentos homens. Não conseguimos salva-los. Mas, onde Melvor estava no final? Não me recordo de ver seu corpo, só suas roupas vazias largadas no chão. Talvez aquele homem com centenas de anos de vida tenha algumas cartas na manga.

Subitamente, senti uma dor lacerante no meu pulso direito. Minha pulseira estava estilhaçada e seus fragmentos afundaram na minha pele. Até o momento, nunca havia sentido uma dor tão profunda quanto essa.

- Aahh!! - um urro de dor saiu da minha boca.

Senti os olhares dos que estavam nas selas próximas em mim. Meu sofrimento só parou após alguns minutos de agonia. Nem as dezenas de presas e garras tentando rasgar minha pele doeram dessa forma. Eu lembrei, foi isso que me derrubou e me desacordou.

Talvez não tenha sido um bom começo. A primeira civilização que encontro morre horas depois da minha chegada. Se foi minha culpa ou não, só sei dizer que fiz tudo que podia. Tudo que estava ao meu alcance eu fiz. Eu não conhecia muitas estratégias para guerra, na verdade mal podia dizer que sabia lutar.

O peso da derrota completa era difícil de lidar. Pessoas morreram. Muitas pessoas morreram.

Um painel distorcido surgiu em minha frente:

["Novo Patamar atingido"]

["Características Reveladas: Multiplicador de pontos de Patamar (Nível Max) e mais outras 3.456.810"]

A pulseira ainda funcionava? Olhei para o que restava do "artefato". Estava completamente diferente de antes. Como se tivesse se transformado e se adaptado a minha carne. Mas, eu ainda via fragmentos expostos. Como se eu tivesse implantado pedras rachadas ao redor do meu pulso, em vez de só uma pulseira mágica qualquer.

Mais importante ainda, três milhões de características reveladas? Como?!

Eu tentei fechar o painel e ele desapareceu. Balancei minha mão tentando fazê-lo surgir novamente e ele reapareceu imediatamente, mas os números estavam diferentes.

[Atributos]:

[Patamar 1 - Físico: 0]

[Patamar 0 - Mental: 40]

[Patamar 0 - Poder: 1]

[Características ativas (4)]:

- Multiplicador de pontos de Patamar (Nível Max)

- Linguagem universal

- Resistência (Nível 4)

- Força (Nível 4)

- Hibernação profunda (Max)

[Características não ativas (Portador não corresponde aos pré-requisitos) (3.456.806)]:

- Aura de Constelação

- Impulso adicional

- lâmina Elemental

...

A lista continuava quase infinitamente.

Meu físico tinha sido reduzido a zero e meu mental aumentou. Agora havia um "1" ao lado do patamar do meu atributo físico. Eu subi de nível? Esse negócio me lembrava um jogo de rpg ou aqueles mangás com sistemas e necromantes.

A "Linguagem universal" explicava porque eu entendia aquelas feras. Quando eu cliquei no "Multiplicador de pontos de Patamar", informações mais detalhadas apareceram.

[Pontos são, antes de serem adicionados ao patamar físico ou mental, multiplicados pelo nível da característica: "100.000.000"]

Me parece algo que aprimora meus ganhos nos meus atributos. Uma pequena janela de aviso surgiu subitamente.

[Estímulo Mental pequeno]

[Compreensão da janela de dados]

[Ganhos: 0.0000000005 x Multiplicador]

[Multiplicador: 100.000.000]

[Ganhos totais: 0.5]

Fechei o quadro de avisos e olhei o patamar mental.

[Mental: 40 > 40.5]

Entendi porque meus atributos cresciam tão rápido. Eu nunca tinha visto essas pequenas janelas de avisos antes. A transformação que isso teve era extremamente interessante.

Eu continuei lendo os detalhes das minhas novas características. A única que não era obvia era a "Hibernação Profunda (Max)".

[Ao adormecer, aprimora o nível da característica "Resistência" para "Max"]

Pelo menos não tenho que me preocupar quando for dormir. Quando comecei a analisar as características não ativas, a grade que dividia a minha cela com a da frente começou a subir. Era extremamente barulhenta e lenta. Me senti um imbecil. Me distraí de mais com as mudanças no meu artefato e esqueci onde estava, preso em um lugar estranho com pessoas estranhas a minha volta.

Me levantei e tentei ver quem estava na outra cela. A silhueta ganhava cada vez mais forma a medida que as grades extremamente grossas eram erguidas. Poucos segundo depois, eu via a aparência de quem estava do outro lado. Uma garota de pele morena, cabelo longo, vestindo trapos muito sujos. Suas mãos tinham grossas cicatrizes e as unhas pontudas estavam a mostra. 

Ela olhou para mim. Seus olhos tinham fendas verticais verdes, quase como um puma. Em instantes, ela já estava a poucos milímetros de mim com suas mãos tentando acertar meu pescoço. Consegui desviar no susto, mas ela fez uma manobra e bateu com o pé no meu rosto. 

Centenas de golpes foram feitos e eu mal conseguia se quer revidar. Contudo, em algum momento eu acertei uma cotovelada no seu peito e ela ficou sem ar. Aproveitei para segurar seus braços e lança-la na direção da própria cela. A garota bateu contra as grades e gritou de dor. Ela ficou um tempo no chão até tentar levantar, mas acabar caindo de bunda. 

- Eita, eita

 

Uma voz saiu por trás da cela ao lado da minha. Me virei e vi um homem de olhos puxados, cabelos longos, roupão oriental e uma espada longa ao lado.

- Não é sempre que alguém arremessa a menina ai sem antes ser estraçalhado por ela...

- Quem é você? - eu o interrompi com uma pergunta

- Seijiro Komi, meu nobre. Eu lhe explicaria mais sobre minha persona, mas você está um pouco ocupado agora.

- Como assim?

Quando terminei a frase, recebi uma joelhada da menina na testa e uma rasteira logo em seguida. Alguns minúsculos painéis de avisos vindos do artefato surgiam toda vez que eu conseguia, miraculosamente, desviar de um golpe ou falhava tentando. Nenhum dos ataques dela doíam realmente. Mas, ela era estupidamente rápida e precisa. Eu só fui atingi-la, após levar centenas de chutes e socos, com meu ombro por mera casualidade.

Novamente, ela se desequilibrou e eu a chutei de volta para o canto dela. A garota ficou ali, na cela dela me olhando com seus profundos olhos de felino sem piscar. Alguns minutos se passaram e já era visível o roxo dos hematomas que fiz com meus poucos golpes. A grade, que antes nos dividia, começou a descer.

- Você conseguiu, sobreviveu.

- Onde estamos?

- Presos em cativeiro.

- Isso eu sei, mas aonde?

- Não faço ideia, meu colega.

- Você não sabe?

- Claro que sei, tenho até um mapa do lugar tatuado nas costas. Não colega. eu não faço ideia.

- Sabe quem nos prendeu aqui?

- Estamos na mesma, meu amigo. Só sei que, daqui a pouco, alguém vai aparecer na frente da minha cela e vamos tentar nos matar como vocês dois.

- Parece que alguém quer que nos matemos.

- Parece muitas coisas, meu nobre. Mas, nenhuma delas é boa.

Eu o observei mais atentamente. Ele tinha calos nas mãos e a roupa estava suja como a da menina.

- Sabe quem é ela? - eu apontei na direção da garota sentada na cela.

- Eu também adoraria saber, mas ela não me responde quando eu tento conversar. Quando suas celas abrirem de novo, você vai lá e diz que eu perguntei. - sua frase terminou com um enorme sorriso irônico.

Acho que vou adorar muito meus novos vizinhos.