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A Voz

Eu queria saber onde fica a porcaria dessa casa.

Quando cheguei na vila, fui recebido por olhares de todo os lados. Eu escutavam eles se perguntando. "O que aquele homem seminu está fazendo?", "Quem é aquele cara esquisito perambulando por ai?". Enquanto isso acontecia eu me escondia nas sombras das casas simples de madeira e aspecto medieval da coisa toda.

Passei uma hora sendo assediado por todos os lados pelos olhares e resolvi me sentar do lado de uma loja. Podia ter me dito ao menos como era a casa antes de eu chegar na vila. Mas, eu não fazia ideia de onde estava. Antes de ser atropelado, eu me sentia um pouco abandonado. Sem muito o que me segurar na vida. Sem nenhum parente vivo para se quer dizer algumas palavras vazias de consolo. Aqui parece que eu realmente não tenho nada. Até tentei chamar a voz, mas ela não me respondeu e me deixou no silêncio que só deixava meu imaginário pessimista pior.

Enquanto eu estava olhando para o chão me remoendo em meus pensamento, alguém me jogou um cobertor cinza em cima de mim.

- Perdão pela demora, Senhor Yan.

Eu tirei o manto do meu rosto e vi uma mulher com cabelos negros muito curtos, um florete e uma roupa de couro com placas de metal cobrindo o torso e ombros. Parecia quase um cavaleiro medieval.

- Me chamo Evalyn, vim lhe acompanhar até a casa.

Ela era bonita. Tinha uma composição forte e sólida. Diferente das mulheres de academia de onde eu vim, ela parece que treinou fazendo trabalho braçal ou brigando com outros cavaleiros.

- Era você conversando comigo antes de eu chegar aqui?

- Não, vim só lhe levar até a casa que estava procurando.

Eu me levantei e me cobri com o manto cinzento.

- Entendi, me guie então.

Ela assentiu com a cabeça, começou a andar e eu a segui.

Caminhamos até a frente de uma casa verde de madeira. Tinha dois andares, janelas e emitia uma aura aconchegante de lar. Muito bonita se comparada as outras casas próximas. Evalyn abriu a porta para mim e eu entrei.

Quando estávamos dentro, uma silhueta sentada no sofá encarava a gente. Um homem grisalho, barbudo, de gravata marrom e terno verde musgo fumava um charuto enquanto me olhava encantado.

- Temos uma visita maravilhosa - ele disse com um sorriso de ponta a ponta.

Ele se levantou e me cumprimentou.

- Me chamo Melvor. Tinha me apresentado como "A Voz" e é uma honra conhecê-lo agora que acordou.

- Obrigado… - respondi um pouco desconfortável com a estranha simpatia.

- Vamos sentar em um lugar mais confortável. Me acompanhe.

Ele se virou e andou mais para dentro da casa. Chegamos até uma escadaria e subimos até o segundo andar. Tinha uma lareira e a vista do por do sol era fantástica. Nos sentamos em poltronas verde musgo e ficamos calados até eu quebrar o silêncio.

- Me explique direito sobre quem é você Melvor. Quero saber onde estou e como me encontrou.

Fui direto. Estava querendo respostas completas de onde eu estou e com quem estou falando. Não queria mais ficar no escuro enquanto estou nessa situação.

- Sou um Homem fascinado pelo desconhecido. O que os outros chamariam de mago ou místico. Fiz muitas coisas para conseguir estender a minha vida e outras mais para adquirir minhas habilidades. Te encontrei nas profundezas de uma caverna, chamada de "O Poço da Terra", enterrado debaixo das pedras. Parecia que você fazia parte da própria estrutura da caverna de tanto tempo que devia ter ficado ali. Como eu disse antes, foi há 450 anos.

Ele respirou fundo. Parecia preocupado com algo, mas continuou.

- Yan, você está em um planeta chamado "Mundo Antigo". Dentro do continente de Vak e na vila de Sart. É uma região perigosa, por isso não recomendo passar muito tempo aqui.

- Por que perigosa?

- Vak é entupida de guerras de todos os tipos de seres que nela vivem. Alguns deles são atraídos pelo poder que você emana.

- Poder?

- Seu sono o tirou da realidade por muito tempo, acredito que seja por isso que não sabe, ou acha que não sabe, nada sobre o mundo e sobre quem você é.

- Seu corpo é quase indestrutível e seu sangue é fonte de poder.

Eu desacreditei completamente na história com essa ultima frase. Olhei para a Evalyn desconcertado, imaginando como ela estaria escutando essa coisa toda, e ela se mantinha em silêncio e com o rosto relaxado. Não conhecia nada sobre ela. Provavelmente, ela já conhecia Melvor e se o achava doido ou não, era impossível de descobrir pelo formato da sua face.

- Desde que acordou, o fantasma de sua verdadeira força está sendo gradualmente revivido dentro de si. Alguns predadores se afastam desse tipo de poder, a maioria dos que vivem na floresta são assim. Mas, os mais fortes são atraídos.

Uma longo silêncio se prolongou após a ultima frase de Melvor. A sala começou a ter um clima mais pesado e o fogo da lareira parecia mais fraco.

- Quero lhe entregar um presente.

Ele tirou uma caixinha do bolso de seu terno verde e abriu. Era uma pulseira negra com um símbolo de um pássaro púrpura gravado em cima.

- O senhor é dito como o Deus dos adormecidos e sonhadores. Por isso, quero lhe dar algo que o inspire como os sonhos inspiram as pessoas. A pulseira vai lhe informar da evolução da sua força de forma intuitiva e lhe dar instruções do que pode ser feito com a força atual. Ela também se disfarça na pele caso queira ser um pouco mais discreto.

Eu peguei a caixa e analisei a pulseira. Sentia que era algo diferente de um adereço qualquer.

- Está me ajudando bastante. Eu… agradeço.

Quando disse isso, Melvor abriu um sorriso gigantesco e Evalyn ficou chocada com a imensa felicidade daquele senhor, talvez até preocupada.

- Bem, também quero que me ajude um pouco - o senhor disse, enquanto bebia uma xícara do que parecia ser chá.

- Farei o que puder.

- Salve a vila de Sart da aniquilação, por gentileza.