webnovel

CAPÍTULO 17 - UM PISCAR DE OLHOS

1

O dia se iniciava mais uma vez no lado de fora das cortinas do quarto do garoto, que sem forças, exitava em sair da cama.

O sol se refletia de forma forte em sua janela, porém, nem isso era suficiente para garantir que ele pudesse realmente acordar.

"Acho que não há nada melhor do que descansar após um dia longo."

Finalmente ele deixou sua preguiça de lado e se sentou na cama.

Escorado na cabeceira, relaxou sua mente praticando um exército de respiração e logo após, esticou seu corpo para que acordasse de verdade, alongando seus braços e suas costas.

Logo, sua sessão calma de despertamento foi interrompida por uma batida suave na porta, que foi acompanhada de uma voz já conhecida.

"Você está aí, Tsuki?" – A voz levemente autoritária da empregada de cabelo verde atravessou a porta, sendo logo identificada por ele.

"Pode entrar."

Após ouvir a resposta do garoto, ela abriu a porta e entrou no quarto de forma totalmente informal e direta.

Se aproximando da cama onde Tsuki estava, se sentou sem dizer nada. Aparentemente seu objetivo era uma conversa séria, algo um pouco mais direto do que o garoto imaginava vindo de uma empregada.

Sem ter nenhuma expressão específica no rosto, ela causava grande suspense ao garoto, que se manteve sério enquanto ajeitava sua postura. Esperando um pelo outro, nenhum deles tinha falado nenhuma palavra desde que a empregada Trix tinha entrado no quarto.

"Mas então…"

"Eu…"

Os dois se atropelaram em suas falas, parando um para ouvir o outro, o que fez a comunicação deles permanecer em silêncio total.

Logo, Tsuki tomou novamente a palavra em busca de organizar o diálogo deles desde aquele ponto.

"Tudo bem, as manhãs são complicadas para todos nós. Pode começar falando."

"Tudo bem. Obrigado garoto."

"Você não dá o braço a torcer nunca mesmo."

Finalmente os dois saíram de suas expressões superficiais e colocaram sorrisos simpáticos em seu rosto.

Os dois por mais de não terem proximidade, pareciam não se odiar, porém, também não pareciam se gostar tanto quanto deviam.

"Pois bem. Primeiramente quero saber se você acordou melhor?"

"Você está preocupada comigo? Isso é bem inédito pra mim."

"Você fala como se fossemos ao menos conhecidos de muito tempo."

"É verdade. Eu não parei para pensar que nós nos conhecemos a só um dia."

O garoto bagunçou o próprio cabelo enquanto pensava sobre o que a garota havia lhe dito. Por mais de ser um tamanho relativamente grande, o cabelo dele não havia bagunçado nem com o vento de sua fuga e nem com uma noite profunda de sono relaxante.

A garota manteve sua postura e decidiu manter o rumo da conversa de forma organizada, por isso, ignorou a fala do garoto.

"Você não deu uma resposta de verdade. Você está melhor?" – Ela reafirmou sua dúvida enquanto exibia em seu rosto uma sincera preocupação.

"Está tudo bem. Na verdade, eu estou com alguns machucados, mas isso não é nada demais."

Enquanto citava os machucados, o garoto levantou sua blusa de forma vergonhosa e mostrou para a garota os cortes que estava por toda sua barriga e costas. Provavelmente, todos aqueles cortes e arranhões tinham sido feitos por todos os galhos no qual caiu durante a fuga na floresta.

A garota manteve sua preocupação ao ver os machucados do garoto. Não era nada que pudesse o matar, talvez nem mesmo ardesse mais naquele momento, porém, ela decidiu agir mesmo assim.

"Fique parado por enquanto."

"Mas, porque?"

"Não diga nada, apenas me obedeça" – Respondeu de forma séria e direta para o garoto.

"Tudo bem. Você que manda, chefia." – Sem ser afetado pelo comentário dela, respondeu provocando.

"Você é bem direto em relações, não é mesmo?"

Colocando as duas mãos perto das costas do garoto, a empregada conjugava magia em sussurros. Da mão dela, surgiu uma luz azul em forma de uma bolha de água, que pouco a pouco curava as costas do garoto.

O garoto sentiu que algo estava diferente na condição de seu corpo, tanto na sensação, quanto na energia e forças. Além dos machucados fechados, o pouco sangue que ele havia perdido também estava sendo reposto.

Por mais de tentar, o garoto foi impedido de olhar para trás pelas mãos da garota, que empurrava sua cabeça de volta para frente.

"O que você está fazendo?" – Perguntou Mizu

"Não reclame agora que já estou quase terminando." – Respondeu Trix, usando um tom rude

"Não estou reclamando."

"Então apenas me deixe terminar."

Poucos segundos foram o necessário para que todos os cortes das costas dele fechasse completamente. Era como se nunca tivesse ocorrido nada. Praticamente como uma cirurgia perfeita.

"Agora se vire de frente" – Tomou a palavra novamente a garota.

"Tudo bem." – Assentiu com a cabeça o vergonhoso garoto.

Novamente, ela estendeu a mão na direção do garoto, porém, agora ele pôde ver tudo que estava acontecendo durante a cura de seus ferimentos.

A luz que brilhava vindo da magia da garota o fazia lembrar do espírito gato cinza que tinha visto na capital junto da garota de cabelo prateado.

Aquela cura estava sendo um alívio físico e um alívio para a alma do garoto, que podia finalmente relaxar após tudo o que havia acontecido.

Enquanto curava o garoto, a empregada manteve seu olhar sério e fixo. Sua expressão sem emoção deixava evidente seu sentimento de culpa e preocupação em relação ao garoto.

No fundo, o maior desejo dele era questionar os motivos da garota, porém, ele sabia bem que seria uma falta de educação, similar ao seu quase atropelamento que o levou para a atual situação.

"De forma alguma." – Os pensamentos dele tomaram forma de voz e saíram sem que ele percebesse.

"O que? Está te incomodando?"

A garota praticamente parou sua sessão médica para garantir que não estava deixando o garoto ainda pior. Ele porém, percebeu que havia feito um comentário totalmente fora de qualquer contexto que pudesse ser explicado com uma desculpa qualquer.

"Não é nada. Pode continuar."

Mesmo com vergonha, decidiu pedir para que ela terminasse o trabalho que já estava por finalizar.

Respondendo apenas com um olhar coberto de seriedade, a garota voltou a fazer seu tratamento, curando o resto das feridas da barriga do garoto.

"Pronto, está finalizado." – Imediatamente ela se levantou

"Você já vai?" – Tsuki questionou enquanto expressava dúvida em seu rosto ainda bastante avermelhado

"Perdemos muito tempo aqui."

Ela caminhou para a porta enquanto fechava novamente aquele sorriso que tinha expressado para o garoto antes. Voltando a fazer sua expressão séria, andou até a porta e antes de sair virou novamente em direção a cama onde estava o garoto.

"Se arrume e desça, Tiga quer falar com todos."

Antes que ele pudesse responder, ela deixou o quarto.

Ainda sentado na cama, o garoto se viu totalmente perdido em seus pensamentos, que percebiam seu pequeno vacilo durante o diálogo. Ele sabia bem o peso daquela frase que não devia ter sido dita de forma totalmente inoportuna.

– "Que droga. Estávamos indo tão bem."

Para ele, aquele erro era como perder 1 ponto de comunicação.

Assim como um pokémon, sua evolução dependia de terceiros e de suas batalhas durante o caminho.

"Vamos lá então."

Levantando da cama, ajeitou sua camisa, pegou o casaco que estava na mesa ao lado da cama e deixou o quarto em direção a sala de recepção.

2

Chegando na sala, o garoto viu todos da mansão reunidos na sala de recepção, que ficava ao lado da entrada da mansão. Sakura, Trix, Bella e o homem amigo de Sakura estavam sentados junto de uma pequena garotinha e um garoto jovem vestido de cavaleiro, ambos do vilarejo.

Tiga estava ao centro de todos, que formavam uma roda com seus assentos.

"Você demorou muito." – Disse Trix em forma de provocação para Tsuki.

"Está tudo bem, Suki-san. Ignore como eu também costumo fazer." – Tiga falou para Tsuki em relação a frase dita pela empregada.

Tsuki não perdeu tempo e se sentou na cadeira que estava vazia no círculo da reunião. Por mais de não entender o motivo da reunião, sua principal dúvida era sobre o motivo dos moradores do vilarejo que estarem na reunião.

"Agora sim estamos todos aqui. Para não tomar muito do tempo dos senhores, serei direto."

Ao centro do círculo, Tiga chamou a atenção enquanto puxava sua fala de forma completa. Em suas mãos ele segurava claramente um papel branco e o balançava propositalmente para chamar a atenção para ele.

Esperando alguns segundos após o final de sua fala, o jovem homem ao centro da roda esperava que alguém se manifestasse em dúvida sobre o papel em suas mãos, porém, ninguém percebeu sua intenção e se mantiveram todos em silêncio.

De todos da roda, Tiga só podia contar com a comunicação de olhares que tinha com Tsuki. Apontando para o papel de forma sutil, tentou sinalizar algo para o garoto, que logo entendeu o que Tiga tentou lhe dizer e agindo, levantou sua voz imediatamente.

"O que é esse papel na sua mão, Rau-san."

Por mais do esforço, Tsuki deixava evidente sua atuação. Desde sua infância, ele odiava as aulas de arte e nunca frequentou realmente as aulas de teatro de sua escola.

Antes que todos da roda percebessem a forçada interação entre os dois, Tiga tomou a palavra novamente para que pudesse responder o que tanto esperava para dizer.

"Pois é sobre ele a nossa conversa."

Tiga levantou o papel de sua mão, junto a seu tom de voz.

"Esse papel é uma segunda carta da senhorita Melty, que está esperando que alguém a busque."

Sem que ninguém tivesse percebido antes, o papel que parecia ser único, se tornou uma segunda folha, que agora era o destaque da mão do jovem homem.

"Esse aqui é o relatório que pedi para ser feito sobre o vilarejo e o estado da floresta. Nele foi revelado que provavelmente só poderemos entregar os moradores de volta para lá em pelo menos duas semanas."

"O que?! Duas semanas?" – Disse em tom alto a senhorita Sakura.

Finalmente alguém tinha levantado voz em meio ao silêncio que se formava nos extremos da roda de conversa que tinha Tiga de foco. Não havia sido da forma que todos esperavam, mas o jovem homem se animou da mesma forma apenas por ouvir uma nova voz.

"Sim, Sakura. Se agirmos agora, provavelmente só vamos entregar tudo em duas semanas."

"E o que faremos a partir de agora?" – Questionou Sakura, que logo foi respondida.

"É exatamente esse o principal assunto da nossa conversa. Teremos que dividir as tarefas em três. O primeiro será a pessoa que vai me acompanhar para buscar a senhorita na capital, além de fazer algumas obrigações que temos a fazer lá. O segundo será o grupo que vai visitar a floresta para cuidado da queimada e para reorganizar os cristais que protegem a vila dos majus."

"Acho que podemos fazer isso." – Levantou mais uma nova voz, dessa vez do garoto do vilarejo, que se curvou de forma totalmente exagerada.

"Tudo bem. Veremos isso logo." – Respondeu Tiga, dando a indicação para que o garoto se sentasse de volta.

Ter sido cortado em meio a sua frase, deixou Tiga perdido sobre como voltar a si, porém, teve a ajuda para recobrar novamente sua linha de raciocínio e fala.

"E a terceira equipe, Rau-san?" – Tsuki disse, fazendo com que Tiga sorrisse em resposta.

"A terceira equipe fará a construção e reforma do vilarejo. Como estamos indo exatamente para comprar o material, de início eles apenas vão fazer a primeira limpeza da vila."

Todos estavam em silêncio ao final da fala de Tiga. Apenas o garoto do vilarejo se pôs novamente de pé. Ele foi o único a se dispor para uma equipe.

Olhando rapidamente para todos, o garoto percebeu que ninguém iria se dispor a fazer a escolha de sua função. Provavelmente ser mandado era mais fácil do que escolher o que fazer por conta própria.

– "isso é estranho." – Pensou o garoto, levemente revoltado com tudo ao seu redor.

Porém, logo os pensamentos de revolta do garoto foram quebrados por uma voz que se levantou em meio ao círculo de pessoas.

"Tiga, eu irei com você!"

Se levantando, Tsuki esticou sua mão em forma de comprimento ao jovem homem no qual tinha dirigido a palavra.

Respondendo com um sorriso sincero e cheio de animação, o jovem homem Tiga se virou para todos que estavam sentados.

"Tudo bem. Então Tsuki irá comigo. Eny montará a equipe para a floresta e Sakura ficará com o vilarejo."

Tiga terminou sua fala e logo se retirou dali formalmente, o que foi repetido por praticamente todos que estavam ao seu redor. Apenas o garoto chamado Eny, a pequena garota do vilarejo e a empregada Bella permaneceram sentados junto de Tsuki.

O garoto do vilarejo permanecia aparentemente revoltado, enquanto a garota e a empregada conversavam entre si de forma particular.

Olhando tudo calmamente, Tsuki sorriu de felicidade ao ver o ambiente que estava a sua volta. Nem mesmo a expressão estressada do jovem garoto poderia estragar aquele momento positivo e alegre da mansão Pristis

Sem muito enrola, Tsuki saiu de sua cadeira e andou pela mansão em busca de Tiga.

3

"Já está na hora de irmos, não demore tanto."

Tiga e Tsuki estavam juntos do lado de fora da mansão. Tiga já estava em cima do dragão terrestre, porém Tsuki ainda parecia ter algo a resolver antes de ir, por isso, não estava com seu dragão. O aviso do jovem homem para o garoto era de um tempo limite para que o problema fosse resolvido.

Sem perder tempo, o garoto correu para dentro da mansão enquanto Tiga arrumava a carruagem para estar pronto para partir. Entrando na mansão, o garoto teve seu rumo principal para a cozinha, entrando diretamente sem avisar.

"Bella, preciso te entregar algo."

"Pensei que você já tivesse partido, Tsuki."

Entrando na cozinha, ele viu a garota sentada ao lado da tábua de cortes. Ela se viu surpresa ao ver o garoto, que imaginava ver apenas na volta.

Nas mãos dele estava um dos cristais verdes que tinha encontrado jogado pelo corredor da mansão.

Entregando para a garota, sorriu enquanto se apressava para voltar para a carruagem.

"Espere."

O garoto parou de andar ao ouvir a voz da garota o chamar.

Virando para trás, viu que ela estava mais vermelha do que normalmente ficava.

"O que foi, Bella?"

"Não. Não é nada." – Parecendo relutar em dizer, ela evitou deixar que suas palavras saissem sem pensar bastante antes.

"Eu não sou nada bom em conversar, por isso não vou insistir." – Tsuki sorriu enquanto dizia, usando isso como uma forma de deixar a garota confortável

"Está tudo bem. Quando você voltar eu te conto."

"Por acaso não existe ansiedade nesse mundo?!"

O garoto terminou a conversa resmungando sobre a ansiedade que havia sido jogada em cima dele naquele momento, porém, ao ver a reação perdida da garota, deixou de lado sua própria fala e decidiu partir de volta para a carruagem.

"Acho melhor eu ir. Nos vemos em breve."

"Tudo bem, se cuide, luz."

O garoto deixou a cozinha sem olhar para trás e nem mesmo percebeu ter sido chamado de forma levemente diferente do comum.

A jovem empregada que estava ficando para trás sorria de uma forma reluzente, algo diferente de todas as outras vezes. .

Saindo da mansão, Tsuki foi o mais rápido que pôde até a carruagem, onde logo partiu viagem junto de Tiga. Por vontade própria, o garoto estava indo na parte de trás da carruagem, enquanto Tiga ia sozinho pela parte da frente.

Diferente das carruagens que tinha visto antes, essa em que ele estava não era para levar pessoas, mas sim equipamentos. Era como um cofre ambulante feito de madeira.

"Não gostei do fato de não ser o meu dragão." – Tsuki reclamou para Tiga

"Na verdade faz sentido eu não estar utilizando seu dragão, não é? Inclusive, soube que você deu um nome para ele."

"Sim. Ele é o dragão dos céus, Cetus." – Tsuki se empolgou enquanto citava parte da mitologia de seu mundo natal.

"Eu sinceramente gostei desse nome." – Tiga concorcou com a empolgação do garoto, porém não entendia exatamente o motivo de tal empolgação exagerada.

Os dois conversavam demonstrando semblantes comuns de concentração enquanto faziam suas funções respectivas funções. Tiga comandava o dragão e Tsuki organizava a carruagem. Mesmo precisando de concentração, era difícil que eles parassem de conversar. Eles sinceramente gostavam de conversar um com o outro.

"Inclusive, você está ciente de tudo que tem que fazer na capital?"

"Ciente eu até estou, porém não faço idéia de onde fica nenhum desses lugares."

"Tenho certeza que não terá nenhuma dificuldade."

"Eu queria acreditar nisso, porém acho difícil que as coisas sejam diferentes da minha primeira vez lá."

O garoto estava pensando e se referindo a suas memórias em relação ao dia que chegou naquele mundo, onde não teve sorte alguma na capital do Império.

Desde que tudo aquilo tinha acontecido já haviam se passado dois dias e ele esperava que tudo já estivesse resolvido em relação aos problemas que ocorreram em seu primeiro dia.

"Eu tenho certeza que você consegue, Suki-san. Você é diferente de todos que já vi."

Em resposta, Tsuki riu de forma descontraída, considerando a fala de seu amigo uma piada de alta modéstia e amizade.

"Com que base você me diz isso, Rau-san?"

"É só olhar ao redor. Todos os que foram para o vilarejo voltaram de forma aterrorizada, com exceção de você."

A fala de seu amigo Rau o deixou levemente pensativo enquanto arrumava a carruagem.

Raciocinando sem deixar de fazer suas coisas, ele chegou a conclusão de que realmente havia algo de errado com as garotas que tinham ido com ele para o vilarejo.

"Deixando a modéstia de lado, foi realmente aterrorizante lá. Eu pensei que ia morrer."

"Estou realmente feliz que tenha voltado com vida. Porém, não foi assim para todos."

"Como assim?" – O garoto perguntou assustado.

"Apus, o dragão de Sakura infelizmente foi incinerado na frente dela."

Naquele momento, o terror tomou conta do corpo do garoto, que sentiu imediata compaixão pelo dragão que provavelmente teve uma morte horrível. Pensar que poderia ser o seu dragão naquele lugar não ajudava, por isso, tentou fugir de seus pensamentos, deixando um silêncio terrível na carruagem.

Tiga não tinha mais o que dizer, por isso, apenas aceitou o silêncio que deixava ambiente ainda mais sombrio por se juntar ao balançar das árvores.

"Era isso que você ia me dizer ontem?" – Tsuki puxou algo de sua memória do dia anterior para não deixar que o ambiente fosse totalmente tomado por aquele ar sombrio.

"Exatamente isso, Suki-san." – Tiga concordou balançando a cabeça, porém não disse nada a mais, forçando Tsuki a voltar a falar.

"Por mais terrível que pareça, é menos aterrorizante do que minha cabeça imaginou."

"Esses últimos dias mexeram com você também, aparentemente, não é?"

"Irônico ouvir essa pergunta de você."

Deixando todo o estresse e o peso da conversa de lado, os dois riram enquanto deixavam uma grande leveza no ambiente, que agora de preenchia com a grande amizade deles.

Sem que eles percebessem, a noite tomou o ambiente durante uma troca de risos deles. O clima foi totalmente tomado por uma escuridão ainda maior durante a passagem da carruagem por uma floresta que ficava no meio do caminho para a capital.

4

"O tempo está agradável, não acha?" – Tiga puxou o assunto após muito tempo de silêncio entre eles.

"Oi?"

O garoto estava totalmente disperso quando ouviu a voz de seu amigo o chamar. Recobrando seu raciocínio, conseguiu prestar atenção no que lhe foi dito.

"Perguntei sobre o tempo. O que acha dele?"

Olhando para o lado de fora, Tsuki percebeu que já estava extremamente escuro enquanto eles passavam pelo centro de um floresta.

"Sinceramente, está bem escuro."

"É bom pensar que eu não seja o único a ver isso."

Tiga olhou para trás enquanto sorria ao perceber que a escuridão na verdade era natural, e não algo de sua cabeça. Os dois perceberam seus raciocínios cansados e riram um do outro.

"É bom estarmos juntos." – Tiga comentou de forma afetiva

"Eu concordo…" – Tsuki respondeu da mesma forma, sorrindo com todos os dentes.

Os dois trocaram afetos, porém, antes que a conversa acabasse um grande impacto acertou a carruagem em cheio.

Tiga voou para longe, enquanto que seu dragão foi praticamente nocauteado pela pressão do golpe. Por estar dentro da carruagem, Tsuki não foi lançado, porém sentiu o forte impacto que acertou a lateral da carruagem.

Com pressa, o garoto saiu da carruagem enquanto era afetado pela tontura que o impacto tinha lhe causado.

Logo após sair da carruagem, ele foi em busca de Tiga.

"Rau-san?!"

Olhando para os dois lados, não viu nada que fosse diferente do normal, apenas a floresta aparentemente vazia ao seu redor.

O sangue fluía em seu peito e a adrenalina o fazia olhar para todos os lugares possíveis, seu corpo não parava em nenhum momento e logo foi tomado totalmente pelo terror e por uma infinita tremedeira.

Decidindo andar para procurar Tiga, ouviu um barulho que vinha das árvores à direita da carruagem caída.

"Que droga, rau-san?" – Exitando em ir, Tsuki respirava forte a todo momento.

Se aproximando lentamente do lugar do barulho, ele segurava seu coração com sua mão direita, garantindo que ele não fosse saltar para fora.

Ao chegar finalmente ao local de onde ouvia o barulho, foi surpreendido por um novo som de animal, que também o notou no mesmo momento.

Olhando para o local do novo barulho, viu naquele momento um Guiltylowe comendo a cabeça do dragão terrestre de Tiga.

Após praticamente interromper aquele momento, teve sua presença percebida pelo Maju, que com os olhos do dragão na boca, se virou em direção do garoto, que correu imediatamente.

Fugindo o mais rápido que podia, ele intercalava entre fugir e olhar para trás, buscando ver se o Maju o perseguia.

Sem perceber nenhuma aproximação, ele voltou para a carruagem.

"Corra…"

A voz de Tiga surgiu de baixo, o que fez o garoto olhar para a direção da voz.

"Não perca tempo comigo. Fuja."

O garoto se viu em choque enquanto via seu amigo caído no chão coberto de sangue. Ao redor dele estavam raposas negras que comiam parte de seu corpo.

Naquele momento, ele já estava com apenas a metade de cima de seu corpo. As raposas o comiam em conjunto por etapas. Eram pelo menos 6 delas, que mordiam com a maior força que podiam, arrancando pedaços em cada mordida.

Aterrorizado, Tsuki não sabia qual seria seu próximo passo. Fugir dali parecia a opção mais egoísta e irrealista, pois não haveria para onde fugir, porém, era a única coisa na qual ele podia pensar após ouvir as últimas palavras de seu amigo, que cada vez mais era devorado pelas famintas raposas.

Ver aquela cena consumia mais e mais a mente de Tsuki, paralisando ainda mais seu corpo.

"Que droga!" – Inflando sua garganta, ele gritou em direção ao céu como forma de protesto.

Sua mente naquele momento já não era mais sustentável, ele não conseguiria tirar aquelas cenas e palavras de sua mente pelo resto de sua vida.

Hesitando em se mover, se manteve parado no mesmo lugar enquanto via seu amigo terminar de ser comido por inteiro pelas raposas, que estavam comendo seu cérebro através de seu crânio aberto.

Enquanto mantinha seus olhos totalmente aterrorizados focados naquela cena, foi surpreendido por um forte impacto na lateral de seu corpo, o lançando para dentro da floresta

Quase sem consciência, ele finalmente sentiu novamente seu corpo, que tinha perdido sua sensibilidade ao ser lançado para dentro da floresta. O impacto que sofreu na lateral da barriga quebrou todas suas costelas, além de danificar seriamente sua coluna.

"Que droga, está aberto." – Sofrendo, Tsuki colocou a mão na região do impacto.

Ao olhar para sua mão, percebeu um excesso de sangue, que explicava o calor que ele estava sentido naquele momento. A lateral de seu corpo estava praticamente aberta por completo, o que estava o fazendo perder todo o sangue de seu corpo.

"Arggg"

Ouvindo um ruído de raiva, sorriu de forma irônica.

"Seu Maju desgraçado!"

O Guiltylowe que tinha atacado a carruagem e o atacado, apareceu para finalizar seu trabalho.

As raposas que tinham comido Tiga tinham se tornado comida do grande Maju principal, que agora estava finalizando sua refeição com a carne principal.

Correndo em direção ao corpo do garoto, o Maju o lançou ainda mais longe, tendo caído sentado na frente de uma árvore.

Uma das costelas de Mizu, estava aparentemente atravessando sua barriga para a frente, o que o mataria em poucos minutos.

– "Que droga, eu vou morrer." – Disse enquanto sua voz já começava a sumir de sua garganta.

Logo, ele viu novamente o Maju, que estava reto para ele e se preparava para correr em sua direção.

– "ah… ele está vindo"

Recebendo uma cabeçada do Maju, teve sua costela sendo lançada para trás, atravessando seu corpo, praticamente o empalando junto a árvore.

A morte já era evidente naquele momento, porém, por mais de todo o sofrimento que estava passando, aquele ainda não era o último golpe.

Sem possibilidade de se mover e sem uma morte instantânea, Tsuki sentiu a dor de ter metade de sua barriga arrancada por várias mordidas do Maju, que fincava suas grandes presas no mais profundo de sua barriga.

Após cerca de vinte mordidas, Tsuki perdeu sua consciência de forma definitiva.

O que restou naquela floresta foram apenas ossos. Toda a carne que havia ali tinha sido comida pelo grande Maju.

Não havia mais o que fazer naquele momento,

Tsuki havia morrido de forma cruel, torturante e trágica.