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Prólogo, A crise começou

Mesmo com infinitas palavras, não haveria como descrever o absurdo que aconteceu. Ele queria de todo coração esquecer o que passou, para que sua alma pudesse ter algum descanso. Mas mesmo se batesse sua cabeça o mais forte que pudesse contra um muro espinhento, para esquecer, ainda sobraria no fim, uma cicatriz para relembrar.

O tempo se passou com uma turbulência de chuvas fortes e vendavais assustadores, que mais pareciam querer varrer toda essa cidade a baixo — este clima já se pendurou por meses.

Por incrível que pareça, as pessoas dessa cidade não se preocupam com a situação em que nós encontramos. Talvez não vieram com preocupações pela falta de acidentes ocorridos; Mas continua sendo uma situação preocupante, é uma grande sorte vivemos em um morro só um pouco elevado a altura do mar, assim alagamentos não são preocupações, muito menos deslizamentos.

Um homem que passava por grande parte de sua vida olhando por de trás de uma janela, encarava a chuva com um rosto totalmente cansado. Os respingos que caiam pelo vidro recaiam mais uma vez sobre esta cidade.

"E mais uma fez, o ciclo se repete. Vejo que o clima mais uma vez não vai me ajudar", pensou o homem. Que encarava exausto todas as gotas que rasgavam vidro abaixo.

Vendilhão Grande, é como se chamava esta sua cidade, que não passava de uma grande vila, mas o prefeito insistia em dizer o contrario, dizendo que logo a tornaria em uma grande cidade — por isso, forçando todos a chamá-la de cidade. Um tanto possessivo.

O homem se encontrava em um estado deplorável, olheiras que se estendiam mais do que seus pequenos olhos, deixavam isso bem claro. Mas deixando a sua situação de lado, ele se chamava de Ricardo Gomes, no momento ele deve ter seus 22 anos de solteiro, e de idade. O homem desejava por tempos que a chuva passasse um pouco, isso por que ele acreditava fielmente que sua causa se correlacionava a si, já que o mesmo começou a se sentir cansado e em péssimo estado emocionalmente quando esse clima começou. Já dizer que sinceramente, Ricardo detinha uma imaginação muito fértil, sempre imaginando cenas hipotéticas de prováveis situações.

Seu físico era triste de se olhar, o que conciliava com seu jeito cansado e sem emoção, era magricelo e quase nenhum músculo por todo seu corpo, mas não é como se ele comumente se olhasse no espelho para reparar isso — ele se detestava ao máximo. Isso por que tudo que ele buscou na vida veio a dar errado. Projetos de carreira, estudos, premiações em esportes e eventos, palestras e etc...Tudo isso para se tornar no fim, um simples trabalhador de caixa em supermercado.(Sem desmerecer, o trabalho de caixa é muito trabalhoso e importante para com sociedade. Admiro quem se esforça para com este trabalho.) Não era exatamente o que ele almejava, parecia que seu esforço no fim de nada adiantou.

Segurando mais firmemente a barra de ferro em que se apoiava, ele implorava para qualquer Deus neste mundo que: "Faça essa chuva ir embora! E me traga um copo de café com leite!". Pensando que assim, talvez sua mente ficasse mais tranquila...Quieta.

Shiss

O som do ônibus freando rangeu como a trombeta do fim, ela veio conjunto a uma força contra todos dentro da mesma, isso incluía seu Ricardo que intuitivamente fechou seus olhos e, apertou ainda mais o ferro que já segurava firmemente. Isso era quase como um prelúdio, ele se preparou antes do que veio a acontecer, assim, sofrendo menos com o impacto.

Quando o ônibus finalmente veio a parar, a chuva que já estava em um tom turbulento, agora mais pareciam pedras que recoitavam sobre o teto, causando um tumulto ainda maior. O motorista, colocava suas mãos sobre a cabeça e parecia tentar conter sua dor.

— Mas que droga. Por que essa merda veio logo acontecer comigo!? — O motorista gritava em um tom totalmente arrependido, ele se levantava e se encaminhava para uma das portas do ônibus.

— O que houve...Algum animal na floresta? — Um dos passageiros gritou em dúvida, se perguntando o motivo desse tumulto.

— Espero que não tenha furado os pneus só! — Outro passageiro gritava indignado ao fundo.

— Será que ele bebeu de novo? — Indagava um dos passageiros, parecia ser alguém que conhecia o motorista.

Ricardo, um tanto desorientado, abriu seus olhos depois do grito do motorista junto ao dos passageiros, e observou a seus arredores — todos os passageiros estavam inteiros, mesmo que alguns jogados ao chão, e outros entortados nas poltronas. Por sorte, existia poucas pessoas viajando nesse transporte, o que era óbvio para o homem, em sua mente, nesta chuva nem sair de casa ousaria. Mas ele sabia que o trabalho o chamava, mesmo nestas tempestades, eles insistiam para que seus colaboradores viessem a cumprir seu papel — Ricardo sentia que isso era irresponsabilidade da empresa.

Vendo que nenhuma pessoa se machucou, ele ficava em dúvida. Eles mais pareciam revoltados com o acidente que acabou de acontecer, do que com eles próprios, Ricardo pensou que apenas estivessem muito desorientados. Passava por sua cabeça se dirigir ao motivo da comoção que o motorista fez, por ser o único junto ao motorista que ficaram ilesos ao acidente.

Diversas hipóteses passavam por sua cabeça enquanto caminhava para a frente do ônibus. Poderia ter sido um acidente de automóveis, por assim dizer, um acidente comum, carro contra ônibus ou moto contra ônibus, sendo esse um acidente bem ruim. Porém, existia algo ainda mais grave que seria o acidente contra uma pessoa civil, e era isso que Ricardo temia, ele não queria ver uma pessoa atropelada no primeiro dia da semana de seu trabalho. Então, existia certa excitação por parte do homem. Não que ele pensasse que os outros acidentes não fossem brutais, mas contra um carro, dependendo de como, a pessoa poderia sair até mesmo quase ilesa do acidente. Mas uma pessoa bater de frente contra um caminhão...Ele não via como uma pessoa poderia sair ilesa de um acidente como esse.

"O que não me mata, me fortalece. Imagino que essa frase faça sentido nesta situação", pensou Ricardo.

Frase dita por Nietzsche, um grande filósofo alemão da década de 80. Mesmo que ele tivesse visto esta frase em um "meme", enquanto navegava pelo seu celular no tempo livre. Ricardo sabia que isso não era uma mentira, se ele deixasse as coisas por isso, na próxima vez que ele tivesse de encarar uma situação parecida, provavelmente iria fraquejar — ele não podia ser assim.

Ricardo chegou na frente do ônibus e respirou profundamente. Ele já conseguia ver alguma coisa, mas ainda embaçado pelo vidro molhado. Levantou instintivamente sua maleta preta a colocando sobre sua visão, tampando o que estivesse a sua frente.

"Aiai, como se eu pudesse ser forte assim. Não sou um herói da vida ou um homem muito vivido! Isso já é de mais para mim!". Pensava Ricardo, colocando em prova sua coragem e fracassando logo em seguida.

Seu medo era difícil de enfrentar, ele tinha um complexo de inferioridade muito profundo. Em sua mente, imaginava o corpo de uma pessoa quebrada das formas mais brutais possíveis, isso o assustava; não havia como parar sua imaginação de trabalhar. Ele realmente queria ser forte, forte como seu irmão, porém tudo que se passou mostrou o contrário, ele só podia ser fraco, e só fraco ele seria.

— Se eu não crê em mim...Quem vai crê? — Sussurrava Ricardo para si.

Um grande orgulho e convicção transbordou de seu coração, isso o fez transpirar de coragem. Hoje ele estava inspirado, depois de tanto tempo alguma coisa diferente do comum estava acontecendo, Ricardo não podia perder a experiência de presenciar algo novo, mesmo que fosse um acidente.

Abaixava devagar sua maleta com um semblante nervoso, suando frio, ele encarava pelo vidro do ônibus. O que ele via eram duas figuras pretas pela escuridão. A que estava irritada era óbvio que era o motorista, muito alterado, realmente irritado, isto, por um acidente que ele mesmo causou. Mais abaixo dele, em seu pé, ele pisava por um mar informado, um líquido que parecia grudar na sola do seu sapato, era escuro e um tanto espesso. Ricardo podia encarar mil vezes, mas ele não sabia distinguir o que era. Mais de canto, dava para ver, um objeto escuro — alguma coisa grande e estranha estava grudada no motor, como se tivesse caído do céu. Uma forma circular preenchida com espinhos finos, que se alongavam até as pontas se tornassem invisíveis.

— Ma-Mas o que...? — dizia Ricardo muito surpreendido, tudo que passava por sua cabeça estava errado. Mas o que estava a sua frente era uma questão que não tinha resposta.

O motorista continuamente gritava para a frente do ônibus, ainda pisando naquele molho preto. Ricardo se acalmou, colocando na sua cabeça que aquilo não passava de água com terra, e se aliviava um pouco.

— Eh...Moço, o que aconteceu? — Logo atrás dele, se aconchegava uma pessoa, uma criança pequena, de nós máximo 10 anos. Ela estava sozinha e parecia muito preocupada com o acidente.

— Ah...O acidente? Parece que alguma coisa caiu em nós, com essas ventanias já deveriam saber que algo assim pode acontecer — disse Ricardo, segurou com força sua maleta contra o peito e, declarou de uma forma seca e rancorosa o que avistou. Encarando o garoto após sua resposta, ele viu que ele tremia, isso era por medo. — Que que foi garoto? Viu um fantasma? — indagou Ricardo para com o garoto.

— Eh...Senhor...! — gritou o garoto em pânico, olhando na direção de Ricardo. Dando passos para trás enquanto chegava a chorar. — O-Oque...A coisa? — perguntou o garoto, com um semblante nervoso, suando frio e aumentando sua respiração.

Ricardo não entendeu muito bem ao que o garoto se referia. Confuso, e com a cabeça quente de pensar, jazia em descanso mental. Mas checando o olhar do menino, ele via. Uma forma preta e avermelhada refletia do seu olhar., cobrindo toda a parte frontal do ônibus. Essa presença já se aconchegava na sua traseira, qualquer movimento que fizesse já era tardio. Dependendo da intenção, sua morte já era clara como dia.

Uha, ela transpirava sem pudor, deixando surtir um calafrio na espinha de Ricardo. O garoto já havia perdido a fala, e os outros passageiros pareciam segurar a respiração. Entender o que estava a frente de todos era difícil, os pensamentos se enchiam apenas com dúvidas.

Mas mesmo diante a todos com medo, Ricardo ousou, respirou fundo e lembrou de que: Vejo que nosso fim chegou passageiros. Eu deveria ter aproveitado melhor o que eu faço, mas no fim, alguém vai me odiar".

O homem olhou para trás rapidamente, sem excitação. Apenas desejando que fosse uma brincadeira de todos. Seu corpo todo tremia em graus altos.

E então ele viu...Aquilo. E aquilo, pode ocasionar em uma destruição muito maior do que todos imaginaram. Aquele ônibus apenas se mútuo de sons agudos e esperneias. O que houve naquele momento, naquele dia, naquela manhã, ficava em mente naqueles que viveram essa grande experiência.