Aisha passou a noite na casa da madrasta.
Assim que ela acordou, teve uma péssima notícia.
— Aisha! Levante-se… Corra para o aeroporto, compre uma passagem e saia da cidade —, declarou Eva, puxando o lençol que cobria a enteada.
— Sair da cidade? Mas por que eu sairia da cidade?
— Armaram uma grande intriga contra você, filha.
— Espera… Não estou entendendo nada — Aisha falou espantada.
— Estão te acusando de desviar dinheiro e deixar um grande rombo nos cofres da empresa — explicou a madrasta.
— Não vou fugir coisa nenhuma, Eva. Eu não devo nada.
— Sei muito bem disso, querida. Mas o dossiê que divulgaram, diz o contrário. E no momento você não tem como provar a sua inocência. Isso porque, com certeza, já devem ter bloqueado todas as suas contas. Por acaso tem dinheiro em cash, Aisha, para pagar os honorários dos advogados?
— Não tenho não, madrasta.
— Já que por enquanto não tem como apresentar provas de que é inocente. Nem dinheiro para contratar a melhor equipe de advogados, é melhor ir embora daqui, filha.
— Mas se eu for embora assim, como uma fugitiva. Estou dando a entender que sou uma verdadeira criminosa.
Eva para por um instante encarou Aisha com expressão interrogativa. No entanto, disse logo em seguida:
— Está certo. A decisão só cabe a você, Aisha. Se é a sua vontade. Fique e enfrente as consequências de cabeça erguida.
Sonolenta, Aisha saiu da cama, afastando as madeixas despenteadas que caem sobre o rosto.
Ela então refletiu por alguns segundos e falou:
— Seguirei o seu conselho, Eva. Eu vou embora! Não quero mais continuar aqui, depois da maior decepção que tive na vida… Sou jovem, tenho as minhas habilidades e posso recomeçar em qualquer parte do mundo.
— Oh, Aisha, minha querida — disse Eva abraçando a enteada.
Aisha e Eva se apressaram.
Enquanto uma se trocava e procurava comer algo, a outra levava as malas para dentro do carro.
— Sentirei a sua falta, Eva.
— Também sentirei muito a sua falta, Aisha.
A enteada e a madrasta deram um último abraço.
Logo depois a jovem entrou no carro e saiu dirigindo em direção ao aeroporto.
— O que pensa que está fazendo, mamãe? Por acaso aquela era a Aisha? —, Marie perguntou para a mãe que estava parada a olhar para o portão que se fechava.
— Por favor, responda a minha pergunta, mamãe.
— Bom dia para você também, Marie! — disse Eva evitando responder a pergunta da filha.
— Mamãe! Por favor, eu exijo que me diga. Era a Aisha quem estava naquele carro?
— Hora da minha meditação… Meditar alivia a alma. Que tal se juntar a mim Marie, querida —, declarou Eva, deixando a jovem sem entender nada.
—Hã!? —, Marie expressou. Ela então desistiu de saber a verdade e voltou ao seu quarto, para dormir mais um pouco.
Na madrugada passada Marie chegou muito tarde da farra, e por isso não percebeu que Aisha dormiu na casa da madrasta.
A caminho do aeroporto internacional da cidade, a herdeira fugitiva não parou de pensar um só instante na cilada em que acabou caindo.
— Perdoe-me por tudo, meu pai. Por permitir que uma empresa sólida e de gerações, caísse em mãos estranhas… Mas como é que pude ser tão ingênua assim, meu Deus. Assinar uma procuração em nome de um sujeito que eu conhecia há tão pouco tempo… É isso que dá, confiar no primeiro homem bonito e charmoso que aparece à sua frente.
A paixão e a ingenuidade levaram a herdeira à ruína.
Após iniciar o namoro com Bryce, Aisha confiou cegamente nele.
Mas a verdade é que a jovem não chegou a conhecer o histórico familiar do então marido.
Aisha sabia que a rede hoteleira Grant, presidida pelo CEO Bryce Grant, havia se tornado a principal concorrente do conglomerado Barton, que o seu pai, Sullivan, herdou e expandiu de maneira jamais vista antes.
Mas de qual ramo de negócios Bryce veio ou se desde sempre ele foi de família bilionária, isso Aisha não sabia.
O mais estranho é que, nem sequer ao casamento religioso, os pais do Bryce compareceram.
Poucos dias antes das bodas, Bryce deu a desculpa de que nem seus pais, irmãos, tios ou primos nenhum deles estariam presentes. E sem ao menos questionar, Aisha deixou passar tal questão em branco.
Aisha chegou ao aeroporto. Estava toda coberta com roupas largas e com um boné na cabeça.
Ela foi até ao guichê e pediu a passagem para o lugar mais distante que a companhia aérea oferecesse.
Mas Aisha mudou de ideia e resolveu viajar para algum país já conhecido por ela, e onde pudesse viver como uma cidadã comum, mesmo.
Aisha precisou esperar mais de uma hora para a saída do voo. Isso deixou a jovem aflita.
Sem nada para fazer durante o tempo de espera, Aisha pensou em entrar em contato com um ou dois membros do conselho.
Homens de confiança do seu pai, que continuaram exercendo o mesmo cargo dentro empresa, quando o mesmo morreu e a jovem tomou a frente dos negócios.
Mas ela desistiu de falar com algum deles.
Pelo celular Aisha ficou sabendo das notícias.
As manchetes em diferentes meios de comunicação, eram sobre o escândalo das empresas Barton. E o seu nome era citado a todo instante.
Temendo que pudessem descobrir a sua localização, Aisha foi até o banheiro, jogou o telefone na privada e deu descarga.
A jovem tentou pensar em outra coisa que não fosse o tremendo problema que enfrentava no momento. Diante disso, ela pegou uma revista que a madrasta colocou na sua bolsa.
Para desgosto de Aisha, assim que começou a folhear as páginas, a primeira coisa que ela deu de cara foi com uma foto do Bryce e dela própria, sorridentes e abraçados.
A revista, no caso, tratava-se de um editorial que cobria a vida social de ricos e bilionários.
Há não muito tempo, o casal queridinho dos últimos tempos deu uma entrevista para a tal revista.
Aisha não conteve o ódio que sentiu vendo a imagem do Bryce no editorial. Nisso ela destruiu a página com as próprias unhas.
E a raiva foi tanta que a mulher jogou a revista na lixeira mais próxima.
Enquanto Aisha voltava ao lugar onde aguardava o voo, viu um grupo de homens à paisana, que pareciam agentes da polícia.
Aisha temeu que já pudessem estar à sua procura e tentou se ocultar colocando óculos escuros e prendendo o cabelo.
Após alguns minutos no local, os homens foram embora e a mulher respirou aliviada.
O voo de Aisha foi anunciado e enfim ela seguiu para a área de embarque.