Primeiro de janeiro de dois mil de quatorze. Acordamos cedo e seguimos para os sets de filmagem, nosso trabalho nos espera.
Vamos para uma importante avenida de Copacabana para filmar a perseguição, muitos seguranças isolam o local, há helicóptero, carros com figurantes e dublês, caminhões e veículos prontos para explodir, tudo é minuciosamente preparado por toda manhã, nos posicionamos e começar a gravar já no período da tarde.
Subo na garupa da potente moto vermelha dada ao Eros, um helicóptero nos persegue e também filma a nossa ação, seguimos a mais de 100km/h por um túnel, agora Banty e Ravi nos perseguem em motos potentes como a nossa, muitos carros e caminhões estão à nossa volta. Arjun saca a arma e atira em um caminhão, fazendo-o rodar da pista de tal forma que bloqueie as duas motos.
Conseguimos seguir adiante, Banty e Ravi conseguem passar e nos seguem, Arjun acelera a moto que agora ultrapassa os 200km/h, o ladrão muda de posição sem parar a moto e deixa Nandini pilotando, enquanto ele atira nos policiais, mas eles tentam se proteger... a ladra chama sua atenção para mostrar que a saída do túnel está bloqueada, Arjun, retoma a direção e sobe por ela a fim de pular sobre o carro... e consegue! Nandini joga uma bomba no carro fazendo-o explodir, na tentativa de impedir a passagem dos policiais.
Arjun continua pilotando a moto em alta velocidade e param em uma estrada, Nandini pega a outra moto e eles seguem em direções opostas, Ravi alcança Arjun, mas o ladrão tenta fugir e acaba se jogando de propósito em um precipício, mas tem paraquedas, Jai tem tanta vontade de capturá-lo que faz a loucura de se jogar também, eles lutam no ar.
Desta vez a produção exige que os dublês façam essa cena, estão melhor preparados.
Quando os dublês chegam ao chão, Victor e Eros reassumem suas posições e a gravação recomeça com a briga entre Arjun e Ravi.
Parece real demais para mim.
Banty aparece e dá um tiro para o alto, ambos olham para ele, que mostra que capturou Nandini. Todos estão sobre uma montanha e perto de uma queda d´água, Arjun olha em volta, os ladrões trocam olhares.
— Você já amou alguém profundamente? – Arjun pergunta.
Ravi não se importa e manda ele seguir.
— Você pode amar alguém o suficiente para pedir que ela tire sua vida? – Arjun insiste.
Mais uma vez o policial não se importa e Arjun olha para Nandini que pega uma arma em sua cintura e atira quatro vezes no tórax do ladrão, todos veem a agonia dele ao ser atingido por cada um dos tiros.
Ravi aponta a arma para ela e Banty tem confusão no olhar.
O corpo de Arjun cai do desfiladeiro.
Ravi pergunta o motivo para Nandini e ela diz que o amava.
— Suma, Nandini. Sua vida é sua punição. Você ficará sozinha para nunca mais trair ninguém, nem a si mesma. – Ravi diz e eles vão embora, deixando-a sozinha.
— Corta! Perfeito!
A gravação de hoje já começou em um ritmo frenético, mas foi essa última cena que realmente perturbou a minha tranquilidade e me desestabilizou, sabia que a munição da arma que eu estava usando era de festim, e que a queda do Eros tinha sido gravada com toda a segurança, mesmo assim senti meu coração apertar e meus olhos encheram de lágrimas de uma dor genuína.
As palavras proferidas por Arjun carregam os sentimentos do Eros e isso comove a todos que o conhecem, vejo nossos amigos disfarçando as lágrimas e o impacto causado por essa cena tão intensa, perigosa e sentimental... Mas agora precisamos estar preparados para a continuidade da gravação, com cenas ainda mais impactantes.
Por sorte, o diretor decide gravar as duas canções e coreografias que faltam, reúne todos os profissionais envolvidos com essa superprodução. Os músicos e percussionistas se posicionam ao redor do diretor e do produtor, começam a cantar e editar as partes das canções, enquanto tudo em volta está sendo montado e preparado por uma grande equipe que inclui operadores e maquinistas, equipe de design e decoração, que arrumam e organizam os cenários, mexendo no posicionamento das câmeras e iluminação.
O coreografo da Star Media está ensinando o posicionamento e a dança aos figurantes, enquanto Eros e eu ensaiamos com os bailarinos.
A primeira coreografia será dançada apenas por Eros e nossos amigos e será a música de abertura do nosso filme.
Em questão de pouco mais de três horas, vemos os músicos entrarem no estúdio para fazer a gravação final da primeira canção, sabemos que a sala tem a acústica necessária para isso, mas fazemos silêncio para respeitar o momento desse profissional.
Fazemos uma breve pausa para um lanche leve e rápido, logo depois Eros e nossos amigos vão aos camarins e se preparam, algum tempo depois voltam para o set.
Procuro um lugar para sentar e assistir e me oferecem uma cadeira ao lado do diretor. Estou curiosa e pressinto que essa coreografia, que leva o nome do nosso filme, será um grande sucesso.
Observo o modo como eles estão vestidos, os homens de calça jeans e camiseta, as mulheres com shorts e saias curtas e top, tudo muito sensual, bem brasileiro. Já Eros está com um jeans justo, uma camiseta regata branca, com furos e graxa, além de um tecido parecido com um lenço bem longo.
— Todos prontos? – o diretor pergunta.
Eros vem me dar um beijo.
— Quebrem a perna! – digo o clássico desejo de sorte para todos os bailarinos e os vejo sorrir em resposta.
A movimentação no estúdio cessa, todos estão devidamente posicionados.
— Plano 1/ Tomada 1/ Cena: Coreografia um... Gravando!
Todos iniciam a coreografia com movimentos vigorosos, os principais bailarinos da nossa companhia de dança estão à frente.
Logo depois a câmera mostra Arjun dançando sozinho, em seguida outros homens vêm dançar do lado dele e por fim todos seguem a coreografia juntos.
Todos estão tão lindos nessa coreografia, mas Eros está especialmente sexy.
São passos bem elaborados e intensos que exigem muito de todo o corpo.
Fico tão orgulhosa ao vê-los se exibindo dessa forma, estão todos tão empolgados e cheios de energia, que ninguém acreditaria que estão descansando tão pouco.
— Corta! – do diretor diz, logo depois do fim da música.
E todos aplaudem esse desempenho maravilhoso.
Voltamos aos camarins enquanto a segunda música é gravada e o estúdio é preparado. Visto um short jeans e uma blusinha branca decotada, um cinto preto e brilhante a decora e botas pretas de cano médio, além dos cabelos soltos.
Eros veste uma calça branca, camisa preta aberta que expõe seu lindo tórax e tênis brancos, sempre tão lindo!
Os rapazes estão de jeans, camiseta e tênis e as meninas estão com shorts e top, todos muito bonitos.
O diretor pergunta se estamos prontos, ocupamos as nossas posições e acenamos positivamente para ele. Temos autorização para gravar a música que encerra o nosso filme.
Nandini dança junto com as mulheres provocando os homens, Arjun faz o mesmo, logo estão todos dançando juntos.
Há um momento da música que eles dançam em pares, mais uma vez são gestos sensuais, carícias e pegadas um tanto provocativas, é de fato uma coreografia intensa e deliciosa.
— Corta! Mais uma vez vocês foram maravilhosos e surpreendentes, é um orgulho trabalhar ao lado de vocês. - o diretor parece realmente satisfeito ao dizer.
Recebemos uma salva de palmas e agradecemos ao carinho.
— É realmente uma pena, mas o nosso filme está quase concluído, são dois meses dedicados a esse projeto, um tempo que passou muito rápido. Vocês são muito disciplinados e facilitaram o nosso trabalho de muitas maneiras. Só posso agradecer, em meu nome e de toda a equipe, pelo privilégio de estar ao lado de vocês, e por toda a ajuda na adaptação do roteiro, nas frases de efeitos que incorporamos aos personagens, nas coreografias e em tantas outras coisas.... Acho que expresso, mais uma vez em nome de todos, a mistura de sentimentos de tristeza pelo afastamento e da alegria desse trabalho primoroso, esperamos nos ver muitas outras vezes. Sei que a conclusão do filme será apenas amanhã, mas como hoje estamos todos reunidos, e talvez amanhã eu não encontre a maioria que está aqui, então quis dizer essas palavras para vocês... Agora vão descansar mais cedo, vocês realmente merecem. – Raul, um dos diretores, diz.
Agradecemos mais uma vez e recebemos muitos abraços e lágrimas que já demonstram a saudade do tempo vivido aqui, realmente tudo tem sido bem rápido, mas igualmente agradável.
Entramos no micro-ônibus e retornamos para o hotel, decidimos acampar na minha suíte, estamos com saudades de passar um tempo assim reunidos, como sempre fizemos.
Como estamos cansados, permanecemos deitados nos colchões, comemos algumas besteiras e colocamos nossa conversa em dia, são muitos assuntos, afinal temos nos dedicado em tempo integral apenas ao novo projeto, ou seja, há quase dois meses não pensamos em outras coisas.
Meus amigos me cobram sobre o início das aulas dos padrinhos, aviso que a primeira aula será na próxima segunda, poderemos nos dedicar o dia todo para isso, eles ficam satisfeitos ao saber.
Preciso lembrar de ligar para o Guru, confirmando as aulas.
Assistimos um filme de comédia e todos pegam no sono antes do final, menos eu. Eros dorme calmamente, está me segurando com o braço esquerdo, me mantendo apoiada em seu peito, e sua mão pousa sobre o meu ombro.
Não consigo dormir, fico as voltas com os meus pensamentos, inquieta ao pensar na gravação da nossa última cena, a mais forte e marcante. Estou preparada, com as falas decoradas, sabendo minhas marcações e expressões, mas a emoção deste momento será grande.
Fico aliviada ao perceber que Eros me soltou e se deitou de bruços, assim posso levantar discretamente.
Recolho toda a bagunça de copos e pratos e também o lixo, todos estão em um sono profundo, exaustos. Tento organizar o ambiente, já que estou sem sono, assim diminui o nosso trabalho para amanhã.
Vou até a janela e aprecio a beleza da noite enluarada, o vento fresco bagunça os meus cabelos, posso sentir a paz dessa noite me envolver.
Sinto uma onda de calor envolver o meu corpo, seu perfume invade minhas narinas e me inebria.
— O que faz aqui sozinha? Vamos voltar para a nossa cama. – Eros diz e me faz virar para ele.
Não quero dizer o que estou sentindo, prefiro guardar isso para mim.
— Nada. Estava com calor, levantei e fui beber água. Vamos voltar para a cama. – minto e evito olhar em seus olhos.
Eros me envolve com seus braços e meu corpo fica em chamas, vamos apressados para o quarto para resolver a urgência do nosso amor... Pelo restante da madrugada rolamos nos lençóis macios da minha suíte, mas levantamos sorrateiramente antes do amanhecer para voltar para o nosso colchonete na sala de estar, nossos amigos ainda dormem profundamente, estou certa de que não tiveram tempo de perceber nossa ausência.
Pouco a pouco nossos amigos vão acordando, Igor liga para o restaurante para pedir que o café da manhã seja servido na suíte, enquanto os outros rapazes desmontam o acampamento e as meninas se arrumam.
Todos estão apressados porque querem ver a gravação da cena que conclui nosso filme, saímos do hotel pontualmente às oito da manhã, chegamos no estúdio mais cedo do que o previsto.
Nossos amigos se acomodam nos bastidores e nós vamos para os camarins, aproveitando que os profissionais estão cuidando dos últimos detalhes para a nossa cena.
Me isolo para tentar ficar suficientemente concentrada para a gravação, já estou vestida como Nandini, com uma calça larga camuflada, blusinha de alça branca e chinelos. Vejo Eros em outra parte do set, ele está sério e também está vestido como seu personagem, o Arjun, calça jeans, camisa azul sem mangas e chinelo.
Vejo quando um produtor lhe entrega a arma real e um projétil, Eros segura e a manuseia com tamanha naturalidade que parece ter feito isso muitas vezes ao longo da sua vida.
Viro o rosto, mas ainda ouço o barulho que o tambor da arma faz durante o treino para municiá-la e desmuniciá-la, só não posso afirmar quem está fazendo isso.
Tudo está pronto e o diretor quer saber se podemos começar, confirmamos ao mesmo tempo e vamos para nossas posições, essa cena envolve apenas os dois personagens.
— Plano 1/ Tomada 1/ Cena: Traição... Gravando!
Nandini desce as escadas, Arjun está de costas para ela, mas sente sua presença.
— Veja que dia, Nandini. É um lindo dia, um dia perfeito – Arjun suspira — Dia perfeito, traição perfeita, morte perfeita.
Nandini fica sem ação ao ouvir isso, então ele vira e mostra a arma para ela.
— Simplesmente perfeita.
— Por que você está falando isso? – Nandini diz, sem jeito.
— Desculpa. Nandini, mas preciso de permissão para falar de Ravi com você? – Arjun diz e se aproxima dela.
— Tente entender, não é o que você está pensando, confie em mim. – ela parece apavorada ao dizer.
— Está bem. – ele diz e se distancia um pouco, mas depois vai conduzindo Nandini, fazendo-a sentar na cadeira — Então vamos ver se tem alguma explicação, você vai confessar que Ravi te mandou para ser minha parceira e que você é a espiã dele.
Sem saída, Nandini confirma.
— E Ravi vai me capturar através de você, não é isso?
Ela concorda acenando discretamente com a cabeça, Arjun senta na cadeira que está à frente dela.
— Se você estivesse em meu lugar, teria confiado em você? – ele pergunta.
— Não. – ela baixa a cabeça ao responder.
Ele ergue a arma mais uma vez e ela teme.
— O projétil e a arma são parceiras – ele diz alterando olhares entre a arma na sua mão direita e para o projétil na mão esquerda — O projétil nunca trai a arma – abre o tambor e coloca apenas esse projétil, o roda e o fecha em seguida — Onde ela é disparada, tira vidas, e eu amo isso.
Arjun põe a arma sobre a pequena mesa que está entre eles.
— Apenas você tem o direito de me matar, Nandini, o Ravi não tem esse direito. Então por favor... - arrasta a arma até ela — Faça isso por mim.
— Não posso. - Nandini diz com um fio de voz, está realmente abalada.
— Você precisa fazer isso – ele diz com frieza e firmeza — A arte de trair e confiar tem regras, depois de uma traição, alguém tem que morrer.
— E por que não eu? Afinal eu o traí.
— Tem razão. – Arjun pega a arma e rapidamente atira contra a cabeça dela.
Ela assusta e faz um ruído semelhante ao um gemido, mas a arma não dispara.
Arjun volta a pôr a arma na mesa.
— Atire em mim – ele pede — Vamos Nandini, pegue a arma.
Ela geme, seus olhos estão cheios de lágrimas, ela nega.
— Pegue a arma, Nandini. – ele aumenta o tom de voz.
O dois se encaram por poucos segundos, estudando um ao outro.
— Eu disse para atirar, Nandini. – Arjun grita e a assusta, em desespero, ela pega a arma e atira contra a cabeça dele...
Mas a arma novamente não dispara, o que faz o ladrão sorrir e a ladra ficar em estado de choque.
— Até a morte me traiu. – ele diz e sorri, pega a arma novamente e atira mirando a cabeça da Nandini.
Mais uma vez a arma não dispara, mas é o suficiente para assustá-la.
— Por que você está fazendo isso? – ela pergunta.
— Todo trabalho tem que ser terminado, Nandini – ele diz e põe a arma na mão direita dela — E esse é o resultado... – vai segurando a mão dela com a arma e aponta para a própria cabeça — ... Do que você fez.
Nandini está em pânico.
— Não me force a fazer isso – ela implora e fecha os olhos, Arjun põe o dedo dele sobre o dela no gatilho da arma.
— Você não tem escolha – ele olha para ela e a obriga a puxar o gatilho...
E mais uma vez a arma não dispara.
Nandini geme e chora, vai abaixando os braços, enquanto o vê apontar a arma mais uma vez para sua cabeça.
— Pela primeira vez não tenho medo da morte. Se a morte for usar a sua face, então não vou me importar, não mesmo, pelo contrário, ficarei feliz. – Nandini afirma, enquanto algumas lágrimas correm por sua face.
Arjun atira e arma não dispara, até agora foram cinco tiros nesse jogo insano de roleta russa.
— A última bala. Finalmente a morte é minha – diz e põe a arma sobre a mesa — Sou um ladrão, Nandini, mudei meu rosto muitas vezes, mudei meu mundo, mas foi o seu rosto que mudou a minha vida, ficarei feliz em morrer olhando para esse rosto. Então, por favor, não me traia agora.
As lágrimas agora são abundantes nos olhos de ambos.
— Prefiro morrer, mas não vou te trair novamente – levanta a arma, aponta para Arjun depois aponta para a própria cabeça — Eu te amo! – diz chorando e atira...
Ela fica chocada ao ver que a arma não dispara, nesse momento ambos choram.
Arjun deixa o projétil cair na mesa, tilintando sobre ela, então se aproxima de Nandini.
— Você não pode tirar a sua vida, ela me pertence. – ele diz.
— Eu te odeio! Eu te odeio! – ela diz, exasperada.
Ele segura firmemente a cabeça de Nandini e aproxima suas testas.
— Eu sei. – ele diz e a beija com delicadeza.
— Até quando você estará ao meu lado? – Arjun pergunta.
— Sou sua sombra, aonde você for, eu irei – Nandini responde e ele continua a beijá-la — Eu o seguirei silenciosamente.
— Silenciosamente? Você? – ele diz, sorri e a beija.
Eles olham fixamente um para o outro.
— Essa eu quero ver – Arjun diz, eles sorriem e se abraçam.
— Corta! – o diretor diz e nos aplaude, mas o silêncio ou o choque provocado pela cena é evidente.
Levanto e ando pelo set de filmagem sem rumo, quero apenas sair de lá, para chorar com tranquilidade, para derramar o desespero que essas cenas tão reais e perturbadoras me provocaram.
Eros Myron POV:
Durou dois meses o nosso novo projeto, felizmente, a nossa dedicação e disponibilidade foram suficientes para adiantar o filme em pelo menos uma semana. Hoje, finalmente vamos gravar a última cena, a que considero mais grave ou intensa, sem dúvida a mais impressionante, na minha opinião.
Mas essa cena não envolve nenhuma ação ou perseguição, não precisará de disfarces, ensaios ou preparações, apenas das emoções dos dois protagonistas, e é isso que considero mais assustador.
Será o momento do teste final para Arjun e Nandini, colocarão em prova a confiança, a dedicação, a cumplicidade e o amor... Mas isso afetará os atores que os interpretam.
Weenny e eu temos colocado toda a nossa carga dramática nesses personagens, que de certa forma parecem conosco, preservadas algumas particularidades. Eles estabeleceram uma confiança e um relacionamento entre eles, situação que envolveu muita sintonia e intimidade, por isso Nandini seria os olhos de Arjun, enquanto este seria o seu mentor e protetor... um amor surgiu disso tudo, mas podia ser manchado pela traição e por isso essa relação teria que passar por uma dura prova.
A cena foi feita com tanta emoção que não precisou ser repetida, talvez esse fosse nosso grande temor. Poucas falas tiveram alterações, mas muitos sentimentos foram agregados e embaralhados, assim como as nossas emoções... Por muitas vezes eu falei no lugar do meu personagem e senti que Weenny fizera o mesmo, o que nos deixou deveras abalados.
Na interrupção na gravação final, não tive como reagir, permaneci sentado enquanto ouvia aplausos abafados ao fundo.
Sempre fui autossuficiente para mudar a minha realidade, para mudar o meu mundo, enfrentando meus temores e resolvendo-os, mudando as circunstâncias ao meu redor, fazendo o melhor que posso, protegendo os meus.
Mas se um dia a morte me levar e me der uma escolha, quero que seja pelas mãos da minha Weenny, afinal foi o seu rosto e sua presença que mudaram a minha vida para sempre.
Sim, a opinião e os sentimentos de Arjun se confunfiram com os meus.
A dor latente em meu peito chega aos olhos, preciso de alguma privacidade para expressar o que estou sentindo, por isso volto ao camarim e tranco a porta.
É difícil descrever a dor desse momento, é tão contraditória, mas é absolutamente real.
— Eros, você está bem? – sou acordado da minha reflexão com batidas na porta.
Abro imediatamente e vejo Raul, o produtor executivo.
— Sim, estou.
— Acha que devemos ir atrás da Weenny? – ouço outro produtor dizer.
— Para onde ela foi? – pergunto, preocupado.
Mas sou interrompido pelos protocolos da boa educação para um executivo e para o líder dessa companhia de dança, que me levam de volta ao estúdio onde todos me esperam para os agradecimentos e despedida.
Todos da Star Media Fx fazem questão de nos cumprimentar e agradecer o tempo passado ao nosso lado, ressaltam alguns bons momentos e deixam margem para novos projetos em breve.
Nós agradecemos todo o carinho, compreensão e elogios, conversamos com os profissionais da equipe por alguns momentos e somos levados para a ilha de edição, que está trabalhando a todo vapor nas cenas do filme, transformando o nosso empenho em algo extraordinário.
Juntamos nossas coisas e seguimos para o micro-ônibus, agora posso me dedicar a encontrar a Weenny, ligo no celular dela, mas toca na bolsa da Samara, que se desculpa dizendo ter esquecido de me avisar que o aparelho está com ela.
Peço para eles retornarem ao hotel, vou procurar a minha noiva, preciso saber como ela está.
O primeiro lugar que decido procurar é na praia, nos momentos de maior aflição, Weenny costuma buscar alívio apreciando as belezas naturais, sei que nesse momento ela precisa ficar sozinha para refletir e relaxar, depois do que vivemos nestas últimas horas. A encontro com facilidade, mas a acompanho de longe apenas para garantir que esteja segura, ela voltará quando estiver pronta.
Algum tempo depois, pego e celular e começo a responder as muitas mensagens que nossos amigos mandam, perguntando onde Baby está, respondo que estamos juntos e que devemos demorar um pouco para retornar.
Eles não precisam saber de nossas fraquezas.