"Quando se tem o poder em suas mãos é difícil não exagerar, mesmo que a ética esteja em sua mente, a necessidade de obter mais e mais destrói toda a humanidade que poderia existir em seu ser."
Sem o barbante eles se perderiam facilmente naquele mar de escuridão e ninguém iria buscá-los, afinal de contas todos tinham medo da floresta, os contos contados pelas gerações passadas, por mais mentirosos que parecessem, eram amedrontadores.
Ethan continuava chamando seus contratados, ele os ameaçava dizendo que não receberiam o pagamento, mas aquilo não foi o bastante, o fatídico teste de coragem foi sabotado por alguém, mas quem?
— Mas que merda! — Ethan exclamava.
A brincadeira que marcaria suas vidas estava arruinada, a raiva era o sentimento mais compreensível a desabrochar de seus interiores.
— Que se foda. — Scarlett fala enquanto se dirige ao carro.
— O que você acha que vai fazer? — Dereck diz cabisbaixo.
— Eu vou dar o fora daqui, não vou morrer em um lugar merda como esse.
— Morrer? — Os olhos de Lora se arregalaram.
A morte não tinha se tornado uma opção, por isso essa revelação fez-se tão chocante, em pouco tempo a raiva se transformou em medo, o faz de conta se converteu para a realidade, ninguém queria morrer, isso fez com que todos a seguissem, mas como todo filme de terror diz: fugir nunca é a resposta.
Dentro do carro todos se sentiram mais seguros, Scarlett e Lora se abraçaram procurando conforto, Dylan as encarava, ele as entendia, também queria alguém para abraçar naquele momento, mas era impossível de se conseguir, afinal seu verdadeiro amor nunca existiu.
Ao ligar o carro o rugir do motor trouxe um alívio a todos, eles se sentiam cada vez mais livres a cada metro percorrido, a segurança era uma ilusão projetada por suas próprias mentes, uma armadilha disfarçada de aconchego. No meio do caminho um grito grotesco foi solto ao longe, Ethan acelerou o máximo que podia enquanto ouvia passos pesados se aproximarem, aquilo só chamou mais atenção, o ritmo do andar daquela criatura aumentava mais e mais, parecia alertá-los de que algo estava prestes a acontecer.
É certo dizer que aquele monstro desconhecido seria o puro desespero, ele proporcionou a Dylan a perda total de seus sentidos, sua vida inteira passou diante de seus olhos enquanto ele encarava a janela, ali se via o demônio se aproximar, uma coisa lhe intrigava, sua corcunda juntamente com seu corpo grande se destacavam na noite, seus olhos vermelhos evidenciaram uma verdadeira sede de sangue, parecia que queria ser visto, mas não por qualquer um.
O garoto então se lembrou de coisas desconexas, algo em seu interior se despertou fazendo o seu redor desaparecer, era somente ele e o tempo. Uma coisa é certa, o tempo não perdoa, ele é impulsivo e mortal, Dylan sentiu isso na pele ao ouvir o tic e tac de seu coração.
Um.
Em apenas um segundo ele conseguiu ver a imagem perfeita de alguém, uma mulher, ela estava se levantando do chão totalmente encharcada de sangue.
Dois.
Em apenas dois segundos ele sentiu a raiva o dominar, era algo predominante.
Três.
Em três segundos ele ouviu um sussurro"é tudo culpa dela".
Quatro.
Em quatro segundos ele entendeu, ele odiava o amor, por isso a odiava, mas ainda tinha alguma coisa errada.
Cinco.
Em cinco segundos o vazio o invade e diz:
— Agora é a sua vez.
Seis.
Em seis segundos o desespero está ao seu lado pronto para arremessar aquela linda camionete negra.
Essas lembranças não aparentavam ser de Dylan mas ao mesmo tempo, aqueles fragmentos de imagens e sentimentos lhe proporcionaram uma experiência única, ele nunca se sentiu tão triste em toda a sua vida, parecia que tinha voltado no tempo, quando aquela garota simplesmente desapareceu.
Dylan então deseja pular por tudo aquilo, ele só queria acordar em sua cama no dia seguinte, não queria mais participar de um teste de coragem, só queria aproveitar a vida e pedir desculpas a sua mãe por estragar suas flores queridas.
O demônio então se choca contra o carro arremessando-o para longe, em seu interior todos estavam sem os cintos, um impacto como aquele seria o fim para meros humanos.