ELIA
Aquele homem terrível rugiu uma ordem para começar, e todas as mulheres no círculo imediatamente se tensionaram de suas posturas quase orantes para semi-agachadas sobre as pontas dos pés, enquanto a multidão ao redor delas aplaudia.
Por um instante, ninguém parecia saber o que fazer. Todas as mulheres se olhavam, mas nenhuma se movia. Durante uma única respiração, Elia esperou que talvez nenhuma daquelas mulheres fosse lutar. Até que um rosnado feminino irrompeu à direita de Elia e ela virou-se para assistir a uma mulher — graciosa, embora claramente forte e pintada inteiramente em pelo — saltar sobre as costas da mulher mais próxima dela, que estava pintada em espirais e redemoinhos. A mulher pintada de pelo agarrou a cabeça da outra entre ambas as mãos e torceu o pescoço com um puxão poderoso que estalou sua espinha.
O corpo desabou em suas mãos e ela o deixou cair, ficando em pé sobre ele enquanto este contraía-se por alguns segundos enquanto ela vasculhava a clareira.
Por um momento, seus olhos se encontraram e a mulher pintada de pelo sorriu e levantou as sobrancelhas, mas então disparou pela clareira até um ponto onde outra mulher estava se levantando, tremendo, de um corpo na terra diante dela.
Todo ar abandonou o corpo de Elia. Que pesadelo era esse?
A bile subiu em sua garganta e Elia girou, sem pensar na carnificina atrás dela, procurando limpar sua mente do sangue e da morte acontecendo ao seu redor. Em vez disso, ela se deparou com um círculo de pessoas aplaudindo e gritando, rosnando e grunhindo, como animais na caça. Seus olhos passaram por ela com olhares de desprezo enquanto ela corria até a árvore próxima e se apoiava nela, vomitando o último do álcool e dos aperitivos que ela tinha tido no Baile da Patrona.
Enquanto ela tossia e cuspia, com o corpo todo tremendo, houve um grande baque e um grito perto. Elia virou-se para encontrar duas mulheres — uma pintada em penas, a outra em um conjunto estranho de linhas e pontos — lutando na terra, com os dentes à mostra.
Era instinto fugir, esconder-se, mas havia tantas pessoas... sem pensar, Elia agarrou o galho mais baixo da árvore e puxou-se para cima, correndo os pés pelo tronco como fazia quando criança. Os saltos altos ridículos que ela ainda usava escorregaram na casca, mas ela se agarrou e o denim grosso de seu jeans mais bonito deu-lhe tração no galho enquanto ela levantava uma perna e se puxava para sentar-se contra o tronco.
Não era uma árvore grande, mas havia uma torção estranha nos galhos, com cachos de folhas apontando para cima no final de cada galho e ramo que ofereciam alguma cobertura da batalha abaixo dela, mas permitiam que ela espiasse por entre eles e visse muito do que acontecia pelas brechas.
"Ela pode fazer isso?" a voz jovem que ela ouvira antes lamentou.
Elia congelou, mas várias pessoas fizeram sinal de silêncio ao jovem e ninguém veio para puxá-la para baixo, então Elia se firmou contra o tronco da árvore e tentou recuperar o fôlego. Não que isso funcionasse. Seu corpo inteiro tremia, vibrando de medo. Ela sabia que estar ali em cima apenas adiava o que tinha que ser um fim inevitável. Quem quer que essas pessoas fossem, elas não hesitavam em matar.
Ela espiou por uma brecha nas folhas para ver a mulher pintada de pelo perseguindo outra pelo círculo, rosnando, com os dentes à mostra, e lançar-se sobre a outra mulher. Elas rolaram e se embolaram pela terra juntas, e quando a poeira baixou, a mulher pintada de pelo foi a que se levantou, o rosto escuro com o sangue da outra.
Um ruído estranho irrompeu da garganta de Elia.
Onde ela estava?
Como diabos ela tinha ido parar ali?
E quanto tempo ela tinha antes de morrer?