Uma semana depois...
Charlotte
Uma semana se passou e continuo atordoada com a confissão de Dion, acerca de seus sentimentos.
Desde que declarei a ele que precisava de um tempo para refletir, tanto Dion quanto Dylan têm se comportado de maneira normal. Nenhum dos dois tocou novamente no assunto, para meu alívio.
Embora já tenhamos compartilhado uma semana juntos, ainda não consegui decidir qual caminho seguir.
Tenho prestado mais atenção em Dion. Para um homem de 52 anos, ele está em ótima forma e nem parece ter essa idade. Seu corpo tonificado é algo que, confesso, me encanta.
Ele é mais claro que Dylan e alguns centímetros mais baixo. A barba cheia lhe confere um ar de seriedade, embora, no fundo, ele seja apenas mais um tolo.
Algo que não havia notado antes é que seus olhos são de um verde-escuro, enquanto os de Dylan são de um castanho profundo. No entanto, os sorrisos de ambos são idênticos.
Preciso de mais tempo!
Durante essa semana, ambos têm sido de grande auxílio. Dylan cuida do nosso filho, pois não é nada habilidoso em consertar as coisas – ele quebra mais do que arruma. Achei mais prudente deixá-lo responsável pelo bebê.
Dion, por outro lado, é excelente em reparos, mas passamos mais tempo discutindo do que realmente trabalhando. Este é o nosso modo de ser.
Precisei ir à cidade reabastecer a despensa. Dylan queria me acompanhar, mas pedi que ele ficasse com Aaron. Dion se ofereceu para ir comigo e, após sua insistência, acabei cedendo.
A viagem se deu em silêncio, ambos concentrados e atentos. Ao chegarmos à cidade, seguimos direto para o mercado.
"Só a elite tem esse privilégio" - disse Dion enquanto pega uma lata de conserva. Me aproximei dele. - "Não posso acreditar que tem um mercado só para você."
"Ele também é seu" - tiro a lata de sua mão e a coloco no carrinho. - "Pegue o que quiser." - Virei-me e começo a escolher os itens.
"Você passou por muita coisa, não?" - Ele permanece ao meu lado, e não respondo. - "Deveria ter confiado em mim. Eu teria te protegido."
"O que está feito, está feito, Dion" - respondo, olhando-o nos olhos. - "Eu não queria essa vida para o Dylan."
"Foi escolha dele vir atrás de você. Assim como foi a minha." - Ele toca meu rosto. - "Depois que você partiu, percebi que não era livre. Meu irmão era uma marionete nas mãos do exército, e eu, um cãozinho. Mas agora somos livres." - Seguro sua mão.
"Você não se arrepende?"
"Estou com as duas pessoas que mais amo neste mundo devastado. Como poderia me arrepender?" - Sua sinceridade me impressiona, mas em vez de responder, continuei a caminhar, sentindo minhas bochechas aquecerem.
Dion
Fiquei chocado quando o líder da missão ordenou que eu eliminasse o super soldado após o resgate. Odiava aquela maldita raça, então aceitei a tarefa, mas as coisas se tornaram complicadas quando meu irmão, que nunca se interessou por mulheres após se tornar um zumbi, se apaixonou pela super soldado.
E tudo só piorou.
Eu precisava demonstrar o ódio que sentia pela raça dela, para mantê-la afastada do meu irmão. Mesmo sem aceitar que aquele "monstro" estava atraído por ele, fiz de tudo para protegê-lo. Não seria ela quem colocaria a vida dele em risco.
No dia em que ela me salvou de uma lança mortal, pela primeira vez em muito tempo, meu coração acelerou por uma mulher. Uma mulher que, segundo as leis da natureza, deveria ser minha inimiga.
Pensei que era apenas o choque de quase ter morrido, mas as provocações dela me fizeram perceber que estava, de fato, atraído.
Isso não podia estar acontecendo.
Meus sentimentos se confirmaram quando ela deixou meu irmão desmaiado para salvar um grupo de adolescentes. Naquele instante, dei um beijo em sua bochecha, e seu rosto corou.
Estava perdido.
De todas as mulheres, me apaixonei justo pela que eu deveria eliminar. E pior: ela é a esposa do meu irmão.
Passei um ano procurando Charlotte, acreditando que esse tempo seria suficiente para esquecê-la. Mas esse maldito amor continuou a crescer.
Acabei confessando ao Dylan o que sentia por Charlotte, sem sequer lhe dar a chance de opinar, e fugi. No dia seguinte, fiquei surpreso quando ele me fez revelar meus sentimentos a ela.
Charlotte pediu um tempo para pensar, e eu concordei. Durante essa semana, tentei ao máximo agir normalmente, mas por dentro, estou um caos.
Ela precisou ir ao mercado, e Dylan ficou com Aaron, contra sua vontade, já que é um desastre total. Foi engraçado ver a reação dela ao descobrir que Dylan não é tão santo quanto parecia ser quando era zumbi.
Ela mal sabe o quanto Dylan é ciumento, autoritário e narcisista. Será interessante observar suas expressões quando ele mostrar sua verdadeira personalidade.
Charlotte pode até ter ignorado minhas palavras, mas ouvi seu coração bater forte, o que me deu uma leve esperança. Mas não posso me enganar; compartilhar com alguém que se ama não é uma decisão fácil.
"Aaron deve estar enlouquecendo o Dylan."
"Não se preocupe. Dylan é ótimo com bebês. Ele fazia muito isso com os meus filhos." - Uma tristeza me invadiu, e Charlotte segura minha mão.
"Tenho certeza de que eles estão em um bom lugar." - De repente, ouvimos algo cair. Charlotte pega as armas da bolsa e me entrega uma arma. Nos aproximamos silenciosamente e, ao chegarmos perto, vemos uma garota agachada no chão.
"Quem é você?" - A garota olha para nós e se levanta. Pelo tamanho, parecia uma adolescente, mas estava suja e vestida com roupas em trapos.
"Não tenha medo. Onde estão seus pais?" - Pergunto, e ela se afasta. - "Não vamos te machucar." - Ela joga farinha em nossa direção, e me apresso a proteger Charlotte.
"Você está bem?"
"Estou." - Olho ao redor, mas a garota já havia desaparecido.
"Você disse que não havia humanos vivos aqui."
"Mas não há" - ela responde, confusa. - "Não ouvi os batimentos dela."