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O Resgate

O desgaste de Tahiko era imenso, e nada do que ele tentava resultava em uma tentativa positiva, assim como as inúmeras outras vezes que havia tentado algo. O olhar dele para o capitão Williams, caído no chão sem movimento e reação alguma, o assustava.

— Capitão! Acorda, capitão! — gritou Tahiko, desesperado por uma resposta. Ele se babava enquanto falava intensamente, e seus socos de raiva no solo tornavam sua impaciência perceptível.

Hideki, por outro lado, estava calmo, falando pouco e agindo mais. Ele caminhou até onde estavam os civis, militares e a pessoa que traria para a visão de Tahiko. 

Hideki trouxe Riley desacordado nos braços e aproveitou para se aproximar de Williams. Empurrou o corpo para ver a cara do capitão e notou a marca roxa nos lábios; o capitão Williams estava oficialmente morto. Hideki se agachou o suficiente para pegar a carteira pessoal que o oficial levava consigo.

— Documentos... Família… Niki Williams… — Hideki olhou rapidamente o que havia na carteira, mas nada lhe interessou como possível informação útil.

Quando Tahiko levantou a cabeça, pois estava cabisbaixo, logo viu Riley inconsciente nos braços de Hideki e rapidamente expressou preocupação. Suas sobrancelhas levantadas e uma nova onda de ímpeto o tomaram.

— Coloca ele no chão! Deixa ele aqui!

— Não seja tão descontrolado. O garoto está vivo por minha escolha; ele já deveria estar morto como os outros — afirmou Hideki, olhando para Tahiko, que estava de joelhos com expressões exageradas.

— O que vai fazer com ele? — foi a pergunta que saiu da boca de Tahiko.

— Me chamou atenção o modo como você vê esse menino. Certamente, ele não deve ser uma pessoa comum, e você pouco sabe disso. Por isso, vou levá-lo comigo.

Em seguida, Hideki jogou a carteira do capitão para frente de Tahiko e, como despedida, disse:

— Não precisa se culpar, não tinha como você vencer.

Posteriormente, Hideki e Riley desapareceram, deixando Tahiko se lamentando com raiva. Em vez de chorar, ele socava o chão repetidamente para aliviar seu ódio. Toda a prisão se desfez instantaneamente após a saída de Hideki, fazendo Koji correr para saber o que havia acontecido.

— Tahiko! Que merda. O que aconteceu aqui? — perguntou Koji, extremamente atônito e preocupado, ajoelhando-se próximo a Tahiko.

— Aonde vocês estavam esse tempo todo? — O olhar raivoso de Tahiko agora apontava ameaçadoramente para Koji.

— Eu estava lutando na Avenida do Porto. Consegui trazer a maioria do meu grupo para cá.

— MAS ELES ESTÃO MORTOS! MORRERAM! NÃO IMPORTA SE LUTOU E OS SALVOU, NÃO ADIANTOU! TUDO FOI EM VÃO PORQUE AGORA ESTÃO MORTOS! NÃO FIZEMOS NADA! — gritou Tahiko, com o máximo que sua voz permitia, as veias do seu pescoço visíveis, sua indignação incontrolável.

— Eu enfrentei dois Gyakus, quase morri, e essa merda toda foi em vão? É isso?

— EXATAMENTE ISSO! Não fizemos porra nenhuma.

Num espasmo espontâneo, movido pela raiva, Tahiko tentou acertar um soco surpresa no rosto de Koji, que foi agilmente bloqueado pelas esferas. Elas basicamente impediram o avanço do soco, aumentando automaticamente a tensão entre os dois.

Ao ver essa cena, Koji apenas se questionou, curioso, abrindo sua mente.

— As esferas impediram? Elas me defendem dos Gyakus... e dos portadores também. Mas com os humanos não?

— Essas são as esferas? — Tahiko recuou o braço e se afastou.

Enquanto isso, Spherea disse para Koji.

— Como eu já contei o que precisava antes, estou livre para falar o que eu quero.

— Falar o que?

— O contrato que o seu pai fez é aplicado unicamente aos seres que ele considerou perigosos para você na época, muito provavelmente e certamente os Gyakus e demais portadores. Afinal, os portadores não se ferem com nada humano, somente um portador ou Gyaku pode ferir outro portador — contou Spherea.

— Ele não considerava os humanos perigosos, por isso incluiu somente as criaturas e portadores no contrato.

Tahiko, vendo Koji falando sozinho, apesar de na verdade estar conversando com Spherea, falou para ele enquanto balançava o braço próximo do rosto de Koji na intenção de despertá-lo.

— Oh, acorda aí. Não estou afim de ver maluco conversando sozinho.

Inesperadamente, o som da hélice de um helicóptero se aproximou, chamando a atenção de Koji e Tahiko, que logo olharam para o céu e viram um helicóptero descendo.

— Quem são esses caras? — perguntou Tahiko.

— Parece que chegaram atrasados, igual a mim, né?

Sem demora, o microfone da aeronave ecoou um aviso para os dois.

— ATENÇÃO, PORTADORES! SOMOS DA TORRE, PERMANEÇAM PARADOS! ESTAMOS AQUI PARA AJUDAR. NÃO SE MOVAM, IREMOS PROVIDENCIAR SUPORTE E RESGATE IMEDIATO. REPITO, PERMANEÇAM PARADOS! AJUDA ESTÁ A CAMINHO.

— Torre? Esses malditos só vieram agora? — perguntou Tahiko, coçando a cabeça e olhando desconfiado para a aeronave.

— É bem isso…

Na sede do Departamento Brasileiro de Inteligência da Torre, em Brasília.

 A movimentação nos corredores do último andar do grande e moderno prédio era intensa. Um jovem rapaz, provavelmente um estagiário, caminhava com uma pressa visível em direção à principal sala de reuniões.

— Quanta coisa… Eles acham que eu não sei que deixam mais serviço para mim de propósito — seu nervosismo pairava no ar, e a tremedeira em seus braços o denunciava.

Lentamente, ele abriu a porta, pois não fazia parte da equipe que se reunia constantemente nessa importante sala e não queria causar incômodo por ser novato na empresa.

— Bom dia!

Somente uma pessoa estava presente na sala: a comandante Ava, a mulher responsável por liderar todas as ações diretas e indiretas da Torre.

— É meio-dia — disse a comandante, de maneira seca, de pé, olhando para a vista da cidade pela vasta janela da sala.

— Meio-dia não é bom dia?

— Para mim, não — respondeu ela, enquanto se virava em direção à mesa.

Agora, olhando para o estagiário, ela caminhou elegantemente até a cadeira principal da mesa de reunião e perguntou ao jovem.

— É novato? Como se chama?

— Sim, sou sim. Meu nome é Cole Fuller — respondeu o jovem, com um sorriso envergonhado e levemente animado.

— Prazer, Cole. Mas e esses documentos? São para mim?

O rapaz logo se aproximou, levemente nervoso, e os colocou sobre a mesa.

— Esses são os relatórios iniciais sobre os dois portadores que a equipe de voo resgatou há poucos minutos em Dynami — explicou ele.

Enquanto ela olhava e lia detalhadamente todos os documentos entregues, o jovem informou.

— Ainda não sabemos os seus sobrenomes, mas seus nomes são Tahiko e Koji. Ambos são portadores independentes.

— Ah, sim. O drone já me informou sobre esses dois portadores... O agente Nahome os conhece. Certamente poderão nos ajudar em breve. Detalhe mais os relatórios e envie uma permissão em meu nome para trazerem os dois para cá. Eu quero conhecê-los pessoalmente.