Gwayne desmontou do cavalo, estendendo a mão para ajudar Olivia. Ela aceitou o gesto, descendo suavemente. O som das botas de ambos ecoou no pátio de pedra enquanto os guardas mantinham suas vigílias e os criados passavam apressados, carregando lenha e água para a cozinha.
Os dois adentraram os portões do castelo lado a lado, uma visão que parecia cuidadosamente etérea. A luz do crepúsculo dourava as paredes de pedra, lançando longas sombras enquanto o ar esfriava com a chegada da noite. Entre eles, a conversa fluía com naturalidade, acompanhada por risadas e gracejos.
No salão, Lorde Luwyn levantou o olhar de uma pilha de cartas e mapas, espalhadas sobre a mesa. Ao ver os dois, seus olhos estreitaram-se em aprovação. Ele se levantou com uma expressão calorosa e caminhou até eles.
— Sor Gwayne, Olivia — disse ele, a voz carregada pelo tom grave. — É bom vê-los, chegaram na hora certa.
Olivia manteve o queixo erguido, mas havia um leve rubor em suas bochechas. Gwayne, por sua vez, inclinou a cabeça, um sorriso contido.
— A cavalgada foi produtiva, meu lorde. — Ele olhou para Olivia por um instante antes de acrescentar: — E agradável, sem dúvida.
Lorde Luwyn cruzou os braços, seus olhos, avaliando-os como um pai orgulhoso.
— O que quer que a cavalgada tenha trazido, espero que continue a prosperar.
— disse ele, indicando eles a avançar.
Na entrada do salão, onde a luz das tochas já começava a dominar o ambiente.
Lorde Luwyn parou a alguns passos deles, as mãos cruzadas atrás das costas, e os olhos avaliando os dois com um misto de autoridade e expectativa.
— Sor Gwayne, temos assuntos a tratar. — Sua voz era firme, mas havia um tom deliberadamente suave ao se voltar para Olivia. — Filha, vá dar a alegria de sua presença à prima de seu futuro marido e às suas irmãs. Ela deve estar ansiosa para conhecê-la melhor.
Olivia ergueu as sobrancelhas por um instante, mas não moveu um músculo. Seus olhos buscaram os de Gwayne, como se esperasse que ele tomasse a iniciativa de responder. Por um breve momento, o salão pareceu mergulhar em um silêncio incômodo, quebrado apenas por Gwayne, sua voz cortou o ar como o fio de uma lâmina.
— Se não se importa, Lorde Luwyn, seremos um daqui a poucas noites. Quero que ela permaneça ao meu lado.
Havia uma dureza controlada em seu tom, e seu rosto permanecia impassível.
Olivia, ao ouvir isso, permitiu-se um leve sorriso, curto, mas suficiente para que Gwayne notasse.
Lorde Luwyn ficou imóvel por um instante, os olhos semicerrados enquanto ponderava a resposta. Por fim, ele deu de ombros.
— Tudo bem. — Sua voz soou quase resignada, mas havia um leve traço de aprovação escondido sob a superfície. Ele se virou, deixando-os sozinhos enquanto caminhava até a mesa elevada no estrado, onde seus vassalos esperavam por sua atenção.
No salão, Olivia e Gwayne trocaram um olhar cúmplice antes de seguirem em frente.
Ao alcançar a mesa do estrado, Lorde Luwyn não perdeu tempo com cordialidades desnecessárias. Seu rosto estava sério, e suas mãos repousavam sobre a mesa de carvalho pesado, cheia de pergaminhos e mapas que detalhavam as terras do ocidente.
Na sala, os cavaleiros e vassalos de Lorde Luwyn e Sor Lymond estavam reunidos, em pé alinhados ao redor da mesa principal. Entre eles, destacavam-se alguns senhores de casas menores que haviam recentemente declarado novamente sua lealdade aos antigos senhores de Castamere.
Os senhores de Boyle e Waterford haviam chegado pouco depois dos Roxton, trazendo com eles palavras de apoio e promessas de lealdade. Outras casas ainda eram esperadas, mas a presença crescente de bandeiras nos pátios do castelo já era suficiente para sugerir que algo significativo estava em andamento.
Na ponta do estrado, próximo à janela mais alta, estava Lorde Wulf, acompanhado por sua esposa Brianna e seu filho mais velho, Gunnar. Ele não se moveu para cumprimentar Gwayne de perto, mas inclinou a cabeça num gesto amigável.
— Quem convidaremos para o casamento, para nossa causa? — exclamou Lorde Luwyn.
Gwayne reconheceu o gesto à distância, mas sua atenção logo se voltou para os presentes à mesa. Ele deu um passo à frente, suas botas batendo no piso de pedra, e ergueu a voz, garantindo que todos o ouvissem claramente:
— Lorde Roland Crackenhall. — Sua voz carregava um tom de autoridade inquestionável, e os olhares se voltaram para ele. — É um bom homem.
A declaração pairou no ar, pesada, como se fosse mais do que apenas um elogio. Era uma declaração de confiança.
Lorde Luwyn estreitou os olhos, observando Gwayne por um instante antes de falar.
Sor Lymond gargalhou, o som alto e áspero ressoando no salão, chamando a atenção de todos.
— Faz tempo que quero reencontrar esse javali errante! — exclamou, inclinando-se para a frente, com os cotovelos apoiados na mesa. — Vou mandar enviarem um corvo para o Dente Dourado. Se Roland Crackenhall ainda estiver vivo, ele estará lá.
Alguns dos homens ao redor da mesa riram junto com ele, mas outros mantiveram suas expressões graves. Foi então que um dos vassalos de Lorde Luwyn, um homem magro com cabelos grisalhos, falou do fundo da sala:
— Os Crackenhall vão nos apoiar?
O murmúrio cessou imediatamente. Lorde Luwyn levantou os olhos para o homem, franzindo a testa, antes de voltar seu olhar para Gwayne.
— Os Crackenhall são de confiança?
Todos os olhos na sala agora estavam fixos em Gwayne, que permaneceu em silêncio por um instante, considerando sua resposta.
— Ele compartilha do meu sangue deles. — interrompeu Sor Lymond, sua voz calma, mas firme. — Roland Crackenhall não irá nos trair. Mas quanto a nos apoiar.... Ele teve Jaime Lannister como seu escudeiro, isso é muito difícil de ignorar, É um homem orgulhoso, mas age com justiça, ele não ficará contra nós se puder evitar, mas isso não significa seu apoio.
Lorde Luwyn passou a mão pela barba curta, pensativo. Antes que pudesse responder, ele desviou o assunto, movendo-se para outro ponto sensível.
— E quanto a Lorde Gareth Clifton e seus filhos? Sua neta ainda está prometida a Sor Humpfrey, que serve ao autoproclamado Rei Stannis. — continuou Luwyn, para Sor Lymond.
Sua expressão endureceu por um momento, mas ele continuou.
— De qualquer forma, isso pode ser reparado. Se Humpfrey não for mais útil ou viável, daremos a mão dela a outro cavaleiro da casa. Há homens mais leais e mais próximos de nós que poderiam consolidar alianças importantes.
O silêncio que se seguiu era pesado, interrompido apenas pelo estalar da lenha nas tochas. As palavras de Lorde Luwyn haviam sido diretas.
Gwayne, no entanto, ergueu o olhar para ele, a expressão grave.
— Que seja um homem que a respeite, meu lorde. Alianças frágeis não se reforçam com casamento forçado. Não tolerarei que minha prima seja tratada dessa forma.
O lorde finalmente deu um leve aceno, voltando sua atenção aos mapas sobre a mesa
Lorde Wulf, que observava tudo atentamente, mudou o rumo da conversa.
— Podemos esperar algum apoio de outra casa da Campina? — perguntou ele, sua voz profunda ecoando pelo salão e comandando atenção.
Luwyn hesitou, tamborilando os dedos sobre o mapa à sua frente.
— Os Costayne. — disse ele, com uma leve indecisão. — Mas seu domínio fica no sul da Campina, perto de Árvore, longe demais para ser útil no curto prazo. Além disso, eles devem obediência aos Tyrell, e não há garantia de que nos seguirão contra seus senhores.
— E os Tyrrell por acaso não são seus senhores também?
— Meu domínio fica no extremo norte, Lorde Tyrrell não me chamaria para o sul, e nem eu precisaria marchar para o norte, o Rei Renly perde seu tempo fazendo torneios e não travando sua guerra. Meus exércitos não se movimentaram para longe do meu objetivo.
Gwayne ficou impressionado com Lorde Luwyn, não via nele um homem tão pragmático.
Antes que pudesse continuar, o som de passos e o ranger das portas chamou a atenção de todos na sala. Os homens na mesa viraram-se, interrompendo suas conversas.
O jovem herdeiro de uma das casas menores da região, acabava de entrar no salão. Ele estava acompanhado por dois cavaleiros.
O rapaz era alto e forte, trajando uma cota de malha limpa, mas com sinais de uso recente. Seus cabelos dourados brilhavam sob a luz das tochas, e seus olhos verdes tinham um brilho confiante, quase arrogante. Ele parecia alheio ao peso das conversas interrompidas pela sua chegada, entrando como se já fosse esperado.
Lorde Luwyn ergueu uma sobrancelha, avaliando o recém-chegado.
mas foi o homem ao seu lado que imediatamente atraiu os olhares.
— Quem é esse que traz consigo, Alys? — perguntou Gwayne, com um tom que mesclava curiosidade.
Alys, ainda um pouco ofegante pela viagem, fez uma breve reverência antes de responder.
— Meu lorde, este é Ser Reynard Wythers. Ele é o comandante do exército da Casa Rotherly, veio para me ajudar a discutir assuntos do nosso interesse.
O nome arrancou alguns murmúrios dos cavaleiros presentes, e Gwayne observou o homem com atenção renovada. Wythers era um nome conhecido, associado a uma linhagem de cavaleiros leais, mas não particularmente influentes.
Reynard, no entanto, não parecia um homem que permitisse ser subestimado. Ele avançou, fazendo uma reverência curta e segura, seus olhos fixos em Sor Lymond.
— Meu lorde, trago palavras de aliança de meu senhor, mas também de aviso. Ele vai seguir com cautela o que for decidido aqui.
— Perdoem Sor Reynard, meus senhores. Ele não suaviza suas palavras e perdoem o meu atraso — disse Alys, fazendo uma breve reverência, seu tom educado, mas firme.
Gwayne sorriu para ele e foi ao seu encontro, apertando-lhe o ombro com camaradagem antes de guiá-lo até a mesa.
— Este é Alys Rotherly, filho do Senhor de Rotherly. Ele é do nosso sangue.
Os cumprimentos foram breves, formais, mas pouco calorosos. A sala estava carregada de tensão, e os homens presentes estavam mais preocupados com as questões em discussão do que com apresentações.
Foi então que um dos vassalos de Lorde Luwyn, um homem corpulento com barba espessa, levantou-se, sua voz carregada de ceticismo.
— E quais são os planos para derrubar o poder dos Lannister? — exclamou ele, cruzando os braços. — Não somos tolos, sabemos que suas forças superam as nossas em número e recursos. O que nos faz acreditar que podemos enfrentá-los?
O salão ficou em silêncio por um momento, mas outro homem, mais magro e com olhos penetrantes, fez uma pergunta ainda mais direta:
— E o que nos impede de sermos esmagados antes mesmo de consolidarmos nossas alianças? Estamos cercados. Um movimento errado, e os Tyrell ou os Lannister marcharão contra nós.
Os murmúrios começaram a crescer entre os presentes. Era claro que o ceticismo e o medo pairavam sobre todos.
Gwayne ergueu a mão, pedindo silêncio. Sua postura permanecia confiante, e ele esperou até que a sala voltasse a se aquietar antes de falar.
— Senhores, ninguém aqui é tolo. Os Lannister são poderosos, sim, mas o poder deles não é absoluto. Suas forças estão espalhadas em múltiplos frontes, Stannis guarda ansiosamente para os confrontar e Renly está a caminho, e os Stark no norte.
Lorde Luwyn fez uma pausa, varrendo a sala com o olhar.
— Nosso objetivo não é enfrentar os Lannister diretamente em uma guerra aberta, mas garantir nosso direito. Começamos aqui, com alianças.
O homem corpulento que falara primeiro estreitou os olhos, ainda desconfiado.
— E o que sugere como primeiro passo, Ser Gwayne?
Ele apontou para o mapa na mesa.
— Primeiro, consolidamos nosso poder, se agirmos agora, teremos uma chance de virar a maré antes que eles percebam o que está acontecendo.
Lorde Luwyn permaneceu em silêncio por um momento, a dúvida evidente em seu olhar. Quando finalmente falou, foi com uma voz grave, mas carregada de interesse.
— Quais os planos para tomar Castamere? — disse ele, olhando diretamente para Gwayne.
Gwayne não hesitou. Levantou-se calmamente, dirigindo-se ao centro da sala onde estava o grande mapa. Com um movimento preciso, pegou uma peça de madeira em formato de leão rampante carmesim e colocou-a sobre o território de Sarsfield, em uma linha de fronteira que marcava o alcance dos Lannister.
— Nosso plano não é derrubar os Lannister de uma vez. Não esperem um ataque direto a Casterly Rock ou Lannisporto, pois isso levaria mais tempo e mais sangue do que podemos gastar de imediato. — Gwayne falou de maneira firme, seus olhos varrendo os rostos presentes. — Vamos tomar Sarsfield primeiro. Depois, Castamere. A estratégia será envolver os Lannister por todos os lados. Enquanto o Norte será pressionado pelos lobos Stark, o Sul será afetado pelas rosas de Jardim de Cima, e o leste será ocupado por Lorde Stannis.
Ele olhou para cada um dos senhores e cavaleiros ao redor da mesa, garantindo que todos compreendessem a magnitude do que estava sendo proposto.
— Os Lannister não terão tempo ou recursos suficientes para reagir adequadamente a todas essas frentes. Eles estarão com suas forças divididas, e em breve, não terão mais forças para proteger nem seus próprios castelos. — Gwayne continuou, seu tom inflexível. — E quando os castelos caírem, negociaremos os termos favoráveis com o Trono de Ferro. Seja com o Rei Joffrey ou qualquer outro que se encontrar no trono, teremos uma posição forte o suficiente para impor nossas condições.
Lorde Wulf foi o primeiro a quebrar o silêncio, sua voz profunda e cheia de autoridade.
— E quanto aos custos dessa campanha? O castelo Sarsfield não deve ser fácil de tomar.
Gwayne se virou para ele, uma expressão resoluta em seu rosto.
— Eu acho que será extremamente fácil, mas não obrigarei ninguém a me seguir, se quiserem outra prova da nossa chance de vitória, eu tomarei o castelo Sarsfield apenas com os homens da casa de meu avô. — Disse Gwayne, olhando para Lymond.
Brianna bufou.
— Obviamente estaremos atrás de você, Gwayne. — exclamou ela.
Ele sorriu para ela antes de continuar — temos um homem dentro do castelo, e o exército dos Sarsfield partiu com Jaime. Eles caíram facilmente e depois Castamere.
Não subestimem o efeito de uma vitória contra eles. Quando tomarmos o primeiro castelo, temos que conseguir o máximo de tempo para evitar que isso vire conhecimento de todos, a notícia pode se espalhar rápido, temos que evitar isso.
Gwayne olhou para os presentes, sua confiança firme como uma muralha.
Lorde Luwyn, ainda observando o mapa, finalmente falou.
— Muito bem, Sor Gwayne. Vejo que tem um plano claro. Mas lembre-se, em tempos como este, a confiança é tão importante quanto a espada. Os homens que eu trouxe irão com você, seram homens da casa Reyne após o casamento.
O silêncio caiu sobre a mesa mais uma vez, mas dessa vez, foi um silêncio de compreensão.
Ao final da reunião, Sor Lymond deu a ordem para que o banquete da noite começasse.
À noite, o grande salão estava iluminado por tochas e candelabros, as mesas estendiam-se por toda a sala, repletas de carnes assadas, pães frescos e vinho. A música de liras e flautas preenchia o ar, criando uma atmosfera de celebração.
Sor Gwayne e Lady Olivia estavam sentados no centro do estrado, o lugar de destaque, olhando sobre a sala cheia de nobres e cavaleiros. Olivia estava radiante, um sorriso suave nos lábios, com seus cabelos negros perfeitamente arrumados, e um vestido vermelho rubi que a fazia brilhar sob a luz das velas. Ao seu lado, Gwayne se mostrava mais sério, mas igualmente imponente, seu traje escuro realçando sua postura de líder.
Lorde Luwyn e Sor Lymond ocuparam as pontas do estrado, ambos com uma postura majestosa, observando seus vassalos e aliados enquanto os outros senhores e cavaleiros se acomodavam ao redor, com Patrick e Wulf acompanhando Sor Lymond, em um canto distinto, enquanto os Gudrunn tomavam uma mesa inteira, como se fosse um pequeno exército de sua própria casa.
Cavaleiros da Campina, de vilarejos locais e outras figuras influentes, como comerciantes, estavam espalhados pelo salão.
O banquete não tinha o luxo que os banquetes das grandes casas costumavam ostentar, mas a comida era farta, com carne assada, pães frescos, queijos e vinho que fluíam sem parar, fazendo os senhores se fartar sem restrições.
O banquete seguiu noite adentro, com os copos sempre cheios e as conversas se tornando cada vez mais calorosas.
A noite avançava e o banquete começava a perder sua energia. Lady Olivia, sentada ao lado de Gwayne, parecia tranquila, com sua mão descansando sobre a dele, enquanto a outra continuava a beliscar os diversos pratos que eram trazidos por serviçais. Gwayne, mais contido, observava a sala, atento aos gestos e palavras de seus aliados.
À medida que o banquete chegava ao fim, o ambiente se tornava mais relaxado e o salão começava a esvaziar. Cavaleiros bêbados saíam, cambaleando de um lado para o outro, rindo e falando em voz alta, alguns até mal conseguindo se equilibrar enquanto atravessavam o castelo para pegar os caminhos que os levariam até as estalagens do vilarejo. O castelo parecia mais silencioso a cada minuto que passava.
Gwayne tinha o desejo de acompanhar sua futura esposa até o quarto, mas as irmãs dela a sequestraram de seus braços e a levaram pelas escadas soltando sorrisinhos.
Ele caminhou até o lado de fora do castelo, onde o ar fresco da noite o envolveu. Observava os bêbados que ainda circulavam pelo pátio, indo e vindo sem rumo, suas risadas e vozes em tom elevado contrastando com a quietude que se abatia sobre os corredores internos.
A noite caía pesada, envolta em um véu de estrelas pálidas e uma lua tímida que mal ousava lançar sua luz sobre as torres do castelo. Cerella atravessou os portões com passos medidos, sua capa de lã púrpura dançando ao vento frio.
— Uma bela noite. — refletiu ela, sua voz quase se perdendo no murmúrio das folhas do represeiro.
Com cuidado, abaixou-se e colocou no chão um pequeno baú de madeira, gasto nas arestas, mas ainda sólido.
— Aqui está o que pediu. — Suas palavras soaram calmas.
Do outro lado, à sombra de uma árvore retorcida, Gwayne permanecia de costas, suas mãos ocultas nas dobras do manto.
— Obrigado, Ciry. — disse ele sem se virar.
Cerella inclinou a cabeça, o rosto marcado por uma curiosidade que não conseguiu esconder.
— Para quem são essas coisas? Com certeza, não é para Olivia.
A pergunta pairou no ar, pesada como o silêncio da tempestade que se aproximava. Gwayne virou-se então, seus olhos encontraram os dela.
— Para alguém importante. — disse ele, antes de puxá-la para um abraço, seus braços fortes mas ternos ao redor dela.
Depois disso, Cerella entrou.
Gwayne avistou-os à distância: o velho Darwin, com sua postura curvada pelo peso dos anos, mas ainda forte e duro e Daeron ao seu lado.
Sem hesitar, Gwayne colocou o baú entre o braço e apressou o passo, mas eles estavam longe, quase engolidos pela bruma que começava a subir da estrada poeirenta.
— Daeron! — berrou ele.
Por sorte, ele ouviu. Parou, hesitou, e então voltou caminhando em direção a Gwayne.
— Thri me contou sobre Valysar... — disse ele, sua voz quase um sussurro.
Gwayne riu, um som inesperado e leve, que parecia contrastar com o peso daquelas palavras.
— Claro que ela contaria, então, o que você pensa de mim agora? — perguntou Gwayne, inclinando-se um pouco mais para perto, os olhos fixos no jovem como se procurasse uma resposta sincera.
Daeron balançou a cabeça lentamente, desviando o olhar para o horizonte encoberto por nuvens.
— Eu não sei. Eu não acredito.
O silêncio voltou a envolvê-los, pesado como uma corrente de ferro. O vento soprou novamente, levando consigo um punhado de areia, mas não o vazio que pairava entre eles.
— Mas é verdade o que ela disse. — As palavras saíram de sua boca sem emoção, tão secas quanto o vento que assobiava entre as pedras. — Matei cada um deles.
Deixou as palavras pairarem no ar, antes de prosseguir, o tom mais sombrio.
— Teriam sido brutalizados, levados no próximo navio de escravos que aportasse, acorrentados e despidos de qualquer dignidade. Os aleijados? Estes seriam mortos, descartados como gado inútil.
Ele fez uma pausa, um leve tremor em suas mãos, mas se recompôs rapidamente.
— Se eu não desse a ordem, outra pessoa daria. Alguém menos cuidadoso, mais cruel.
Depois de terminar, Gwayne levantou a cabeça e suspirou, avançando lentamente para fora do vilarejo, enquanto Daeron o observava de trás.
ele planejava buscar seu cavalo no estábulo, mas estava com tantas coisas na cabeça que decidiu ir andando para ter tempo para pensar em tudo.
Começava a chover durante o percurso, caindo pequenas gotas em suas vestes, ele avançou para a floresta, para a caverna, ele viera cumprir sua promessa.
Ele andou entre as árvores e pelo percurso acidentado, colocando sua capa já encharcada para se proteger da chuva.
Mas, ele não precisou ir até a caverna para a encontrar, ela o aguardava entre as árvores que marcavam o fim do lago, com um sorriso de alívio.
— Você veio! — exclamou ela.
Um alce monstruoso saiu das árvores, Gwayne cobiçava não apenas Hel em sua forma humana, mas imaginava aquela criatura o ajudando nas batalhas, como seus inimigos fugiriam desesperados ao vê-la. Era uma visão que ele gostaria de ver um dia.
— Eu vim honrar a promessa que eu fiz naquela manhã, irei continuar vivo, e afastarei sua solidão. Eu trouxe algo para você, um dia você terá de me seguir para fora dessas árvores, e não poderá andar sem roupas pelos corredores do meu castelo.
O belo rosto escondido pela escuridão abaixo de onde deveria estar a cabeça do alce, o rosto deu um sorriso largo, e a cabeça monstruosa do alce em formato de torso humano inclinou em sua direção. Gwayne afagou ela, soltando um sorriso esquisito.
Então, Hel finalmente saiu em sua forma mais bela.
— Eu imaginei que não poderia andar sem roupas entre vocês, homens, mas roupas humanas são esquisitas para mim, eu não necessito delas. — disse ela, alongando os dedos fazendo seus seios grandes se espremeram entre seus braços.
Gwayne mostrou as roupas nobres de sua prima Cerella, Hel reagiu com extrema curiosidade e estranheza.
— São muito... saiba que seu presente vale mais do que qualquer peça de ouro que está na minha caverna, pois me foi dado por um pessoa viva, alguém com quem compartilhar meu tempo acordada. Gwayne a ajudou a vestir as roupas riquíssimas como se Hel fosse uma criança, ela não sabia onde precisava entrar exatamente.
Após isso, Gwayne a olhou com admiração. As roupas de Cerella ficavam muito justas no corpo de Hel, ela era maior que a maioria das mulheres, apenas menor que Brianna.
— Desculpe, minha prima não é tão grande. Mas, vai servir por enquanto.
— É estranho, irei demorar para me acostumar, mas se você gosta eu também gosto, o importante é que agora tenho uma forma de ir até você, quando você precisar de mim, meu primeiro presente. Obrigada! — disse ela, removendo as roupas novamente, e guardando as no baú que ele trouxe.
Gwayne a abraçou e brevemente sentiu seus pensamentos sumirem, foi dominado por uma paz que nunca antes sentiu.
"Ela me causa isso?" — pensou ele.
Gwayne sentiu os dedos fortes delas percorrem suas cortas, sentiu suas unhas aranharrem mesmo através de suas roupas grossas, mas ele não sentiu dor.
Gwayne sorriu para ela, afastando seu rosto e instintivamente tocou em seus seios, tocando com o polegar seus mamilos escorregadios.
Hel sorriu.
"Gwayne, Gwayne." — murmurou ela, com a voz doce. — me siga...
Ela mergulhou no rio, Gwayne logo sentiu sua tranquilidade ser perturbada novamente por pensamentos, planos e promessas.
Ela não submergiu, ele mergulhou atrás dela, a avistando na água iluminada, Hel nadava para o fundo, onde um amontoado das milhares de pedrinhas brancas se amontoaram em uma parede no canto, Hel sacudiu a mão e as pedras saíram rapidamente de seu caminho, revelando um buraco.
Ela fez sinal pare ele o seguir, e assim ele fez, descendo a uma profundidade de quinze metros, ele entrou no buraco e após seguir por um metro avistou uma saida para cima, saindo em uma caverna com paredes de gesso branco, estaria completamente escura se Hel não estivesse ali, era uma caverna em formato de círculo, com entradas nas paredes para outras alas, no meio uma enorme estátua de Hel, o Alce.
Gwayne sentiu se ficando seco rapidamente, e um calor restaurou sua temperatura corporal. Hel se ajoelhou na frente da estátua e depois sentou se no canto, as entradas sem portas não eram tão iluminadas quanto essa sala.
— É você Hel...
— As sereias construíram, você me perguntou porquê eu coloquei os corpos nas árvores... Se lembra?
— Sim.
— Aquele tanto de cadáver iria atrair vermes do mar, por isso os coloquei nas árvores, você estava lá, dormindo indefeso. Vermes do mar são carniceiros, diferentes das sereias.
"As sereias do ocidente" — Gwayne logo pensou nos livros que eram muito famosos nessa região, as sereias de Casterly rock.
Ele não acreditava antes, mas depois de tudo isso, a criatura que persegue Aerea, Hel e bom... Snarks. — ele riu brevemente.
Gwayne sentou se ao lado dela.
— Você esteve comigo a noite toda...
— Sim, mas não consegui evitar que a criatura o seguisse nos sonhos...
Gwayne sentiu se novamente aliviado perto dela, sentiu suas pálpebras cederem, um sono impossível de resistir, mas ele fez.
— Não resista, meu bom Gwayne. Durma, eu estarei aqui quando acordar.
Gwayne deitou perto dela, ele sentia uma paz inexplicável nesse momento, não sentia nada, não pensava em seus planos de guerra, não sentia tristeza por coisas no passado, ele estava feliz. Estava ficando com sono, sentia-se seguro perto dela.
Hel o observava deitada ao lado, com um sorriso que seria considerado assustador em outras pessoas, mas seu rosto belo não deixava ser nada menos que encantador, ela parecia extremamente feliz com sua companhia.
— Você não irá dormir? — perguntou ele, com a voz sonolenta.
— Se eu dormir, posso acordar e você não estar aqui. — disse ela.
— Eu não irei embora.
— Não é esse meu medo, Gwayne. Eu temo acordar e não ter nada que me lembre você nesse mundo, quem sabe quando acordarei se eu voltar a dormir, meu objetivo estaria perdido.
— Eu posso te acordar. — disse ele, com um sorriso agradável.
— Eu sei que pode, mas por enquanto, deixe-me aproveitar esse momento, ter alguém vivo e respirando do meu lado é algo que eu nunca senti. Faz eu me sentir... Humana. — disse ela, variando entre as expressões de felicidade e melancolia.
— Então, me acorde antes de amanhecer. — disse ele, a puxando com os braços.
Ela reagiu de forma surpresa e sorriu.
Gwayne guiou a cabeça dela em direção ao seu peito, mas ela desejava muito olhar se rosto, então, manteve o olhar fixo e elevado, até ele adormecer.