webnovel

Capítulo 4. Vivendo

Érida

Esse tipo de atitude humana, me deixa profundamente revoltada e se depender de mim, sempre vou lutar contra.

Não sou um animal ou objeto, para ser vendida e isto era totalmente indigno e só o fato dele não ter pensado em dispensar o cumprimento deste contrato e me liberar, já mostrava que ele herdou algo mau de seu avô.

Não serei boazinha com ele, pois ele está me dispensando sem sequer me conhecer. Não farei questão de conhecê-lo e porei em prática todos os meus planos, inclusive os que já iniciei um ano atrás.

Depois que respirei aliviada por sair daquele internato, que foi meu cárcere por dezoito anos, olhei para minha professora, Anita e sorrimos, andamos uma em direção a outra e nos abraçamos. Entramos no carro à nossa frente, ela na direção, eu no carona e fomos embora.

Achei muito divertido sacolejar de mansinho e sentir o vento que entrava pela janela, batia no meu rosto e bagunçava meus cabelos. Logo pegamos uma estrada mais lisa e paramos de balançar. Mas gostei deste veículo.

Nada sobre a vida em sociedade me é desconhecido. Já pesquisei e estudei tudo pela internet. Fiz vários cursos, inclusive de programação e aprendi os segredos mais obscuros da dark web. Passeio como uma verdadeira hacker pelas diversas redes.

Foi assim que decidi o que iria estudar e como iria proceder, sei que não será fácil, pois apesar de estudar as pessoas através de filmes e novelas, agir na vida real deve ser bem diferente. Mas vou me esforçar ao máximo, muitas meninas dependem de mim para libertá-las, tomei essa tarefa em minhas mãos e vou lutar por elas. Se depender de mim, nunca mais haverá mulheres encarceradas como eu.

O carro em que estávamos era alugado e deixamos ele no aeroporto. Pena que não tínhamos muito tempo para que eu pudesse experimentar tudo. Tantas pessoas, lojas, comidas, aromas e cores. E os aviões? O que dizer daquelas aeronaves diversas, enormes, com tamanhos e cores diferentes e que depois de correrem pela pista, levantam vôo como os pássaros.

Viajar num desses foi o máximo, mas logo chegamos e novamente aquele mundo de gente me deixou meio tonta. Era muito movimento e cores às quais não estou acostumada. O pouso foi tranquilo, graças a Deus, mas já estava cansada. Dessa vez pegamos um táxi, que nos levou direto ao apartamento em que me instalaria, fica em um bairro próximo ao campus da universidade.

Quando entrei, fiquei abismada com o tamanho e decoração requintada, não esperava que ele fosse disponibilizar algo tão suntuoso para mim. Pensei que seria algo pequeno, com dois quartos, bem prático. Mas realmente me surpreendeu. Tinha todas as mordomias modernas, incluindo computador e internet.

— Você já tinha vindo aqui, Anita? — Perguntei a ela, que não parecia surpresa.

— Sim, o advogado trouxe-me aqui para conhecer, quando vim trazer os seus documentos e assinar o contrato de sua acompanhante. — Explicou ela, abrindo as janelas.

— Entendo. Ele disse se o imóvel é nosso? — Seria muito bom ser proprietário, ao invés de ficar com receio de ser expulsa a qualquer hora.

— Sim, está no seu nome. Com total autonomia para fazer o que quiser. — Seu sorriso falou tudo.

— Mais uma vez, ele mostra a intenção de manter o contrato feito pelo avô. Como um homem pode pensar em manipular outro ser humano ao seu bel prazer? — Não consigo aceitar isso.

— Creio que ele está tão acostumado a respeitar seus contratos de negócios, que agiu da mesma maneira com o de casamento. — Sugeriu Anita.

Pensei por um instante e mandei a pérola:

— Casamento… As pessoas banalizam tanto essa palavra, esquecem o verdadeiro significado e tudo o que está implícito. — Desabafei.

— O que você quer dizer com isso, Érida? — Não é possível que ela não entenda o que quero dizer.

— Que quando duas pessoas se unem em matrimônio, assinam um contrato invisível, que implica em respeito e tolerância, ao qual muitos não percebem e no cotidiano, por já estarem unidos, acabam descumprindo e aí vêm as discórdias, brigas e separação. — Expliquei, como se a pessoa madura e experiente, fosse eu.

— Menina, você só tem 18 anos, mas parece saber tudo. — Parece que ela entendeu.

— Muito tempo sobrando. — Gargalhei e contagiei Anita, que começou a rir também.

— Vamos olhar os quartos, vem! — Puxou-me Anita.

Depois de olharmos todas as dependências, fomos ver a despensa e a geladeira. Estavam vazias.

— Precisávamos fazer compras. — Falei.

— Aqui perto tem um supermercado, vamos dar um pulo lá. Também precisamos ir ao shopping, mas por enquanto, umas comprinhas no supermercado, quebrarão o galho — disse Anita.

Embora cansada mentalmente, a curiosidade é maior e adorei a ideia.

Saímos, andamos até lá e admirei aquele imenso comércio. Tinha de tudo. Aproveitei uma loja de roupas e comprei algumas, para trocar aquelas roupas do internato, amanhã iremos ao shopping. Fizemos as compras para abastecer a despensa e a geladeira. Anita conhecia tudo e enchemos dois carrinhos.

Me diverti muito, corri que nem criança dentro do mercado, subi nas costas do carrinho,impulsionei e só parei quando quase atropelei uma pessoa. Peguei e cheirei frutas e legumes, alguns eu nunca tinha visto e fiquei surpresa com a diversidade de tamanhos, cores e cheiros. As pessoas me olhavam com curiosidade, como se eu fosse alguém de outro mundo. Não deixava de ser, já que nunca entrei em lugar assim.

Quando voltamos, já era entardecer. Antes de entrarmos no carro de aplicativo, que estava no estacionamento, contemplei o céu em seu colorido mesclado entre azul, rosa e alaranjado, graças ao pôr do sol. Algumas nuvens movem-se suavemente, como flocos de algodão.

Tão lindo!

Mas as pessoas passam em um corre corre e não se apercebem que Deus nos presenteia com um quadro celestial tão lindo, pintado pela natureza, obra de Suas mãos. Respirei fundo novamente e percebi a diferença entre o ar daqui e o do internato. Não dava para ficar respirando muito fundo aqui, a poluição está presente, assim como os odores perturbadores e diferentes.