Acordei com o som irritante do despertador. Olhei para o teto por alguns segundos, ainda meio atordoado, lembrando-me das imagens do sonho que tive na noite passada. Meus pensamentos vagaram para Yuki, mas eu rapidamente os afastei. Precisava me concentrar no presente.
Levantei-me, me aprontei e desci para tomar café da manhã. Minha mãe e minha irmã já estavam na cozinha, preparando torradas e ovos.
— Bom dia, Shin! Dormiu bem?
— Sim, mãe — respondi, pegando uma torrada.
— Bom dia, maninho! — disse minha irmã, Hana, animada como sempre. — Sonhou com algo interessante?
— Ah, nada demais — respondi, tentando esconder meu nervosismo.
Comi rapidamente, ansioso para encontrar Seiji e Rintarou no caminho para a escola. Quando saí de casa, eles já estavam me esperando na esquina.
— Ei, Shin! — gritou Seiji, sempre animado. — Dormiu demais de novo?
— Nem me fale. Acordar cedo nunca vai ser fácil — respondi, rindo.
Caminhamos juntos até a escola, conversando sobre os jogos que jogamos na noite anterior. Seiji estava empolgado com uma nova estratégia que tinha descoberto, enquanto Rintarou comentava sobre as últimas notícias dos lançamentos dos jogos.
Quando chegamos, a escola já estava cheia de alunos correndo para suas salas de aula. O pátio estava barulhento, cheio de risadas e conversas animadas.
Entramos na sala e nos sentamos em nossos lugares. O professor chegou logo depois, carregando um monte de papéis.
— Bom dia, classe. Antes de começarmos a aula, quero que respondam a uma pesquisa. Quero que preencham este formulário sobre seus planos para o futuro.
Ele começou a distribuir os formulários e, quando chegou a minha vez, peguei o papel e olhei para ele. "Quais são os seus planos para o futuro?", perguntava a primeira linha.
Olhei ao redor da sala, vendo meus colegas inclinados sobre suas folhas, escrevendo com confiança. Seiji rabiscava com entusiasmo, sua mão correndo sobre o papel como se já tivesse planejado cada detalhe da sua vida. Rintarou, sempre calmo, escrevia metodicamente, como se cada palavra fosse parte de uma equação já resolvida.
Todos pareciam saber exatamente o que queriam, como se o futuro fosse uma estrada clara e reta na qual eles já estavam trilhando. Mas eu? Eu estava preso, sem conseguir dar sequer o primeiro passo.
Um nó no meu estômago começou a se formar, e por mais que eu tentasse pensar em algo, qualquer coisa, as palavras simplesmente não vinham. O silêncio dentro da minha mente era ensurdecedor. Cada segundo que passava, minha incapacidade de preencher aquele espaço vazio se tornava mais evidente. A pressão de não saber quem eu era ou quem eu queria ser me sufocava, como se o próprio ar estivesse fugindo da sala.
O papel continuava ali, em branco, refletindo o que eu sentia: uma ausência de direção, uma falta de propósito. Enquanto todos ao meu redor avançavam, eu estava parado, congelado, incapaz de mover-me para frente.
O tempo passou rapidamente e, antes que eu percebesse, era hora de entregar o formulário. O meu estava em branco. Caminhei até a mesa do professor e o entreguei assim mesmo.
— Seiji, Rintarou, o que vocês escreveram? — perguntei no intervalo.
— Eu vou ser um jogador profissional de futebol! — disse Seiji, com um sorriso largo. — E você, Rintarou?
— Quero prosseguir meus estudos na universidade e depois conseguir um bom trabalho em uma empresa — respondeu ele.
— E você, Shin? — perguntou Seiji. — O que escreveu?
— Nada. Não sei ainda o que quero fazer — respondi, tentando não parecer preocupado.
— Relaxa, cara. Você vai descobrir eventualmente — disse Seiji, tentando me animar.
Ao ouvir Seiji e Rintarou falarem sobre seus sonhos com tanta convicção, eu sentia uma mistura de admiração e inveja. Como eles conseguiam ter tanta certeza do que queriam?
A aula continuou normalmente, mas minha mente estava longe. Quando o sinal tocou, todos começaram a se levantar e sair, mas o professor me chamou.
— Shin, pode ficar um pouco depois da aula? Quero conversar com você.
— Claro, professor. Seiji, Rintarou, podem ir na frente. Eu já alcanço vocês.
Sentei-me novamente enquanto o professor esperava todos saírem.
— Shin, notei que você deixou seu formulário em branco. Por quê?
— Eu... não sei ainda o que quero fazer — respondi, um pouco envergonhado.
— Isso é completamente normal, Shin — disse ele gentilmente. — Mas é importante começar a pensar sobre isso. O que você gosta de fazer? O que te interessa?
— Não sei... Não tem nada que realmente chame minha atenção.
— E hobbies? Algo que você faz no seu tempo livre que possa se transformar em uma carreira?
— Eu gosto de jogar videogame, mas não sei se isso pode ser um futuro de verdade.
— A indústria de jogos é grande e cheia de oportunidades. Pode não ser fácil, mas se é algo que você realmente gosta, vale a pena considerar.
O professor parecia preocupado, mas não insistiu. Conversamos um pouco mais sobre possíveis interesses, mas eu ainda não conseguia encontrar uma resposta.
Enquanto caminhava pelo corredor vazio, senti um peso no peito. A conversa com o professor apenas reforçou minha sensação de estar à deriva.
Fui direto para o refeitório encontrar Seiji e Rin. Eles estavam me esperando com curiosidade.
— O que aconteceu? — perguntou Seiji.
— Nada demais. Só uma conversa — respondi, tentando soar despreocupado.
Sentamos para almoçar, e a conversa mudou para tópicos mais leves, mas minha mente ainda estava presa na pergunta do formulário.
Enquanto olhava para meus amigos rindo e conversando, a dúvida persistente continuava a ecoar na minha mente. "O que eu quero para o meu futuro? O que eu estava fazendo da minha vida?"
Quando a escola finalmente terminou, caminhei para casa. A tarde estava tranquila, com o sol se pondo e pintando o céu com tons de laranja e rosa. Os sons da cidade começavam a se acalmar, dando lugar aos murmúrios da noite que se aproximava. "Será que algum dia vou encontrar minha paixão? Algo que realmente me motive?", pensei.
Chegando em casa, minha mãe notou minha expressão preocupada.
— Shin, está tudo bem? Você parece distante.
— Só... pensando no futuro, mãe. Nada demais.
Ela sorriu, colocando a mão no meu ombro.
— Não se preocupe tanto, Shin. Você ainda tem tempo. Às vezes, as respostas vêm quando menos esperamos.
Subi para o meu quarto, suas palavras ecoando na minha mente. Talvez ela estivesse certa. Deitado na cama, olhei para o teto, tentando imaginar meu futuro. "Seria possível encontrar algo que me fizesse sentir completo?", "Ou estaria condenado a essa sensação de vazio?". Enquanto essas perguntas me assombravam, um pensamento reconfortante passou pela minha mente: "Talvez, como minha mãe disse, as respostas viessem quando eu menos esperasse."