Capítulo 15

O fim de semana que tivemos foi sem sombra de dúvida algo de que eu não sabia que precisava até ter, pode parecer besteira e ainda mais pelo muito pouco de tempo de convivência e claro, ter uma voz inquietante dentro da minha cabeça gritando que estou rápido demais, essa voz é a de Isabel, mas apesar de saber que ela está certa e que eu provavelmente deveria diminuir mais o ritmo, estou gostando das sensações que estou experimentando.

Nós conversávamos tranquilamente e não tinha estranheza naquela situação, havia apenas a normalidade e isso eu comprovei ainda mais quando Carson disse que pensou no fato de eu estar me envolvendo com Luca sendo ele meu professor e que talvez devêssemos considerar contar ao reitor, apenas no caso de descobrirem e quiserem tirar vantagem da situação, afinal de contas apesar de sermos adultos poderiam alegar qualquer outro tipo de coisa que não era verdade e Luca contou que já tinha pensado nisso, e concordamos que contaríamos ao reitor, apenas para deixá-lo informado de que estamos nos envolvendo e que isso não irá interferir na vida profissional e acadêmica de ninguém, havendo a imparcialidade.

Acabei recebendo um e-mail de uma das empresas a quem tinha me candidato para fazer estágio e queriam uma entrevista, obviamente fiquei chocada ao saber que a empresa do pai de Logan estava comprando esta empresa, mas ao mesmo tempo fiquei feliz por isso, pois não era como se eu estivesse sendo favorecida de algum modo por ir para cama com o filho do futuro dono, acontece que Logan também estava fazendo uma entrevista e quando questionei sobre esse fato, ele apenas deu de ombros e disse que algum dia aquilo seria dele, então que ele começasse a entender como tudo funcionava desde já e mesmo sendo filho do dono, ele queria passar pela entrevista como todos, na verdade essa foi uma das condições de seu pai, que ele fosse tratado como todos os outros, de certa forma isso me fez ter orgulho do pai dele, se fosse minha mãe no lugar dele com certeza iria querer que todos soubessem quem eu era e me tratar de forma diferente, alimentando possíveis intrigas futuras.

Ela não era uma má pessoa, mas sempre me fazia achar que precisava dar mais de mim, pois o que eu oferecia não era o suficiente, isso me fez lembrar de uma das muitas confusões em que Logan se envolveu, quer dizer ultimamente ele tem estado mais quieto, sem se envolver em brigas, mas não quer dizer que ele não tenha tido sua cota de pegadinhas por aí.

Há 2 anos atrás...

Estava na biblioteca quando ouvi uns risinhos de algumas garotas e sem me importar com quem poderia ser, continuei procurando um livro para ler e quando finalmente achei resolvi me sentar de frente para a janela afim de ter um melhor aproveitamento do meu romance de época. O ideal seria estar ao ar livre pois amava estar em contato com a natureza sem contar que me dá um ar de mocinha de época, mas como estava fazendo um calor dos infernos, eu estaria soando feito um porco indo em direção a fornalha em pouco tempo.

Alguém, cujo perfume reconheci na hora, puxou uma cadeira para se sentar ao meu lado. Ouvi um par de bufadas vindas das mesmas garotas que outrora estavam risonhas.

-Olá! - disse o estranho.

-Olá.

-Me chamo Logan.

-Eu sei. - Fui curta e grossa na esperança de que ele entendesse que não queria companhia.

-Não vai me dizer seu nome? Aliás achei que italianos eram mais calorosos.

Fechei o livro num rompante e me virei para aquele desconhecido tão conhecido.

-Nós dois sabemos que você sabe o meu nome Logan, então que tal você me dizer o que você quer? E só para você saber, isso é um estereotipo, apesar de que eu sou sim calorosa com as pessoas, só não quero ser com você. - disse esperando que entendesse que não estava afim de conversas.

-Calma princesa, eu só quero conversar. - Se defendeu.

-Primeiro lugar, nunca mais me chame de princesa. E em segundo lugar, bem ali - apontei diretamente para o grupo de garotas que parecia nos observar como gaviões- está um grupo de garotas que certamente daria um braço para que você fosse lá puxar assunto com elas. Então siga meu conselho e vai até elas.

Ele deu de ombros.

-Eu quero falar com você.

-Se você acha que isso é uma " tática" para fazer você correr atrás de mim, não é. Então, não tem a tão famosa e previsível caçada que vocês garotos tanto gostam. Não estou " me fazendo de difícil". Então vaza.

-Gosto de você.

-Quem não gosta? Eu sou tão gente boa - ironizei - diz logo o que deseja e me deixa em paz.

-É tão difícil assim aceitar que uma pessoa só quer falar com você despretensiosamente? Por que se odeia tanto Bernardi?

-Loooogaaaan- chiei para demonstrar minha impaciência.

-Vai rolar uma festa na casa de um amigo. Vem comigo?

-Não. Se era só isso...

-Por que não vem? Não vai se arrepender- deu aquele sorriso de canto que deixava a mostra uma covinha bem safada.

Não me entenda mal, Logan era um gato, um gostoso. Ele era britânico e estávamos em Nova York então todas as vezes que ele abria a boca, o sotaque inglês tão característico dos britânicos se faz presente, alto com 1.79, porte atlético, além de um belo par de olhos claros.

-Tenho certeza que isso costuma funcionar com as outras, mas eu não sou elas...

-Percebe-se aliás...

-Não me interrompa... vá para sua festa. Eu realmente não ligo para isso. Sem contar que tenho que me preparar para as aplicações dos testes.

-Eu sei - me deu aquele sorrisinho tão típico dele que dizia estar muito bem a par de minha rotina. - Nos vemos mais tarde Giuliana?

Olhei para ele como quem diz " eu sabia que você sabia qual era meu nome " e ele entendendo o que aquele olhar significava apenas deu de ombros.

-Não se eu puder evitar - e sai com o livro que tinha pego com a certeza de que não daria para ler ali, deixando Logan para trás.

Não sei por que minha mente viajou a esse momento em específico, mas pensar nisso me divide, pois parte de mim sente inveja pelos pais dele não serem como os meus, onde eles não agem como se 'a perfeição é apenas mais um degrau para se alcançar', eles me disseram isso tantas vezes que podiam muito bem bordar em alguma almofada ou fazer um quadro e colocar como 'motivacional' logo na entrada da casa, mas também outra parte de mim se sente mal por ele, meus pais podem agir dessa forma, sendo minha mãe muito mais exigente que meu pai, mas pelo menos eles se importam comigo, ao que me parece Logan não tem nenhum vínculo com sua família, sendo apenas aparências e me sinto triste por ele, mesmo não sabendo como tocar no assunto para poder ajudá-lo tomei a decisão de que quando o assunto surgir, pois não serei eu a puxar o fio solto, vou querer saber o tanto que ele estiver disposto a compartilhar comigo.

Em comparação a nós dois, as famílias de Luca e Carson são bem amorosas, algo que sem dúvida Logan e eu não sabemos o que é, é quase como se houvesse uma divisão entre 'aqueles que são bem resolvidos com sua família e os que não são', nem é preciso ser um gênio da lâmpada para poder identificar esses dois grupos, acho que está bem claro.

A família de Luca é de origem francesa e ele nasceu na França, seus pais adoram viajar e amam história, apesar de amarem viajar muito, deixaram de lado por um bom tempo esse tipo de aventura por conta de Luca, mas as férias deles sempre eram para lugares recheados de história e apesar de cada lugar ter algo a se dizer, os dois eram fascinados pelo passado e pelas suas mudanças, sejam elas climáticas, de governo, tanto faz, os dois eram loucos pela história, eram biomédicos e quando souberam que Luca queria fazer faculdade de matemática praticamente enlouqueceram de felicidade, mas ele conta que como desde pequeno foi influenciado pelos pais em seus gostos pessoais, veio daí seu gosto pessoal pela fotografia, sempre disposto a registrar cada detalhe e ver a beleza daquilo, algo que o fazia se lembrar dos pais por estarem ultimamente viajando bastante já que o filho estava crescido e apesar de querer ter tido mais irmãos, seus pais não demonstravam interesse nisso, mas para apaziguar o interesse do filho, deram a ele um cachorro, mas ele morreu de velhice há alguns anos, daí vem também seu amor por animais, o mesmo tem dois cachorros, um rottweiler e um São Bernardo, seus nomes são Apolo e Ártemis, já que seus pais amam mitologia grega, porém eles estão com os pais no cruzeiro no momento.

Carson possui sua família nativa dos Estados Unidos, o que nos fazia ser um grupo peculiar possuindo uma italiana, um francês, um britânico e um novaiorquino, sem dúvida alguma um grupo interessante. Ele, como sendo o mais velho de quatro irmãos, sendo dois gêmeos e uma caçula, sempre apaziguava as coisas, já que por ser mais velho, tinha que ser muitas vezes a voz da razão, o que não isentava seus pais de serem os pais deles, nem dava mais atenção aos outros, não era balanceado de forma perfeita, mas também não era nada que fosse preocupante, seus pais amavam todos e demonstravam isso, ele não cozinhava muito, nem gostava de fazer isso na frente da família pois os mesmos diziam que mais parecia sua forma de realizar procedimentos cirúrgicos, do que fazendo a refeição deles, mas que sabia alguma coisa da cozinha, algo que Logan prontamente deixou claro não saber nada, Luca prontamente agradeceu por saber disso, pois na cozinha dele não deixaria Logan de jeito nenhum lá, o que arrancou diversas risadas sobre o assunto. Carson adorava carros, e seu programa de televisão favorito era a Fórmula 1, o que rendeu uma breve discussão entre nós quatro sobre quem seria o melhor piloto.

Quando foi minha vez de compartilhar fatos sobre mim, não sei explicar direito os motivos que me levaram a ficar tão na defensiva, me convenci de que era por que aquela situação era nova e esse era meu primeiro relacionamento adulto, mas não sei dizer se era de fato isso, o que me lembrava de ter que conversar com as meninas sobre isso quando voltasse para casa, talvez elas pudessem me ajudar a entender isso, mas apesar de estar na defensiva, respondia suas perguntas mas não me aprofundava muito, apenas não entendia por que falar dos meus pais era tão importante, mesmo gostando de saber dos deles. Eu estava confusa com relação a isso.

Obviamente não cumprimos todos os pré-requisitos de saber tudo uns sobre os outros e nem acho que isso exista, mas acho que essa era a conversa que deveríamos ter tido antes, mas não sei dizer ao certo como seria conhecer cada um deles, por exemplo em quando estamos falando de um casal composto por duas pessoas, tem-se toda aquela história de saírem para jantar, cinema, e etc., não estou dizendo que é um roteiro para se chegar ao sexo, pode muito bem inverter a situação, mas de alguma forma meu cérebro raciocina que isso seja normal, talvez por nunca ter pesquisado a respeito de relacionamentos poli afetivos ou por nunca ter percebido nada assim ao meu redor, mas eu simplesmente não consigo enxergar uma forma de como poderíamos saber isso uns sobre os outros sem estarmos juntos para isso, parece confuso mas o que quero dizer é que não consigo ver uma forma de saber mais sobre a vida uns dos outros sem que estivéssemos juntos para isso, sem que eu tivesse feito aquela proposta maluca, mas até então só sento gratidão por ela.