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Prólogo

"Naqueles dias, haviam nefilins na terra, e também posteriormente, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens e elas lhes deram filhos. Eles foram os heróis do passado." (Gênesis 6,4)

— Mas que barulheira é essa aí fora? — Perguntou a senhora de cabelos brancos enquanto abria a janela de sua casa que dava diretamente para a calçada.

Era de se estranhar a balbúrdia naquele bairro, um dos mais nobres de toda Ilha. O dia estava amanhecendo e o ar frio da madrugada ainda pairava no ar, fazendo a senhora apertar o roupão fino contra o corpo na tentativa inútil de se aquecer.

— É um louco que está há dias a gritar pelas ruas da Ilha — respondeu o jovem que passava pela calçada com um saco de maçãs para o cavalo do seu senhor, mesmo que a pergunta não tenha sido feita a ele, mas apenas de forma retórica pela nobre senhora que o encarava sem muito entender. — Disseram-me lá na grande feira que ele está à procura da esposa grávida que desapareceu.

Mesmo com o olhar de desprezo pela provável posição social e baixa classe do rapaz, a nobre agradeceu a informação com um leve aceno de cabeça. Na ilha não é costume menosprezar nenhum Nefilim, por mais que as regalias dadas aos mais poderosos de classes mais altas tornasse um pouco difícil a demonstração de virtudes como humildade.

— A Guarda da Ordem dará um jeito nisso em poucos instantes e eu não pretendo estar presente para assistir tal cena — disse mais uma vez para si enquanto fechava a janela.

Enquanto isso, o homem de cabelos negros desgrenhados mantinha o olhar fixo no horizonte, onde o palácio da Ordem reluzia em tons de dourado deixando claro qual seria o destino de sua marcha sofrida.

— ELIZABETH! Me devolvam meu filho — o homem gritava com o fôlego que ainda lhe sobrava nos pulmões. — Eu tenho o direito de saber o que aconteceu com ela. LIZA!

E lá se foi o homem louco em suas vestes sujas e rasgadas. Seus pés descalços já em carne viva cambaleavam em passos lentos deixando pegadas de sangue nas pedras da rua, e a única faísca de sanidade que ainda relutava em se manter acesa naquele homem dizia que seus pés só parariam ao alcançar seu objetivo.