Tudo corria bem por enquanto, embora eu estivesse sendo deliberadamente ignorada.
Não que isso fosse ruim, já que em primeiro ponto eu nem tenho um motivo convincente para estar aqui, eu acho.
Mesmo após alguns minutos ainda haviam algumas pessoas atrasadas chegando...
Todas elas seguiam meio que um roteiro, vindo até Mary e a cumprimentando e depois procurando seu assento.
Os assentos também eram organizados por influência, eu acho! Quanto mais perto da mesa central, mais influente e aqueles sentados a minha volta eram exatamentes esse grupo.
Também percebi que Mary não parece gostar de eventos semelhantes já que se manteve em silêncio na maior parte do tempo.
O engraçado é que mesmo uma única frase sua influenciava grandemente o rumo da conversa, então eu imagino que se ela fosse um pouco mais ativa não seria impossível dominar totalmente o rumo desse evento.
Após dar uma olhada sutil a minha volta notei que só havia restado um assento vago, em uma localização próxima a mesa central, mais especificamente, na mesa ao meu lado.
E como se respondesse minha questão, as portas se abriram para a então chegada do último convidado.
Caminhando orgulhosamente até Mary, parou a pouco metros e me observou de uma maneira bem incômoda.
Como se notasse meu desconforto, retirou seu olhar e o moveu para Mary ao meu lado, passando por mim como se o olhar de antes não existisse.
— Meus humildes cumprimentos, Lady Valentim!
Sem esperar que ela respondesse caminhou até mim e tomou minha mão rudemente, beijando-a de maneira 'doce'.
— E quem seria está bela senhorita?
Haa... Estou sem palavras, primeiro ignora o anfitrião da festa após uma breve saudação, depois me cumprimenta rudemente e espera genuinamente que eu o devolva gentilmente?
Quem ele pensa que é?
— Não é rude da sua parte pedir que eu me apresente a um estranho?
A expressão do homem se distorceu imperceptivelmente, tomando uma atitude levemente mais contida.
— Eu vejo, apenas não esperava que a senhorita não houvesse ouvido falar de mim!
— Sou Detris!
Detris? Como eu lhe digo que eu ainda não faço a mínima idéia de quem seja?
— Um empresário.
Uma voz esclarecedora soou em minhas costas, ao que parece Mary tentou me ajudar.
Um empresário! Significa que é alguém rico, mesmo assim parece orgulhoso demais para alguém que não foi designado para a mesa central.
— Compreendo! Sou Agaya Miyagi.
— Miyagi?
É bem óbvio que ele não me conheceria, meu sobrenome dado por meus pais não possui grande reputação no continente.
Mesmo assim me sinto um pouco triste que não conheçam a minha mãe e tudo que ela já fez pelo clã...
— Filha de Abener Miyagi! Não que isso vá significar alguma coisa pra alguém como Mr. Detris.
Hmm? Abener é o nome de minha mãe, Mary a conhece ou já ouviu falar dela?
Não me lembro realmente dela ser muito famosa nem mesmo entre os membros do clã...
Como Mary poderia então saber sobre minha mãe? Posso deduzir que talvez tenha sido apenas uma pesquisa sobre meus antecedentes?
Mas uma reação incomum atingiu alguns outros convidados ali presentes.
— Abener? Pelo que me lembro ela era uma curandeira elogiada pelo seu exelente desempenho em salvas vidas!
— Mas não era uma elfa?
— Sim, também já faz alguns anos que ela simplemente desapareceu!
— Essa garota... É uma elfa? Mas suas orelhas...?
Eh? Desde quando minha mãe se tornou tão famosa? Pelo que eu me lembre o clã não parecia satisfeito com nossa presença...
— Abener?
A expressão de Detris não parecia muito agradável, demonstrando sua falta de conhecimento óbvia sobre o assunto.
Agora que eu presto atenção, talvez a fala anterior de Mary tenha sido uma crítica, sinalizando que Detris ainda não podia ser considerado alguém importante.
Mas tudo bem tratar dessa maneira um investidor? E se ele decidi retirar o investimento?
Vendo que Mary apenas sorriu sutilmente enquanto continuava a comer agradavelmente os doces sobre a mesa tomei minha hipótese como certa.
Era uma crítica! Bem, ela parece ser bem vingativa, ele não lhe deu a cara anteriormente e agora foi ele que perdeu o rosto.
Novamente eu acho engraçado o contraste infantil de Mary com sua verdadeira idade... Comendo doces repetidamente, deveria dize-la que poderia fazer mal? Hehe...
Debris controlou suas expressões e franziu levemente as sombrancelhas ao notar a localização de seu assento.
— Um erro? Porque se não...
Embora tenha sido um sussurro pude ouvir a primeira parte, de uma maneira ou outra achei engraçado sua expectativa não sendo atendida.
— Sem erros, Mr. Debris! Se me lembro bem, foi o senhor quem falhou em apresentar alguma sugestão relevante para o negócio, contribuindo bem pouco com o resto do processo...
— Mesmo assim em agradecimento pelo sua enorme contribuição financeira, lhe posicionei em tal local próximos a mim, imagino que esteja demasiadamente surpreso com minha generosidade para que pense como um erro, não é mesmo?
A expressão do homem se contorceu profundamente em um único instante, imperceptível para qualquer um, mas perceptível para mim que jazia bem a sua frente.
Mary realmente não poupou nenhum esforço em colocá-lo em seu lugar!
Devo perguntar a Mary depois sobre minha mãe, veremos o que ela sabe.
Espero genuinamente que não seja apenas um verificação de antecedentes!
Debris se sentou tranquilamente após agradecer humildemente Mary, como se nada tivesse acontecido.
Devo apresentar minha surpresa em relação ao seu ótimo controle emocional...
As conversas também continuaram por um tempo e a única diferença era que dessa vez eu estava sendo inclusa em algumas delas...
***
Após o fim do banquete os convidados se despediram de Mary e se retiraram um por um.
Debris por outro lado foi visto ainda em pé a espera de algo.
Agaya suspeitou que esse algo talvez fosse ela e astutamente permaneceu ao lado de Mary.
De jeito nenhum ele teria a coragem de abordá-la descaradamente em sua presença ou é o que ela esperava.
— Sra. Agaya, posso acompanha-la em seu caminho de volta?
Mary ao seu lado olhou para o patético Debris e se conteve em rir, mantendo a compostura.
Diferente de Debris um convidado de apenas um dia, Agaya tinha um estadia bem maior e como tal não voltaria para seja lá de onde Debris fosse.
O empresário permaneceu inalterado por fora sob o olhar de Mary, mas por dentro resmungava continuamente.
"Santo Deus, porque não se move? O que há de errado em me oferecer em acompanha-la?"
— Algo errado, Lady Valentim?
Mary moveu a cabeça negativamente e respondeu normalmente:
— Nenhum!
Mary sorriu para Agaya ironicamente, dando a enteder que era para que ela respondesse por si mesma.
Agaya também compreendeu sozinha o significado do olhar e se voltou para Debris.
— Houve um pequeno mal entendido, senhor! Não irei me retirar por agora.
Debris levantou a sombrancelha curiosamente, mas ainda não compreendeu.
— Posso espera-la se necessário!
— Sinto informá-lo que não será possível, muito menos necessário! Diferente do senhor eu não tenho planos para voltar por um tempo.
Após sua fala uma compreensão tardia acometeu o pequeno empresário que reagiu envergonhadamente ao se despedir.
— Haha, eu entendo, uma verdadeira pena, então irei acompanha-la na próxima vez!
Agaya ainda se sentiu insatisfeita com a resposta do empresário que ignorou a parte do 'muito menos necessário' que tinha intenção de recusar suas investidas contínuas nela.
Mesmo assim não havia muito a fazer quando ele foi rápido em correr atrás dos outros convidados...
Agaya suspirou resignadamente enquanto Mary fingia não notar.
Mary caminhou ao seu lado até a saída do salão e ordenou para as empregadas que já esperavam pacientemente do lado de fora.
— Cuidem disso!
— Sim, Vossa Majestade!
Agaya também percebeu tardiamente que só hoje houve algumas pessoas que se direcionaram a Mary de diversas maneiras, atingindo um total de 4 maneiras diferentes.
Embora não soubesse o porque, ainda poderia sentir que havia algum motivo importante por trás disso.
Outra coisa que já havia quase esquecido era questionar Mary sobre sua mãe.
— Como Lady Valentim conhece minha mãe?
As duas caminhavam em direção ao seu quarto e por algum motivo a caminhada antes longa agora parecia muito curta para Agaya.
Mary também não parecia ter pressa alguma para responde-la, mesmo assim seus passos continuaram a se mover normalmente até o quarto de Agaya.
Porém, diferente dela Agaya parecia estar sendo arrastada, não colocando quase nehuma força em seus passos.
Não demoraria muito para chegarem quando Mary disse despreocupadamente:
— Abener Miyagi, certo?
— Sim, sim, ela mesmo!
Agaya respondeu ansiosamente ao ver as portas de seu quarto cada vez mais próximas.
Mary apenas ignorou sua ansiedade ou impaciência que fosse e permaneceu de bico fechado.
Deixando Agaya enfrente a seu quarto, descruzou seus braços e olhou para ela com um sorriso que parecia zombar dela.
— Não á conheço!
Agaya então percebeu o motivo da demora, ela estava brincando com ela!
Infelizmente parecia ser o que esperava, apenas uma verificação simples de antecedentes.
Mas antes que pudesse expressar sua indignação, Mary continuou:
— Mas seria errado dizer que a desconheço completamente.
Agaya novamente expressou seu resquício de esperança em sua expressão e rapidamente pediu por informações.
— Verificação de antecedentes!
Mary exclamou orgulhosamente, como se estivesse orgulhosa de possuir uma boa rede de inteligência coletando informações para ela.
Porém, Agaya que ainda tinha um resquício de esperança pareceu querer dar soco em Mary pela sua infantilidade.
"Se não a conhece, diga que não a conhece, não me enrole sua maldita" Resmungou irritada.
Mary pareceu estar contendo o riso com todas as forças até não aguentar mais...
— Hahaha... Perdão, perdão, era brincadeira... Hahaha...
Sua risada durou mais alguns instantes até que cessasse.
Agaya olhou incrédula para a mulher estúpida a sua frente, se não fosse ela mais fraca, com certeza estaria dando um soco bem dado nela.
Após Mary se acalmar observou a expressão irritada de Agaya e sorriu maliciosamente.
Na sua visão parecia um pequeno coelho irritado...
— Ainda sei de uma coisa ou outra...
Agaya a fulminou com seus olhares céticos e totalmente desconfiados, se recusando a cair no mesmo truque novamente.
Mary se sentiu injustiçada por dentro, sua intenção era apenas brincar com ela, será que acabou envelhecendo demais e desaprendeu a fazer piadas?
Seria bem possível...
Suspirando interiormente, se virou de costas e acenou para o pequeno coelho irritado as suas costas.
— Me visite em meu escritório amanhã!
Agaya novamente deixada sozinha teve a vontade de descontar sua raiva em algo, então golpeou a parede apenas para sentir dor em troca.
"Ai... Isso dói!" Expressou tristemente.
Sem mais o que fazer, voltou a seu quarto e esperou que o próximo dia enfim chegasse.
Não sendo tola, nem burra, manteve conscientemente suas esperanças baixas e levantou algumas possíveis questões que queria fazer, simultaneamente.
O tempo passou de maneira lenta e tediosa para a 'convidada' Agaya que esperava poder ouvir alguma coisa de sua mãe em algumas horas.
Então quando o sol finalmente surgiu no horizonte, seu cansaço já havia tomado conta de seu corpo e forçadamente colocado-a pra dormir.
Quando acordou já se passava do segundo amanhecer, então apressamente correu em busca de algum servo que pudesse auxilia-la em sua busca pelo escritório de Mary.
Surpreendentemente já havia um servo a sua espera do lado de fora do quarto que insistiu firmemente para que mudasse suas vestimentas.
Sem escolha, voltou para seu quarto resignadamente e tomou banho impacientemente.
Suas esperanças e expectativas acabaram inevitavelmente crescendo durante a noite em claro.
Então quando finalmente terminou de se vestir, apressou o servo em seu serviço de guia.
O mesmo olhou para ela engraçadamente e cumpriu seu papel calmamente.
O escritorio de Mary ficava no último andar, o 78° andar.
Para chegar lá precisariam subir até o 77° andar e caminhar por um tempo até o encontro com um leva de escadas em espiral.
O servo conscientemente se proibiu de subir as escadas e sinalizou para que Agaya subisse.
Subindo-a com pressa, mas cuidado, chegou a um salão de frente a uma enorme porta de madeira.
Em cima da porta havia uma janela redonda meio aberta, onde se era possível ouvir alguns ruídos vindo do lado de dentro.
Também havia dois sofás ao lado de fora da porta, onde supostamente deveriam esperar os convidados?
Agaya olhou atentamente de maneira deslumbrada, esquecendo seu objetivo temporariamente.
Quando finalmente se lembrou do porque estava ali, correu até a porta e moveu sua mão para bater na porta.
Contudo, uma voz cruzou seus ouvidos pouco antes que tocasse na porta.
— Entre.
Não só isso, a porta também se abriu sozinha, sem a necessidade de nenhum servo.
Embora Agaya mesmo já tivesse conseguido determinar a presença de Mary do lado de dentro através da porta, ainda se surpreendeu levemente com a outra parte conseguindo fazer o mesmo.
Isso porque ela conseguia isso apenas devido a sua habilidade visual, mas a outra parte não possuía nada do tipo, aparentemente.
O escritório de Mary possuía um layout meio circular, meio oval, com plantas exóticas presas ao teto caindo, estantes de livros, sofas e poltronas, uma mesa central e várias janelas ao redor.
O local sendo iluminado apenas pela luz natural do exterior que cruzava as janelas construía uma ambiente incrivelmente único.
Mary ocupada com uma pilha de papelada sobre a mesa central onde se sentava não se permitiu distrair, ignorando a presença da recém chegada garota.
Agaya se permitiu observar curiosamente todo o escritório e depois a própria Mary.
Suas vestimentas de hoje consistiam em uma camisa mais masculina semi-aberto na região do peito e um par de óculos com aro dourado e pernas marrom.
E embora não pudesse enxergar direito, uma calça simples sem nada de especial acompanhada de um par de chinelos altos bem únicos e digamos que ultrapassados.
Sua admiração por sua beleza foi de repente suprimida pela voz rouca e jovial de Mary, que a propósito criavam um contratate extremamente agradável...
— Sinto que deveria me desculpar antecipadamente... Infelizmente um imprevisto ocorreu e terei que me ausentar por um momento!
— Gostaria que aproveitasse sua estadia na ilha com um passeio enquanto estarei ausente e quando estiver de volta prometo responder todas suas perguntas... Dentro de meu limitado conhecimento, é claro!
Agaya já esperava algo do tipo, mas ainda assim se sentiu deprimida, duvidando ainda mais das informações que Mary dizia possuir.
Mas o que ela, uma 'convidada' poderia dizer? Ao menos recusar não seria considerado uma atitude rude na posição dela?
Assentindo silenciosamente, se virou de costas e desceu as escadas novamente...
Pouco depois de Agaya se retirar, Mary se levantou e retirou o óculos, posicionando-o sobre a mesa.
Olhando por onde Agaya entrou, ordenou para o aparente vento:
— Vá!
Então em seguida algumas estranhas ondulações ocorreram no espaço ao seu lado, mas mesmo assim nunca obteve uma resposta.
Caminhando em direção a porta sem se importar em esperar por um resposta, resmungou abertamente:
— Veremos o que lhe aguarda!