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Capítulo 2: 1° Round (2)

Havia se passado alguns dias desde que acordei neste mundo. Nada muito importante aconteceu nesse tempo, ninguém além de Edgar, alguns empregados e o gato haviam entrado no meu quarto até alguns minutos atrás.

— Vai mesmo cuidar desse gato?

— Vou, algum problema com isso?

— Nenhum...

A garota à minha frente que havia entrado há alguns minutos fazendo uma confusão, agora estava tomando uma xícara de chá calmamente.

Estive tomando muito cuidado para não ser descoberto, já que ela era a irmã mais nova de Khalid e parecia ser bem próxima dele. Havia comentado que tinha fugido da torre para vim me visitar assim que recebeu a carta da baronesa.

— Você está estranho, tem certeza de que está bem? — A garota pós uma expressão preocupada em seu rosto.

— Estou ótimo...

Tirando o fato de eu não ser o seu irmão.

— Então por que tem um gato no quarto? Não se lembra que quando a irmã isabella trouxe um você o afugentou na mesma da hora? Pensei que os odiasse.

O desgraçado tem coragem... como se atreve a fazer isso com um pobre e indefeso gatinho?! Quero voltar! Me recuso a estar no corpo deste homem.

— É mesmo? Não me lembro disso. — tomei um gole do chá para me acalmar. Era um chá simples de camomila.

Pelo o que eu ouvi da empregada que trouxe, Edgar havia pedido para que o preparasse. Não era exatamente um dos meus favoritos, mas estava ótimo.

— Sabe quando poderei sair?

— Não tenho certeza... a mamãe ainda está muito brava, ainda mais agora que descobriu o que você fez no bar no outro dia.

Uau, esse cara é uma versão premium de um adolescente mimado.

— Senhorita Penélope, o senhor a chama. — uma voz masculina respeitosa soou atrás da porta.

Penélope virou a xícara e tomou todo o chá em um gole. — Eu volto outra hora, irmão.

— Sim, até depois.

Então eu tinha duas irmãs... Penélope e Isabella.

Até agora nenhuma história ou personagem me vinha a mente. Minha memória não era muito boa, mas eu conseguia lembrar uma boa parte das coisas que eu lia, talvez fizesse muitos anos desde que havia lido e por isso não lembrava, ou talvez eu realmente não tenha entrado em nenhuma história e só tenha transmigrado para um mundo qualquer, me sentiria bem decepcionado se esse fosse o caso.

Meow!

— Vem aqui, Fluffy.

Fluffy imediatamente subiu em meu colo e se acomodou.

Passei suavemente minha mão em suas costas para acaricia-lo. Sempre que o fazia, Fluffy ronronava de felicidade. Ouvi-lo ronronar era quase que uma terapia.

Decidi que o gato iria se chamar Fluffy há três dias atrás, quando recebi permissão de cria-lo. Por algum motivo todos insistiram para eu mudar o nome, mas eu gosto de Fluffy e ele também.

Nesse meio tempo, descobri que aquela mulher que veio me ver quando acordei era a minha madrasta, e que estranhamente, Khalid e ela se davam muito bem. Ela realmente estava preocupada. E o fato de eu ainda estar preso no quarto é porque esse seria o meu castigo.

Edgar vem me ver todos os dias para se certificar de que estou tomando a vitamina corretamente. Achei que fosse uma daquelas tramas clichês em que a pessoa é envenenada pelo médico, que entrega o veneno afirmando ser um remédio, mas no fim, eram realmente vitaminas.

Eu também não sou negligenciado pelo meu pai, e nem sou um filho ilegítimo. Acho que estou descartado completamente como o protagonista.

Batidas leves veio da porta do quarto. — jovem mestre, é Mia.

— Entre.

Mia era o nome da minha empregada pessoal, era uma pessoa competente, mas irritante.

— O jovem mestre recebeu um convite.

Mia me entregou a carta e abaixou a cabeça.

— Está bonita hoje também, Mia.

— É uma enorme honra que o jovem mestre pense isso.

— Tsk.

Ela quase sempre responde de forma sarcástica, nem sequer olhar para mim ela olha. Às vezes até ignora o que estou falando e apenas responde com sim ou não, independente do que falei.

Decidi esquecer a minha frustração por não poder ter uma conversa normal com Mia, para abrir a carta.

Como Mia disse, era um convite, um para o baile para comemorar o fim da guerra, enviado pela família real.

O motivo de eu saber disso mesmo que isso não esteja escrito na carta? Simples, porque esse maldito convite foi o que deu início à pior webnovel que já li.

Cada uma das palavras era idêntica às do convite do início daquela webnovel. A carta também era semelhante à descrição que tinha: uma carta branca com padrão de folhas de cor dourada, e o selo era de um dragão de três cabeças.

Na carta não especificava que era uma comemoração, já que o rei gostaria de anunciar pessoalmente o fim da guerra. Apenas o rei, e um grupo seletivo, assim como os soldados que lutaram durante a guerra, sabiam sobre isso.

Merda... de todas as webnovels possíveis, tinha que ser logo essa? Agora entendo porque eu não conseguia lembrar sobre Khalid, ele só existia para encher o cenário!

Por que eu não podia ser um dos protagonistas? Até mesmo aquele vilão idiota servia!

Do que adianta eu entrar em um mundo sabendo tudo o que vai acontecer nele, se eu não consigo saber o meu próprio destino? Eu posso acabar morrendo amanhã sem nem ver o começo da história.

Isso é injusto. Todos os transmigrantes possuíam um personagem importante para a história, ou até um personagem menor que era próximo a algum dos protagonistas ou do vilão, mas por que eu tinha que possuir um simples filho de um barão sem nenhuma fala sequer?

Eu quero chorar.

— Eu posso não ir?

— A menos que queira que todos comentem como um mero filho de um barão recusou um convite da casa real, vá em frente.

— Nem se eu disser que quebrei a perna?

— Providenciarei uma bengala. — Mia pôs um enorme sorriso em seu rosto, como se desejasse aquilo.

— Está bem, já entendi!

Que droga, eu nem sequer faria falta.

Meow!

— Ai! Mas quem é a bolinha de pelo mais lindinha do mundo? Quem é, hein?

Meooow!

— Isso mesmo, é você, Fluffy!

Estou começando a cogitar a ideia de pedir demissão. Mia pensou.

Fluffy pulou para o chão após localizar dois pássaros que haviam pousado na sacada.

— Arram! De qualquer forma, quantos dias faltam para o baile?

Não fazia ideia de que dia era hoje.

— Dois.

— Como?

— Faltam dois dias.

— Espera ai! Os convites não são enviados com pelo menos uma semana de antecedência? Como que faltam dois dias?

— A senhora me proibiu de entregar qualquer carta ao jovem mestre.

— E-Ei! Isso não era uma carta qualquer!

Mia sorriu.

Só pode ser brincadeira...

— Eu ao menos tenho roupa para isso?

— Sim.

Suponho que isso seja um bom começo.

******

Nhom, nhom.

Por que me preocupar com a vida se eu posso sentar em uma cama confortável, me entupir de doces que nem sequer sei o nome, enquanto leio um livro duvidoso?

Há algumas horas, eu pedi a Mia que ela me trouxesse um livro, e ela me trouxe um romance bem... ahn... não sei como descrever. Entendi de cara que era um BL, definitivamente não tenho problemas com esse gênero, mas... dá para pararem de se afastar por qualquer coisinha? Diálogo existe, seus idiotas!

Esse era um dos piores problemas dos BLs. Os protagonistas nunca sabem conversar, e qualquer desentendimento gera uma choradeira imensa. Agora, eles brigaram porque o cara matou o amigo dele só por estarem próximos demais. Se tivessem conversado, o idiota não ia pensar um monte de coisa ruim, e o cara não iria precisar morrer que nem otário.

Mas fala sério, por que você mataria alguém só por estar próximo da pessoa que você gosta? Coisa de maluco.

Toc. Toc. — Jovem mestre, sou eu, Benjamin.

— Entra!

A porta abriu e um homem de meia idade entrou.

— Desculpe interrompe-lo no momento de sua leitura, porém o barão requere a sua presença.

Mordi uma tortinha de morango e endireitei a minha postura. Esperei terminar de mastigar antes de responder.

— Agora mesmo?

— Sim.

Não posso me negar por mais que queira.

— Está bem, vamos. — falei enquanto me despedia tristemente do livro.

Voltarei em breve e terminarei de ler você, eu prometo.