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Uma mentira necessária

Anderson pareceu sorrir de forma aterrorizante ao olhar para a tela do celular, felizmente ninguém prestou atenção nele, os moradores invadiram o apartamento como zumbis famintos ao avistarem humanos, agora eles estavam olhando fixamente para a poça de sangue, eles pareciam aterrorizados com as criaturas paranormais, quem diria que o mundo que eles consideravam seguro não era mais que uma ilusão? Quem diria que no mundo tais seres existiam? Claro que alguns consideraram o zumbi de sangue como um extraterrestre que veio invadir a terra.

Anderson caminhou até os moradores e levantou um pouco a voz:

-" Entendo que achem isso impressionante e afins ..... porém explicar isso a polícia será complicado, receio que devemos mentir!"

Todos olharam de forma incrédula para Anderson, ele parecia ser um mentiroso detestado em um vilarejo que do nada falou que havia um grande lobo na aldeia, alguns tentaram argumentar contra ele:

-" Mas e se essa coisas aparecerem novamente? o exercito tem que cuidar disso!"

-" Sim!! o exercito será muito essencial, estamos agradecidos que você tenha nos ajudado, mas você sabe que não vai conseguir defender todos nós."

Anderson os olhou friamente e disse em tom calmo e conciso:

-" A policia ou o exercito .... por acaso vão acreditar em nós? eles vão magicamente acreditar que essas .... coisas existem e gostam de atacar humanos? Que eles quase mataram uma conhecida nossa? Eles vão pensar em todas as possibilidades, menos que não somos loucos ou drogados!"

A mãe Patrícia que havia deixado seu filho no apartamento, ela olhou em direção a porta de onde ele estava e alegou:

-" Caso as provas sejam mostradas, creio que não vão poder negar os fatos, correto?"

Anderson sorriu de forma irônica, e então continuou:

-" Realmente, mostrar as provas ..... é eficiente, no entanto mesmo que acreditem .... talvez não nos auxiliem, no pior dos casos vamos entrar em uma quarentena forçada, já que para os leigos isso é algum vírus ou alguma espécie patológica extremamente letal, talvez eles dissequem nossos corpos sem anestesia, ou só talvez eles nos matem para impedir o pânico generalizado, existem tantas possibilidades."

Anderson pode não ter dito coisas óbvias, mas ele deixou uma certa dica para todos entenderem, no momento que ele citou leigos, parecia por um breve momento que ele entendia o assunto e Fábio, que tinha saído a pouco tempo de seu estupor percebeu, ele se levantou apressado e disse incertamente:

-" Anderson .... você sabe o que são essas coisas?"

Todos olharam para Anderson, ele sorria de forma meio amorosa, o que assustou muitos deles, Anderson respondeu sem nem gaguejar:

-" Claro .... nós os denominamos de Zumbi de sangue e tais criaturas são originados do medo, eles vem de um lugar chamado de "o outro lado", através do medo eles acessam a realidade e em locais com a membrana fina, no caso essa neblina aqui."

Todos olharam para a neblina e enfim perceberam que ela existia, o que antes duvidavam agora acreditavam em cada palavra de Anderson, esse mesmo continuou com seu dialogo:

-" São locais onde a realidade começa a ser distorcida e é nesse momento que a física entra, ela tenta expulsar essas coisas irracionais, porém quanto mais fraca a membrana fica, menos as regras da realidade suportam expulsar essas coisas, no pior dos casos a ..... membrana pode ficar fina ao ponto de deixar de existir, então não comentem isso com ninguém!"

O medo incutido neles serviu muito bem para o propósito de Anderson, que era mostrar que ele parecia conhecer essas coisas, o que de fato ele conhecia, só que ele criou uma ordem falsa em seu pretexto em sua fala, já que a tal "Ordo Realitas" não existe e muito menos o senhor veríssimo, então ele teve que improvisar.

Fábio acreditava nas palavras de seu amigo Anderson, mas achava algumas coisas meio estranhas, então ele perguntou curioso:

-" Você disse nós, certo? Quem é nós? Tem mais gente que sabe sobre essas coisas? Não somos os únicos nesta situação?"

Anderson riu da astúcia de Fábio, ele realmente era mais atento que os demais, Anderson então falou sem rodeios:

-" Não somos tão especiais assim, somos quase que um grupo .... um grupo que o governo não conhece ..... nós somos conhecidos como "re protectores" ou simplesmente como protetores da realidade, ajudamos as pessoas a não passar pelo inferno que uma vez passamos!"

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Enquanto Anderson enganava os seus vizinhos com sucesso, um grupo de jovens com no máximo 17 anos estavam em uma festa à tarde, era um estabelecimento de boate duvidoso, o local estava escuro e luzes cintilavam pelas paredes brancas, mesmo não sendo uma hora convencional para se ter "festas", essa em específico atraiu muitos jovens que dançavam e aproveitavam seus hormônios a flor da pele, e como era clandestino a maioria ali era menor de idade, o grupo de jovens antes citado era 3 garotos e 3 garotas, todos eles e elas eram na melhor das hipóteses acima da média no quesito beleza, e eles estavam aproveitando muito bem, todos exceto um jovem, seu nome era Gabriel Santana de Oliveira, seus traços eram de descendência asiática e em si não era feio e nem bonito, Gabriel parecia deslocado pois enquanto todos aproveitavam, ele parecia bem entediado.

Ele estava assim pois praticamente foi forçado a ir nessa festa clandestina, ele olhava tudo como se fosse um grande livro tedioso, todos se moviam como cobras aos seus olhos, seus amigos e amigas disseram que era muito bom sair de casa e aproveitar a vida, e Gabriel que estava entediado saiu de casa para no fim, ficar entediado em outro lugar, isso foi bem cômico para ele.

Um de seus amigos, Mayke se aproximou dele e disse quase gritando graças ao som alto:

-" Aproveita mano, curte as gatinhas e beija porra! Ta ai com essa cara de cu e não ta beijando ninguém carai."

Mayke é um adolescente afro-descente que tem 1,80 de altura, seu físico é relativamente forte e com sua altura, ele ja intimidou muitas pessoas com sucesso.

Gabriel olhou para ele e desdenhou, ele praticamente estava cansando com tudo naquela festa, ele estava entediado ao ponto de querer ir embora, para sair dessa situação chata, Gabriel dissertou:

-" Sim man .... mas por agora eu quero ir no banheiro."

Gabriel nem olhou para a expressão de desgosto de seu amigo e se virou para ir ao banheiro, ele estava do lado oposto do mesmo assim ele teve que passar em ziguezague por todo mundo que estava conversando, dançando, beijando, dormindo ou usando entorpecentes em alguns sofás, como era uma boate clandestina muito conhecida, era bem normal estar lotado desses adolescentes.

Depois de um transtorno de passar por muitos jovens menores de idade bêbados, Gabriel chegou com segurança no banheiro, banheiro esse que tinha apenas 3 portas que não pareciam guardar a privacidade de alguém, devido a serem extremamente curtos, esse banheiro também fedia a mijo e vomito, para Gabriel que conhecia muito bem os seres humanos não foi nenhuma surpresa, o único lugar mais higienizado dessa catástrofe de banheiro foi a pia.

Gabriel se aproximou da pia que tinha um grande espelho retangular, ele recostou as mãos e se olhou durante algum tempo que este mesmo não conseguiu determinar, ele pensou em tudo, como na faculdade de direito que chegaria no próximo ano, ou no seu trabalho que em breve começaria e em muitas outras situações de sua vida, logo mais seus pensamentos acabaram e ele suspirou pesadamente.

-" Tenho que voltar para esta merd-"

Gabriel foi interrompido ao ver uma cor branca no ar, observando atentamente ele notou que havia uma neblina no banheiro, era uma neblina meio fraca, não interrompia a visão, mas claramente conseguia ver um leve branco semelhante a fumaça, não tinha ninguém no banheiro além dele, ele pensou que fosse algum vape, contudo não tinha cheiro, essa névoa parecia que vinha do ar, algo como quando a agua ferve, o local parecia o vácuo do espaço, já que não tinha nenhum som ..... nenhum som?

-" Está meio quieto ..... o que aconteceu para interromperem a música? ... a energia não acabou .... o que raios está ocorrendo?"

Então quebrando o silêncio desconfortável, gritos de surpresa e animação vieram da festa, vozes desconhecidas começaram a dizer em alto tom:

-" Caralho que fantasia foda!!"

-" Pagou quanto nessa fantasia? Foi em que site?"

-" Tenho que admitir, sua fantasia é pica!"

E coisas semelhantes foram ditas por vozes masculinas e femininas, mas Gabriel estranhou muito, era Dezembro e mais perto do natal que do Halloween, porque tinha alguém de fantasia? Gabriel saiu do banheiro e viu um aglomerado de gente no meio do salão, era ali que ficava o palco do Dj, só que estranhamente havia uma outra figura, uma figura estranha e bem feia, era um Zumbi de sangue que ficou na frente de mais de 300 pessoas, todos estavam elogiando a fantasia e Gabriel interiormente também achou impressionante, os músculos da criatura que ele simulava pareciam vivas, suas garras pareciam como facas pontiagudas, seus dentes pareciam bem realistas, tudo era muito realista e até parecia que não era um ser humano com fantasia.

Gabriel também percebeu a neblina presente no salão da festa, agora ele franziu bem o cenho e perguntou a um transeunte próximo:

-" Quando que o Dj soltou gelo seco? ele não exagerou não né?"

O transeunte o olhou confuso, ele cheirava muito a álcool e cheirava a diversos perfumes femininos, ele riu baixinho e disse:

-" Que gelo seco? Fumou maconha? Hahaha não teve gelo seco nenhum!"

-" Sem gelo seco? E como raios tem neblina aqui?"

O transeunte só riu e voltou o foco para o palco, o Dj claramente estava confuso, Gabriel notou claro espanto no rosto dele, não parecia que tudo tinha sido ensaiado, ele começou a vacilar um pouco graças ao medo e no instante seguinte a criatura avançou contra o Dj e rasgou sua garganta, ele gorgolejou e caiu no chão, seria normal as pessoas ficarem surpresas e alegarem "assassino" e algo semelhante, mas todos estavam bêbados ou chapados demais para notar que era real, então muitos gritaram:

-" Baita atuação, já pode ir para a globo."

-" Que apresentação ... medíocre, pratiquem mais!"

-" É, conseguimos ver que é-"

Essa ultima pessoa nem conseguiu terminar de dizer antes de seu corpo cair, e sua garganta se rasgada pela criatura, algumas pessoas estavam dizendo que tinham que treinar mais, enquanto a criatura matava mais e mais, Gabriel percebeu que não era falso na 5° morte, e ele não foi o único, muitos começaram a notar isso e consequentemente a se desesperar, alguns tentaram atacar a criatura que facilmente subjugou esses, todavia eles morreram graças a estarem bêbados e serem mais fracos que a criatura, vendo que lutar era inútil, muitos começaram a correr sem direção, Gabriel conservou apenas um pouco o raciocínio e foi direto para a cozinha daquele estabelecimento, a cozinha era bem precária e ela era dividida em duas seções por uma mesa um pouco extensa, estranhamente não havia ninguém lá dentro, Gabriel então ouviu gritos ainda mais altos, ele então decidiu ver um esconderijo e ficou lá, mas os lamentos não diminuíram e quando tampou bem os ouvidos, ele ouviu abafado:

-" Os mortos estão levantando!!"

Gabriel não acreditou nisso, como era possível? como? aquilo também não é possível .... Gabriel se beliscou e notou que não estava tendo um pesadelo, mesmo com medo ele juntou coragem, foi até a porta e a abriu, e o que ele viu foi traumatizante, os mortos estavam se levantando, contudo seus corpos estavam se alterando estranhamente, ele estavam tendo espasmos violentos e virando algo semelhante a ..... criatura que tinha atacado o Dj e mais algumas pessoas, ele agora tinha certeza que não era encenação, os mortos estavam voltando a vida!

-" Que porra é essa, que porra!"

Gabriel percebeu que estava desarmado e foi até as facas, e pegou uma das mais afiadas para se proteger, ele claramente não sabia o que estava ocorrendo, poderia ser um vírus desconhecido? um ataque bioterrorista? punição divina? Gabriel não tinha ideia e temendo pela vida, ele voltou a seu esconderijo e se agachou esperando os gritos cessarem, pouco a pouco os gritos pararam e só restavam grunhidos, no momento do medo Gabriel nem notou que dois de seus amigos chegaram com sucesso na cozinha, era Mayke e Thaisa, só que o medo os impediu de se encontrarem, o esconderijo de ambos era no lado oposto sem visão direta, então eles nem se viram.

Gabriel tomou um pouco de coragem com o fim dos gritos, saindo do esconderijo sem fazer barulho ele caminhou calmamente até a porta da cozinha, com mãos tremulas ele abriu uma pequena fresta e viu uma visão infernal de dentro do salão da festa, centenas de criaturas de sangue estavam andando pela área, alguns corpos estavam tendo espasmos e viravam zumbis de sangue em pouco tempo, caso todos viessem contra Gabriel, ele sabia que ia morrer em segundos, felizmente nenhum zumbi de sangue notou ele, infelizmente a porta da entrada da boate foi aberta e um grupo de 10 pessoas entraram e tomaram um susto ao verem aquelas criaturas.

-" Uau que fantasia maneira! Onde vocês compraram-"

A criatura cravou as garras na cabeça da mulher que tinha feito essa pergunta, ela caiu no chão sem emitir som nenhum da boca, seus amigos e amigas gritaram e atraíram a atenção do resto das criaturas, eles então correram com tudo e esse enxame vermelhou avançou com tudo para matar esses azarados, Gabriel estava pasmo, onde caralhos estavam os seguranças? Eles eram as criaturas iniciais? Só isso era motivo para eles nem agirem, foi então que Gabriel se lembrou ... eles não tinham seguranças pois era uma festa ilegal.

Nunca mais vou nestas festas de merda ..... a neblina ... ela .... esta mais forte?

Agora a neblina estava muito mais forte, antes era como um branco bem transparente, agora ele parecia mais próximo de estar liquido do que gasoso, Gabriel pensou que essa névoa estranha estava relacionado com esse incidente, esquecendo isso ele viu que restava umas 5 criaturas espalhadas pelo que antes era uma festa de bebidas e curtição, agora era uma mistura de sangue e morte, uma visão nojenta e repugnante para Gabriel.

Ele fechou a porta e foi voltar para o esconderijo até ser interrompido por uma voz conhecida:

-" Gabriel você esta vivo!"

Essa voz era de Thaisa, uma amiga bem próxima de Gabriel, ela abraçou ele fortemente e ele retribuiu o abraço, os dois tremiam diante do inesperado e desconhecido, Gabriel logo ficou mais calmo e viu Mayke também, depois de abraçar ele e ela, Gabriel perguntou com receio:

-" Onde .... estão Marcus, João, Ashley e Débora? eles estão com vocês?"

Mayke e Thaisa ficaram com o rosto triste, depois de um tempo em silêncio, Mayke quebrou o silêncio:

-" Quando .... descobrimos que era ..... real ..... Marcus correu para a entrada e escapou, João e Débora foram mortos por aquelas ... coisas e sobre a Ashley ..... nós ...."

Mayke não conseguiu responder, seu corpo estava bem tenso e abatido, Thaisa respondeu no lugar dele:

-" A Ashley sumiu ..... ela pode ter morrido ..... todavia ..... lembro que ela correu na direção dos banheiros, foi onde a maioria correu .... apenas nós arriscamos vir para cá."

Gabriel ficou meio melancólico, ele tinha perdido com certeza dois amigos e possivelmente uma terceira, ele os olhou e perguntou em tom de voz de sussurro:

-" Algum de vocês tem um celular?"