[Time skip de 2 anos]
Já se passaram dois anos desde aquele incidente com a minha coleção no orfanato.
Desde aquele dia, as outras crianças têm evitado brincar comigo, exceto aquelas que chegaram depois do ocorrido. Para ser sincero, eu não me importo; não quero me socializar com esses vermes que destruíram o fruto de três anos de esforço suado na montagem daquela coleção.
A matrona e os outros adultos estavam um pouco preocupados no início, mas, depois de perceberem que eu não cederia, desistiram.
Venci.
Desde então, minha vida tem sido a mesma de sempre: fazer o que eu quiser. Em toda oportunidade que surge, eu adiciono algo novo à minha nova coleção.
O item mais recente foi uma kunai de prata que um ninja do clã Uchiha ganhou como recompensa após ficar em segundo lugar em uma competição de arremesso de kunai. Ele acertou o centro do alvo em movimento a 18 metros de distância, perdendo apenas para o primeiro colocado, que também era um Uchiha e acertou o alvo a 23 metros.
O moço era até que legal, mas seus olhos dão medo. Se ele não tivesse sorrido enquanto conversávamos, eu teria desistido de pedir algo, achando que minha presença estava atrapalhando seu trabalho. Mas isso não vem ao caso.
Agora que eu tenho 5 anos, ganhei minha liberdade!
Para explicar melhor, é comum para crianças órfãs, ao completarem 5 anos, terem a opção de sair do orfanato e viver por conta própria. Antes que você diga algo, esse tipo de coisa é comum em todo o mundo; dizem que isso ajuda a gerar um senso de independência na criança, e crianças independentes se tornam bons ninjas no futuro.
E, para reforçar esse ponto, a maioria das crianças escolhe essa alternativa. Por isso, existem vários apartamentos vazios destinados à moradia dos órfãos após a reconstrução de Konoha.
Agora que parei para pensar, esse tal de Naruto que vi nas memórias também parece morar sozinho em um apartamento, mas no caso dele, acho que foi porque ninguém no orfanato queria ele por perto.
Como ele era o "filho da raposa demoníaca" que destruiu a vila, todos tinham medo e ódio dele, e por isso ele foi expulso.
"Talvez a gente se encontre no meio do caminho. Se eu tiver sorte, talvez os dois estejamos compartilhando o mesmo apartamento sem nem sabermos."
Não é nada incrível, sabe? É uma sala com uma mesa e quatro cadeiras, mas só tem duas: uma para mim e outra para visitas.
Uma televisão em cima de um criado-mudo, um guarda-roupas para esconder, obviamente, armas nucleares. No cantinho, tem a minha cama, já que um quarto apenas para a cama não é necessário e só ocuparia espaço.
A parede sem nada está ligada à cozinha, assim posso ficar de olho na comida esquentando aqui da sala.
[Autor: Como se chama aquelas cozinhas modernas que não possuem a parte superior da parede?]
E há um banheiro com pia, vaso sanitário e chuveiro; eu escolhi um apartamento que não tem banheira porque prefiro chuveiro, só por isso mesmo.
Bom, agora deixa eu parar de falar besteira. Já está tarde e eu estou com sono. Boa noite, seja lá quem estiver ouvindo esse monólogo.
Na manhã seguinte
Eu, Sekiro, um jovem garoto de cinco anos, com cabelos e olhos pretos, usando roupas tradicionais japonesas e bochechas gordinhas que parecem prontas para serem mordidas, proclamo aos céus que estou oficialmente livre!
É isso mesmo, galera! Aqueles sonhos chatos que tive desde os meus três anos finalmente acabaram.
Como sei disso? Deixe-me explicar melhor.
Na noite passada, tive, como de costume, outro sonho sobre a vida daquele cara cujo nome até agora eu não sei, mas também não me importo. O que teve de diferente deste sonho em relação aos outros foi que este, em específico, mostrou a morte do cara.
Ele estava caminhando pela praça perto de casa enquanto jogava Pokémon Go. E eu tenho que dizer que me deu um pouco de vontade de jogar também. Era de tarde e ele estava prestes a voltar para casa, mas, antes disso, foi assaltado por um cara maluco usando uma faca.
Eu não sei se foi por nervosismo, mas, mesmo sem reagir, o assaltante esfaqueou o cara na barriga. Quando ele chegou ao hospital para ser tratado, já era tarde demais, e ele acabou falecendo por perda de sangue.
Boa notícia: agora que ele morreu, não vou mais ter esses sonhos e finalmente poderei sonhar de verdade.
"Será que se eu dormir agora vou conseguir sonhar que virei um dragão dourado com cinco garras?"
Bom, dane-se! Agora minha vida finalmente vai começar pra valer.
[S-sistema conectando]
Sekiro, que estava a caminho do banheiro para escovar os dentes, foi surpreendido por uma voz estranha vindo do além.
[Carregando... carregando... carregando... carregando...]
Assustado com a voz estranha, Sekiro corre para a cozinha e pega uma faca para se proteger. Ele olha para um lado e para o outro. Sem achar nada, começa a vasculhar todos os cantos da casa em busca da origem dessa voz que não para de dizer [carregando...].
Após perceber que suas buscas não estão gerando sucesso, Sekiro se agacha perto da janela, pronto para pular fora caso algo estranho aconteça.
Não se sabe quanto tempo se passou, mas finalmente a voz parou por alguns segundos.
[Carregamento completo]
[Sistema inicializando]
[Sistema online]
De repente, uma janela azul aparece na minha frente. Eu não sei o que isso é e nem quero saber. Uso minha faca e ataco essa coisa estranha com toda a minha força.
Mas, estranhamente, como se a situação já não fosse estranha, minha mão simplesmente atravessa ela. Não, essa não seria a palavra certa; é como se essa coisa simplesmente não existisse, pois eu ainda podia ver a parte azul que meu braço estava atravessando.
[Prazer em conhecê-lo, anfitrião.]
Percebendo que não consigo fazer nada com essa coisa, resolvo me acalmar, pois, seja lá o que isso seja, parece estar querendo conversar.
"Quem é você?"
[Eu não possuo um nome propriamente dito, mas pode referir-se a mim como sistema.]
"O que você quer?"
[Eu não possuo um desejo claro, mas minha missão atual é auxiliar o anfitrião.]
"Essa coisa não fala nada que faça sentido, mas acho que estou entendendo um pouco."
...
Um tempo depois de fazer todas as perguntas e explicações necessárias para entender a situação.
"Então deixa eu ver se eu entendi: um ser todo poderoso que mora em algum lugar atrás de algo chamado 'a quarta parede' criou um mundo alternativo baseado naquela série de Naruto, e eu fui escolhido como o protagonista dessa nova história."
[Não exatamente. Segundo as informações que já possuo, o criador estava meio que insatisfeito com o mundo que os companheiros dele fizeram. Então ele resolveu criar o seu próprio mundo, seguindo seus próprios gostos.]
"Basicamente, ele deu Ctrl C e Ctrl V no mundo de Naruto e mudou algumas coisas. Quer dizer que meu destino já está escrito, é?"
[Não. Seu entendimento de destino não existe. Para melhor compreensão, deixe-me exemplificar. Qual é o destino de um copo de vidro quando ele cai no chão?]
"Ele vai quebrar."
[Agora, qual é o destino de um copo após ser lançado a cem metros de altura?]
"Ele vai se despedaçar."
[Errado. A resposta certa seria 'não sei'. Pois existem vários fatores que podem mudar o resultado, como uma corrente de ar que poderia levar o copo para longe, fazendo-o cair na água e não no chão.]
"Eu ainda não entendi."
[O destino de tudo foi decidido desde seu nascimento. O planeta onde você reside estava destinado a ser assim desde o princípio.]
[A única coisa que vai "contra" o destino é o livre arbítrio.]
[Por sermos livres, podemos fazer nossas próprias escolhas e mudar o destino que estava escrito na pedra.]
[Mas o destino ainda existe.]
[Se, por sua livre e espontânea vontade, você decidir quebrar um copo de vidro, o destino daquele copo será que ele vai quebrar, e ponto.]
[Mas se você decidir, no meio do caminho, que é melhor não fazer isso, o destino daquele copo será mudado, e ele continuará inteiro.]
"Ah! Entendi! Então, se os seres conscientes não existissem, tudo estaria indo de acordo com o destino."
[Exatamente. Se não houver nada ou ninguém livre para fazer o que quiser, o destino nunca será mudado.]
"E o ser da quarta dimensão não está mudando o destino do mundo?"
[[Levemente, ele começou a pensar sobre como criar situações que poderiam mudar a maneira de pensar de uma pessoa. A verdade é que ele interferiu apenas para tentar moldar o destino segundo sua vontade. Mas, no fundo, sabia que se a pessoa não quisesse mudar, o problema seria dela.]
"Ok, deixando isso de lado, o que ele espera que eu faça?" Sekiro perguntou, com um tom de ironia na voz.
[Entretenimento.]
"Só por causa disso?" Sekiro arqueou uma sobrancelha, o sarcasmo evidente.
[É o sentido da vida: aproveitá-la.]
"Que profundo, mas dane-se. Vamos falar sobre algo que realmente importa. Você disse antes que sua missão era me auxiliar. Como exatamente você pretende fazer isso?"
[Por gentileza, recite em sua mente a palavra 'status.']
'Status.'
A janela azul de mensagens se move um pouco para o lado, abrindo espaço para um novo painel que paira diante de Sekiro como uma holografia.
Nome: Sekiro
Idade: 5 anos
Nível: 0
Classe: Nenhuma
Título: Nenhum
Experiência: 0
Ouro: 0
For: 3. Des: 4. Con: 8
Per: 2. Int: 9. Car: 10
Chakra: 1
"Ah, agora eu entendi. Mas algumas perguntas: eu sei que tenho 3 de força, mas o que isso significa?"
[Se formos comparar com um humano civil comum, sem capacidades especiais e sem o uso do chakra ou qualquer outra forma de energia.]
[A média total é de 50, mas isso depende do atributo em questão.]
[Para os humanos, o atributo de inteligência dificilmente passa dos 30, sem algum meio especial que o permita.]
[Por outro lado, o atributo de força pode, com bastante esforço e dedicação, alcançar os 100 pontos por qualquer humano.]
Sekiro franziu a testa, processando a informação. "Quer dizer que eu sou burro?!" Ele explodiu, claramente irritado.
[Burrice vem da falta de capacidades intelectuais.]
[O cérebro dos humanos dificilmente se desenvolve após passar do seu estágio de maturação.]
[Outras espécies, por toda a existência, nunca poderão passar do 1, pois, sem meios especiais, o órgão intelectual físico deles simplesmente não se desenvolve.]
"Você fala algumas coisas estranhas, mas eu entendi. E mais uma coisa: que merda é essa de bônus de criança fofa? Eu não sou fofo!"
[Se isso te ajuda a dormir à noite.]
Uma veia pulsou na testa de Sekiro, e ele tentou novamente atacar a janela azul, mas, como esperado, não teve sucesso.
"Argh! Por que diabos eu não consigo acertar?!?" Ele gritou, frustração evidente em seu tom.
[Isso que você está vendo é meramente uma imagem que estou mandando para seu cérebro interpretar.]
[Eu sou uma existência construída a partir de matéria espiritual.]
[Eu não existo no mundo físico, pois não sou feito de matéria física.]
"Eu não entendi merda nenhuma do que você disse, mas escute uma coisa aqui, sua chapa de vidro azul: se você me chamar de fofo de novo, eu vou enfiar uma kunai no seu rabo."
[Se isso te ajuda a dormir à noite.]
"Argh! Sua coisa do demônio! Morra, mísera!" Sekiro explodiu, a raiva o consumindo.
O jovem tentou por mais alguns minutos acabar com o sistema, mas novamente não obteve sucesso. Ele se deixou cair no chão, exausto, a cabeça cheia de perguntas e a frustração fervendo em seu peito.
"Por que você está fazendo isso comigo?" Sekiro resmungou, sem realmente esperar uma resposta. "Só queria entender, e você só me dá respostas estranhas. Não é justo!"
[Apenas estou aqui para guiá-lo. Cada passo seu é uma chance de aprender algo novo.]
Sekiro balançou a cabeça, ainda se sentindo incompreendido. "Não preciso de uma babá espiritual, eu só quero ser forte. Não sou uma criança, mesmo que você me chame de fofo."
[Às vezes, é preciso aceitar ajuda para se tornar mais forte. Essa é a realidade. Você está disposto a tentar?]
O silêncio pairou entre eles, enquanto Sekiro ponderava. "Talvez eu precise... Mas não pense que vou aceitar isso facilmente. E ainda vou descobrir uma maneira de calar essa sua voz irritante."
[A primeira etapa é a aceitação. Vamos trabalhar juntos.]
Sekiro suspirou, a resistência começando a desmoronar. "Está bem, mas não vou deixar você me chamar de fofo novamente."
________________________________
<2088 palavras>