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Afastado e solitário

Girando a caneta entre os dedos, Theodore não estava interessado em prestar atenção na aula de física. Seus olhos claros estavam repousados na janela, observando o céu azulado e o balançar das árvores. Ainda que tivesse interesse na aula, seria pouco provável a sua concentração.

O time Montreal havia ganho a disputa da manhã e da tarde, classificando-se para a final das eliminatórias que ocorreriam dali à uma semana. Iriam enfrentar o time que Theodore havia assistido a partida e analisado suas jogadas. Os papéis repletos de observações estavam em sua bolsa, precisando entregá-los ao professor de educação física mais tarde.

Só que Theodore estava ansioso demais pra pisar no ginásio.

Na verdade, gostaria de evitar pisar lá.

Assim como Lilian previra, a escola estava um verdadeiro caos graças aos rumores sobre o possível triângulo amoroso. Por Nicolas estar suspenso, o ômega já não tinha aquela segurança toda impedindo os comportamentos repugnantes dos estudantes preconceituosos. Apesar de que havia agora uma rede de apoio dando conta na medida do possível.

Toda a classe do primeiro ano se dividira em grupos para permanecer com Theodore durante a entrada, intervalo e saída. Em público, ele ficaria acompanhado de Lilian e seus amigos que não deixavam o ômega ficar abalado ou sozinho. Aqueles garotos eram divertidos e contavam boas histórias, fazendo o tempo passar tranquilamente.

Já durante os treinos era Milles quem o protegia, mesmo discretamente. Quando algum encrenqueiro tentava fazer alguma piada, Milles chamava suas atenções para treinarem mostrando-se um capitão rigoroso tanto quanto seu antecessor. Theodore acreditava que os amigos do alfa não suspeitariam de suas tentativas de proteger o ômega, já que suas capacidades intelectuais eram duvidosas.

Apesar de tudo aquilo, a proteção sempre vinham de outras pessoas que não Gabriel. E não era para menos, já que o ômega pedira ao alfa para ficarem perto apenas fora da escola.

Afinal, Sadie estava por perto de Gabriel o monopolizando sempre que podia.

Theodore suspirava pesado só de lembrar a conversa que tivera com Gabriel na segunda-feira após o treino. A garota ômega fora ligeira em ser clara e direta com o alfa de que o ajudaria caso os rumores de os dois rapazes estarem juntos fossem falsos.

— Mas não são — Reclamara Theodore franzindo a testa para o alfa. — Estamos juntos, e daí?

— Ela me contou o que rolou com o primo de novo. — Suspirava Gabriel acariciando a própria testa naquele entardecer. — Disse que a família retirou todo o patrocínio que dava aos seus pais, ou algo assim. É verdade?

Theodore engolira em seco naquele momento. Sim, era verdade apesar do ômega não saber daquilo na época. Família Mckenzie retirou todo o patrocínio culminando em problemas no trabalho do seu pai na cooperativa. Theodore ainda se sentia culpado por algo ter afetado outras pessoas.

— Por que ela te contou isso? Não é da conta de ninguém o que acontece com o trabalho da minha família.

— Theo, eu vim pra cá porque os meus pais foram promovidos no hotel da família Mckenzie. Nos conhecemos por causa deles.

Somente naquela frase Theodore já imaginara o que estava por vir e seu mundo logo começara a desabar.

— Você está preocupado que eles demitam seus pais por nossa causa?

— Foi o que ela deu a entender, já que fizeram algo assim com aquele cara que era da família.

— Isso não tem cabimento, Gabriel. Ela só está falando isso porque não quer que você fique comigo.

Observando o alfa cerrar os dedos em punho, Theodore fechara os olhos por um instante acalmando-se. Deveria haver algo a mais preocupando o alfa, não é? O que mais odiava nos filmes de romances eram os personagens sendo impacientes e tirando conclusões erradas. Seria hipocrisia a sua em fazer o mesmo com o cara pelo qual se apaixonara.

— Você tem medo do que seus pais vão pensar sobre você estar com outro garoto?

— Minha mãe já sabe.

Gabriel meneou a cabeça, segurando as mãos do ômega que se aproximara. Theodore engolira em seco ao notar que ele não mencionara o seu pai. E ele sabia muito bem que às vezes ser ele mesmo não era aceitável pelos outros. Quantas vezes chorara depois daquele dia terrível de tempestade? Hoje poderia ser grato por finalmente ter se resolvido com seu pai, só depois de enfrentar os problemas.

— E o seu pai?

— Provavelmente não vai aceitar.

Tinha de manter a calma. Diferente de si, Gabriel nunca se relacionara com outro garoto e provavelmente estava descobrindo coisas novas consigo. Tinha de se colocar em seu lugar para que a relação deles desse certo.

— Tudo bem, então podemos nos encontrar fora da escola. E quando estivermos aqui na escola, seremos apenas amigos.

Desde aquela conversa na segunda, o ômega evitava conversar com Gabriel mesmo que sentisse uma grande necessidade de estar ao seu lado. Insuportável era a ideia de estarem longe um do outro agora que já provaram o quão bem se sentia junto dele. Descobrira que se Gabriel viesse falar consigo, gostaria de beijá-lo e de ser tocado por ele independente de onde estivessem.

Chegara à conclusão de que seria melhor evita-lo por completo até que soubesse se comportar devidamente.

Mesmo que Gabriel tentasse se aproximar, acenasse de longe ou ao menos dirigisse o olhar, Theodore fugia dele covardemente. Durante boa parte da semana o loiro passara a temer os rumores a seu respeito, transformando-o em um rato que se esgueira pelos corredores tentando não ser pego.

Tudo para que Gabriel não tivessem problemas em casa.

Mais tarde durante o intervalo, Theodore estava mais afastado do grupo do primeiro ano contando à Lilian sobre a conversa que tivera com Gabriel no outro dia. A garota insistira em saber dos detalhes, já que era insuportável ver o ômega tão cabisbaixo.

Além disso, Theodore simplesmente precisava desabafar.

— Eu disse que ela iria fazer alguma coisa. — Dizia a garota por fim esticando as pernas se espreguiçando — Mas aconteceu mesmo essa história do patrocínio?

Theodore concordara com a cabeça, que latejava incessantemente pela centésima vez naquela semana.

— Minha madrasta contou um tempo atrás. Nem eu sabia que tinha rolado algo assim. Tipo... Faz sentido? Por eu ter dormido com um Mckenzie eles agirem desse jeito?

— Deveríamos investigar isso um pouco mais? Acho que posso arrancar alguma coisa do time de vôlei.

— Você realmente acha que está dentro das "Três espiãs demais", não é?

Lilian abrira seu doce sorriso concordando com a cabeça.

— Apelidei minha sala de Woohp inclusive. — Ria a garota — Mas falando sério agora, seria bom tentar entender qual é a jogada dessa garota. Não quero pensar que ela foi clichê de ameaçar Gabriel com o emprego dos pais, isso é tão...bleh.

— Gabriel disse que foi mais um aviso pra ele ter cuidado em não ser pego. Já que a família dela tem muita influência por aqui, eles devem saber dos rumores.

— E você simplesmente concordou em serem discretos?

— O que mais posso fazer? — Theodore abrira um sorriso entristecido, olhando para as próprias mãos. — Digamos que eu taca o foda-se e continue com o Gabriel, a gente assumindo pra escola toda. O pai dele não sabe da gente, e isso pode machucar o Gabriel. E o pior cenário seria os McKenzie demitirem os pais dele por ter... um filho gay?

— Seria minimamente ridículo eles fazerem isso. Tipo, você e Gabriel não tem nada a ver com eles.

— Não muda o fato de eu me sentir culpado se alguma coisa acontecesse. Então prefiro ser cauteloso. Pedi pro Gabriel pra gente se encontrar só fora da escola.

Recebendo um abraço confortante de Lilian, Theodore soltara um riso baixo e tímido. Estava sendo patético demais? Principalmente quando recebia tanto incentivo para ser forte e não se esconder mais, desejava ser invisível naquele momento.

— Você fala de se encontrarem fora da escola, mas não é como se tivessem tempo para isso. — Theodore concordara com a cabeça, mordendo o lábio inferior. — Está se sentindo sozinho sem ele, não é?

Ah, então aquele sentimento tão estranho era solidão? Jamais imaginara que seria daquela forma. Amava Gabriel, isso era certo. Mas não esperava que tivesse viciado em sua presença tão rápido assim. Seria algo que surgira em meio ao seu cio?

Faziam três dias que eles mau se falaram. O único momento que poderiam conversar seria depois do treino, mas Theodore fugia de Gabriel como um gato assustado. Odiava a si mesmo por estar agindo daquela maneira, tentando engolir seus sentimentos e saudades só para evitar problemas.

Que seus amigos o perdoassem, mas Theodore ainda não se sentia forte o suficiente. Haviam muitas emoções e sentimentos dentro de sua cabeça, que chegavam a ser sufocantes. Não fazia ideia do quê pensar, no que fazer ou então em como resolver aquela situação.

E por isso a resposta mais óbvia era fugir.

Mais tarde naquele dia, logo após o time de vôlei encerrar os treinos, Theodore se encontrava sozinho no vestiário. Precisava recolher os uniformes e as toalhas, mas aquele armário em específico parecia um imã que impedia Theodore de abri-lo.

A mão tremia em abrir aquela maldita porta, pois só de estar encostada o ômega sentia o cheiro característico do alfa. Engolindo em seco, tomara a coragem para abrir e segurar o uniforme do time impecavelmente dobrado.

Só precisava jogar dentro da bolsa junto das demais e sua tarefa terminaria ali.

Isso.

Por que sua mão não se movia?

Seus dedos apertavam em volta do uniforme escuro, levantando o suficiente para que mais do cheiro característico chegassem até suas narinas. Inalando profundamente, Theodore sentira sua cabeça doer ainda mais com as pontadas, junto com o coração batendo tão rápido.

Arfando, o ômega apoiou-se no armário respirando profundamente pela boca.

O que raios estava acontecendo consigo? Por que seu corpo agia tão estranhamente desde que se afastara de Gabriel?

Escorando-se nos armários até se sentar ao chão, afundara o rosto naquela camisa onde podia sentir o cheiro do alfa. Um cheiro forte e intenso, amadeirado e sedutor. Não era o cheiro que Gabriel costumava a exalar, parecia mais... Mais... Sexy.

Revirando os olhos, Theodore explodia em sensações. Ficar longe de Gabriel poderia ter feito se esquecer de seu cheiro a ponto de considerá-lo tão bom? Seu corpo por inteiro reagia aquele aroma, conseguindo sentir as batidas do seu coração em cada membro de seu corpo.

Um calor subia cada vez que aspirava aquela camisa. Seu membro despertava em uma ereção dolorida a cada respiração que dava, e sua mão tocara o membro coberto despejando um gemido sôfrego de sua boca.

Como poderia reagir daquela maneira somente com sua camisa? Por que seu cheiro estava tão diferente? Que agonizante.

Abrindo o fecho da calça e passando o elástico da boxer, Theodore tocara o próprio membro já sentindo-o pulsar dolorosamente. Encostara a cabeça no armário afundando o rosto na camisa, necessitando cada vez mais daquele cheiro para satisfazer a saudade que sentia.

Sua mão deslizava delirante em um vai e vem lento. Theodore conseguia recordar-se da semana anterior quando estivera no cio e fora tocado por Gabriel. Ele havia explorado seu corpo de tantas formas, que as memórias estavam nítidas e vívidas na sua mente. Foram elas que iludiram aquele ômega fazendo-o acreditar que era o seu alfa o tocando ao invés dele mesmo.

Encolhendo o corpo contra o chão, quando finalmente gozara Theodore sentia-se bem. Não excelente, mas minimamente bem.

— Gabriel...