Nascimento

Eu não planejava ter uma comitiva de cavaleiros tão grande nesse assunto, parece tão extravagante, estamos tentando cortar caminho pelo centro comercial, porém por estar cheio de pessoas e barracas no caminho, não estamos conseguindo manter uma velocidade sequer aceitável.

Nesse momento eu estou irritado com meus antepassados, quem teve a brilhante ideia de fazer o palácio secundário tão distante do primário? Tenho dez cavaleiros me acompanhando, até meu conselheiro está aqui, mesmo que o infeliz sequer saiba empunhar uma espada ou cavalgar de forma decente. Totalmente inútil para a minha proteção.

É possível ouvir diversos murmúrios entre os comerciantes e cidadões, alguns estão pensando que estamos indo receber alguém importante de outro reino pessoalmente, outros simplesmente fazem uma leve reverência para mim com alegria, estão genuinamente felizes em me ver.

Fico feliz, porém realmente estou sem tempo, faço sinal para os dois cavaleiros mais próximos de mim e começamos a galopar em alta velocidade pelas barracas até finalmente chegar em uma estrada decente.

— Vossa majestade, não se esqueça que você também prometeu uma equipe de busca para encontrar e resgatar a filha do Barão Sterf — essa foram as palavras do meu conselheiro, enquanto o mesmo estava lutando para conseguir nos acompanhar, era visível sua falta de habilidade.

— Na se preocupe, não me esqueço de promessas — respondo, enquanto o infeliz desaparece no horizonte.

Após cerca de dez minutos finalmente chegamos no palácio secundário, sem perder tempo anunciando minha presença ou algo do tipo, eu simplesmente saio abrindo os portões de todos quartos possíveis procurando por ela.

Uma serva me encontra e começo a me acompanhar enquanto continuo abrindo as portas freneticamente.

— Vossa majestade, eu não sabia que teríamos sua presença hoje — ela me cumprimentou.

— Cadê ela?

— Ela quem? Recebemos alguma convidada importante?

— A Nivalia — respondo, já visivelmente estressado com a quantidade exorbitante de portas logo no primeiro andar.

— Entendo, ela está no maior quarto do quinto andar — ela me responde enquanto nem tenta disfarçar uma expressão de decepção.

Começo a subir as escadas, eu realmente tinha me esquecido como toda a arquitetura desse palácio é irritante, apesar de grande é bem vazio, tem uma coloração quase que completamente verde e parece mais uma torre interminável pra cima, ainda tem um aspecto tão rústico e simplório.

O palácio principal é bem melhor em questões visuais e estéticas, é bem grande e bonito, um visual mais moderno parecendo mais uma grande estufa, com uma cor quase que completamente branca com alguns adornos dourados e verde esmeralda. Porém o palácio secundário é bem mais fácil de se defender.

Merda, isso é realmente hora de ficar pensando nisso? Talvez seja pelo fato de eu já estar subindo mais rápido que posso, única coisa que posso fazer é tentar me distrair um pouco.

Finalmente chego quinto andar e vou em direção ao quarto, tem diversos guardas, servos, curandeiros e principalmente as parteiras na frente da porta de onde estaria minha amada.

Eles olham diretamente para mim, porém se recusam a falar algo, a única coisa que consigo sentir nesse momento é medo e aflição.

Continuo me aproximando e um dos guardas abre a porta para mim, sem hesitar eu entro, acho que por já estar tarde, não é mais possível ter uma boa visão do ambiente, tudo que eu consigo enxergar é fornecido pelas luzes das velas espalhadas por todo o lugar.

Vou até a cama, no colchão vejo Nivalia olhando para mim um sorriso, mesmo que esteja visivelmente exausta.

— Você está aqui... — diz ela, enquanto está lutando para conseguir ficar consciente.

— Se você estivesse no palácio principal eu poderia ter ficado ao seu lado.

Ela simplesmente começa a sorrir, com toda certeza não vou conseguir uma explicação ou algo do tipo por agora, e também esse não é um momento para tais perguntas, quero que ela descanse.

— Olha para a cadeira — essas foram as palavras dela, antes de fechar completamente os olhos e parar de me responder.

Eu estou obviamente preocupado, já ia chamar um curandeiro ou qualquer pessoa que pudesse me ajudar, antes de abrir a boca, instintivamente olho para a cadeira ao fundo como a Nivalia tinha sugerido.

Vejo uma mulher já de idade avançada, com uma criança gentilmente embalada com panos e toalhas em seu colo, essa mulher por aparentar ser tão experiente certamente foi umas das parteiras. A mulher me encara de volta e começa a falar:

— Não se preocupe com essa mulher, ela está apenas dormindo. Não tivemos nenhuma complicação durante o parto.

Começo a me aproximar de ambos, não consigo falar uma palavra, o que estava ali era minha criança, estou em um misto de sentimentos indescritíveis.

— É uma menina saudável, parabéns majestade.

Já estou alguns centímetros da minha filha, sem perceber já estou esticando os braços para a pegar no colo. Ao ver seu rosto é como se o mundo parasse, ela estava dormindo, a pego em meus braços gentilmente.

Abaixo um dos panos que estavam me impossibilitando de ver seu rosto com clareza, seu rostinho é tão fofo, seus cabelos eram uma obra de arte por si só, fluíam em ondas delicadas, uma combinação encantadora de cachos suaves e fios lisos.

Minha filha é perfeita, mesmo que tenha puxado bem mais a mãe do que a mim, ambas tem uma pele parda. Sei que minha filha é incrível, porém o que fez todos se retirarem de seus respectivos postos e ficarem na porta? Olho para a parteira e começo a perguntar:

— Por que quase todos presentes do palácio secundário estavam ao lado de fora desse quarto? Eu acho que boa parte deles não seriam capazes de fornecer algum tipo de apoio ou auxílio para as parteiras.

Ela respira fundo e olha diretamente para minha filha, a vejo levantando e caminhando em minha direção, quando finalmente está próxima começa a sussurrar em meu ouvido:

— Na verdade tivemos um problema com sua filha, não no parto em si, é claro — ela sussurrou no meu ouvido, com um voz rouca, claro que isso só me deixou mais preocupado.

— E qual é o problema?! Ela parece simplesmente... Perfeita.

— São os olhos dela, foram eles que causaram tanta comoção aqui, são tão problemáticos que certamente vai causar problema na coroa e atrito com a linhagem principal.