Colocando os pés para fora da janela de seu quarto, Dylan estava decidido a descer do segundo andar de sua casa em total silêncio, aquela seria a noite tão esperada, seus olhos brilhavam enquanto pensava na fabulosa história que ele iria presenciar.
Sobre o telhado da varanda algo veio a sua mente, sua mãe tinha o proibido de sair naquele dia, mas como todo adolescente ele decidiu ignorar esse impedimento por um "bem maior", mesmo que a culpa o engolisse. Dylan observava claramente os arredores, a lua cheia iluminava os cantos mais sombrios de seu jardim, isso deixava o ambiente apto a uma noite de aventuras, o melhor de tudo era que não precisava da lanterna de seu celular para enxergar aonde ir. Dando dois passos longos para sua esquerda, Dylan alcança uma parede repleta de trepadeiras fortes e robustas, elas subiam sem muita dificuldade, esse conjunto de plantas ficou tão resistente que um adulto poderia escalá-las sem muito sacrifício, por isso desce-las se tornou uma tarefa simples.
Kathleen adorava enfeitar a casa o quanto podia, talvez quisesse que os vizinhos sentissem ciúmes de algo, mas se afundar na jardinagem só mostrava o quão solitária ela era.
Pisando no solo suas pernas se estremeceram, a adrenalina de fugir às onze horas da noite o fez esquecer do mais importante, as flores preferidas de sua mãe ficavam em frente a sua passagem de saída, as trepadeiras. O estrago já estava feito, peônias pisoteadas deram os seus últimos suspiros, isso o apresentava a morte, mostrando-lhe que era tarde demais para um possível retorno.
Enchendo os pulmões ele corre rapidamente para a rua, a emoção fez o seu coração pulsar violentamente, parecia ter um ataque de asma à medida que se distanciava, a culpa de tudo isso era de sua imaginação que estava trabalhando constantemente, fazendo com que Dylan tivesse picos de ansiedade. Toda essa animação era resultado de um evento, naquela noite seus amigos realizariam um teste de coragem, uma preparação para o Halloween do dia seguinte. A esperança de sentir o puro e robusto medo o deixava eufórico, assim o tempo escorreu como água diante de seus olhos, em alguns minutos as casas bem produzidas com lindos gramados e jardins foram substituídas pela completa pobreza, eles marcaram de se encontrar na rua ao lado da fatídica loja de conveniências, contudo algo inesperado aconteceu, o garoto se deparou com sua vizinha saindo de dentro do estabelecimento, ao olhar em seu celular ele teve certeza, eram quase meia noite, ir naquele horário para um lugar tão longe não fazia sentido, a não ser que ela fosse obrigada, os olhos de Dylan se deparam em uma garrafa de vodka dentro de uma sacola plástica, esse certamente seria o motivo, todos na cidade sabiam que seu pai era alcoólatra, porém ignoravam esse fato tão importante.
Perdido em seus pensamentos ele a encarou tempo demais, quando ela percebeu um sorriso sem graça surgiu, posteriormente a garota abaixou sua cabeça vergonhosamente e se dirigiu a Dylan, depois de tanto tempo a ignorando ele acabou se esquecendo, o que ele mais odeia nela era a sua gentileza.
Dylan fica sem reação quando a olha passar em silêncio ao seu lado, talvez ela quisesse chamá-lo, mas aquele não era o dia de demonstrar compaixão.
Ignorando o que aconteceu ele se dirige a esquina, um pouco mais a frente uma caminhonete estava estacionada, o poste de luz que deveria a iluminar sofria de mal funcionamento, deixando o escuro dominar, quanto mais perto da floresta você chegava mais abandonado ficava.
Todos já deviam estar ali e isso o irritava, a falta de responsabilidade era o forte de seus amigos, mas ele ainda tinha esperanças de que todos aqueles idiotas não lhe deixariam na mão.
Quando se aproximou da lataria negra Dylan viu o próprio reflexo por alguns segundos, o poste antes apagado começou a piscar tentando se estabilizar, quando a escuridão começou a esmurrar seu peito, aquele ódio adormecido despertava sem pestanejar.
Ele não se mexia, e isso não se modificou quando começou a sentir mãos gélidas se esfregando em suas costas, Dylan não teve reação, naquele momento o vazio o abraçou, era como se o mesmo tivesse o consumido.
— Dylan? — Alguém fala.
Ao ouvir seu nome suas emoções se despertam novamente, foi como acordar de um sonho, se virando rapidamente ele se depara com olhos verdes brilhantes, eles pertenciam a Scarlett, umas das convidadas daquela noite.
Toda sua raiva desapareceu como mágica quando outro sentimento tomou o seu lugar, ao ficar envergonhado pela troca de olhares, Dylan abaixa a cabeça se deparando com o grande decote de uma blusa vermelho sangue, aquela cor o prendeu de tal modo que o passar do tempo se modificou, segundos pareciam minutos, ele não conseguia se movimentar, sufocando-se enquanto tudo saia de seu lugar.
— É melhor você não ficar paralisado quando o teste começar! — Ethan fala dando tapinhas em seu ombro direito.
O carisma de Ethan era o seu ponto mais forte, ele era capaz de manipular todos ao seu redor, assim mesmo perdendo saia vitorioso.
Dylan tentava recobrar a consciência, aquilo teria sido somente um delírio, pois tudo foi uma alucinação.
— Agora que todos estão aqui, por favor entrem no carro.— Dereck fala sem esconder sua empolgação.
No total eram seis pessoas, mesmo sendo uma caminhonete existiam somente cinco lugares, o que significava que um ficaria para trás. Enquanto raciocinava estranhou as duas garotas estarem completamente calmas, elas não faziam parte de seu grupo, por isso seriam deixadas ali, seus amigos não o trairiam deixando-o de fora.
A raiva floresce novamente, Dylan faz o possível para descartar esse sentimento repulsivo, decide então adentrar o carro e fechar a porta silenciosamente, ignorando turbulências passageiras ele se apoia a janela ignorando a existência de um cinto de segurança.
Ethan e Dereck esperavam os outros nos assentos da frente, Dylan estava desconfortável e isso ficava evidente à medida que sua perna subia e descia em uma velocidade descomunal, fazendo com que todos ali ficassem desconfortáveis, até Adam finalmente entrar no carro, sentando-se no meio ele abre totalmente suas pernas, um folgado nato, Lora não se incomoda com a situação se mantendo ao seu lado, em seguida Scarlett senta no colo de sua amiga fechando a porta.
Olhando a situação Dylan percebe que é extremamente idiota, sua desconfiança é parte de sua ignorância, ele deveria relaxar e aproveitar o momento como todos os outros.
Ao ligar o carro, Ethan começa a dirigir em direção a floresta.
— Como vocês já sabem vamos participar de um teste de coragem! Ele vai se passar no meio da grande floresta onde ninguém vai conseguir te ouvir gritar. —Dando uma pausa ele faz todos sentirem a escuridão que queria adentrar o carro — Nisso, eu tenho que avisar uma coisa, os demônios de vão aparecer são atores que eu contratei então não agridam eles, entenderam? Eu não quero ser processado.
O mudar do terreno faz o carro estremecer, todos balançam em sincronia, as pessoas presentes tentavam acalmar os seus nervos, mas por conta das histórias que rodeiam a floresta seu medo só crescia, a mais famosa dizia que ao atravessar a mata alta o inferno surgiria, isso servia para deixar as crianças longe de perigo, já que desaparecimentos são bem frequentes nessas redondezas.
O caminho era turbulento, mesmo seguindo uma linha reta, todos compartilhavam o medo de se perderem entre as árvores altas e escuras. Parando o carro em um pequeno acampamento, Dereck expôs sua felicidade descendo rapidamente da caminhonete, no centro se tinha uma pequena fogueira apagada, as barracas estavam mais ao fundo, cheias de poeira.
Quando todos desceram Ethan os alinhou e entregou uma lanterna para cada um dizendo:
— Bom, esse é o ponto inicial! —Naquele momento os olhos de Dereck brilhavam feito uma criança — Nós vamos jogar um jogo que se chama "encontrem os papéis", vamos sair pela floresta e tentar descobrir em que lugar os papéis foram espalhados aleatoriamente, é importante falar que são cinco panfletos e que eles não estão juntos.— Um tom de deboche foi lançado — Certamente podemos vencer ou perder, podemos vencer se acharmos todos os papéis e juntarmos eles aqui, ou podemos perder sendo pegos pelos maldosos demônios. Agora preparem-se e tomem cuidado para não se perderem.
— E como não vamos nos perder?
— Boa pergunta jovem Scarlett! Vamos amarrar um barbante em uma árvore, e assim vamos deixar uma trilha por onde passarmos, os papéis não estão muito longes.
— Mas cadê a merda do barbante? — Scarlett o responde confusa.
Um barulho na vegetação deixa todos alerta.
— Um dos nossos amiguinhos demoníacos vai nos dar o necessário, pode vir! Não tenha medo!
Mesmo depois de serem chamados os atores não apareceram, era como um buraco no roteiro, a possibilidade de tudo dar errado deixava os participantes inquietos, mas a noite estava apenas começando.