(...)
Charlotte
Como devo me comportar ao ouvir as palavras desse morto-vivo?
Não sou tão ingênua a ponto de não perceber a razão pela qual ele decidiu me dizer que pode sentir excitação.
Maravilhoso! Era exatamente o que eu desejava: um zumbi interessado em mim.
Esse sujeito é surpreendentemente perspicaz para um morto-vivo.
E aqueles olhos sem vida revelaram um brilho intenso, algo que nunca havia testemunhado em um zumbi antes. Lógica nos diz que ele não deveria ser racional, e muito menos estar excitado.
Que espécie de zumbi é esse?
Minutos depois, os outros chegam ao quarto e Spider afirma que passaremos a noite neste apartamento. Eles trancam a porta e posicionam um sofá para garantir que nada possa entrar.
Então, me dirijo a um dos quartos, removo meu uniforme, deito na cama e busco esvaziar a mente. Minutos depois, deixo que a escuridão me envolva.
Horas depois, sou despertada abruptamente, com o coração acelerado. Sento na cama e coloco a mão na cabeça.
Por que tenho que reviver o pior dia da minha vida? O dia em que tirei a vida da pessoa que amava.
Levanto da cama, saio do quarto e vou em direção ao banheiro. Ao entrar, abro a torneira e sinto alívio ao notar que ainda há água. Lavo o rosto e, de repente, percebo uma presença atrás de mim. Por impulso, pego um pedaço de espelho na pia, viro-me e sou rapidamente pressionada contra a parede.
"Merda!" - Xingo ao perceber que o zumbi me segurou. - "Você poderia parar de agir como uma sombra atrás de mim?", digo, irritada. Ele me encara. - "Tem um zumbi de dois metros me prendendo contra a parede, enquanto estou de roupa íntima. Que situação é essa?", reflito. - "Me solta!", exijo, e ele obedece. - "Ainda vou te matar se continuar surgindo do nada", - ameaço.
"Impossível isso acontecer", - ele responde.
"Já eliminei zumbis maiores e mais fortes do que você", - minto, sendo novamente pressionada contra a parede. - "Porra", - xingo, mas ele se afasta.
"Não sou um zumbi qualquer", - diz ele.
"Você é atrevido", - retruco, e ele ri. - "Continuo tentando entender por que você possui consciência mesmo sendo um morto-vivo", - questiono.
"Porque sou único", - a voz no aparelho fala e dou risadas - "grrr..."
"Atrevido e agora convencido", - penso. - "Mas agora é sério, para de aparecer atrás de mim como um fantasma."
"Os super soldados têm uma audição incrível?"
"Sim, mas estava com a mente em outro lugar e não percebi você chegando", - admito.
"Onde sua mente estava?" - Pergunta.
"Convencido, confiante e agora intrigado", - digo enquanto solto um suspiro, me sento no chão e encosto-me na parede. - "Tenho pesadelos."
"Pesadelos?" - Pergunta ele, surpreso.
"Pesadelos dos dias infernais em que vocês me caçavam", - respondo, e seus olhos se arregalam. - "Vocês caçaram e mataram todos os meus amigos, apenas porque eram melhores, e entre eles havia alguém muito importante para mim", - continuo, abraçando os joelhos. - "Os outros não eram como eu, então, quando eram mortos, tornavam-se zumbis. Um dia, a pessoa que amava morreu ao me salvar, e ele também se transformou em um zumbi, e eu tive que matá-lo."
"Ouvi dizer que os super soldados eram insensíveis. Como você conseguia amar?"
"Eles tentaram nos privar de emoções, mas não tiveram sucesso. Sinto amor, alegria, tristeza, raiva e ódio, como qualquer ser humano."
"Sinto muito pela sua perda!" - Diz ele, mas permaneço em silêncio - "Às vezes, tenho pesadelos."
"Zumbis têm pesadelos?"
"Eu tenho. Em meus pesadelos, torno-me igual aos outros zumbis e acabo matando meu irmão."
"Seu medo é ser igual aos outros zumbis?", - pergunto, observando sua máscara.
"Se eu me tornar um deles, não vou morder ninguém devido à máscara", - explica. - "Mas se eu me transformar como os outros zumbis, quero que meu irmão atire na minha cabeça antes que eu faça mal a ele ou a qualquer humano", - confessa.
"Se isso acontecer enquanto estivermos trabalhando juntos, eu mesma te eliminarei", - afirmo seriamente. - "Qual é seu nome verdadeiro?", - pergunto.
"Dylan", - responde.
"Sou Charlotte, mas pode me chamar de Zero", - revelo, explicando que fui a primeira cobaia a resistir a todas as experiências.
"Zero. Isso é um número", - comenta Dylan. - "Prazer, Charlotte", - finaliza.
(...)
Dylan
Todos foram dormir, e eu fiquei de vigia. Horas depois, a vejo saindo do quarto em direção ao banheiro. Por impulso, vou atrás dela, e ela tenta me atacar. Rapidamente, a seguro contra a parede.
Surpreendentemente pequena!
Admiro a coragem dela, mas ela acredita que pode me derrotar. Sonhar é bom.
Trocamos algumas palavras e ela revela ter pesadelos com alguém que amava. Fico impressionado que, mesmo sendo uma super soldado, ela é capaz de amar.
Tudo que nos disseram sobre eles é uma mentira!
Ela teve que eliminar a pessoa que amava, uma tarefa extremamente difícil.
Menciono que também tenho pesadelos, surpreendendo-a.
Zumbis podem sonhar?
Na teoria, não deveria ter consciência, muito menos sonhar. Mas não sei por que sou assim.
Ela diz que vai me matar se eu me tornar como os outros. Suas palavras me deixam satisfeito, pois sei que meu irmão fará de tudo para me trazer de volta, e ele não terá coragem para me eliminar.
Então, ela pergunta meu nome verdadeiro. Desde que me tornei zumbi, meu nome morreu, e todos me chamam de Zumbee.
Ficamos em silêncio, e minutos depois percebo que ela está dormindo. A pego no colo e a coloco na cama, depois saio do quarto e vejo meu irmão encostado na parede.
"Há algum tempo você não demonstra interesse por mulheres. Mas ela precisa ser a escolhida?"
"Gosto dela."
"Se ela tiver uma chance, irá te trair, Dylan", - meu irmão fala enquanto o encaro. - "Entendo que esteja fascinado por ela ser uma super soldado, mas sabemos do que são capazes. Essa raça não se importa com nada nem ninguém, apenas consigo mesmos. Você, mais do que ninguém, sabe disso, afinal, eliminou todos os amigos dela."
"Ela é diferente."
"Você que é diferente. Essa mulher é um monstro, então não confie nela", - ele diz e começa a andar.
"Ela não é a única monstra aqui", - penso.