Capitulo 19

Charlotte

Decidi me estabelecer próximo de uma cidade pequena, o que facilitou a limpeza da área. A outra cidade fica a muitos quilômetros de distância, impossibilitando a presença de mais pessoas por aqui. No entanto, a jovem que encontrei não é humana, e pelo seu comportamento, está claro que possui raciocínio.

Um zumbi racional, assim como o Dylan!

Chamei Dion para voltar sem dizer uma palavra e tranquei o mercado, seguindo para casa, a mente fervilhando com pensamentos sobre a garota.

"Vocês demoraram uma eternidade para não trazer nada," - Dylan comentou, mas ignorei sua provocação. - "Vocês brigaram?"

"Não," - Dion responde. Atraí-me para o porão, onde abro a porta e desço as escadas. - "Caralho!" - Ele exclamou ao ver as várias telas na parede.

"O que está acontecendo?" - Dylan pergunta, se aproximando. Comecei a mexer no computador. - "Lotte, fala comigo."

"Descobri outro zumbi racional, assim como você era," - respondo sem desviar o olhar da tela. - "Mas ela fugiu."

"Ela?"

"Uma adolescente estava no mercado e escapuliu assim que tentamos nos aproximar," - Dion explicou, enquanto eu busco nas filmagens a imagem da garota. - "Por que você não nos contou que monitora tudo?"

"Eu achava que era irrelevante," - respondo, caminhando em direção ao meu arsenal e começando a pegar armas.

"Você vai atrás dela?" - Dylan questionou, e apenas balanço a cabeça em concordância. - "Pode ser uma humana."

"Ela não tem batimentos cardíacos. Tenho certeza de que é um zumbi,"- ouvimos um alarme e vou até o computador, onde um dos sensores disparou. Olho para a tela e vejo a garota na porta do mercado.

"O que ela está tentando fazer?"

"Está tentando abrir a porta do mercado."

"Se ela é um zumbi, não precisa de comida humana," - Dylan comentou.

"Mas quem a controla, precisa," - Dion observou, e todos nós olhamos para ele. - "Não somos os únicos seres vivos por aqui. Precisamos entender quantos deles existem."

"Não seria melhor deixarmos isso quieto?" - Pergunta, e o encaro. - "Pela forma como ela está tentando abrir a porta, parece desesperada por comida. Dividir um pouco não seria ruim para nós, e assim ganharíamos a confiança dos novos moradores."

"E se eles forem uma ameaça para nossa família?" - Questionei.

"Então, iremos eliminá-los," - Dion responde, e Dylan assentiu. - "A garota pode nos levar até outros humanos, mas precisamos pensar em como capturá-la."

"Deixa comigo," - declarei, acionando o gás que coloquei no sensor da câmera. Em poucos segundos, a garota caiu no chão. - "O gás não os mata, mas os deixa paralisados."

"Não sabia que você era tão inteligente, Charlotte," - Dion comenta, olhando para mim com admiração. - "Impressionante."

"Existem muitas coisas que vocês ainda não sabem sobre mim, parceiro," - cruzei os braços, enquanto ambos me observavam. - "Mas isso será uma conversa para outro dia. Agora, vão buscar a garota."

"Você que manda, chefe," - Dion responde, enquanto pego Aaron do colo de Dylan. - "Vamos, Romeu," - começou a andar, e Dylan o seguiu.

Dylan

Charlotte pediu um tempo para pensar, e meu irmão concordou, então a semana passou em um silêncio pesado, sem que tocássemos no assunto. Charlotte agiu normalmente, enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo.

Dion me questionou o que eu tinha em mente ao querer compartilhar minha mulher com ele. Lembro-me da época em que era um zumbi e sentia ciúmes quando Charlotte salvou Dion da morte e das provocações entre os dois.

"Então, por quê?"

Porque não quero perder minha mulher e meu irmão. Eles são a única família que tenho. Charlotte é a mulher da minha vida, mas eu também amo Dion.

Minhas palavras deixaram meu irmão chocado e sem reação.

Mas tudo depende de Charlotte.

A semana arrastou-se, e percebi que não sou bom em consertar as coisas, por isso Charlotte me encarregou de cuidar do nosso filho.

"Você é um armário de 2,15 de altura, atrapalhado e desengonçado. Cuide do Aaron para o bem de todos."

Ela praticamente me chamou de inútil.

Dion sempre foi bom em várias coisas, então ele sempre estava lá para ajudar Charlotte, mesmo que ela quisesse fazer tudo sozinha.

Charlotte passou vinte anos vivendo nas sombras, sem ajuda, e mais um ano se virando para dar segurança ao nosso filho. Ela acredita que pode fazer tudo sozinha, mesmo com a nossa disposição para ajudá-la.

Com o tempo, ela perceberá que estamos aqui por ela.

Um dia, Charlotte saiu para buscar alimentos. Eu queria ir com ela, mas Lotte insistiu que eu ficasse cuidando do nosso filho. Dion se ofereceu para acompanhá-la, e após muita discussão, ela se rendeu e deixou que ele fosse.

As horas se arrastaram, e quando finalmente retornaram, Charlotte estava séria e ignorou minha presença. Dion, no entanto, trouxe uma novidade: encontraram uma garota, um zumbi racional.

Charlotte usou um gás, e a garota caiu. Ela nos mandou buscar a jovem. Peguei minha antiga máscara, algumas armas, e fomos em direção à cidade.

O caminho foi silencioso, com Dion perdido em pensamentos e eu em estado de alerta. Após alguns minutos, chegamos ao mercado.

"Lembra de mim?" - A garota olha para Dion e rosnou. - "Nossa patroa quer bater um papo com você."

"Lotte, tem razão, ela não tem batimento cardíaco."

"Grrr..." - Me abaixo e coloco minha antiga máscara sobre ela, e amarro suas mãos.

"Assim você não morde ninguém," - a peguei no colo e começamos a voltar para casa. Ao chegarmos, Charlotte apontou para uma cadeira. Coloquei a garota sentada e a prendi na cadeira com fita, soltando suas mãos.

"Mesmo sem batimentos cardíacos, os olhos dela são azuis e não sinto mau odor vindo dela," - Dion observou, aproximando-se. - "Tira a máscara."- Me abaixei e retirei a máscara, mas a garota tentou me atacar. - "Mas é arisca."

"Grrr..."

"Quem é você?" - Charlotte questionou, e a jovem olha para ela. - "Quantos de vocês existem?"

"Calma, amor," - toco em seu ombro. - "Precisamos mostrar que não iremos machucá-la." - Olho para a garota. - "Sou Dylan," - sorri e me abaixei na frente dela. - "Essa é Charlotte, e meu irmão Dion," - seguro sua mão. - "Não vamos te machucar, mas seria ótimo se você respondesse às nossas perguntas."

"Zumbis não falam, como ela vai responder nossas perguntas?" - Dion indagou, e a garota começou a usar sinais.

"Legal. Ensinaram-na a se comunicar em sinais," - Charlotte cruzou os braços. - "Não entendo."

"Ela se chama Anna," - Dion respondeu, e Charlotte olha para ele. - "Aprendi a língua dos sinais no exército." - Olho para a garota novamente, que continua a fazer sinais.

"O que ela está dizendo?"

"Existem outros como ela. Mas estão presos e são obrigados a buscar alimentos. Se não, as garotas sofrem punições," - fico paralisado. - "Ela tem uma irmã que continua viva, mas está presa pelo líder."

"Quem é esse líder?" - A jovem entrou em desespero, e eu toco seu rosto. - "Fique calma e nos conte quem são esses monstros," - ela apenas concordou com a cabeça e me afasto.

"Três meses atrás, um grupo de homens apareceu na fazenda que tinha uma comunidade de zumbis racionais. Eles mataram seus pais, prenderam os jovens e os obrigaram a caçar para eles. Se não, sua irmã viva sofre as consequências."

"Vamos salvá-los," - levantei-me, e Charlotte olha na minha direção. - "Ela é só uma criança, mesmo sendo um zumbi, não merece passar por isso."

"Quantos são eles?" - Dion pergunta, e a garota fez sinais com as mãos. - "Trinta homens," - olho para Charlotte. - "Você que manda, chefe."