Eve~
"Diga de novo, eu te desafio." Reconheci a mulher que estava de pé, seus olhos ardendo—olhos como os meus. Cabelos vermelhos fluindo pelas suas costas. Ellen. Sua voz ficaria para sempre gravada em minha memória como uma marca.
Eu congelei quando vi o que ela segurava na mão. Uma arma.
"Sua alteza, por favor..." A empregada, que não parecia ter mais de dezoito anos, implorou, esfregando as mãos.
"Sua mentirosa desgraçada!" Ellen cuspiu. "Você ousa espalhar rumores obscenos sobre meu noivo? O Beta desta alcateia?"
"Por favor..."
"Diga a verdade, sua miserável! Diga a verdade para todo este quarto."
"Mas eu não... menti," chorou a empregada.
Ellen deu um tapa forte na garota, a força fazendo-a cair. "Diga a verdade."
"Minha querida, apenas diga a verdade para a princesa," disse uma mulher mais velha vestida como empregada no vídeo.
A garota se virou para a empregada mais velha. "Mas mãe... ele me estuprou."
Eu engasguei, minha mão tapando minha boca.
Um tiro ecoou, me assustando profundamente. A empregada gritou, sangue escorrendo da ferida em sua perna.
Meu coração parou. Ellen tinha atirado nela. Minha irmã passou a mão pelos cabelos, vibrando de raiva. "Vamos tentar novamente, não é? Diga-me a verdade, e eu vou poupar você."
A empregada assentiu, o horror e o medo em seus olhos me dilacerando. "Eu menti, eu menti. O Beta nunca fez isso. Eu menti—"
Ela foi silenciada quando outro tiro soou. A boca da garota parou de se mover; ela caiu para trás, um buraco sangrento na testa.
Eu gritei, e a mãe da garota também. Ela correu para sua filha, embalando sua forma inerte, gritando seu nome. "Ruth, Ruth, por favor... não..." Mas já era tarde demais. Ela se foi. Lágrimas caíram dos meus olhos.
"Você disse que a pouparia," gritou a mulher.
Mas minha irmã sorriu, a ação me arrepiando até os ossos. "Ela mentiu, então é justo que eu faça o mesmo."
Eu não conseguia respirar. Eu não conseguia pensar. Meu corpo todo tremia enquanto eu ficava paralisada na cadeira, o horror do que eu tinha acabado de presenciar penetrando em meus ossos como veneno. Eu queria gritar, me enfurecer, chorar, mas tudo o que eu podia fazer era ficar ali—paralisada pela culpa e pela tristeza.
Essa era minha irmã. Meu sangue. Minha família.
O vídeo foi cortado, deixando um silêncio ensurdecedor que parecia mais sufocante que o quarto branco em si. Meu peito arfava, minha respiração superficial e irregular. Eu podia sentir o sal das minhas lágrimas enquanto elas escorriam pelo meu rosto.
A voz de Hades deslizou para meus ouvidos novamente. "Não se preocupe, Ellen. Tem mais."
Eu estremeci ao som do nome dela. Meu nome, para ele. A mentira que agora manchava cada centímetro do meu ser. Meu corpo doía sob o peso da verdade que eu não podia falar, a verdade que poderia me salvar, mas me condenaria de formas muito piores.
A tela piscou de volta à vida, e outro vídeo começou.
Dessa vez, não era uma única mulher sendo brutalizada. Era minha irmã de pé em uma praça, discursando para uma multidão. Sua postura era régia, seu rosto preenchido com um sentido distorcido de orgulho enquanto ela falava. A multidão abaixo estava cheia de pessoas comuns—homens, mulheres, até crianças—mas todos os olhos estavam nela, na plataforma elevada onde Gammas estavam ao lado dela, segurando rifles.
Atrás deles, eu vi outros homens e mulheres, suas roupas esfarrapadas, seus rostos abatidos. Suas mãos estavam amarradas, seus corpos tremendo enquanto eram forçados a se ajoelhar. Alguns deles ousaram encontrar o olhar de Ellen, mas a maioria mantinha suas cabeças baixas, como se conhecessem seu destino.
"Os inimigos da coroa mostraram suas verdadeiras cores!" A voz de Ellen falou em um microfone. "Eles buscam desmantelar nosso modo de vida, desafiar minha autoridade, sua autoridade! Eles desejam nos roubar do poder, transformar todos vocês em escravos!"
A multidão estava em silêncio, com medo de falar, com medo de se mexer.
"Então que isso sirva de lição para qualquer um que ouse desafiar a monarquia." Os lábios de Ellen se curvaram em um sorriso enquanto ela levantava a mão. "Que isso seja um lembrete de que a desobediência não será tolerada. Vocês pagarão por sua traição com suas vidas."
Ela abaixou a mão, e como se em sinal, os soldados atiraram.
Eu gritei enquanto assistia os corpos caírem em uníssono. O som pungente de suas formas inertes batendo no chão ecoou em meus ouvidos. Eu queria desviar o olhar, fechar meus olhos, mas não conseguia. Eu era forçada a assistir, a testemunhar essa crueldade sem sentido. Eles haviam sido rebeldes. Eu tinha ouvido histórias de rebeldes na alcateia da boca de alguns Gammas, mas eu achava isso absurdo.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto incontrolavelmente agora, meu corpo tremendo com soluços que eu não conseguia conter. Minha irmã havia ordenado essas execuções—esses assassinatos—e ela havia feito isso sem um pingo de remorso. Vendo a pobreza fora do centro da alcateia, eu os entendia. Eles não estavam errados. Eles queriam mudança, mas foram mortos por isso.
Hades estava perto de mim, observando cada uma das minhas reações, mas eu não conseguia olhar para ele. Eu não conseguia enfrentá-lo ou a satisfação distorcida que eu sabia que estaria em seu olhar.
"Você gostou disso, não é?" Sua voz estava baixa, quase divertida. "Execuções públicas. Uma exibição de poder para o povo temer. Você é bastante tirana, não é?" Foi por isso que ele foi tão cruel sobre eu tentar ajudar a criança. Ele acreditava que eu era desumana. Como ele. Ele achava isso engraçado.
Meu coração apertou dolorosamente no peito.
Isso foi obra da Ellen. Mas ele pensou que foi minha. Ele pensou que eu tinha cometido essas atrocidades, e eu não tinha como provar o contrário. Nenhuma maneira de mostrar a ele que eu não era ela, que eu não era um monstro.
Eu tinha que parar isso. Eu tinha que fazê-lo parar.
"Hades..." Minha voz quebrou, mal um sussurro. "Por favor, pare com isso. Eu não posso—"
"Você não pode?" Sua voz cortou o ar como uma lâmina, fria e implacável. "Estamos apenas começando, princesa."