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A Crônica do Contador de Histórias

Após uma vida de poucas conquistas e repleta de arrependimentos, Vanitas recebe uma segunda chance ao reencarnar como um bebê em um mundo onde magia e espadas fazem parte do cotidiano. Determinado a deixar seu passado para trás, ele abraça essa nova chance, vivendo com uma trupe itinerante de artistas da corte. Entre apresentações e jornadas por novas terras, Vanitas aprimora seu talento nato para o alaúde, mas é na magia que seu verdadeiro poder desperta. Sob a tutela da poderosa Arcanista Marceline, ele mergulha nos segredos da simpatia, a arte mágica que, desde o início, acendeu seu desejo de invocar o vento. No entanto, o destino de Vanitas toma um rumo inesperado quando cruza caminho com o enigmático grupo Sombraim, cujos segredos ocultos trazem à tona verdades sombrias sobre o mundo e sobre sua própria reencarnação. Em busca de respostas, Vanitas parte em uma jornada por terras desconhecidas, onde cada nova descoberta o arrasta ainda mais profundamente para os segredos esquecidos da história. Ao longo do caminho ele encontra aliados improváveis, constrói amizades inquebráveis e se apaixona... mas o que realmente aguarda em seu destino é algo que supera tudo isso. Com a chance de mudar o mundo em suas mãos, Vanitas precisa decidir entre seguir o caminho das revelações ou se perder nos laços do amor e da amizade. O peso dessa escolha pode mudar para sempre o curso de sua vida — e a de todos ao seu redor.

porep · Fantasi
Peringkat tidak cukup
66 Chs

XLVII. MAGNÓLIO

O Magnólio, o prédio mais antigo da Academia, possuía uma aura única, moldada ao longo dos séculos. Crescendo lentamente em todas as direções, parecia uma criatura arquitetônica, absorvendo construções e pátios menores à medida que se expandia, como um fungo ambicioso tentando cobrir cada centímetro de terra disponível.

Navegar por seus corredores era um desafio. As passagens faziam curvas inesperadas, terminavam em becos sem saída ou seguiam caminhos tortuosos e desconexos. Às vezes, levar vinte minutos para atravessar uma sala de aula para outra, apesar de estarem a poucos metros de distância, era comum. Os alunos mais experientes conheciam os atalhos, sabiam quais oficinas e salões de conferência podiam cortar para chegar ao destino desejado.

Um dos pátios estava completamente isolado, só acessível através de uma janela. Boatos diziam que havia salas emparedadas, com estudantes que nunca saíram, cujos espíritos vagavam pelos corredores durante a madrugada, lamentando suas desventuras e reclamando da comida do Rancho.

Minha primeira aula aconteceu no Magnólio. Felizmente, fui advertido pelos meus colegas de dormitório sobre a complexidade do prédio. Apesar de ter me perdido, consegui chegar com tempo de sobra.

Quando finalmente encontrei a sala, fiquei surpreso ao ver que se assemelhava a um modesto anfiteatro. Os assentos eram dispostos em semicírculos elevados ao redor de um pequeno palco. Em cidades maiores, minha trupe já havia se apresentado em lugares semelhantes, o que me trouxe certa tranquilidade enquanto encontrava um assento ao fundo.

Enquanto os outros alunos entravam lentamente, senti-me nervoso. Todos eram alguns anos mais velhos que eu. Revisei mentalmente as trinta primeiras conexões de simpatia enquanto o anfiteatro se enchia de estudantes ansiosos. Éramos cerca de cinquenta, ocupando quase três quartos da sala. Alguns traziam penas e papel encadernado, outros, tábuas revestidas de cera. Eu não havia trazido nada, mas não me preocupei, confiava em minha memória.

Mestre Hilme entrou na sala e dirigiu-se ao tablado, posicionando-se atrás de uma grande bancada de pedra. Com sua toga escura de professor, ele impunha respeito. Em poucos segundos, os murmúrios e o arrastar de pés cessaram.

— Então, vocês querem ser arcanistas? — começou ele, com uma voz grave. — Querem a magia das histórias que ouviram na infância. Canções sobre o Grande Valoran, cortinas de fogo, anéis mágicos, mantos invisíveis, espadas que nunca perdem o fio, poções que fazem voar? — Ele balançou a cabeça, desgostoso. — Se é isso que procuram, podem sair agora. Isso não existe aqui.

Nesse momento, um estudante atrasado entrou rapidamente na sala, procurando um lugar. Hilme o notou imediatamente.

— Ah, você finalmente decidiu aparecer. Qual é o seu nome? — perguntou ele, sem esconder o desdém.

— Gale, senhor. Desculpe, tive dificuldade... — começou o menino, nervoso.

— Gale — interrompeu Hilme. — Por que você está aqui?

Gale hesitou por um instante antes de responder.

— Para a aula de Princípios de Simpatia, não?

— Não tolero atrasos. Amanhã, prepare um relatório sobre o desenvolvimento do relógio de simpatia, suas diferenças em relação aos anteriores e seu impacto no tratamento preciso do tempo.

— Sim, senhor — respondeu Gale, remexendo-se na cadeira.

Satisfeito, Hilme prosseguiu:

— Muito bem. O que é simpatia?

Outro estudante entrou, segurando um livro de capa dura. Era jovem, talvez apenas dois anos mais velho que eu. Hilme o interceptou antes que ele pudesse sentar.

— Olá! E você, quem é? — perguntou, com uma falsa cortesia.

— Basil, senhor — respondeu o garoto, visivelmente desconfortável.

— Basil, por acaso você é de Iyan? — perguntou Hilme, com um sorriso cortante.

— Não, senhor.

— Que pena. Ouvi dizer que os iyllianos usam o sol para medir o tempo, mas, já que você não é iylliano, não há desculpa para o seu atraso. Para amanhã, prepare um relatório comparando o calendário lunar de Iyan ao calendário mais civilizado de Aturia. Sente-se.

Basil sentou-se sem protestar, como um cão abatido.

Hilme abandonou qualquer pretensão de dar aula e aguardou o próximo aluno atrasado. O anfiteatro estava em silêncio quando uma jovem entrou, hesitante.

Ela tinha cerca de dezoito anos, uma raridade naquela Academia, onde a proporção de homens para mulheres era de dez para um.

A atitude de Hilme suavizou-se imediatamente. Ele subiu os degraus rapidamente para cumprimentá-la.

— Ah, minha cara, que bom que chegou. — Ele a conduziu até o primeiro assento disponível.

A jovem ficou visivelmente constrangida com tanta atenção.

— Peço desculpas, Mestre Hilme. O Magnólio é maior do que imaginei.

— Não se preocupe. Agora você está aqui, e isso é o que importa.

Ele a ajudou a organizar seus materiais antes de voltar ao tablado.

— Desculpe-me, senhorita — disse ele. — Qual é o seu nome?

— Rae.

— Rae, seria um diminutivo de Raenna?

— Sim — respondeu ela, sorrindo.

— Raenna, poderia cruzar as pernas?

O pedido foi feito com tanta seriedade que ninguém ousou rir. Com uma expressão intrigada, Raenna cruzou as pernas.

— Agora que as portas do inferno estão fechadas — disse Hilme, retomando seu tom habitual —, podemos começar.

E assim ele fez, ignorando a jovem pelo resto da aula. Uma gentileza involuntária, a meu ver.

Foram duas horas e meia longas e tediosas. Ouvi atentamente, na esperança de aprender algo novo, mas tudo o que ele discutiu estava em um nível muito básico. A aula foi um colossal desperdício de tempo.

Quando Hilme dispensou a turma, corri até ele enquanto se dirigia para uma porta lateral.

— Mestre Hilme?

Ele se virou para mim.

— Ah, o nosso prodígio. Não fui rápido demais para você, fui?

— O senhor explicou os pontos fundamentais com clareza. Os princípios mencionados hoje servirão como uma boa base para os outros alunos.

A diplomacia é grande parte do trabalho dos integrantes de trupes. Hilme inflou-se um pouco com o elogio, mas depois olhou-me com mais atenção.

— Outros alunos?

— Eu já estou familiarizado com os fundamentos, senhor. Conheço as três leis e os catorze corolários, além dos noventa primeiros...

— Sim, sim, entendo — ele me interrompeu. — Estou ocupado agora. Podemos falar sobre isso amanhã, antes da aula. — Ele virou as costas e se afastou rapidamente.

Aceitei o que me foi oferecido e fui ao Arquivo.

Se não aprendesse nada nas aulas de Hilme, poderia muito bem começar a me educar por conta própria.