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Capítulo 1

"Então, você aceita, minha criança?"

Zilda, soluçando por dentro, assentiu. E então a morena, cujos olhos eram negros como a escuridão de seu próprio coração, tirou de suas vestes um cálice dourado, cravejado de rubis, e o entregou a Zilda. Ela pegou uma pequena faca, que tinha um cabo entalhado e uma inscrição em um idioma que Zilda desconhecia completamente, e pressionou a ponta da arma contra a pele de seu próprio pulso. Ela levantou o braço dela para que ele ficasse bem sobre o cálice e pressionou a lâmina contra sua pele, fazendo com que o sangue começasse a pingar.

Depois de recitadas algumas palavras, como uma espécie de encantamento, Zilda percebeu que uma quantidade considerável do líquido vermelho e viscoso estava enchendo o cálice. Morana, a bruxa, levou o ferimento à boca e lambeu o local algumas vezes, parando o sangramento instantaneamente.

"Quem aceita este vinho da vida?" Ela perguntou à menina chorando na frente dela, cujos olhos eram tão azuis como um céu de verão e agora estavam avermelhados e inchados de tanto ela chorar.

"Zilda, filha de Tybalt e Maëlys." A garota respondeu com pesar. Ela sabia que sua vida mudaria completamente naquela noite, ela só não conseguia imaginar o quanto.

"Beba, criança. Beba este suco e seja recompensado com o que seu coração mais deseja." Morana observou avidamente Zilda levar o cálice aos lábios e, depois de fechar os olhos e respirar fundo, derramar todo o seu conteúdo na própria boca.

Zilda esperava sentir o gosto metálico do sangue, pois já havia machucado a mão várias vezes, enquanto ajudava nas tarefas da casa e do castelo, e quase sempre levava o ferimento à boca para estancar o sangramento. No entanto, para sua surpresa, o que invadiu sua boca foi um líquido espesso, mas doce, com um aroma frutado que fez sua cabeça ficar leve.

A boa sensação não durou muito, sendo substituída por um formigamento que desceu pela garganta, além do gosto amargo. Ela podia sentir algo percorrendo seu corpo inteiro, espalhando-se por todo ele, queimando como fogo. Ela queria gritar, mas nenhum som saiu de sua boca. Caindo no chão, Zilda estremeceu e lutou, agonizando no que parecia ser uma morte terrivelmente lenta. Seu peito doía, seu coração estava sendo amassado por uma mão invisível. E então, a escuridão engolfou a sua mente.

Morana, cujo nome era o da Deusa do Inverno e da Morte, caminhou ao redor do corpo da menina, sorrindo, regozijando-se por seu plano ter dado certo. Ela viu aquele lindo cabelo laranja avermelhado espalhado pelo chão, cobrindo parte do rosto da garota que chamavam de Zilda - cujo nome combinava com ela, pela beleza que era -, enquanto ela se contorcia de dor, até que seu corpo parasse de se mover. Morana odiava a menina, pois Zilda se parecia muito com a própria mãe, exceto pelos olhos, que eram parecidos com os do pai.

"Você roubou meu amor de mim, Maëlys, e estou retribuindo o favor." Ela disse suavemente, usando os dedos dos pés descalços para cutucar o corpo que estava deitado no chão. Seu vestido preto arrastou pelo chão atrás dela, enquanto ela caminhava até o cálice caído. Os rubis, outrora vermelhos brilhantes, agora estavam opacos e cinza. "Agora, Lobo, é a sua vez."

*

"Oh, por favor, eu não posso acreditar que vou ter que ir para o Colorado, para resolver esse maldito problema!" Disse Faolán Quinn, Alfa do Mac-Tire Pack, bufando, enquanto se recostava na cadeira do escritório, passando a mão pelo cabelo escuro. Seus olhos verdes brilharam com irritação.

"E o que você acha que eu deveria ter feito? Ameaçar mordê-la?" Zander Williams respondeu de forma atrevida, os braços cruzados na frente do peito. Ele era quase tão alto quanto Faolán, mas não tão forte. Sendo o Beta, ele era responsável por cuidar de certos detalhes, enquanto o Alfa deveria permanecer com o bando, garantindo a proteção de seus membros e de seu território.

"Claro que não." Faolán respondeu, suspirando profundamente. Eles não podiam sair por aí ameaçando humanos, como faziam com outros lobisomens.

"Não que a ideia não tenha passado pela minha cabeça. Para um humano, ela é muito bonita e atraente." Zander falou, sorrindo, seus olhos sonhadores. Faolán ergueu uma sobrancelha e balançou a cabeça em reprovação.

"Você não tem jeito, mesmo." Ele bateu as pernas e se levantou. "Vou fazer as minhas malas. Não posso ir daqui para o Colorado correndo como um lobo. Vamos ver se essa humana pode superar o poder de um Alfa. Apesar de tudo, ela ainda é um animal."

Faolán saiu pela porta do escritório, com Zander no encalço dele.

Assim que completou quinze anos, decidiu que queria mais da vida. E, vendo como a tecnologia do mundo moderno estava se tornando cada vez mais presente, especialmente com o GPS e a abençoada Internet, Faolán entendeu que ou ele fazia algo a respeito, ou o bando não seria capaz de permanecer escondido dos humanos por muito mais tempo. . Ele havia pedido permissão a seu pai, Emyr, para que pudesse ser enviado a uma universidade para entender melhor como o mundo humano funcionava. Dessa forma, ele saberia como proteger a si mesmo e a Matilha, dos humanos. Emyr era um Alfa responsável e de mente aberta, portanto, ele concordou com os desejos de seu filho, mas com a condição de que o menino nunca esquecesse onde estava seu coração, bem como sua responsabilidade.

Faolán concluiu sua especialização na área de Gestão e Administração de Empresas. E, nem dois dias depois de receber o Diploma, o território de sua matilha foi atingido por um terrível incêndio. Até agora, eles não sabiam como isso tinha acontecido, apesar da suspeita de que era um bando inimigo ou os rogues. Infelizmente, seu pai foi uma das vítimas fatais, o que o forçou a se tornar Alfa mais cedo.

Suas terras foram danificadas a ponto de não serem mais adequadas para o plantio, o que fez com que eles precisassem se mudar. O problema era conseguir uma boa terra. E no mundo moderno você tinha que provar ser o dono de sua terra, ou esperar pelo belo dia em que um empreiteiro iria visitar e arrebata-la.

Ele encontrou o lugar perfeito para eles. No entanto, outra empresa decidiu comprá-lo, entrando em uma disputa com ele.

"Eu vou tomar um banho, primeiro." Ele informou a Zander, que concordou e desviou a caminho do campo de treinamento.

Faolán encheu a banheira e se deixou mergulhar na água morna por alguns minutos. Pensar que ele havia comprado a construtora UpRise há um ano para aumentar o capital da Matilha e, mais tarde, poder expandir o território, sem imaginar no que acabaria tendo que usar o dinheiro para movimentar o bando por inteiro. E ele poderia facilmente ter feito isso, se não fosse por esse CEO intrometido da Paradise, se colocando no meio dos seus negócios. Agora ele, que mal chegara ao bando e se tornara oficialmente o Alfa, teria que deixar Wyoming e estar a mais de 640 quilômetros de distância. Amanhã ele teria que fazer o anúncio para os membros do bando e sabia que poderia causar instabilidade, afinal, o território sem um Alfa nele era alvo de um inimigo, ainda mais levando em conta a situação deles.

Ele terminou de tomar banho e vestiu uma roupa simples. O dia estava abafado e ele não tinha interesse em suar. Shorts cinza e camiseta preta foram as duas primeiras peças de roupa que viu ao abrir o guarda-roupa, na parte de 'roupas de verão'. Ele os vestiu, deu uma olhada no espelho enquanto penteava o cabelo e passava um pouco de colônia. Quando ficou satisfeito com sua aparência, voltou ao armário e tirou a pequena mala da prateleira de cima. Ele não pretendia passar muito tempo fora, talvez um ou dois dias, no máximo. Depois de pegar algumas mudas de roupa e colocá-las dentro de sua maleta, ele arrumou um par de chinelos e alguns itens pessoais, incluindo sua identidade civil. No passado, os lobisomens não se registravam sob a lei do governo americano; mas agora, com tecnologia avançada, alguns membros, como Alfas, Betas e outros que podem precisar sair do bando, precisavam ter identificação oficial.

Assim que a mala estava quase pronta, exceto pelos itens que ainda usaria, Faolán sentou-se à mesa e ligou o laptop para procurar passagens de avião para o dia seguinte. Ele decidiu que faria o anúncio esta noite, sobre a necessidade de partir, e explicaria a situação ao bando.

'Eu sinto que essa viagem promete!' Rafe, o lobo dentro de Faolán, falou..

'Assim espero, Rafe. Eu estou cansado e não pude nem chorar em paz a morte do meu pai. ' Faolán respondeu mentalmente.

'Eu sei. Infelizmente, esse é o carma de um Alfa.' Rafe declarou com pesar.

Rafe estava com Faolán desde que o mesmo tinha feito quinze anos. Normalmente, os lobos aparecem quando os humanos completam dezesseis anos, mas para os Alfas, é sempre um ano antes. Eles compartilhavam o mesmo corpo, as mesmas sensações, assim como os mesmos gostos em tudo. Eles eram a combinação exata entre lobo e homem, fazendo um lobisomem completo. O lobo era o espelho do coração do homem.