O silêncio carregado de emoções no escritório de João foi interrompido abruptamente quando a porta se abriu com um estrondo. Uma mulher bonita e autoritária entrou, seus saltos ecoando no piso de madeira. Seus olhos imediatamente encontraram os de João, e ela sorriu, um sorriso possessivo que não passou despercebido por Clara.
— João, querido, precisamos discutir os detalhes do jantar de amanhã — disse a mulher, avançando sem hesitação.
João se levantou, visivelmente desconfortável, e lançou um olhar de desculpas a Clara. — Clara, esta é Vanessa, filha do amigo de meu pai.
Vanessa lançou um olhar avaliativo para Clara, que, sentindo-se deslocada e constrangida, deu um passo para trás.
— Ah, então você é Clara — disse Vanessa, com um tom que beirava a condescendência. — Já ouvi falar de você.
Clara, lutando para manter a calma, forçou um sorriso. — É um prazer conhecê-la.
João tentou intervir, percebendo o desconforto crescente. — Vanessa, podemos falar sobre o jantar mais tarde? Estou no meio de uma reunião importante.
Vanessa ignorou a sugestão, se aproximando ainda mais de João e pousando uma mão possessiva em seu braço. — Não podemos adiar isso, João. Seu pai insistiu muito para que estivéssemos juntos, especialmente depois de tudo o que ele passou.
Clara sentiu um nó se formar em seu estômago. A insinuação de Vanessa era clara, e a dor da antiga despedida voltou com força total. Ela havia voltado para reencontrar João, mas agora via diante de si uma barreira que não esperava.
Sentindo o rosto começar a corar, Clara tentou manter a compostura. O medo de que Vanessa percebesse seus sentimentos por João e criasse problemas para o relacionamento deles com sua noiva a fez sentir-se ainda mais insegura. Tentando parecer calma, ela respirou fundo e decidiu que precisava se afastar antes que a situação se complicasse ainda mais.
— João, acho que vou indo — disse Clara, sua voz mais frágil do que gostaria. — Foi bom te ver novamente. Podemos nos encontrar outra hora para conversar com mais calma?
João olhou para Clara com um misto de tristeza e arrependimento, percebendo o desconforto que a situação estava causando. — Claro, Clara. Vamos nos falar em breve, prometo.
Antes que Clara pudesse sair, Vanessa virou-se para ela com um sorriso cínico. — Clara, você sabe que João e eu estamos noivos, não sabe? — disse ela, puxando João para perto e beijando-o na bochecha. — Seria uma honra para nós se você aceitasse ser madrinha de nosso casamento.
João ficou visivelmente nervoso, a tensão no ar era palpável. — Vanessa, não era o momento para isso — disse ele, tentando esconder sua frustração.
Clara, surpresa e magoada, manteve a compostura com dificuldade. — Obrigada pelo convite, Vanessa. Fico feliz por vocês — respondeu, com um sorriso que não chegou aos olhos.
Quando Clara finalmente saiu da sala, João mostrou sua irritação para Vanessa. — Você sabe a importância de Clara na minha vida. Nosso relacionamento é um acordo, é um contrato entre nossos pais. Você não tem o direito de intimidar Clara.
Vanessa se retraiu, tentando disfarçar sua irritação, mas não ia abrir mão de João. — Eu só estava tentando ajudar, João — disse ela, com um tom mais suave.
Assim que João saiu do escritório, Vanessa, ainda furiosa, pegou o telefone e ligou para o pai. Com lágrimas nos olhos, ela começou a chorar. — Pai, o primeiro amor de João voltou. Eu preciso da sua ajuda. Você precisa falar com ele e apressar nosso casamento antes que eu o perca.
Do outro lado da linha, o pai de Vanessa ouviu a angústia na voz da filha. — Calma, Vanessa. Vou falar com João e resolver isso. Não se preocupe, você não vai perder João.
Clara, enquanto caminhava pelo corredor, refletia sobre os encontros e desencontros da vida. Voltar para casa não era tão simples quanto imaginara, mas ela estava disposta a enfrentar qualquer desafio. Afinal, a jornada dela estava apenas começando, e ela sabia que, de uma forma ou de outra, encontraria seu caminho novamente.