VOCÊ ESTA LENDO (O REINO TRIBAL)
Capítulo 9: Segredos de um Velhote
Sem mais complicações na passagem pelo portão, chegou minha vez de pagar a taxa.
— "Ei, moleque!" — chamou o guarda, sua voz grave e autoritária.
— "Um lingote de cobre se quiser passar!"
Ele era um homem alto, com braços longos e musculosos, e mostrava intimidação em cada movimento. Na cintura, pendia uma espada de ferro, a mesma que havia usado impiedosamente para decepar o braço do homem que o desafiou minutos antes.
Mantendo a compostura, entreguei o lingote sem hesitar.
— "Aqui está, senhor."
Pegou o cobre, examinou rapidamente e, com um gesto, permitiu minha entrada. Mas antes que eu pudesse passar pelo portão, sua voz ressoou novamente.
— "Garoto! Você tem um ótimo corpo! Não gostaria de se juntar ao nosso grupo?"
O tom dele era quase gentil, mas ainda carregava a força de uma ordem disfarçada de convite.
— "Somos bem remunerados, e tenho certeza de que alguém com suas habilidades poderia se dar bem conosco."
Olhei diretamente para ele e respondi sem rodeios:
— "Não estou interessado no momento, senhor."
Minha resposta foi breve e firme. Eu sabia que me misturar com um grupo que matava sem hesitar era uma linha que jamais cruzaria.
O guarda, visivelmente irritado com minha recusa, me lançou um olhar de desdém.
— "Hum... tolo arrogante! Acha que vai ter outra oportunidade como essa..."
— murmurou, cuspindo as palavras venenosas.
Ignorei sua provocação e segui em frente, determinado a não perder tempo com alguém como ele.
Ao cruzar o grande portão, fui imediatamente envolvido por uma atmosfera completamente diferente da tranquilidade que conhecia na minha aldeia. A vila era um caos absoluto.
Pessoas corriam de um lado para o outro, esbarrando umas nas outras, rindo alto, trocando insultos e, em alguns casos, partindo para brigas no meio da rua. Vendedores gritavam desesperadamente, tentando atrair o máximo de clientes para suas barracas, enquanto outros negociantes discutiam acaloradamente, para persuadir os fregueses.
O barulho sem fim era irritante, estava ensurdecedor.
Caminhei devagar, tentando me desviar da confusão ao observar tudo no meu redor. Não demorou muito para que eu avistasse a primeira barraca, aparentemente organizada, e me dirigisse até lá.
Fui cumprimentado assim que cheguei:
— "Olá, rapaz! Posso ajudá-lo a encontrar o que deseja?"
O dono da barraca era um velhinho baixinho, com uma longa barba branca e olhos pequenos que eram atentos. Por trás do seu sorriso amistoso, indicava esconder peculiaridades.
— "Ah, sim... gostaria de saber, se não for incômodo..."
— "Diga, garoto!"
— "O senhor por acaso tem linhas de lã para vender?"
O semblante do velho mudou instantaneamente. Ele franziu o cenho, e sua reação foi tão inesperada quanto assustadora.
— "DESGRAÇADO!!!" — gritou ele, exalando uma força que era impossível para sua idade.
Parei, perplexo, meu corpo ficou congelado pelo susto. Por um momento, me perguntei se tinha cometido algum erro terrível.
— "Não, senhor... desculpe pela pergunta!"
— respondi, tentando apaziguar a situação.
O velho suspirou profundamente, como se tentasse recuperar o controle de si mesmo.
— "Quieto, pirralho! Minha fúria não é contigo!" — disse ele, sua voz mais baixa agora, ainda levada de irritação.
O silêncio que se seguiu, continuou mais desconcertante. O velho começou a bater o dedo indicador repetidamente na mesa da barraca, o olhar fixo no vazio, fazia ele mergulhar em algum pensamento distante.
— "Éeeeh... posso ir embora, senhor?"
— perguntei, hesitante, tentando escapar daquela situação esquisita.
Quando me virei para sair, convencido de que ele era apenas mais um dos excêntricos daquela vila, o velho tossiu de maneira exagerada.
— "Coff! Coff! Pera aí, pirralho! Volte aqui!"
— gesticulou a mão, me chamando.
Hesitei, mas algo nele despertava minha curiosidade. Embora parecesse um tanto maluco, tinha algo em seu tom que me impedia de simplesmente ignorá-lo.
— "Calma aí... eu sei onde você pode encontrar as linhas de lã que está procurando."
Minhas sobrancelhas se ergueram. Essa informação dita, mudou rapidamente meus pensamentos.
— "Sério? Onde eu posso encontrá-las?"
— perguntei, ansioso.
O velho abriu um sorriso enigmático e continuou:
— "Ah, mas é o seguinte: para conseguir essa informação, você terá que dizer algumas coisas que vou lhe ensinar. É um código. Beleza?"
Eu não tinha outra escolha. A busca pelas linhas de lã que minha avó tanto queria ainda estava longe de terminar, e essa parecia minha melhor chance. Concordei com um aceno, disposto a seguir o jogo daquele velho estranho.
— "Muito bem, garoto. Ouça com atenção..." — falou ele, seu sorriso se alargando até as orelhas. Como se estivesse prestes a revelar algo grandioso.