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35° Andar

O clima estava úmido e semi ensolarado, ainda assim Agaya sentia por todo o corpo pequenas agulhadas indolores devido a garoa que persistia em cair.

Mesmo assim optou em não utilizar-se de um guarda-chuva mesmo quando oferecido pelo servo.

A pedido de Mary aqui estava ela, acompanhada de um servo para passear pelo Distrito da maneira como desejasse.

Após debater interiormente por um tempo, determinou que talvez não fosse uma ideia tão ruim caso utilizada da maneira correta.

Sua ideia passou a ser aproveitar o passeio para se familiarizar com a geografia local e regiões importantes.

O servo ao seu lado iria ajudá-la como um guia, levando-a para onde escolhesse ir por todo um dia completo.

Sem muita informação, decidiu buscar auxílio com ele...

- Quais suas recomendações?

O servo olhou-a de relance admirando sua beleza e a seguir contemplou as possibilidades internamente antes de responde-la animadamente.

- Hmm... Para começarmos recomendaria a praça principal do Distrito, ela é bem famosa por seu designer único.

Agaya não pensou muito a respeito, afinal todo o Distrito era baseado em um designer unicamente especial.

Então assentindo levemente, acompanhou o servo alguns passos mais atrás, aproveitando para observar mais detalhadamente o que não se foi possível observar no dia anterior devido a dificuldade visual trazida pela tempestade.

As vestimentas de todos os moradores permaneciam distópicas e estranhas, embora Agaya estivesse limitada a sua visão espiritual.

O cheiro de pós chuva era agradável de se sentir, as ruas também eram bem organizadas e muito bem limpas.

O clima animado e bem humorado dos moradores tornava o ambiente ainda mais convidativo para forasteiros.

Agaya se distraiu brevemente ao observar algumas famílias felizes indo e vindo, fazendo-a se lembrar de sua própria família.

Mas rapidamente afastou essas lembranças e se focou em seguir o servo.

Não demorou muito para chegarem na praça principal considerando que a torre se localizava no centro do Distrito.

Uma praça suspensa no ar coberta por um teto semi transparente onde diversas plantas exóticas percorriam o local fornecendo-o bastante vida.

Algumas copas de árvores de diferentes tipos também cobriam o ambiente e pássaros e aves permaneciam em seus galhos tranquilamente.

Ao que parece essa praça suspensa no ar se prendia apenas em algumas correntes posicionadas em suas pontas.

Bancos também eram espalhados por todo o local onde jaziam inúmeros residentes, alguns acompanhados dos mais diversos animais.

Um local deveras animado, bem populado e decorado...

Por um breve momento Agaya imaginou como seria estar ali durante a tempestade de ontem.

Como seria estar isenta de sofrer em meio a tal adversidade e simultaneamente aproveitar a vista de uma bela noite chuvosa através desta cobertura semi transparente.

Caminhando pela praça, resolveu se sentar por um tempo enquanto o servo lhe oferecia algumas opções do que poderia comer ao redor da praça.

Agaya desejou apenas algo simples, algo para enganar temporariamente a fome, então o servo lhe ofereceu alguns salgados.

Recebendo uma resposta positiva, pediu licença e foi em sua busca.

Alguns restaurantes e barracas ficavam localizados exatamente abaixo da praça, utilizando-se dela como cobertura.

Enquanto esperava voltou a observar a praça e as pessoas nelas...

O Distrito sempre foi um local pacífico e  calmo, para forasteiros vindo do continente poderia parecer tedioso morar aqui, enquanto para outros um sonho.

Diferente do Distrito, o continente é um lugar caótico envolvido em jogadas políticas e guerras, nunca sabendo quando será apunhalado pelas costas.

Então se comparado a isso, o Distrito, um lugar sem richas, muito menos guerras ou confrontos internos e externos, poderia parecer um paraíso para alguns e um inferno para outros.

Agaya em questão, sempre acostumada com a monótona vida que possuía com sua família, não se sentiu deslocada e em vez disso, achou agradável.

De tempos em tempos alguns moradores olhavam para ela admirados por sua beleza, enquanto outros apenas ignoravam sua presença.

Após algum tempo o servo retornou com alguns salgados em mãos.

Agaya olhou curiosamente para os salgados em sua mão e o questionou sobre eles.

— O que são?

O servo orgulhosamente apontou os pontos fortes dos salgados.

— Isso é uma coxinha, feita de massa com frango desfiado por dentro.

Entregando para Agaya, continuou explicando sobre os outros salgados.

— Essa é uma bolinha de queijo!

Agaya experimentou um por um, enquanto ouvia as descrições entusiasmadas do servo.

Particularmente a que mais lhe agradou foi a bolinha de queijo, com um design pra lá de simples, mas com um gosto comum, porém, muito bom.

Após comer todos os salgados e finalmente terminar de ouvir as explicações do servo, voltaram a andar pela praça.

Inicialmente apenas caminharam entorno da praça, até que o servo decidiu levá-la até uma das ruas mais movimentas de comércio do Distrito.

De acordo com ele, hoje era o dia em que forasteiros chegariam com algumas mercadorias do continente e lá estariam vendendo-as.

Agaya de repente teve um pensamento astuto, ela poderia fugir com algum comerciante?

Mas o que poderia oferecer para que aceitassem correr o risco de exporta-la?

Não só isso, como poderia garantir sua segurança mesmo que fugisse? Afinal, ela ainda não sabe nenhuma maneira de se defender.

Que a propósito, era algo que a vinha  incomodando demais recentemente.

Mesmo antes de chegarem a rua dita pelo servo já se depararam com enormes multidões.

Parecia que apesar de relativamente poucos habitantes haver no Distrito, quando concentrado em um só local ainda assim haveria grandes multidões.

Se espremendo aqui e ali, conseguiram atravessar a parte mais movimentada do cruzamento, chegando até a rua dita pelo servo.

Nesta rua haviam diversas barracas simples espalhadas por todo o perímetro, com diversos forasteiros em cada uma.

Hoje não é só um dia onde os forasteiros possuem permissão para vender alguns de seus produtos, como também um dia onde eles mesmo compram e revendem alguns dos produtos produzidos apenas aqui no Distrito.

A divisão monetária permaneceu igual a de todo o continente de acordo com os desejos de Mary de facilitar tais eventos.

Embora ainda existam alguns comerciantes que optassem pela trocas de mercadorias de igual valor.

Agaya caminhou lentamente pela rua ao lado do servo enquanto observava distraidamente as barracas.

Ao se interessar por uma delas se aproximou curiosamente e abordou o vendedor sobre o que vendia.

O mesmo gentilmente explicou serem pulseiras feitas a mão e até chegou a oferecer uma delas apenas pela bela aparência de Agaya.

Agaya meio incrédula com tal atitude aceitou relutantemente uma das pulseiras que lhe chamou atenção.

Uma pulseira branca com uma pequena lua azul minguante no centro.

Sua textura apesar de levemente áspera, foi muito bem feita, enquanto a lua parecia ser um cristal azul brilhante.

Enquanto contemplava a pulseira feita a mão e agradecia o homem sinceramente, um tumulto estorou em uma barraca mais a frente.

Agaya levantou a cabeça em busca da origem do tumulto, determinado através de sua delimitada visão um homem de estatura mediana e feições rudes gritando com um comerciante.

Embora não soubesse o que havia ocorrido, não esperava presenciar um richa logo após chegar aqui.

Por enquanto decidiu apenas observar o desenrolar dos eventos, afinal, este local deveria ter alguma ordem que regia a leis e protegia os moradores.

Agaya esperava poder presenciar esta ordem cumprindo seu dever para que pudesse ter um conhecimento um pouco mais aprofundado dos parâmetros de força deste local e do mundo exterior em si.

Em momentos como este que ela percebe como a proteção excessiva de sua mãe e sua sensibilidade extrema a informações do exterior prejudicam-a atualmente.

Mesmo assim não pode culpar uma mãe por tentar proteger sua filha da crueldade do mundo.

Suspirando inconsciente, passou a observar passivamente o desenrolar da cena como um espectador comum.

***

35° andar da Torre

Um silêncio arrepiante permeava o corredor obscurecido apesar da presença de passos.

Com passos leves e completamente silenciosos, Mary caminhava arrogantemente pelo carpete que percorria todo o trajeto.

A uma pequena distância a frente havia uma porta semiaberta onde um feixe de luz amarelada que iluminava o corredor.

Quão mais próximo estivesse da porta, mais ruídos podiam ser ouvidos de seu interior, até que houvesse de se aproximar bem da porta para que pudesse distinguir o que seriam os ruídos.

Algumas vozes debatendo entre si soavam persistentemente nos ouvidos de Mary até que sua presença houvesse de ser notada na porta entreaberta.

Os homens e mulheres reagiram rapidamente ao cumprimentarem-a em uníssono.

— Damos as boas-vindas a Vossa Majestade!

Mary ignorou a saudação dos presentes enquanto parecia estar a procura de alguém em específico.

Uma das mulheres tomou a iniciativa de dizer:

— O Alquimia Sênior estará aqui em alguns instantes.

Mary se voltou para ela e após alguns milésimos a encarando, acenou em entendimento com a cabeça e caminhou para o inteiror da sala para se sentar em uma poltrona livre ali dentro.

Como a mulher havia dito, não demorou nem alguns minutos para que o homem nomeado como alquimista sênior comparecesse naquele local.

Um homem de estatura magra, pele pálida com grandes olheiras abaixo de seus olhos vermelhos, acompanhado de um cabelo ruivo desgrenhado.

Seu olhar percorreu preguiçosamente a sala até se deparar com a figura de Mary sentada na poltrona mais distante.

Inclinando diagonalmente a cabeça, cumprimentou superficialmente os demais presentes e logo em seguida os dispensou.

Caminhando até a mesa, pegou um copo de cafeína com seu nome nele e questionou abertamente:

— Deseja algo, Milady?

Mary finalmente abriu seus olhos e se deparou com as costas levemente curvadas do homem e seus olhos exautos aguardando por uma resposta.

— Cada vez que o vejo me questiono se deveria dá-lo mais folgas, Georgie.

O alquimista sênior, Georgie, respondeu laconicamente:

— Então eu estarei agradecendo antecipadamente.

Mary se levantou e retirou a poeira que não existia de seus ombros com alguns tapas leves.

Jogando em direção à Georgie um frasco transparente com um líquido escurecido em seu interior.

Georgie sem muitas dificuldades agarrou o frasco e o levantou até a altura de seus olhos e o moveu algumas vezes para observa-lo de diferentes ângulos.

— As prioridades desta substância são bem complexas... Ou deveria dizer caóticas?

Mary não interrompeu seu raciocínio e em vez disso passou a esperar pacientemente por uma resposta.

— Posso supor que está deveria ser a substância encontrada no sangue do falecido Conde Azir?

Mesmo sem receber uma resposta ou sequer uma objetivo, conseguiu em poucos segundos determinar o que deveria ser feito.

Georgie olhou curiosamente para sua superior e em uma rara ocasião, estupidamente perguntou algo que não lhe interessava.

— O que planeja enganando o Imperador?

Como alquimista se é necessário estar sempre atento às mudanças no mundo, as recém descobertas de novas plantas exóticas ou substâncias desconhecidas, mas não é de ser esperar que um alquimista possa deduzir tanta coisa com tão pouca informação.

— E como chegou a está conclusão?

Mary respondeu-o com outra pergunta, onde Georgie ignorou-a, mudando o assunto.

— Devo manter as aparências?

— Eu agradeceria!

Mary rapidamente consentiu com a pergunta de Georgie e se aproximou outra vez da porta.

Georgie tomou rapidamente o restante de seu café quando acompanhou Mary até o corredor.

Na penumbra tenebrosa daquele imenso corredor, os dois caminharam em silêncio lado a lado com passos leves que os faziam parecer fantasmas.

Suas figuras se misturavam perfeitamente com a escuridão, principalmente Mary que não demonstrava nenhum sinal de sua presença.

Caso Georgie já não estivesse acostumado com as habilidades inconscientes de Mary de camuflagem e furtividade, estaria a desviar seu olhar repetidas vezes para confirmar que Mary ainda havia de estar ao seu lado.

Chegando ao elevador daquele andar Georgie cessou seus passos e olhou mais uma vez para Mary.

— Milady, deve se ter em mente que a realidade se altera bem mais rápido que os planos.

Mary não o respondeu quando desapareceu entre particulas de energia espiritual através do elevador.

Georgie não pode deixar de suspirar de cansaço só de imaginar o trabalho que teria com ainda mais trabalho se acumulando.