Capítulo 36. Onde Está Sempre Perto

"Explicarei mais tarde," Bassena sorriu amigavelmente, ainda segurando o ombro de Zein com um braço. Ele olhou ao redor para a massa de olhos vermelhos, seus próprios olhos âmbar brilhando com ferocidade.

Zein ouviu o esper suspirar, antes de Bassena levantar levemente a perna e pisar no chão. Não acontecia nada dentro da barreira da zona segura, mas o ambiente ao redor estava mergulhado na escuridão — um tipo diferente da escuridão natural da Zona da Morte. A escuridão engolia os kobolds confusos e agitados e, de repente, a área estava cheia de sons de gritos. Os pesquisadores fecharam os olhos com força e cobriram os próprios ouvidos, e os espers observavam atentamente a fronteira.

Zein, no entanto, estava observando Bassena. A mão em seu ombro apertava mais forte, e ele podia ver algumas gotas de suor no pescoço e na têmpora do esper. O homem não parecia estar ferido em lugar algum, mas algo terrível deve ter acontecido durante as últimas duas horas se ele precisou usar Zein como apoio.

A escuridão que devorava as feras ao redor era como uma enorme serpente com inúmeras bocas. Os sons de ossos quebrando e o esguicho de sangue continuavam ressoando por bastante tempo.

O tempo todo, Zein endireitava as costas, fazendo sua postura mais firme para Bassena se apoiar mais facilmente. Com a mão que não estava segurando a Pérola Negra, ele tocou o braço do esper que se estendia sobre seu ombro.

Zein arregalou os olhos, quase ofegando ao ver a corrosão acumulada que subiu dois níveis no espaço de apenas duas horas. "O que—"

"Shh," Bassena sorriu, baixando o olhar para observar os preocupados olhos azuis. Zein então percebeu o cansaço ali, o vermelho profundo sutil na borda externa dos orbes âmbar. "Apenas me guie,"

Seja o que for que tenha acontecido com o homem naquelas duas horas, foi o suficiente para ele usar sua habilidade até que sua corrosão alcançasse o nível laranja. Era como se ele tivesse lutado sozinho em uma masmorra Classe A.

Mas Bassena estava certo, não era algo que deveria ser mencionado sem pensar, para não provocar angústia entre a equipe. Então Zein, sem palavras, segurou a mão que apertava seu ombro e guiou Bassena enquanto o esper continuava seu ataque aos kobolds.

"Mais estão vindo," Ron informou. "Parece que espectros e algo reptiliano, também—"

"O tipo deles não é importante," Bassena interrompeu o batedor. "Deve haver uma abertura quando eles chegarem à fronteira. Localize-a e calcule quanto tempo ficará aberta," ele apertou Zein mais forte enquanto mudava para olhar para Sierra. "Use sua habilidade de mira."

"E o alvo, Senhor?"

Bassena estendeu a mão e apontou um dedo contra a testa do atirador. Os olhos de Sierra cintilaram por um momento enquanto Bassena transferia a visão e memória do filho das trevas—uma figura em massa negra retorcendo-se e névoa flutuante como cabelo, cantando sem parar. "Isso. Coordene com Ron."

"Sim, Senhor."

Zein observava a troca e notava como Bassena estava ofegante depois disso e o suor escorria pelo seu pescoço. Ele então fechou os olhos, concentrando-se para poder guiar Bassena mais rápido—para que o esper pudesse usar sua habilidade à vontade sem se preocupar com o nível de corrosão.

"Obrigado," ele ouviu Bassena sussurrar em seu ouvido, e os sons de gritos dolorosos e rosnados agitados afogaram tudo o mais. Ele expulsava as novas correntes que se arrastavam para dentro do núcleo de Bassena enquanto destruía as que já nadavam ao redor confundindo o mar de escuridão.

Por um tempo, essa foi a única coisa em que Zein conseguia se concentrar. Quando ele abriu os olhos depois de um tempo, os sons haviam diminuído, e Bassena estava no meio de uma explicação.

"...é diferente desta, mas o princípio era o mesmo. O que foi usado em mim era uma formação de aprisionamento, então todos os meus sentidos estavam sendo roubados. Por isso minha habilidade estava sendo desconectada,"

Bassena ainda tinha o braço ao redor do ombro de Zein, mas quando os olhos do guia se abriram, o braço deslizou para baixo, descansando na cintura de Zein. "Não era um feitiço, mas uma formação?" Han Shin exclamou.

Bassena recuou e desabou em uma das cadeiras, trazendo Zein junto com ele. O guia cambaleou para trás seguindo o puxão e acabou sentado entre as pernas do esper. Antes que pudesse até mesmo fazer uma reclamação, Bassena já estava se inclinando para frente, cabeça pressionada no ombro de Zein e braços ao redor da cintura do guia, exalando com força.

A exaustão palpável na respiração ofegante e suave acalmou o movimento hesitante de Zein. Ele ficou parado, ouvindo a respiração um tanto irregular atrás dele, e acabou segurando o braço ao redor de sua cintura. Ainda havia muitas correntes corroídas dentro do núcleo de Bassena, e o esper devia estar se sentindo bem pesado e miserável.

"Eu não senti nenhuma fera ao redor do acampamento, então tentei sondar as ruínas. Demorei um pouco para perceber que tinha sido colocado em uma ilusão. Quando percebi, a formação foi liberada e eu estava preso dentro de uma prisão vazia," Bassena explicou, ainda com o rosto enterrado no ombro de Zein. "Eu usei cada habilidade que tenho para tentar me libertar, sem sucesso."

Todas as habilidades—Zein virou para olhar para a cabeça loira enterrada em seu ombro. Então foi por isso que sua corrosão subiu dois níveis. Em um ambiente rico em miasma, usando todas as habilidades sem parar por duas horas, e provavelmente em um estado de mente frenético...

"Todas as habilidades?" Han Shin de repente se levantou. "Isso inclui a [Segunda Pele da Imortalidade]?"

A voz do curandeiro, que geralmente era alegre e jovial, baixou. Os olhos negros franziram, uma clara tensão em seu rosto. Zein sentiu Bassena estremecer com isso, antes do esper levantar o rosto. "Eu pareceria assim se eu usasse isso?"

Han Shin estreitou os olhos. "Mas você planejava usar isso, não é?"

Bassena deu de ombros. "Felizmente, não precisei recorrer a isso,"

"Vou contar para a Radia," Han Shin sentou novamente, braços cruzados e fazendo bico.

"Que habilidade você está falando?" Zein perguntou depois de um tempo, já que perdeu o contexto de sua conversa. Que tipo de habilidade era essa, para fazer Han Shin parecer agitado?

Bassena recostou a cabeça no ombro de Zein novamente antes de responder. "Hmm... algo como uma rede de segurança. Se eu cair em uma situação de vida ou morte, a habilidade vai me curar e me colocar em um estado temporário de invencibilidade, incluindo eliminar todos os debuffs e feitiços de aprisionamento."

"Isso—"

"Sim, mas você tem que estar EM uma situação de quase morte!" Han Shin sussurrou. A implicação era clara—já que não havia inimigos, Bassena teria que se infligir dano até estar perto da morte para ativar a habilidade. "E só pode ser usada três vezes, não é? Não—você só tem mais duas vezes!"

Zein virou a cabeça e encarou o esper, a testa franzida acima dos severos olhos azuis. Bassena deu de ombros casualmente com um sorriso cansado. "Bem, graças a você, não preciso."

Havia muitas coisas que Zein queria dizer ao esper, mas a última frase do homem o trouxe de volta à adaga que ele havia embainhado. A Pérola Negra... quando Zein 'emprestou' de Bassena antes da expedição, ele nunca pensou que ela poderia ser usada dessa maneira.

"Certo, isso!" parecia que o tópico também foi suficiente para desviar a atenção de Han Shin da habilidade de imortalidade. "Isso sempre foi capaz de fazer isso?"

"É, embora eu realmente tivesse esquecido," Bassena riu fracamente. "Coloquei minha lasca de escuridão lá dentro, há muito tempo..." ele pausou para encarar Zein. "Como você sabia como me invocar com isso, porém?"

Eles olharam para Zein então, que estava realmente se sentindo perplexo. "Não sei," ele inclinou a cabeça, olhando para a adaga presa à sua coxa. "Eu apenas... cortei-me acidentalmente durante a confusão..."

"Huh..."

Bassena pegou a mão de Zein, olhando para o corte ainda fresco nos dedos do guia. "Ah..." Han Shin estalou os dedos e o corte foi imediatamente fechado e curado.

"...você chamou meu nome também?" Bassena perguntou.

"Bem, sim," Zein deu de ombros, "já que você estava desaparecido e tal,"

Os olhos âmbar se curvaram em suaves crescentes antes de se enterrarem no ombro de Zein novamente, lábios esticados em um sorriso amplo atrás do uniforme preto.

"Umm... mas que tipo de criatura poderia conjurar algo tão forte quanto isso?" Ron tocou em sua têmpora, franzindo a testa em ansiedade.

Certo—eles ainda não tinham falado sobre a questão mais importante. As forças que os cercavam já haviam sido aniquiladas, mas não o perigo iminente.

"Não só isso, mas também temos que levar em conta como eles podem usar o disfarce que até enganou o Senhor Vaski," Eugene adicionou. "Parece que eles sabiam quem eles precisavam isolar e atacar quando a oportunidade surgisse."

"Um alto grau de inteligência geralmente presente nas bestas dentro de masmorras de alta classe," Anise opinou. "Então há uma possibilidade de que eles tenham saído de masmorras de alta classe. Mas também fizemos uma teoria sobre como as criaturas na Zona da Morte podem se desenvolver ao longo do tempo."

"Você quer dizer, como subir de nível?" Sierra arregalou os olhos.

Anise assentiu com Eugene. "Já que aqui eles não enfrentam ser caçados como as criaturas em outras masmorras. O Senhor Ron também disse que as criaturas na Zona da Morte tendem a ser mais fortes do que suas contrapartes nas masmorras."

"Isso é verdade," Ron confirmou. "Está incluso no briefing que o Capitão preparou, embora possamos dar um relatório mais detalhado assim que voltarmos."

"Oh, isso ajudaria muito, Senhor Hillard!" Anise juntou as mãos.

"Então, quem poderia ter colocado a formação de aprisionamento na Bassena?" Zein perguntou, trazendo-os de volta ao assunto.

Han Shim engasgou então, como se só tivesse se lembrado disso naquele momento. "Isso mesmo! Ainda não estamos em perigo?"

Bassena espantou o ar com sua mão, com a bochecha descansando de maneira desanimada em Zein. "Acho que não. Foi o tipo de feitiço que usou muita—provavelmente toda—a mana. Você acha que algo que pode me prender está disponível abundantemente assim?"

"Você é irritante, mas também está certo," Han Shin estalou a língua. "Então, quem você acha que foi?"

Sem palavras, Bassena apontou em direção à ruína. "O chefe, claro."

Os outros imediatamente olharam em direção à ruína com cautela. De algum modo fazia sentido que a ruína tivesse uma criatura chefe residindo dentro dela. "Então... é como uma masmorra, hein?" Ron riu de maneira constrangida.

"E a lasca é o núcleo que precisamos destruir—"

"Pegar. Precisamos pegar!" Han Shin corrigiu seu amigo rapidamente com um sibilo.

"Temos que nos apressar, antes que quem quer que fosse recarregue seus poderes novamente," Bassena olhou rapidamente para os outros membros. "Então vamos descansar rapidamente e continuar."

Com essa ordem, eles instantaneamente se dispersaram para cuidar do acampamento—montando tendas para um rápido cochilo e preparando as refeições. Han Shin voltou a se sentar e observou Bassena e Zein.

"Você acabou de se separar por duas horas e já está tão dependente..." Han Shin estreitou os olhos, olhando para Bassena que praticamente estava abraçando Zein por trás.

Mas isso não poderia ser considerado estranho por parte de Bassena. O estranho era que Zein permitia isso sem nenhum desagrado aparente. O guia até segurava o braço de Bassena, parecendo um par de amantes brincalhões, embora Han Shin soubesse que Zein estava apenas guiando.

Bassena simplesmente deu de ombros para o curandeiro, muito exausto para fazer qualquer comentário. Zein sentia o peso aumentando cada vez mais em suas costas, mas apenas usava sua reserva de energia mágica para se fortalecer.

"Está realmente vindo daqui," Bassena murmurou, olhos fixos na marca ligeiramente brilhante na nuca de Zein. "De onde está vindo essa energia mágica?"

Zein olhou para cima e inclinou a cabeça para verificar o semblante de Esper. "Você não precisa de cura?"

"Não, não estou fisicamente ferido. Por que está ignorando minha pergunta?"

"E quanto ao sono?"

Bassena apertou os lábios. "Que sono? Eu acabei de acordar de um pesadelo," o esper estremeceu com a lembrança do vazio antes de estreitar os olhos, "É algo que você não quer que as pessoas saibam?"

"Hmm..." Zein inclinou a cabeça para trás, apoiando-a no ombro de Bassena, olhos observando a barreira que voltou a ficar invisível. Com sua mão livre, ele apontou para o dispositivo de purificação à sua frente. "Como aquilo," ele disse sucintamente.

Bassena franziu a testa, pausando para pensar por um momento. "Absorvendo o miasma e purificando-o em energia bruta?" ele murmurou, antes de se corrigir com os olhos arregalados. "Absorvendo a corrosão do esper e transformando-a em energia bruta?"

Zein olhou para os outros, que felizmente já estavam fazendo suas próprias coisas. Eles imediatamente deixaram Bassena e Zein sozinhos, montando a tenda e preparando o jantar. Zein levantou a mão e colocou levemente o dorso dos dedos acima dos lábios do esper.

"Guarde isso para você,"

Bassena levantou a sobrancelha, atordoado. E então ele sussurrou; "Ninguém sabe?"

"Não," Zein suspirou, inclinando-se para trás e fechando os olhos. Se o esper não tinha planos para dormir, então ele seria o único a dormir ao invés disso.

Bassena olhou para o rosto do guia, ainda coberto por uma máscara. A mão que segurava Bassena ainda continuava a guiar, mesmo enquanto Zein adormecia. Bassena puxou o guia para mais perto, contra seu peito, os lábios descansando no ombro de Zein, um leve rubor tingindo sua bochecha, e um longo suspiro escapou de sua boca.

"Como você pode ser tão complacente e ainda assim me rejeitar?"

* * *

Quando Zein abriu os olhos novamente, ainda estava se apoiando no peito de Bassena. Ele olhou para baixo, em seu commlink, verificando a hora. Parecia que ele tinha dormido por três horas. Nada mal para um cochilo.

"Onde estão os outros?" ele se virou, encontrando o acampamento vazio. Ele se levantou então, para desgosto de Bassena, e esticou seu corpo enrijecido.

"Eu disse a eles para descansarem, já que precisaremos estar vigilantes quando sairmos para a ruína," Bassena apertou os lábios, olhos observando o guia se movimentando à sua frente. "Embora ainda não tenhamos encontrado a entrada."

Zein se agachou na frente da mesa improvisada que usavam para as refeições, e levantou um prato com seu nome. "Hmm... você acha que eles nos atacaram só porque nos aproximamos da ruína?"

Ele tinha pensado nisso enquanto adormecia; o ataque foi feito com soldados, muitos deles, como se estivessem em uma guerra. Tipicamente, para tropas que poderiam até se ocultar, seria mais vantajoso atacá-los quando ainda estivessem no meio da preparação da zona segura.

Ou melhor—apenas atrair a equipe para a ruína e atacar na sua Homebase.

A menos que eles não quisessem que os humanos entrassem na ruína.

Zein pegou o prato e se sentou na cadeira que antes era ocupada por Han Shin. "Eles provavelmente não esperavam que você saísse por conta própria, certo?"

"Hmm..." Bassena esfregou os lábios e estreitou os olhos. "Então é um plano apressado, e eles estão esperando até eu estar verdadeiramente preso antes de fazer um movimento no acampamento," o esper inclinou a cabeça. "Mas para um chefe que sabe como aproveitar a oportunidade, é um movimento estúpido continuar atacando a barreira. Eles deveriam ser espertos o suficiente para saber que não está funcionando."

"Mas se eles só querem que nos afastemos por medo e ansiedade, ou cortem nosso contato com o mundo exterior..."

"Então pode funcionar—assumindo que eu ainda estava preso," Bassena deu um tapinha na bochecha, olhando para Zein. "A pergunta é por quê," o esper sorriu. "O que eles estão protegendo?"

Zein olhou em direção à ruína. "O que uma pessoa que aparentemente não quer que venhamos poderia estar protegendo..." ele olhou para Bassena sorrindo, "...além de uma entrada?"

O esper riu, o que disse a Zein que o homem havia se recuperado. "O quê, então estamos no lugar certo o tempo todo? Devemos dar uma olhada?"

E então, após Zein terminar sua refeição, Bassena acordou Balduz e Ron, pedindo-lhes para ficar de guarda enquanto ele e Zein verificavam a área próxima em busca de uma possível entrada.

No momento em que saíram do limite seguro, Zein apenas caminhou seguindo seu instinto—ou melhor, seguindo o chamado da lasca. Eles decidiram não caminhar muito, apenas até a estrutura semelhante a um arranha-céu mais a oeste.

"Você acha que ainda há espaço embaixo de todo esse deslizamento?" Zein perguntou, batendo levemente os pés no chão.

"Vendo que há a possibilidade de uma colônia, deveria haver," Bassena murmurou. "Eu li em algum lugar que o prédio antes da era do apocalipse na maioria das vezes tinha subsolos."

"Hmm..." Zein olhou para cima na estrutura imponente que parecia uma torre. "Eu me pergunto que tipo de complexo era isso," ele deu um passo atrás para conseguir ver o topo da torre, antes de ser subitamente atingido por uma ideia. "Ei, você acha que conseguiremos descer por esse prédio? Se houver uma janela aberta ou uma varanda em algum lugar—"

*crack*

Antes que Zein pudesse terminar sua frase, o chão sob seus pés de repente desmoronou. Pela crueldade da gravidade, Zein sentiu seu corpo caindo rápido antes que ele pudesse sequer gritar o nome de Bassena.

Fuck—not this again!