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Escaldado

Escaldado é um prato típico na minha região, por isso não estranhem eu hypado ele tanto assim no texto.

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[Pietro Polendina]

O relógio na parede marcava sete da noite, eu já teria ido para casa a mais de uma hora, mas desde que li os projetos do jovem senhor Arc foi tomado por uma explosão de inspiração.

"Hehe! Não me sinto tão motivado desde da época que comecei a trabalhar na penny."

Apesar de ser cedo, sinto uma leve sonolência finalmente batendo em meus olhos. Já fazia horas que eu me debruçava sobre o protótipo do reator Arc, o projeto que consumiu cada gota de horas extras do meu tempo e energia nas últimas semanas. Era um sonho inacreditável, a promessa de um futuro onde não dependíamos de Dust e todos teriam acesso a energia limpa e barata.

PING!

Um ping digital agudo me tirou do torpor. O computador no centro da minha mesa estava recebendo uma ligação.

Usando minha cadeira de patas de aranha me locomovo até o aparelho, a princípio ia atender como se fosse uma ligação qualquer, mas assim que reparo no display do identificador de chamada meus olhos se arregalam.

"Impossível." Murmuro desacreditado.

Tinha nada escrito no local onde deveria estar identificado qual reino e CCT Tower estavam me ligando.

Já fui ligado algumas vezes por autoridades que têm aparelhos e programas desenhados para ocultar suas informações, mas mesmo esses aparelhos não conseguiam esconder o código de identificação das torres.

Só tem duas possibilidades aqui, a pessoa que está me ligando é um dos maiores Hackers de toda Remnant, capaz de quebrar as defesas do alto escalão de Atlas ou então-.

PING!

O som da chamada corta minha linha de pensamento, me trazendo de volta para a chamada em meu computador.

"Acho melhor eu atender e ver quem é." Resmungo estendendo minha mão até o teclado. "E não como se alguém fosse capaz de se comunicar sem usar qualquer uma das CCT Towers."

Aceitando a chamada a imagem de um soldado de armadura moderna se apresenta na minha frente, ela é toda azulada e parecia ser semi-transparente com códigos azul pulsando pelas suas placas.

{{Boa noite Doutor.}} Disso o soldado em um tom informal porém educado. {{Eu me chamo Church e gostaria de bater um lero com o senhor.}}

O linguajar do jovem soldado me pega de surpresa, não que eu me incomode de conversar com pessoas menos restritas. Mas era com certeza algo raro em Atlas ver alguém que trajando um equipamento militar de ponta sendo tão 'relaxado'. 

"Uma boa noite para o senhor também." Respondi em um tom amigável, tentando parecer calmo apesar de estar apreensivo de um desconhecido estar me comunicando pela minha linha segura. "Sobre o que o senhor gostaria de conversar."

Na mesma hora o projetor holográfico no teto do meu laboratório ligou e a minha frente foi materializada em três dimensões a figura do soldado que estava em meu monitor.

{{Desculpa pela invasão e manipulação das suas coisas, mas eu prefiro falar olho no olho sabe.}} Disse a figura de armadura azul que não estava na altura dos meus olhos porque sou cadeirante. {{Ops, falha minha.}}

Seu tamanho começou a encolher, parando quando o mesmo estava na altura certa para falar comigo cara a cara.

{{Não queria falar desse jeito, mas a verdade é que...}} Ele começa a falar com um tom hesitante e um pouco envergonhado. {{Sou tipo um secretário para o Jaune Arc, acho que a esta altura o senhor deve estar familiarizado com esse nome?}}

Meu olhos se arregalaram surpresos enquanto meu corpo perdia toda a tensão acumulada nos últimos minutos.

"Sim! Sim!" Falo empolgado. "Familiar com o nome e seu trabalho, mas infelizmente não tive o prazer de conhecer pessoal este ser com uma mente tão brilhante."

{{Ish!}} Disse a imagem balançando a cabeça negativamente. {{Oh sweet summer child.}}

Sem entender a reação dele e a referência dei ombros enquanto gráficos eram projetados na minha frente.

{{Então, doutor, vamos direto ao ponto. De acordo com seus dados, o projeto do Reator Arc está quase pronto para fase de testes preliminares, mas falta uma peça crucial não é mesmo?}}

Minha mente começou a trabalhar a mil por hora, revisando mentalmente cada componente, cada circuito que eu havia examinado e reexaminado nos últimos dias. 

"O que está faltando?" Perguntei, já antecipando que não seria algo trivial.

Church fez um movimento de pinça com os dedos, e um holograma detalhado do reator apareceu entre nós. Ele apontou para um ponto específico dentro do núcleo. 

{{O elemento que falta é chamado de Badassium. É uma criação única, desenvolvida por mente sem igual.}}

"Badassium?" Questionou incrédulo. "Como é possível que um novo elemento tenha sido criado sem que a comunidade científica soubesse disso?"

Church riu, como se estivesse esperando essa pergunta. 

{{Essa é a questão, doutor. Badassium é um material que apenas nós sabemos sintetizar. É um composto que possui propriedades energéticas extraordinárias, capaz de estabilizar e amplificar o fluxo de energia de maneira eficiente e segura. Sem ele, o Reator Arc não funcionará como planejado.}}

Em seguida um holograma exibe uma animação do Badassium sendo integrado ao reator, mostrando suas propriedades únicas em ação. 

"Fascinante…" Murmurei, maravilhado. "Mas por que me contar isso agora? Como posso ajudar?"

Church deu um passo holográfico mais perto, sua voz ficando séria. 

{{Sabemos que Atlas tem interesse na tecnologia, Weiss Schnee vai contatar vocês oferecendo o conhecimento e se precisarem até mesmo Hardware para sintetizar o elemento em troca de acordos políticos." No display holográfico vários mapas topográficos mostravam depósitos de minerais e Dust que o reino de Atlas adoraria colocar as mãos. {{Mas vamos focar no agora, eu preciso acelerar a pesquisa de vocês e gostaria de algo em troca.}}

Senti um calafrio de excitação e apreensão. 

"O que o senhor quer dizer com 'acelerar a pesquisa'?"

{{Na melhor das hipóteses vocês vão ter um protótipo funcionando para testes em campo em quinze meses, o que não é ruim, mas para ajudar meu chefe eu preciso que vocês sejam mais rápidos.}}

Assenti curioso para saber como ele pretendia me ajudar. 

{{A maior parte desse tempo vocês vão gastar tentando sintetizar uma forma estável do Badassium, adaptar o hardware de vocês para a energia do Reator Arc e escrever códigos para lidar com leituras de energia e outros coisas. Com minha ajuda vocês vão estar prontos em menos de dois meses para testes em campo.}}

Minhas sobrancelhas se erguem de surpresa.

"E o que senhor Arc deseja em troca dessa ajuda?"

{{Relaxa, eu tenho uma lista.}}

No holograma uma lista de exigências foi projetada.

"Mas eu não entendo." Comentei confuso. "O senhor Arc é parceiro da senhorita Schnee, por que ele quer algo separado sem o conhecimento dela?"

{{Vamos dizer que Jaune nem sabe que estamos tendo essa conversa.}}

[Audra Taurus]

Eu estava furiosa.

Furiosa comigo mesmo por ter deixado minha guarda baixa e isso quase ter custado a vida do único humano que se importou com Menagerie.

Furiosa com Jaune por ele ter me convencido a dar uma chance para essa estagiária de terrorista que tentou matá-lo e também por ele ter me impedido de arrancar a cabeça dela e deixar seu corpo apodrecendo no deserto.

E acima de tudo, eu estou furiosa comigo mesma, porque parte de mim concorda com garoto loiro.

Parte de mim acha que Ilia é só uma garota iludida, que ainda tem salvação… assim como o Adam teve um dia.

Com Ilia presa no porta mala, fizemos uma viagem tensa e silenciosa até o Blackbird. 

Uma viagem que Jaune fez questão de passar por cima de todas as pedras e saltar sobre todas as dunas que ele encontrou no caminho, rindo que Ilia sempre se machucava no solavanco.

Assim que entramos no Blackbird Jaune amarrou a prisioneira em uma das poltronas da nave.

"Você não vai torturar ela, né?" Perguntou Boudicca Nikos apontando para Ilia. "Porque eu duvido que ela vai colaborar falando a verdade sem algum tipo de 'incentivo'."

Nisso a humana tem razão, só porque a poupamos, não quer dizer que ela vai falar a verdade.

"Eu poderia tentar conversar com ela, mostrar que ela está errada, mas o meu Talk No Jutsu não é tão bom assim."

"Talk o que?" Pergunta Nikos confusa.

Sem responder, Jaune caminhou até a prisioneira e se agachou para encará-la olho no olho.

"Última chance." Disse Jaune com uma voz séria. "Você vai colaborar e responder algumas perguntas?"

A única resposta de Ilia foi fechar os olhos e virar o rosto.

Jaune suspirou cansado e estendeu sua mão com uma estranha névoa dourada surgindo dela.

'O semblante dele?' Pensei comigo mesma.

Assim que a névoa se dissipou, uma estranha arma laranja se fez presente na mão dele.

"Isso é um raio da verdade." Ele disse apontando para a arma de brinquedo. "Ela desliga todos os inibidores cerebrais de um alvo, o que os torna incapazes de mentir e também os faz revelar a verdade."

Todas estávamos chocadas, o garoto tinha revelado uma tecnologia nunca antes vista como se fosse nada.

"Diferente da versão original, essa aqui só dura para 3 perguntas, depois disso a pessoa volta ao normal e a pessoa fica imune por 1 hora." Disse Jaune apontando a arma que parecia de brinquedo em direção a Ilia.

Mas antes que ele pudesse disparar, entrei na frente passando a mão na arma, apontando ela para baixo.

"Não que eu seja contra usar a psicopatinha ai como cobaia." Disse a humana em um tom preocupado. "Mas como você sabe que isso aí funciona de verdade?"

Atrás da humana, Ilia estava suando frio, finalmente percebendo o risco que corria enquanto Jaune encarava a arma de lado analisando ela.

ZAP!

Isso é, até que ele disparou nele mesmo.

"Tenta mentir respondendo essa pergunta." Disse Nikos. "Que cor o Blackbird." Pergunta Nikos.

"Fácil, preto." Respondeu Jaune sem perceber o que tinha falado.

Sua guarda costas não parecia convencida, então o que se seguiu foi uma bateria de perguntas onde Boudicca tenta fazer Jaune mentir.

"Glynda é uma mulher relaxada?" Disse a humana perguntando pela segunda vez.

"Nem dormindo aquela mulher relaxa."

"Port é uma pessoa direta contando suas histórias?" A terceira feita.

"Ele só é direto quando se trata de dar um soco na sua cara."

Se o que Jaune falou é verdade então a próxima ele consegue mentir.

"O professor Oobleck tem a fala calma e tranquila?"

"Com certeza, ele nem parece que cheira um quilômetro de pó de cocaína misturado com café."

Pelo olhar de Boudicca as três primeiras tinham sido verdades e a última tinha sido uma mentira como Jaune tinha explicado.

"E você está imune agora?" Perguntei curiosa.

Sem pensar duas vezes, Jaune disparou nele mesmo.

ZAP!

Resolvi aproveitar a deixa e tentar descobrir a opinião de Jaune sobre o SDC.

"Na sua opinião, Jacques Schnee é um homem bom?" Perguntei engolindo seco.

O questionamento sobre o CEO do SDC chamou minha atenção de Ilia que se esticou para ouvir claramente a resposta de Jaune.

"Ha! Essa foi boa." Disse Jaune dando uma gargalhada genuína, só para mudar sua postura e tom de voz para algo mais agressivo. "Ele com certeza é a alma viva mais bondosa, honesta e caridosa de toda Remnant." Respondeu Jaune rindo em um tom sarcástico.

Aquelas palavras removeram um peso das minhas costas, por mais que ele não estivesse sobre o efeito do raio da verdade, era bom ouvir da boca de Jaune que ele não era um pau mandado do SDC.

"Sendo honesto, se as filhas deles não tivessem apreço algum por ele, eu iria socar a cara daquele arrombado até ele engolir todos os dentes dele. Só para depois quebrar as mãos e pernas dele e jogá-lo em uma floresta infestada de Grimm para ele ser comido vivo." 

Até esperava que Jaune não fosse com a cara do velho Schnee, mas a discrição de violência dele só fez me sentir mais aliviado por confiar nele.

"Isso não é meio hipócrita vindo do cara que quer dar uma segunda chance a sua assassina?" Perguntou a humana enxerida. 

Jaune olhou para ela, mas ao invés de responder só deu de ombros antes de disparar seu raio da verdade em "Ilia".

A garota encarou Jaune apavorado, como se o jovem fosse torturar ela de verdade.

"Por que você tentou me matar?"

A jovem faunus ruiva se contorceu na cadeira, usando todas as suas forças para segurar suas palavras quando ela simplesmente respondeu.

"Porque você quer colonizar a ilha e escravizar os faunus." 

Confusa com a declaração, tentei questionala.

"Do que-." 

Mas antes que eu pudesse perguntar, Jaune levantou o braço me silenciando.

"O que a White Fang quer comigo?" Perguntou Jaune dessa vez em um tom mais sério.

Ilia tentou se segurar mais uma vez, mas dessa vez sua resistência foi menor.

"O ideal era que você morresse em um dos seus treinos idiotas lutando contra Grimm, mas se você puder ir embora e nunca mais voltar seria perfeito. De preferência antes de você conquistar a confiança de mais faunus."

Isso é interessante, parece que a boa fama de Jaune está incomodando a liderança da Fang.

"Se eu te libertar você vai tentar me matar de novo?"

A pergunta foi recebida por um silêncio desconfortável na nave. Ilia suava frio enquanto ofegava cansada, como se tivesse corrido uma maratona.

"Não tenho ordens para te matar, minha paranóia tomou conta de mim e no calor do momento tentei de matar. Não vou te matar por conta própria, mas um episódio como aquele de carro poderia acontecer de novo se eu ficar perto de você ou se forem ordens diretas da grande líder eu te executaria sem pensar duas vezes."

"Entendo…" Resmungou Jaune digerindo a informação que ele acabou de receber.

Paranóia ou não, uma tentativa de assassinato a sangue frio é algo que assombra os pensamentos de qualquer pessoa. Não importa quão bondoso Jaune seja é impossível simplesmente perdoar ou ignorar tal ação. 

"Pode soltar ela."

"QUE!" Gritamos eu e Nikos.

[ORIGINAL POV]

Apesar de ser uma noite fria no deserto de Menagerie, o suor escorria pela minha testa, misturando-se com a poeira do chão e formando uma pasta grossa que manchava minhas bochechas. 

Foi um dia bem longo e atribulado, por isso resolvi indulgir e relaxar um pouco.

"SAÚDE!" Gritamos juntos brindando.

Ergui o caneco de madeira até a boca e bebi o líquido dourado e gelado dos deuses.

"Finalmente!" Exclamou Amber usando seu disfarce. "Estava precisando de uma cerveja. Mas você podia ter arrumado uma IPA invés dessa coisa fraca."

"Não enche o saco guria mal educada." Disse Audra que já tinha secado seu quinto caneco. "Se tá bebendo de graça."

"Meu pai sempre dizia, 'cerveja pode ser barata, desde que ela esteja estupidamente gelada não tem problema'." Comentei sorrindo para as duas.

Mais cedo, Audra e Amber reclamaram muuuuuiiiiito quando deixei Ilia voltar ilesa para Fang, para acalmá-las resolvi recompensá-las da melhor forma que um brasileiro pode fazer.

Churrasco e alcool. 

Multiverse Crafting System

O que você gostaria de fazer?

Magic: 75.287 Points

Aura: 100%

Todos estávamos exausto então comemos e bebemos sem restrição, prevendo isso acabei gastando 200 pontos com suprimentos para estocar o freezer da nave com carne e bebidas, além dos 10.000 que gastei criando equipamento novo de segurança.

(Avip: Espera! Por que está faltando 10.000 MP?)

Amber não estava comendo muito, mas em relação a bebida parecia que estava tentando recuperar tempo perdido do coma. A cachaceira bebeu uns três litros de cerveja em menos de uma hora só para depois partir para a caipirinha.

[Image]

"Isso aqui é uma delícia." Disse Amber virando seu quinto drink. "Tão docinho e com gosto de limão." 

"Você não devia ficar misturando desse jeito guria." Disse Audra sabiamente.

"Eu bebo é pra passar mal porra! Seu quisesse me sentir melhor eu tomava remédio!" Disse Amber gargalhando do próprio comentário como uma louca.

 

Já Audra bebe como um camelo e come feito um cavalo… eu adoro essa mulher.

"Eu achava que o povo de Vale não soubesse assar carne na brasa." Comenta Audra atacando a fraldinha.

Tentando não levantar suspeita, respondo dando de ombros.

Graças ao álcool, Audra não aprofundou no assunto e Amber começou a chamar toda atenção para ela.

"OBRIGADA IRMÃOS DEUSES!" Berrou Amber chorando enquanto erguia seu nono copo de caipirinha. "PASSEI TANTO TEMPO PRESA NAQUELE TU-hic-TUBO… MAS AGORA EU ESTOU AQUI CUR-hic-CURTINDO A VIDA BEBENDO E COMENDO!" 

Ela terminou o discurso gritado dando mais um gole em seu drink antes de cambalear na minha direção.

"E tudo graças a esse moleque-."Amber se corta quando tropeça em uma pedra ocultada pelas areias do deserto.

Sorte dela que consegui segurá-la antes de cair. Tento colocá-la de pé, mas ela me segura em um abraço.

"Obrigada Jaune." Ela sussurra choramingando no meu ombro. "Obrigada por devolver minha vida."

Apesar de seu bafo de cachaça me sinto tocado pelo discurso de Amber, devolvo o abraço tentando passar conforto para ela, até penso em falar algo para acalmá-la, mas…

"Grrggghhh." Roncou a garota em meus braços.

Ela dormiu me abraçando.

"Vou levar ela para a cama." Falei me virando para Audra. "Volto em cinco minutos."

Audra acenou com a cabeça bebendo mais uma cerveja.

Após colocar Amber em sua cama e pedir para Delta ficar de olho na nave, voltei para a churrasqueira que Audra tinha acabado de apagar.

"Tirei a última carne do fogo." Ela disse colocando a picanha fatiada na minha frente.

Enquanto nos encontrávamos a sós, Audra parecia tensa e reflexiva. Mas mesmo com a atmosfera carregada da noite, não hesitei em me deliciar com a carne à minha frente.

"Jaune." Fala a ruiva enquanto eu saboreava minha refeição.

Ainda com a boca ocupada, ergui o rosto para encará-la com curiosidade. E para minha surpresa me deparo com uma Audra que nunca tinha visto antes. A confiança e a determinação que a caracterizavam pareciam ter se dissipado, substituídas por uma aura de incerteza e melancolia que nunca antes havia notado nela.

"Eu só queria…" Ela começou, mas interrompeu-se abruptamente ao estender a mão em direção à garrafa que eu havia usado para preparar a caipirinha. "Preciso de um pouco de coragem."

Fiquei paralisado, com os olhos arregalados, ao vê-la começar a beber diretamente do gargalo da garrafa de licor de cana-de-açúcar. Aquilo não era algo que eu recomendaria a ninguém, considerando o alto teor alcoólico da pinga, que ultrapassa os 50%.

Engoli em seco a comida mal mastigada e tentei tirar a garrafa de suas mãos, mas era tarde demais. Audra já havia consumido mais de meio litro de seu conteúdo.

Assim que terminou, ela limpou a boca na manga de sua camiseta e se aproximou de mim com um passo confiante e embriagado, me agarrou pelos ombros e me ergueu sem qualquer dificuldade. Apesar de eu mal passar da altura dos seios dela, usei toda minha força de vontade para encará-la olho no olho.

'Nunca mais faço álcool com meu semblante.' Pensei comigo mesmo antes dela falar.

"Queria te agradecer por ter me impedido de matar Ilia." Disse ela, com um bafo de cachaça agressivo, me fazendo lacrimejar. "O que ela fez foi errado, mas matá-la não teria resolvido nada."

"De boa." Respondi com lágrimas escorrendo dos meus olhos.

Audra, agora desarmada e vulnerável, seus olhos verdes marejados de lágrimas e culpa. A guerreira implacável que eu conhecera se despedaçava diante de mim, revelando uma alma fragilizada pela dor e pela dúvida.

"Eu não queria machucá-la." Ela murmurou, sua voz rouca pela bebida. "Mas ela me lem-hic-lembrou tanto da Adam, que a raiva me consumiu na mesma hora."

Um aperto no coração me dominou. A fúria de Audra era compreensível. Adam estava trilhando um caminho sem volta e quando ela viu Ilia tomar seu primeiro passo na mesma direção ela se descontrolou.

Ela olhou para baixo tentando me fazer uma pergunta, mas nada a saia além de balbucios e choramingos. Tentando encorajá-la segurei as mãos delas.

Audra levantou o rosto manchado de lágrimas e areia do deserto e engoliu seco antes de me perguntar.

"Você poderia fazer o mesmo pelo Adam?"

[Audra Tauros]

A quantidade de corpos que meu filho deixou e a fixação doentia que ele tem por Blake somadas a ideologia de que o fim justifica qualquer meio… tornam Adam uma pessoa difícil de perdoar. A reação corporal de Jaune somada a demora para me responder acabam sendo o suficiente para deixar claras as intenções do garoto.

"Eu entendo…" Respondi amargurada desviando o olhar. "Algumas pessoas estão além da salvação-."

"NÃO!" Gritou o garoto olhando para mim.

Encarei o jovem, surpresa com seu grito de negação esperando o que ele fosse dizer.

"Ilia é uma garota iludida e Adam já está nessa há tanto tempo que…" Ele parou tentando encontrar alguma forma de terminar a sentença. "Tipo… não sei se consigo redimir ele… que tal se eu capturar ele vivo?" 

O silêncio pairou entre nós enquanto processava as palavras de Jaune. Seus olhos azuis, agora mais determinados, estudavam meu rosto em busca de qualquer sinal de dúvida ou hesitação.

Finalmente, soltei um suspiro pesado, como se estivesse liberando um fardo que carregava há tempos.

"Capturar vivo." Murmurei, considerando a ideia. 

"Mas é uma missão perigosa." Continuou Jaune. "Adam não vai se entregar facilmente. Ele é um combatente competente que não hesitaria em me matar se me colocar no caminho dele."

Assenti acenando com a cabeça, aceitando a realidade sombria da situação.

"Mas eu vou atras daquele idiota, laçalo, derruba-lo e de brinde castro ele pra ele ficar mais mancinho." Acrescentou o jovem dando o seu classico sorriso idiota.

Meu queixo caiu no chão na hora, e o garoto estava sorrindo como se eu não tivesse falado uma grande besteira.

"Você acabou de comparar o meu filho faunus touro com um bezerro em uma vaquejada."

Jaune arregalou os olhos, finalmente percebendo a besteira que ele tinha falado.

"O meu São Benedito desculpa-." Mas ele se corta no meio de sua desculpa.

Ele trava no mesmo lugar só para em seguida me encarar com olhos cerrados, como se estivesse com duvida de algo.

"Você disse filho?" Ele perguntou desacreditado.

Encarei ele com uma sobrancelha arqueada, confusa com seu questionamento, mas assenti acenando com a cabeça como se o jovem tivesse feito a pergunta mais idiota do mundo.

Chocado ele gaguejou tentando processar a resposta.

"Ma–ma-ma-ma-." 

'Por que ele está gaguejando?' Pensei comigo mesma. 'Ainda bem que eu sei a cura.'

SLAP!

Um tapão na cara.

"VOCÊ É MÃE DELE?!" Berrou Jaune surpreso.

"Nós temos o mesmo sobrenome."

"Achei que você fosse a irmã mais velha gostosa dele."

"Há!" Ri em tom sarcástico. "Muito engraçado moleque."

"Engraçado?" Ele questionou abismado. "Você é uma das mulheres mais lindas que eu já vi na vida. E você mora em uma ilha deserta, vive desidratada e faz trabalho braçal tomando sol na cara todo dia. Impossível você ter mais de 25 anos."

Ruborizada com os elogios do garoto, tossi em uma mão tentando recuperar minha postura.

"Não adianta ficar jogando elogio falso na minha direção." Refutei engrossando a voz. "Sei que você tem nojo ou pelo menos não confia em mim."

"Que?"

Ele parecia sincero em sua dúvida, mas meu sangue ferveu pela resposta hipócrita dele.

"Eu to falando dessa sua desconfiança." Encorajada pelo álcool resolvi desabafar tudo de uma vez. "Me irrita cada vez que te vejo me encarando de canto de olho, com cara de quem tá me julgando e esperando que eu tropece e caia. Seus olhos fixos em mim, sem piscar, me deixam nervosa e constrangida. Sinto uma mistura de frustração e mágoa toda vez que vejo esse olhar de desdém no seu rosto. Me pergunto o que eu fiz para você não confiar em mim."

Jaune estava completamente paralisado, incapaz de me responder, então continuei a falar.

"No começo eu achei que você fosse um racista, mas todos os faunus da ilha você trata bem, até aquela fedelha que tentou te matar você tratou com respeito…" Parei suspirando segurando choro. "É só comigo que você olha de forma tão intensa… qual o problema comigo?" Perguntei desolada. "É por que sou ligada ao Adam? É por que você é tão próximo da família Belladonna que você não me tolera?"

Jaune começou a tremer e suar frio, seus olhos se moviam para todas as direções, menos para mim. Ele encarava as próprias mãos como se estivesse perdido.

Frustrada, agarrei a cabeça dele e foquei em mim.

"Qual o problema comigo?"

Meu hálito carregado de álcool fez o jovem lacrimejar mas ele engoliu seco e me respondeu de olhos fechados.

"Seus peitos!" 

"Como é que é negócio?" Perguntei Confusa.

"Eu tava encarando esses travesseiros divinos que você chama de peitos onde sonho em hibernar." 

Dei um passo para trás desacreditada com a resposta. Afinal não podia ser tão simples.

'Esse tempo todo era só hormônios de adolecente?' Pensei comigo mesma. 'Impossível, por que alguém tão jovem se interessaria por uma velha como eu?' 

"Tem também essas coxas torneadas que quero usar como headphones." 

Meu rosto fica vermelho como um tomate, envergonhada e um pouco lisonjeada pelos comentários lascivos de Jaune.

"E olha essa rabão!" Ele disse apontando para minha parte traseira. "Empinado e perfeito…" Comenta Jaune suspirando para minhas nádegas.

'Certamente ele está exagerando.' Penso me forçando a não acreditar nele.

 "Eu cometeria crimes de guerra só para você poder sentar na minha cara com essa bunda maravilhosa."

Um silêncio constrangedor se instaura enquanto processo tudo que Jaune tinha dito.

"Então, todo esse tempo, era só desejo carnal? Era só atração física?"

Ele deu um sorriso amarelo evitando me olhar diretamente. 

"Eu... sei que não é a resposta que você esperava, mas é a verdade. Eu me sentia atraído por você desde o momento em que te vi…"

"Mas eu sou uma faunus!" Protestei. "Muito mais velha do que você e ainda por cima sou mãe de terrorista procurado!"

Em resposta ele simplesmente dá de ombros como se não fosse nada demais as diferenças.

'Faz quanto tempo que não penso nesse tipo de coisa.' Reflito internamente. 'Acho que desde da morte de meu marido para o Grimm leviathan, Dread Shadow.'

Desde aquela época me foquei em proteger os faunus de Menagerie, e como consequência construi uma reputação como uma temida e respeitada combatente que afastou qualquer pessoa que pudesse se interessar por mim romanticamente ou sexualmente.

'E agora vem esse humano loiro, jovem, musculoso, de azuis e corpo escultural-.' Antes de ceder aos meus instintos carnais, me corto na hora. 'Para com isso Audra, ele é mais novo que seu filho mulher.'

Os sentimentos adormecidos começam a ferver dentro de mim, misturados com o álcool. Uma estranha tontura toma conta de minha mente enquanto sinto meu estômago se contorcer me dando uma sensação de enjoo.

"E-eu fico lisonjeada que um jovem possa sentir atração por mim, m-mas acho que você exagerou um pouco, não acha?" Perguntei tentando deixar o assunto mais leve.

Diferente de mim, Jaune estava completamente sóbrio e por algum motivo, parecia ofendido por minha pergunta.

"Exagero?!" Ele exclamo indignado. "Eu tenho que usar 3 cuecas quando saio junto com você sem armadura para não notarem quando eu tô de pinto duro." 

"PARA DE MENTIR!" Gritei encabulada sem saber como responder.

"Quer que eu prove?" Ele perguntou gesticulando para a alça da calça dele.

"Espera!" Pedi levando minhas mãos às calças dele.

Mas assim que me abaixei para alcançar a calça senti uma tontura nauseante que me jogou para chão.

POF!

Com a cara suja de areia olhei para frente e notei que tinha abaixado a calça de Jaune, vagarosamente olhei pra cima e quando vi a peça… vomitei.

"Ah não." Resmungou Jaune. "Minhas botas."

Tentei me levantar para pedir desculpas e oferecer para limpar o que eu tinha sujado, mas a tontura e a náusea bateram de novo me fazendo cair para o lado dessa vez.

"Audra?" 

A voz de Jaune ecoou longe enquanto minha vista escurecia.

[Ilia Amitola]

Caminho sozinha pelos corredores da base da White Fang, meu coração pesado com uma mistura amarga de frustração e vergonha. As palavras de Sienna Khan ainda ecoam na minha mente, cada sílaba cortando como uma lâmina afiada. Nunca imaginei que minha lealdade e determinação me levariam a esse ponto, uma reprimenda pública, uma humilhação que queima mais do que qualquer ferida física.

Eu não devia ter agido por conta própria, atacar Jaune Arc foi erro segundo a venerável líder Khan. Uma tentativa de assassinato não provocado a um visitante V.I.P. mancharia a honra da White Fang e daria mais munição para aqueles que nos taxam de terroristas sanguinarios. Só não sou expulsa da ordem porque o humano não vai anunciar meu ataque.

"Saudação irmã Amitola." Fala uma voz sorrateira saindo de um corredor escuro.

Me viro para a voz recém chegada e me deparo com Fennec Albain.

"Saudações irmão Alvian." Respondo fazendo uma pequena reverência ao veterano da ordem. "Mais uma peço-." Tentei me desculpar mais uma vez, mas ele me corta levantando uma mão.

Ele me dá um sorriso complacente que causa arrepios na espinha.

"Não estou aqui para julgar e muito menos puni-la irmã Amitola." Ele diz se aproximando de mim e colocando uma mão no meu ombro. "Na verdade eu vim para parabenizá-la."

Meu olhos se arregalaram ante a declaração, encaro o faunus veterano nos olhos procurando alguma mentira ou truque da parte dele, mas tudo que ele oferece é um sorriso amigável.

"Apesar de concordar com a venerável líder Khan, de que não foi prudente agir de forma espontânea guiada por suas emoções. Sei que você estava buscando o bem da população de Menagerie e de todos os Faunus."

Suas palavras são como um bálsamo para as feridas no meu ego, em silêncio foco toda minha atenção nas palavras de Fennec Albain.

"A venerável líder é forte, mas ela carrega o peso de toda a nossa organização em seus ombros. Por isso que ela a castigou por ter agido de tal forma." Ele diz em um tom triste, como se estivesse desapontado com essa forma de pensar de Sienna Khan. "Mesmo assim ela precisa de aliados confiáveis, pessoas dispostas a agir nas sombras quando necessário."

"Nas sombras?" Repeti, franzindo a testa. 

Fennec sorriu, um sorriso mais sinistro em seus lábios finos que o anterior. 

"Você é muito especial irmã Amitola, seus dons lhe permitem ser nossa melhor agente inteligência."

Sem perceber o elogio relaxei meu corpo, me fazendo sentir especial para a causa.

"Pelo que fiquei sabendo você sabe onde o humano Arc esconde seu Bullhead não é mesmo?"

Engulo seco, mas respondo balançando que sim com a cabeça.

"Perfeito." Ele sussurra. "Tenho uma missão secreta para você, você vai levar um grupo dos membros mais leais da White Fang até a nave do humano."

"Para fazer o que?" Pergunto curiosa.

Fennec gargalha baixo, quase sussurrando.

"Infelizmente isso é uma missão compartimentalizada." Explica Fennec em um tom seco. "Mas eu lhe garanto que se você aceitar esta missão, Jaune Arc será expulso da ilha pela população e nunca mais voltará." Ele termina de falar estendendo a mão para mim.

Engolindo seco aceito o que precisa ser feito e levanto a minha mão para apertar a dele. Depois desse pacto informal, Fennec ergue as mãos na frente do corpo e conecta as pontas dos dedos falando em um tom suspeito e sinistro.

"Excelente."

[Audra Taurus]

"Aaargh…" Gemi alto recobrando minha conciencia.

Meus olhos se abriram lentamente, como se fossem pesos de chumbo, e a luz do sol me fez gemer ainda mais. Minha boca estava seca como o deserto, e cada respiração era como um raspar de lixa na garganta.

Tentei me mover, mas meu corpo protestava com cada músculo dolorido. Meus pensamentos estavam turvos e fragmentados, como pedaços de um quebra-cabeça que não se encaixavam. 

'Onde eu estou? O que aconteceu?' Me questionei mentalmente.

Olhei em volta e reconheci meu quarto. Espadas quebradas e machados enferrujados e outras armas irreparáveis pendiam nas paredes, troféus de minhas batalhas passadas. Mas algo estava diferente. Meu livros e outros papéis estavam organizados em pilhas na mesa próxima à parede, camadas de poeira que eram comuns nos cantos tinham desaparecido e um cheiro de lavanda permeia o local.

O quarto estava impecavelmente limpo, sem traços de poeira ou desordem.

"Quem fez isso?" Questionei em voz alta.

Com um esforço monumental, me sentei na cama. A náusea me dominou, e tive que lutar contra a tormenta em meu estômago para não vomitar.

"O que diabos aconteceu ontem à noite?" Murmurei para mim mesma.

Tentei me lembrar mais uma vez, mas a minha mente ainda era um emaranhado confuso de memorias. Pouco a pouco me lembrei de ter espancado aquela guria louca, discutido com o Arc e depois ele ofereceu bebida e comida para fazer as pazes. Mas depois disso...

Uma dor faz meu cérebro pulsar dentro do meu crânio enquanto me lembro da conversa com Jaune, e seguida me lembro de ter vomitado no sapato dele.

"Ai que merda." Reclamo em voz alta. 

Levantei-me com cuidado. Cada passo era uma batalha contra tontura e dor da maldita ressaca. Chegando à porta do quarto escuto um barulho vindo da cozinha, um som suave de louça se chocando e o borbulhar de algo cozinhando. Com minha curiosidade despertada fui em direção dos sons.

"Quem está na minha cozinha?" Questionei sussurrando.

Meus pés descalços tocam o chão frio de madeira enquanto caminho em direção à cozinha. O barulho que me despertou ainda persiste, um som metálico que me deixa intrigada e cautelosa.

A luz do sol invade a casa pelas janelas, criando listras douradas no chão e iluminando cada canto. Sinto um cheiro delicioso tomando conta do ar, algo que lembrava uma sopa de frango com legumes.

O som metálico se intensifica, vindo da cozinha. Meus passos se tornam mais rápidos, a curiosidade me impulsiona para frente.

Ao entrar na cozinha, meus olhos se arregalaram de surpresa. A cena que se apresenta diante de mim é surreal, como algo saído de um sonho de uma adolescente tarada.

[Image]

Jaune Arc, estimado amigo da família Belladonna, o primeiro não faunus a visitar Menagerie como V.I.P. e também o humano mais empenhado em ajudar todos os faunus está de pé no meio da cozinha sem camisa, usando um avental azul, com uma panela na mão e um sorriso amistoso no rosto. Assim que ele me nota ele abre ainda mais aquele sorriso brilhante, como se estivesse tentando me atordoar com felicidade.

"Bom dia, dorminhoca." Ele diz, com um tom divertido na voz. "Boa tarde quase noite na verdade." Ele diz olhando pela janela o sol se pondo. "Parece que alguém dormiu demais."

"Jaune?" Pergunto, atordoada. "O que você está fazendo aqui?"

Ele ignorou minha pergunta e se aproximou de mim, me entregando uma tigela com um pouco da sopa que estava na panela que ele segurava. 

O aroma me atingiu antes mesmo de eu conseguir ver o prato. Era uma mistura de fragrâncias complexas e reconfortantes de frango cozido com temperos variados, que imediatamente me fizeram salivar. Nunca tinha sentido algo assim antes. O cheiro era como um abraço quente, envolvente, uma promessa de sabor que eu mal podia esperar para provar.

"Antes de comer beba um pouco de água." Ele diz, voltando para a cozinha. "Sente-se e coma devagar, você precisa se alimentar depois da noite de ontem." Ele diz apontando para a sopa na minha frente. "Isso aí se chama 'escaldado', meus conterrâneos criaram esse prato especificamente para lidar com ressaca."

"Noite de ontem?" Repito, ainda confusa. "O que aconteceu ontem à noite?"

Jaune se senta à mesa e me olha com um sorriso compreensivo. 

"Bem…" Ele começa. "Digamos que você bebeu e colocou muita coisa para fora… e eu não estou falando só de você ter vomitado nos meus sapatos."

"O não." Eu sussurro desamparado com que fiz na noite anterior.

Ele me conta sobre os eventos da noite anterior, sobre como bebi demais, como discutimos sobre Adam, como acabei vomitando no sapato dele só para depois perder a consciência e ele ter que me carregar pra casa. A única coisa que me deixa aliviada é Jaune ter dito que ninguém nos viu na calada da noite entrando em minha casa.

Enquanto ele falava, me lembro de tudo em fragmentos, como peças de um quebra-cabeça começando a se encaixar. Sinto meu rosto corar de vergonha, e meus olhos se abaixam para o chão.

"Desculpe pelo sapato." Murmuro, sem saber o que mais dizer.

"Não se preocupe com isso." Ele diz rindo. "Já lavei eles e com um dia de Menagerie, eles já estão secos."

Ele me serve um prato de torradas e me encoraja a comer a sopa enquanto ainda está quente.

Prestando atenção na comida à minha frente vejo pedaços generosos de peito de frango desfiado flutuando na superfície, misturados com cubos de tomate, cebola e pimentão, que dão uma aparência acolhedora e colorida à sopa. As gemas dos ovos estão intactas, firmes e brilhantes, como pequenas jóias amarelas aninhadas no caldo. A superfície está salpicada com o verde vivo da cebolinha, coentro e salsa, adicionando um toque final de frescor. 

Com cuidado, pego a colher e a levo à boca. 

"Huuuuuum." Gemo apreciando a sopa.

É como uma explosão de sabores! Em cada colherada, uma nova descoberta. A sopa tinha farinha de mandioca, adicionada com cuidado para evitar grumos, isso proporciona uma textura cremosa e reconfortante à sopa. E os ovos são uma revelação por si só. Colocados com cuidado no caldo fervente, as claras cozinharam perfeitamente, enquanto as gemas permaneceram inteiras e deliciosamente ricas. Cada colherada que inclui um pedaço de gema traz um sabor aveludado que se mistura com o caldo e os outros ingredientes de uma forma maravilhosa.

'Ele cozinhou essa maravilha sozinho?' Questiono mentalmente. 'Achei que humanos nobres fossem uns inúteis preguiçosos se tratando de serviços domésticos.'

A comida é deliciosa, quente e reconfortante, e aos poucos a névoa de dor e cansaço da minha mente se dissipa.

'Não é que a comida cura ressaca mesmo.' Penso comigo mesma.

Enquanto como, converso com Jaune sobre a noite anterior, sobre o Adam e sobre o que aconteceu entre nós. Ele me escuta com paciência e compreensão enquanto lava a louça, e me ajuda a processar as minhas emoções.

Ao final da nossa conversa, me sinto mais leve, como se um fardo pesado tivesse sido erguido dos meus ombros. Percebo que Jaune não me julga, mas sim me acolhe com compreensão e empatia. Ele me assegura que o simples ato de conversar sobre minhas aflições já é um passo importante para superá-las, e que sua presença como ouvinte é algo natural e que qualquer um poderia ter feito por mim.

'Esse garoto tem um coração de ouro e nem sabe.' Reflito encarando ele.

Jaune tira a tigela da minha frente assim que termino de comer aquela sopa maravilhosa, vendo o garoto lavando o resto da louça de costas lembro de algo que queria perguntar.

"Foi você que limpou minha casa?"

Jaune se vira, ainda segurando uma tigela que ele acabara de lavar. Ele sorri, aquele sorriso radiante.

"Sim, fui eu."

Olhei ao redor, vendo a cozinha impecável e lembrando do meu quarto, tão limpo e organizado. Sinto um misto de gratidão e vergonha crescer dentro de mim por ter tido meu lar organizado por um adolescente. 

Ele não apenas cuidou de mim enquanto eu estava vulnerável, mas também limpou minha casa. Esse gesto significava mais do que ele podia imaginar.

'Faz quanto tempo que alguém não cuida de mim?' Reflito em silêncio enquanto memórias antigas afloram em minha mente.

Eu estou sozinha há tanto tempo, ninguém mais jantou comigo desde que meu marido foi morto pelo Dread Shadow e Adam me abandonou. Ter alguém aqui cuidando de mim me faz abaixar a guarda e relaxar pela primeira vez em muito tempo.

"Jaune, você realmente não precisava fazer isso tudo." Digo, tentando esconder o rubor que se espalha pelo meu rosto.

O garoto ainda sorrindo responde. 

"Eu queria te ajudar, então não foi nada demais." Ele acrescenta, dando de ombros.

Enquanto ele guarda as louças noto ele flexionando um pouco o braço, fazendo-me reparar no quanto ele está em forma. Seus músculos definidos se destacam sob a luz da cozinha, e não posso evitar sentir um arrepio percorrer minha espinha.

'Uma noite de bebedeira e um jantar e eu já quero pular em cima dele?' Me questiono internamente. 'Onde eu to com a cabeça? Sou velha demais pra isso e tenho problemas demais para alguém que ainda tem a vida inteira pela-.' Corto minha auto repreensão por me sentir atraída por Jaune quando ele mostra algo chocante.

Jaune se vira de costas para guardar uma panela em um armário baixo, revelando o tipo de vestimenta que ele trajava da cintura para baixo. 

'Pelos irmãos deus dos animais, que short é esse?'

O garoto estava usando um daqueles shorts de corrida bem curtos, feito de um material leve e respirável. Ele se encaixa perfeitamente em seus quadris e coxas, delineando cada músculo e curva de seu corpo. É difícil desviar o olhar, e me sinto me aquecendo por dentro só de observá-lo.

Quando Jaune se vira ele parece perceber que estou olhando para ele, e nossos olhos se encontram. Ele me dá um sorriso brilhante com zero malícia, e eu sinto meu coração bater mais rápido. Desvio o olhar rapidamente, constrangida, mas não consigo evitar uma sensação de formigamento percorrendo meu corpo.

'Ontem ele disse que eu era uma das mulheres mais atraentes do mundo, mas ao invés de se aproveitar de mim enquanto estava indefesa ele limpou minha casa e fez comida para mim.' Penso encarando o jovem que agora limpava a pia. 'Se eu fosse mais nova e ele um pouco mais velho… eu iria quebrar a pélvis dele embaixo de mim em um rodeio Vacuoano.'

Grande parte de mim sabe que não deveria estar pensando nele dessa maneira, mas não consigo evitar. Ele é simplesmente um homem bondoso, forte, lindo, com braços grandes e musculosas, costas definidas e uma bundinha que quero deixar cheia de marcas de mordida.

E também ele ficar de avental sem camisa usando um short apertado está me fazendo salivar pelo norte e sul.

'Droga!' Me repreendi por estar tão tarada no corpo dele. 'Preciso me distrair com algo.'

Respirei fundo e me forcei a desviar o olhar. Minha mente precisava de um escape urgente. Jaune era uma distração perigosa, mas talvez pudesse usá-lo de outra maneira.

"Um garoto bonitão que nem você, que sabe limpar e cozinhar deve ser popular em Beacon." Comecei tentando soar casual. "Deve ter uma ou duas namoradas esperando em casa, não é mesmo?"

Jaune trava por um segundo olhando para mim, ele parecia pego de surpresa pela pergunta, mas seu sorriso permaneceu. Deu uma risadinha enquanto se virava para enxugar as mãos no avental. 

"Ah, isso é uma história complicada." Ele respondeu, seus olhos azuis brilhando com um misto de nostalgia e humor. "Tem uma… ou duas garotas que acho que estão afim de mim..." Ele disse pausadamente. "Mas nenhuma namorada ou algo mais sério."

A resposta me deixou intrigada, então resolvi continuar e pegar mais informações. 

"Por quê?"

Ele suspirou e se sentou do outro lado da mesa comigo, cruzando os braços e inclinando-se para trás, se equilibrando nos pés traseiros da cadeira olhando para o teto. 

"Quando entrei em Beacon eu tinha zero treino." Ele responde hesitante, como se não tivesse certeza do que está falando. "Acho que fiquei tão focado em melhorar que não tentei nada com ninguém."

O tom dele não demonstrava confiança no que ele dizia, mas eu não tinha certeza se ele estava mentindo ou apenas ocultando parte da história. Acho melhor ir direto ao ponto.

"Você é gay?"

THUMP!

Minha resposta foi Jaune caindo de costas no chão.

"Ouch." Ele fala sarcasticamente caído no chão, mas ainda assim ele responde. "Eu sou hetero."

"Huuum." Murmuro olhando para o outro lado da mesa. "Mesmo?"

Ele se levanta em um salto e me encara franzindo a testa, mais irritado do que bravo.

"Sim, eu te garanto." Responde Jaune em um tom seco.

Um silêncio desconfortável se instaura entre nós, apesar de irritado Jaune não parecia tão desconfortável, prova disso é que o jovem rapaz ainda espiava de canto de olho na minha direção quando ele achava que eu não estava prestando atenção. 

No passado eu achava que ele estava se certificando onde eu estava, como se estivesse tendo certeza da onde estava seu inimigo, mas hoje eu sei que esse garoto-. NÃO! Esse homem estava me admirando… me desejando.

"Você tem certeza mesmo?" Perguntei com um sorriso lascivo brotando em meus lábios.

Agora frustado ele joga os braços para cima em sinal de rendição, como se tivesse desistido de me responder.

'Não disiste seu loiro gostoso idiota.' Implorei internamente para qualquer divindade que pudesse me ouvir.

Ele se levanta e caminha frustrado na minha direção e coloca, próximo de mim ele bate a mão na mesa e pergunta confuso e irritado.

"O que eu preciso fazer para te convencer?" Pergunta Jaune de peito estufado, impondo um ar autoritário em cima de mim.

Abro um sorriso selvagem e faminto, empolgada com a presa que caiu em minha armadilha, pronta para ser abatida.

Me levanto lentamente encarando nos fundos dos olhos do jovem humano, assim que meus olhos passam da altura de seu testa os ombros do jovem começa a desinflar, sua postura que o retratava como uma figura autoritária se evapora. Quando finalmente estou em pé, os olhos de Jaune ficam um pouco mais altos que a altura do meu decote.

A princípio fico em silêncio, tentando ler as reações dele, ver se ele ainda transparece algum interesse em meu corpo.

"Mgnn." Resmunga o jovem como se estivesse fazendo um esforço físico.

Minhas preocupações desaparecem quando noto os olhos trêmulos e hesitantes dele, não era como os de alguém evitando olhares diretos para não descobrirem seus segredos. Os olhos de Jaune Arc tremiam porque o jovem estava usando toda sua concentração para me olhar nos e não no meu decote.

Lambendo os lábios me aproximo lentamente dele apoiando seu queixo para ajudá-lo a manter seu olhar em mim.

"Que bom que você perguntou meu pequeno bezerro." Me aproximo mais ainda, com meus lábios próximos a sua orelha sussurro eróticamente. "Você gostaria disso?"

O corpo de Jaune se arrepia todo, de perto consigo até ver os fios da nuca dele se erguendo.

Por um segundo fico preocupada, que talvez tenha ido longe demais e ele iria me rejeitar com nojo, mas para minha surpresa Jaune me agarra pelos ombros com uma pegada firme e poderosa e me afasta apenas o suficiente para me olhar nos olhos e mostrar uma súbita mudança em seu comportamento.

Chocado com a mudança, fico sem reação, tentando processar a transformação diante de mim. A tensão no corpo dele tinha sumido e no lugar havia uma serenidade intimidadora, como se ele tivesse finalmente encontrado seu propósito. Seu olhar era inabalável perfurando minha alma, resolutos e firmes como vigas de aço forjadas nas melhores fábricas de Atlas.

Não pude deixar de me sentir atraída por ele, intrigada com essa metamorfose. Ele me fazia sentir uma estranha mistura de nervosismo e excitação, como uma garota em seu primeiro encontro.

"Se eu gostaria?" Ele diz me fazendo sentir uma descarga elétrica percorrer meu corpo. "Tá na hora do show porra!"

[Avip: Lembra de quando Ozpin ligou para Jaune no meio da noite no cap 23? Depois do Rodeio Vacuano acontece essa cena.]

[Ps: Eu tenho escrito smut em outras histórias minhas, vocês gostariam que eu escrevesse a cena de Audra e Jaune? A plataforma onde você está lendo essa história permite esse tipo de conteúdo?]

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E ai gurizada?

Fico feliz em ver que os Tubarões Grimm agradaram e depois do último capítulo notei que vocês estão aguardando o embate entre as irmãs de Jaune e Adam Taurus... quando chegarmos nessa cena espero corresponder às suas expectativas.

Likorin:

Por favor, diga-me que Jaune ganhou um titã de classe senhor da guerra.

Avip:

Eu estava seriamente pensando em colocar um na história, mas o maior problema é que o armamento desses monstros (Se eu não estiver enganado), são capazes de derreter montanhas, vaporizar oceanos, acionar vulcões e fraturar placas técnicas. Se isso for verdade esse setting não sobrevive 5 minutos com um desses andando livremente.

Jao:

{Cobras fumantes, eterna é sua vitória}

Essa parte deveria estar em português?

Avip:

É sim estar em português, e na música original esta parte está em português. A música Smoking Snakes é sobre três soldados brasileiros, que lutaram contra uma força muito maior e mais forte de tropas alemãs.

Eles lutaram até ficarem sem munição e travaram um combate corpo a corpo com suas baionetas. Eles foram imediatamente mortos a tiros e os alemães os enterraram e colocaram uma cruz com a inscrição "Drei Brasilianischen Helden" (Três Heróis Brasileiros) em seu túmulo.