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Usando sobrenome Mckenzie

O braço que envolvia o ombro de Theodore estava quente. O peito subia e descia em suas costas, e seus ouvidos captavam a respiração ofegante. Virando a cabeça, o ômega tinha a certeza de que Gabriel estava febril. Ainda assim, saíra de casa ao perceber um alfa tentando roubar seu ômega.

Justo no instante em que deitara na cama para descansar, ouvira aquele barulho irritante de algo batendo contra sua janela. E ao ver o que raios estaria acontecendo, seus olhos captaram aquele alfa prestes a beijar Theodore. Saíra em disparada pela casa, ignorando seu pai o chamando para não se envolver. Apenas movido pela raiva da ousadia daquele Jake.

Se Theodore não estivesse em seus braços, e seu corpo pesado como chumbo, Gabriel entraria na sua primeira briga ali mesmo.

Seus olhos castanhos fuzilavam furiosamente Jake Mckenzie, que mantinha um sorriso prepotente na face. Mesmo que Theodore se virasse para abraçá-lo, Gabriel não deixava de olhar aquele maldito com fúria. Desejava matá-lo por ousar tocar em Theodore. Cortar suas mãos fora para que jamais tocasse em qualquer outra pessoa.

— Você está quente!

Baixando os olhos para o loiro na sua frente, Gabriel respirava fundo o soltando do abraço. Mesmo no meio da confusão, Theodore transparecia uma preocupação angelical acelerando o seu pobre coração.

— O que raios estão fazendo? Ainda mais com ele?

Theodore olhava para trás, onde ao lado de Jake se encontravam os outros dois amigos. Somente então Gabriel percebia que Nicolas e Milles estavam presentes, o deixando ainda mais confuso.

— Te tirando de casa. — Sussurrava Theodore, segurando o rosto de Gabriel para olhá-lo — Porque você é o meu alfa agora. É a minha vez de fazer algo por você.

O rapaz suspirou pesadamente abrindo um sorriso nervoso acariciando a bochecha de Theodore. Como poderia dar uma bronca naquele anjo de pessoa, quando ele falava aquelas palavras? Estava completamente desarmado.

— Cara, você é maluco pra fazer uma coisa desse tipo.

Theodore limitou-se a rir, tornando a abraçar Gabriel encostando a cabeça dele em seu ombro. Poder sentir seu cheiro, sentir o seu calor, tê-lo em seus braços eram as sensações mais prazerosas que existiam na vida. Agora podia se dizer estar completo, pois a sua outra metade estava no seu alcance.

— Eu disse pra você ficar bem longe da minha casa. — Senhor Jones recém atravessara a rua aproximando dos dois jovens. Gabriel erguera a cabeça sem soltar do abraço do namorado ao se virar para o pai — O que pensam estar fazendo na frente da casa dos outros? Poderia denunciá-los por vandalismo.

— E eu poderia denunciar o senhor por violência a um gestante. — Pronunciava Jake irritado, sendo um tanto quanto assustador vê-lo com a testa franzida daquela maneira.

Para o desgosto de Gabriel ele roubara as palavras de sua boca. Era tão inconveniente ter aquele Jake por perto. Senhor Jones também parecera estranhar que alguém desconhecido intervisse naquela bagunça.

Havia visto Jake chegar com o carro, levar Theodore e agora estavam de volta. Não era nada bom alguém de fora soubesse o que ele fizera com aquele ômega gestante. E talvez fosse pela ponta de culpa que Senhor Jones parecia nervoso.

— Quem você pensa que é pra se intrometer nos assuntos de outra família?

— Ah, não! Quer dizer que foi esse imbecil que machucou o meu amigo? — Rosnava Nicolas passando por Jake e Gabriel para peitar Senhor Jones, tendo o alfa loiro logo atrás de si.

Era comum que os estudantes de Montreal tivessem medo de Nicolas quando ele parecia sorrir mesmo estando bravo. A novidade era saber que tal efeito também era visível em um homem de quarenta anos. Senhor Jones retrocedera alguns passos, estendendo o braço na direção da esposa.

— Mulher! Chame a polícia que esses delinquentes estão fazendo bagunça em nossa rua. — Gritava o pai, não gostando nem um pouco de ter outro ômega diante de si.

— Quer prender a gente? Então deixa eu torcer o seu pescoço pelo menos pra ter motivo pra me algemar, seu saco de bosta.

Milles fora rápido em segurar Nicolas pelos braços o impedindo de começar uma briga ali mesmo. Jake também intermediou empurrando os dois jovens para longe do senhor alfa.

— Vocês são de menores, querem me dar problemas por acaso? — Ralhava o platinado para o baixinho, que limitou-se em bufar em resposta. Virando-se para Milles, abrira um sorriso ladino. — Controla o teu namorado.

— Não estamos namorando! — Respondiam os dois uníssono, com um leve rubor nas bochechas.

Pronto, Nicolas estava mais calmo já que sua raiva agora era direcionada a Jake e Milles. Graças a vergonha sentida, ele cruzara os braços formando um beicinho sem falar mais nada.

— O que está esperando, mulher? Pode ligar pra polícia! — Tornava a gritar o Senhor Jones, apesar de sua esposa permanecer parada na calçada assistindo assustada aquela discussão.

A situação parecia perder o controle. Theodore não queria transformar aquilo em uma novela para se tornar fofoca de toda a cidade. Tudo o que desejava era poder ficar com Gabriel. Só isso.

Já lidara com os pais de Jake, e com o seu próprio que também agira violentamente com a situação. A diferença era que agora precisava ser mais direto e incisivo para manter Gabriel do seu lado. Da mesma maneira da qual desejava fazerem o mesmo consigo.

— Senhor Jones, eu sei que está preocupado com o seu filho. Está com medo de que ele se envolva com alguém que partirá o seu coração ou que o use. Mas eu não sou esse tipo de pessoa, posso te garantir.

— Você mordeu o meu filho, e ainda tem a cara de pau em dizer que é de boa índole? E toda essa bagunça na rua?

— Se for necessário algum reparo, farei o que for possível para fazer isso. Mas eu não vou deixar o Gabriel ficar longe de mim! Não precisaria chegar a esse ponto se o senhor não tivesse me tratado tão rudemente quando ao menos sabe o meu nome.

— Theo, não adianta... — Intercedia Gabriel, ofegando ainda febril.

Acariciando seu rosto docemente, Theodore negava com a cabeça em um movimento sutil. Não desistiria tão facilmente quando se chega naquele ponto.

Determinado, Theodore aproximou dos pais de Gabriel sem se deixar intimidar com a presença de alfa do Senhor Jones.

— Sou Theodore Moss, sou um ômega de dezesseis anos que se apaixonou perdidamente pelo seu filho. Mesmo que eu o amasse jamais tomei iniciativa de me aproximar do Gabriel.

— Tsk e acabou engravidando como? É claro que se aproximou dele!

— Pai fui eu quem se aproximou primeiro — Dizia Gabriel acariciando o local da mordida — Fui insistente até que ele me aceitasse.

— Eu amo o seu filho — Retomava Theodore, antes que pai e filho começassem a discutir mais uma vez. — Se me der uma chance, eu prometo provar ao senhor que farei o seu filho a pessoa mais feliz nesse mundo. Por favor...

Gabriel segurava a mão de Theodore sem esconder o sorriso bobo. Jamais imaginaria o ômega falando daquele jeito com alguém, apesar de estar sendo cuidadoso ao escolher suas palavras. Lutando por ele.

Sem se importar com a presença de seus pais, Gabriel apenas queria abraçar o seu namorado e beijá-lo ali mesmo tamanha a sua felicidade em ouvir aquelas palavras. Contivera os seus desejos em apenas abraçá-lo por trás.

— Eu te amo também, Theo.

— Não gosto de você, rapaz. E eu duvido muito que seja capaz de cumprir com suas palavras. Vocês são novos demais pra acharem ser capazes de cuidar de uma criança e de um relacionamento.

— Caraca e eu achando que meus pais eram problemáticos. — Comentara Milles recebendo uma cotovelada de Nicolas.

O Senhor Jones espreitara os olhos para Milles, parecendo reconhecer ele de algum lugar. Theodore percebera aquilo e logo abrira um sorriso vitorioso que fora escondido rapidamente. Lembrava de Gabriel ter dito sobre seus pais trabalharem como gerentes de um certo hotel da cidade...

Já que o seu sogro não gostava de si, então mostraria que não estava sozinho. Pediria desculpas a Milles mais tarde, mas faria uso do seu sobrenome para ter algum grau de importância com Senhor Jones e encerrar o assunto mais cedo.

— Não compare com os McKenzie, Milles.

A menção do sobrenome fizera os pais de Gabriel arregalarem os olhos surpresos. Certamente eles não reconheceriam Milles, já que nunca o viram de perto. No entanto o sobrenome era impossível de não se reconhecer.

— M-Mckenzie?

Bingo!

Milles arqueara a sobrancelha um tanto quanto confuso com a reação tão surpreendente daqueles dois, mas logo abria um sorriso ao também se dar conta do detalhe. Lançara até um olhar discreto pro ômega loiro, parabenizando mentalmente por sua perspicácia.

Entraria naquela brincadeira.

— Ah, vocês trabalham para os meus pais, não é? Fiquei sabendo que meu velho tem andado mau humorado e batendo portas esses dias. Que hilário. Vão fazer isso também?

— O quê? Eles trabalham pro meus tios? — Questionava Jake ficando ao lado de Milles fazendo uma careta azeda — Ah, to frito então. Eles não deveriam saber que to na cidade.

— Pode ir embora então. — Rosnava Gabriel, recebendo um sorrisinho falso de Jake.

— A sua gratidão me comove, pivete.

O senhor Jones fitava aqueles dois alfas aturdido. Milles e Jake eram parecidos dispensando qualquer dúvida sobre serem do mesmo sangue. Pigarreando para disfarçar o seu súbito nervosismo, e talvez manter a pose de um homem alfa orgulhoso, ele tornara a olhar para Theodore.

Mesmo que Milles tivesse abandonado sua família, Theodore tinha ouvido Nicolas comentar sobre os pais do alfa insistirem em seu retorno para a família e assumir os negócios. Como os Jones eram gerentes, era provável saberem daquilo. Não teriam coragem de fazer alguma coisa com o filho do patrão.

Pigarreando baixo, Senhor Jones olhara para Theodore ainda abraçado a Gabriel.

— Não pretendo aceitar a você e o seu filho na minha família nesse momento.

— Está tudo bem, eu aceito. — Por fim anunciava a Senhora Jones sorrindo delicadamente para Theodore. — Apesar de ter sido uma verdadeira tempestade a maneira como nos conhecemos, não me restam dúvidas do quanto gosta do meu filho.

Theodore e Gabriel entreolhavam-se e sorriam um para o outro.

— Mulher....

— Ora, está virando um velho resmungão, querido. — Ria a mulher dando tapinhas no ombro do marido. — Temos tempo para pensarmos melhor sobre o assunto, por que não entram?

— Sinto muito, mas vou levar os dois pro hospital — Dizia Jake deixando as mãos nos ombros do casal de namorados, abrindo um sorriso encantador para a mulher ômega até fazê-la ruborizar. — Não se importam se eu sequestrar o filho de vocês por hoje, certo? É só pra acalmar essa formiguinha.

Jake afagara os cabelos de Theodore, mas recebera um tapa em sua mão vinda de Gabriel.

— Tá tocando nele por quê?

— Certo, certo, você ganha também.

Para a raiva, e também vergonha, de Gabriel, recebera um afago de Jake em seus cabelos.

De toda forma a situação fora encerrada graças ao uso do sobrenome Mckenzie. Os Jones retornaram para sua casa enquanto Jake levava os quatro jovens para o hospital fazerem um check up. No trajeto Theodore só conseguia imaginar que aquela discussão não terminaria por ali. Provavelmente Gabriel enfrentariam outros bate bocas com seu pai quando voltasse para casa.

Mas o que queria já conquistara. Mostrara para eles que não desistiria facilmente daquele alfa. E agora tendo a mordida, o laço entre eles era ainda mais forte. Haviam muitos laços, na verdade, que fortaleciam aquela relação.

Não seria o mero preconceito a separá-los.

No hospital, Theodore levara uma bronca do seu médico já que o pedido de usar as férias de inverno para não se estressar não foram seguidas. Apesar da bronca, pai e filho seguiam saudáveis. Gabriel também fora examinado por causa da febre, e por ser um efeito comum das mordidas tudo o que precisaria é de um medicamento e repouso.

Jake ainda pagara um almoço para os rapazes, dando fim às reclamações de Milles e seu estômago barulhento. Apesar da presença do alfa platinado, Gabriel não deixara de agradecê-lo por ter ajudado Theodore em sua ausência. Mas a declaração de guerra fora feita e o alfa mais novo continua odiando o platinado.

Quando o dia chegara ao seu fim dando lugar para o céu estrelado e noturno, Gabriel estava na casa de Theodore deitado em sua cama o abraçando. Já tinham ouvido sermões de Aline e agora precisava acalmar o seu ômega e filhote com o próprio cheiro.

Permanecendo deitados na cama, os dois compartilhavam a sensação apaziguante se estar seguro com quem se ama.

— Desculpa ter feito você passar por todo esse estresse, Theo. — Dissera repentinamente Gabriel, tendo o outro abrindo os olhos para ele. — Não esperava que meu pai reagisse daquela forma.

— O meu pai também reagiu assim comigo. — Lembrara o ômega, segurando a mão de Gabriel. — Tudo o que eles precisam é de tempo para se acostumar. Fico chateado com isso, mas prefiro torcer para que chegue o dia em que ele entenderá o nosso lado e mude sua opinião.

— Talvez tenha razão. Ainda há uma longa estrada pela frente já que agora fui mordido.

Theodore rira sem tecer comentários. Era muito estranho saber que Gabriel estava preocupado com alguma coisa. Não chegava a ser algo fácil de interpretar ou então algo palpável. A mordida eram sensações, como um plus para a sua intuição.

De certa forma estava maravilhado em saber como Gabriel se sentia.

Ali no escuro do quarto aproveitando o silêncio, Gabriel abria os olhos repentinamente quando sentira algo muito estranho se mover contra sua costela. Ficara em silêncio por um instante sentindo novamente, virando-se rapidamente na direção de Theodore.

— O que é isso?

O ômega abria os olhos soltando um riso baixo.

— O bebê. Apesar de ser bem fraquinho, já dá pra sentir ele se mexendo.

Levantando-se da cama para encostar o rosto na barriga de Theodore, Gabriel conseguia sentir o mísero movimento. Uma vez mais, duas vezes mais e até três vezes.

— Oh... Alguém está feliz aí dentro do forninho, não é? Ou seria uma reclamação pela bagunça de hoje?

— Coitado, tão pequenininho e já tendo estresse.

— Temos que ser mais responsáveis, ou ele vai nascer igual Nicolas.

Theodore soltara um riso baixo acariciando a própria barriga.

— Vai ficar tudo bem. Ele vai receber o nosso amor de todo jeito.