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Meu filho

Era apenas o meu primo. O título da história que Theodore escolhera para ler na comunidade de web novela fake do Orkut tinha um enredo interessante apesar de mau escrito. E para sua surpresa, a personagem principal passava pela mesma situação que ele ao engravidar na adolescência, apesar de haver o agravante do pai da criança ser o primo dela.

Histórias como aquelas geralmente não chamavam a atenção do ômega, mas por algum motivo aquela era popular entre os leitores e parecia chamá-lo para ser lida.

E como precisava de alguma coisa pra afastar os pensamentos da discussão que tivera com Gabriel, a história acabara ganhando sua atenção.

Para sua surpresa não havia se debulhado em lágrimas depois de ter entrado em casa. As palavras de Gabriel permaneciam intactas em sua memória, como um quebra cabeça de mil peças prestes a ser resolvido. Se haviam discutido daquela maneira, era sinal de que Theodore deixara alguma coisa passar desagradando o seu namorado.

E não fora surpresa alguma que a questão da vez fosse a dita gravidez. Como sempre fora desde a sua descoberta.

Lendo a história, Theodore encontrara algum conforto. Provavelmente não seria o único a ficar completamente enlouquecido com a ideia de ser pai tão jovem. O namorado da protagonista, o tal do primo, lembrava muito Gabriel que sempre acariciava sua barriga e parecia ansioso para ver o bebê. Como se não estivesse se importando com o fato de ser pai na adolescência.

Bem... Gabriel mostrara mais cedo que não era o caso. Ele estava sim assustado, mas não criava uma tempestade num copo d'água. Corajosamente enfrentava aquilo. Pelos céus, tinha muito o que aprender com aquele alfa. Theodore abraçava o travesseiro se sentindo patético. Talvez covarde também e até mesmo besta por ficar sempre voltando naquele assunto da insegurança como um disco riscado.

Tal qual a protagonista da história, o ômega levantou-se da cadeira indo até o espelho erguendo o moletom aparecendo a barriga grandinha. A personagem havia dito não ter coragem em botar a mão sobre a barriga... Bem, o que poderia acontecer se o fizesse?

Receoso, Theodore repousava sua palma sobre a própria barriga sentindo a gelidez de sua mão contrastar com a quentura do seu abdômen. O segundo mês da gestação já deixava evidente a sua barriga, apesar do ômega ainda não sentir muitos movimentos vindo do bebê. Ainda assim, só de saber que ele estava ali era engraçado.

— Você escolheu um péssimo pai. Não digo sobre Gabriel, mas sobre mim. — Sussurrava o ômega encarando o reflexo no espelho. — Um pai covarde pra caramba.

Deslizando os dedos sobre a barriga, o ômega sentira alguma coisa. Não soubera dizer com precisão do quê se tratava, apenas que um movimento estranho fora possível de ser sentido na palma de sua mão. Piscando algumas vezes Theodore baixara os olhos para a barriga, continuando a acariciá-la sentindo outra vez o movimento.

— Uou, o que é isso? — Se surpreendia o rapaz afastando a mão de imediato. — É... Você? Espera, está me chutando?

Tornando a repousar a mão sobre a barriga, Theodore sentia o movimento novamente. Bem fraquinho, quase imperceptível. Talvez fossem seus instintos estando completamente conectado ao bebê, ao ponto de saber o mísero movimento dele, talvez fosse sua imaginação querendo fantasiar.

Não importaria o que fosse, Theodore sorria de qualquer maneira.

— Está concordando que eu seja um covarde, não é? Seria bom se você nascesse com a personalidade do Gabriel, ele é bem corajoso que chego a admirar.

Um arrepio fizera Theodore se dar conta do que fazia, e tomado pela vergonha baixara a blusa imediatamente. O frio da noite logo se fazia presente, o ômega retornara para a cadeira abraçando o travesseiro continuando a ler a história.

Diferente de si, aquela personagem aceitara o fato de estar grávida mesmo estando com medo das reações da sua família. Quando lera sobre ela ir na loja de bebês, o ômega olhara para a sacolinha em cima da mesa do computador. Puxando o macacão para fora, o rapaz observava os detalhes da girafa animada sorrindo com o quão fofa ela parecia.

— É muito bonitinho mesmo. — Sorria o ômega, aproximando a roupa do nariz a farejando sentindo o cheirinho de roupa nova. — É gostoso o tecido, bem macio e parece quente...

Crianças crescem muito rápido, era comum de não usarem todas as roupas que os pais ganham ou compram por causa disso. Será que aquela criança conseguiria usar o presente de Lilian? Olhando o calendário pendurado na parede, Theodore fazia as contas.

— Você vai nascer na primavera provavelmente. Ainda vai estar frio por aqui. — Encostando na cadeira, Theodore suspirava baixo sorrindo levemente ao encarar o calendário. — Provavelmente o time já estará nas etapas finais das regionais, teu pai e o tio Nico vão estar dando o máximo de si na quadra e o tio Milles estará prestando vestibular. O seu avô vai estar se casando de novo também. E eu...

Baixando os olhos para a roupa em mãos, Theodore imaginava o que poderia estar fazendo. Apesar de ser assustador imaginar que sua vida giraria em torno de uma criança, o ômega conseguira visualizar ele segurando um bebê. Naquela mera imagem se via sorrindo junto do pequenino, trazendo uma sensação quentinha e acolhedora. Claro que também imaginara Gabriel estando junto, abraçando a criança e sorrindo daquele jeito que tanto adorava.

Era uma bela visão. Suspirando, Theodore abrira um sorriso tímido.

— E eu estarei cuidando de você, meu filho.

Quando aquelas palavras saíram de sua boca, Theodore cobrira os lábios rapidamente sentindo as bochechas esquentarem. Olhara de um lado para outro verificando se alguém teria escutado, e então soltara um riso baixo.

Aquelas palavras não soaram tão estranhas quanto imaginava.

Theodore lera mais alguns capítulos da história no Orkut e então fora se deitar. No dia seguinte levantaria mais cedo para encontrar Gabriel em casa e conversarem um pouco. Precisaria pedir desculpas por deixar o peso da responsabilidade em seus ombros, e só de imaginar como seria reatar com ele ficara nervoso.

Quer dizer, quando se tratava de Gabriel tudo deixaria Theodore nervoso. Queria saber suas reações, quais palavras sairiam daqueles lábios finos... Aquela havia sido a maior discussão que já haviam tido, o que não deixara o ômega descansar muito bem.

O sol parecia demorar em nascer parecendo algum castigo dos céus. Se pudesse ligaria pro Gabriel e conversariam pelo telefone mesmo. Porém o alfa parecia cansado, assim como havia dito. E aquele assunto precisava ser resolvido cara a cara.

Precisava mostrar para ele que estava determinado também. Que não desejava fugir.

Finalmente caíra do sono e acordara por volta das dez da manhã daquele domingo. Theodore pulara da cama indo tomar banho e se agasalhar antes de descer as escadas eufórico.

— Ei, ei, nada de correr pelas escadas, mocinho! — Brigava a mãe da cozinha. — Onde pensa que vai com toda essa pressa?

— Tô indo ver o Gabriel. Tento voltar pro almoço, viu?

— Qualquer coisa me ligue, e vê se come alguma coisa por lá! — Gritava Aline observando o filho sair em disparada de casa — Melhor eu avisar que ele tá indo, moleque afobado.

Guardando o celular no bolso da calça, o ômega caminhava pela calçada subindo a rua em direção da casa do alfa. Suas mãos estavam geladas de ansiedade, os bolsos da blusa nem eram o suficiente para aquecê-las. Vez ou outra Theodore dava uma corridinha pra chegar o quanto antes na casa do alfa.

O sobrado logo surgia na rua e o ômega não tardara em ir até o portão apertar a campainha. Tudo o que tinha de fazer era pedir desculpas, admitir que estava errado em não valorizar os sentimentos de Gabriel. Tinha de mostrar a ele. Precisava.

Repensando em cada palavra que precisaria ser dita quando encontrasse o alfa, Theodore não notara quando alguém aparecia no portão o abrindo. Somente ouvindo um pigarro é que o ômega erguera os olhos encontrando uma mulher de cabelos castanhos o fitando curiosamente.

— Me desculpe, mas quem é você?

— Ah, sou Theodore. Eu vim ver o Gabriel, ele está?

A mulher olhara para o ômega de cima à baixo e abrira um sorriso maternal para o rapaz.

— É claro, entre. — Ela dera espaço para Theodore passar pelo portão, recebendo um agradecimento tímido. — Finalmente pude te conhecer, Theodore. Meu filho fala bastante sobre você.

— Sério? — Dissera Theodore um pouco mais animado do que o esperado, roubando um riso da mulher. — Desculpa. Eu deveria ter me apresentado para vocês antes, mas as coisas andam agitadas ultimamente.

— Eu imagino, nunca vi Gabriel tão ocupado como tem estado. Apesar que estou bastante orgulhosa por ele querer ser independente.

Theodore sorria nervoso sem saber ao certo o quanto a mãe de Gabriel saberia. Quer dizer, que eles eram namorados provavelmente já sabia, o alfa havia comentado, agora sobre a gravidez...

A mãe de Gabriel o levara para dentro da casa e apontara para as escadas.

— Ele está no quarto, meu bem. Fique à vontade.

—Muito obrigado, e peço desculpas pela intromissão.

Subindo as escadas, Theodore fora diretamente para o quarto onde meses atrás passara o seu cio com o namorado. Deixara algumas batidas na porta já sentindo o cheiro do alfa o cercar, aumentando sua ansiedade em vê-lo.

Quando a porta do quarto fora aberta, Theodore engolira em seco ao ver Gabriel só de toalha enrolada na cintura. Com os cabelos molhados pingando em sua pele branquinha, o calor que conseguia sentir emanar de sua pele.

— Theo? O que faz aqui?

— Ahn... Conversar, é claro.

Gabriel abria um sorriso sutil ao notar o alvo do olhar atento do ômega. Theodore mal piscava, menos ainda o encarava diretamente nos olhos.

— Tá começando a babar.

Theodore não respondera, apenas passara a manga da blusa pelos lábios sem desviar o olhar. Conseguia sentir o cheiro do alfa mesclado ao do sabonete criando um perfume tão sedutor que causavam arrepios. Queria tocar sua pele só pra sentir o calor que ela emanava. Aquele abdômen...

— Meninos vocês vão querer...

Assim que a voz da mulher fora ouvida, Theodore empurrara Gabriel pra dentro do quarto e fechara a porta sentindo seu rosto queimar de vergonha. Comprimindo os lábios, o ômega prendia a respiração desejando cavar um buraco para se enfiar.

— ...Comer alguma coisa. Aconteceu algo?

Virando-se para a mãe de Gabriel, o ômega cobrira a boca com a manga do moletom negando com a cabeça.

— N-Não senhora. Só parecia que ele saiu do banho, então eu... Quer dizer, ele... Tá frio e tudo mais...

A mulher balançara a cabeça reprimindo o riso em ver aquele ômega tão desconcertado na sua frente. Aproximando da porta, a senhora deixara algumas batidas na porta.

— Gabriel, é melhor ser rápido antes que seu pai volte do mercado. — Virando-se para Theodore, ela sorria gentilmente. — Vou trazer um iogurte pra vocês tomarem, tudo bem? Garanta que o Gabriel esteja agasalhado por favor.

— Sim senhora.

A porta fora aberta, dessa vez Gabriel estava devidamente vestido apesar dos cabelos ainda estarem molhados e pingando. Dando espaço pro ômega entrar, ele fechara a porta em seguida.

— Sua mãe acabou de me ligar avisando que você vinha. Foi mal não te receber, acho que dormi demais hoje.

— É seu dia de folga, não é? Então precisa descansar mesmo. — Dizia Theodore, voltando a sentir o nervosismo de antes. — Eu só vim aqui pra pedir desculpas por ontem, não imaginava que você estaria tão cansado.

Gabriel se sentou na cama puxando a toalha para secar os próprios cabelos, mas sem tirar os olhos do ômega.

— Eu acabei descontando minha frustração em cima de ti, Theo. Também peço desculpas por isso.

Theodore se sentou ao lado do alfa segurando sua mão.

— Sei que a intenção não era ser grosseiro, até porque você tem sito um poço de paciência comigo ultimamente. Essa preocupação que eu tenho não vai desaparecer de uma hora pra outra, mas eu disse que teria essa criança então eu vou ter. Quero ser corajoso como você está sendo, Gabriel.

Retribuindo o aperto de mãos, Gabriel entrelaçara os dedos aos do ômega depositando um selar nela. Tendo aqueles olhos claros sobre os seus, parecia que um anjo havia o visitado naquela manhã dissipando a agonia que sentira a noite toda.

— Eu não sou tão corajoso quanto você imagina, Theo.

— Talvez seja mais do que pensa.

— Olha, eu não quero te pressionar e nem nada do tipo. Apenas tome a decisão que te deixe confortável.

— Eu sei. — Ria Theodore, passando a acariciar a mão do alfa. — Mas eu já tomei minha decisão e vou permanecer com ela até o fim. Mesmo tendo medo.

Os dois entreolhavam-se trocando sorrisos bobos. Com a mão livre Gabriel acariciava a bochecha do ômega.

— Quem é o corajoso agora?

Diminuindo a distância entre eles, Gabriel beijava Theodore serenamente. O cômodo logo era preenchido pelo cheiro natural daquele alfa, roubando suspiros do seu ômega. Sentir aquele aroma era relaxante para Theodore, assim como sentir os lábios sobre os seus em uma valsa suave e lenta.

A melhor coisa que acontecera em sua vida fora conhecer Gabriel e ter se apaixonado por ele. Viver momentos como aqueles traziam sensações prazerosas e fantásticas que jamais imaginaria sentir com alguém. Talvez pertencessem aos seus sonhos e fantasias, mas sem jamais chegar na realidade.

Bem, agora eram reais.

Tendo Gabriel o guiando para aprofundar o beijo deixando Theodore na sua mercê, os dois rapazes foram surpreendidos quando a porta do quarto repentinamente fora aberta pelo pai de Gabriel.