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Capítulo IV - Oásis Santuário

Pássaros cantando, crianças brincando e o reverberar dos grilos em todo lugar; esses foram os primeiros sons que escutei nesta manhã.

Com os ouvidos irritados por toda essa empolgação no raiar do dia, abri os meus olhos, para encarar mais uma vez o teto de madeira rústica da minha nova casa.

— …Já amanheceu — falei para eu mesmo, sentindo uma certa nostalgia com a visão.

Sentando-me na cama, lembrei dos eventos da noite anterior e de todos os acontecimentos dos últimos dias.

Da minha jornada no deserto até a minha conversa com as elfas. Uma sequência inacreditável de eventos extraordinários aconteceram comigo, mesmo que eu esteja acordando normalmente como se nada tivesse acontecido.

"Quem diria que eu conseguiria manter a minha mente calma nessas condições ."

Estava sinceramente admirado com a minha compostura, já que até recentemente havia tentado tirar a minha própria vida, consumido pelo ódio e pela dor, mas agora tudo isso parece tão distante.

"O que está acontecendo comigo ?"

Desde que havia chegado neste mundo terrível, o meu corpo está passando por uma séria mudança, mais do que isso, minha mentalidade também estava sendo afetada.

Era como se a minha dor estivesse sumindo gradativamente, até o ponto em que o meu luto não existisse mais.

"Na primeira vez que dormi aqui, acordei com o meu vigor revigorado; na segunda vez as minhas pernas tinham sido regeneradas; e agora sinto que estou pensando com mais clareza. Este seria o efeito da tal "habilidade divina" que elas haviam comentado ontem a noite ?"

De certa forma senti medo de todas essas mudanças, assim como o medo de deixar de ser quem eu sou; contudo, percebi que elas eram inevitáveis e necessárias para a minha sobrevivência.

Mais de uma vez sofri por minha falta de capacidades adaptativas, tanto nesse quanto no outro mundo, só que não parece que isso vá acontecer desta vez.

"Sempre sofri por ser fraco, mas talvez agora eu tenha conseguido uma chance de me tornar mais forte, e uma chance de recomeçar. Talvez esteja na hora mudar e recomeçar."

Um novo mundo, com novas oportunidades e caminhos, foi isso que eu percebi ao acordar hoje que não tinha percebido ontem, ganhei a chance de ter um novo vida.

Enquanto estava sentado na cama, escutei alguém bater na porta.

"TOC" "TOC" "TOC"

"Se bem me lembro, Ária falou que viria ao meu encontro pela manhã."

Na noite anterior, uma das elfas que haviam me resgatado, Ária, me falou para acordar cedo e que ela iria me escoltar a algum lugar.

"Deve ser ela."

Jogando o cobertor de lado e levantando-me da cama, andei até à porta e a abri, onde lá contemplei a encantadora elfa, com seu cabelo preto amarrado em um rabo de cavalo e com uma das mãos na sua espada, mantendo aquela expressão fria, rígida e arrogante do nosso primeiro encontro.

— Estou surpresa que tenha acordado cedo, pensei que humanos fossem animais preguiçosos — comprimentou ela, como uma face estranhamente sincera.

"Humanos não são animais."

— Obrigado — a respondi, com um falso sorriso no rosto.

Encarando de relance o cenário atrás dela, pude ver crianças de pele cinza ou branca e orelhas pontudas brincando com pequenos animais semelhantes a roedores, correndo no solo gramado da região, cercados por muitas árvores altas.

Também vi alguns pássaros pequenos e insetos voadores, indo de uma árvore a outra, buscando os seus ninhos e lares.

Estava claro que aquele cenário era muito diferente daquele deserto árido, o qual fiquei encarando por quase dois dias; sem poeira ou pedras pontiagudas, mas sim muita vida, beleza e agitação.

Apesar de ver pouco de como era todo aquele lugar, não pude deixar de me sentir curioso em saber como é o estilo de vida daquela comunidade, além de me sentir realmente vivo vendo aquela cena.

Animação, inquietude, empolgação, tudo isso estava queimando em meu coração, principalmente por causa das minhas últimas experiências de quase morte, que tive com uma certa frequência nesses dias.

— Você está encarando bastante o outro lado da porta, humano — disse Ária.

— Só fiquei admirado com a paz e a vivacidade daqui, apesar de estarmos no meio de um deserto — afirmei a ela.

— Fala daquelas crianças ? Elas são muito jovens para entender o mundo a sua volta, por isso elas ainda conseguem sorrir assim — ela exclamou, apontando para trás.

"...?"

Eram palavras confusas de se dizer, já que, mesmo estando no meio de um terrível deserto, eles estavam claramente felizes em seu território, com um abundante natureza e aparentemente muitos recursos naturais.

Obviamente, essa semente de dúvida somente foi possível ser plantada porque eu havia esquecido parcialmente dos acontecimentos da noite anterior.

— …O que você quer dizer com isso ? — perguntei.

Quando fiz essa pergunta, Ária me encarou nos olhos por alguns segundos, como se estivesse discernindo o que dizer; contudo, raiva e frustração estavam evidentes em seu olhar, mas estava aparente que esses sentimentos não estavam direcionados diretamente para mim e sim para outro lugar.

Percebendo isso, fiz um novo questionamento.

— Por acaso…perguntei algo que não devia ?.

— Você vai entender tudo quando chegar naquele lugar — ela respondeu, apontando para além das árvores, o topo das muralhas.

As muralhas, a divisa que isola este espaço verde do deserto escaldante no qual eu me encontrava. Provavelmente a construção mais importante deste lugar.

Um certo grau de inquietação tomou conta de mim, pois eu sabia instintivamente que o começo da minha vida neste mundo começaria lá.

— Antes de irmos, vista isto — exclamou Ária, me entregando uma capa com capuz.

— Por que eu tenho que vestir isso ? — a questionei.

— Humanos são proibidos de viver aqui; se quiser continuar vivo não deixe ninguém ver as suas orelhas — deu ela o seu aviso, me entregando o capuz e se afastando da porta.

" 'Humanos são proibidos de viver aqui'…Será que…?"

— Vamos, humano — exclamou Ária, interrompendo o meu raciocínio.

Vestindo rapidamente a peça, cobri rapidamente minha cabeça e a segui, finalmente entendendo o que aconteceu naquele lugar.

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A 50 metros do chão estou vendo árvores altas, crianças brincando e jovens adultos trabalhando; tudo isso, banhado pela luz do alvorecer.

— É uma bela vista, não é ? — perguntou a Sacerdotisa, encarando do topo da muralha todo o acampamento.

— …Sim, é uma bela visão — a respondi, olhando na mesma direção que ela.

Depois de cruzar o acampamento com Ária, fomos direto para o topo da muralha, que estava sendo ocupado somente pela Sacerdotisa, sem soldados ou qualquer vigia em cima dela.

Aqui deveria ser o local onde continuaremos a nossa conversa de ontem, porém desde que pisei aqui a única coisa que fizemos foi admirar a paisagem.

— Você está entediado por acompanhar esta velha senhora em sua caminhada matinal? — ela perguntou.

— Não, eu gosto de lugares altos — a respondi, falando com seriedade.

"Um dos motivos por eu ter escolhido pular do prédio mais alto da escola foi porque tinha uma bela vista."

— Hohoho…Que jovem gentil !.

Não estava agindo assim meramente por gentileza, estava simplesmente sendo sincero.

Do topo da muralha, era possível ver toda a área interna da fortaleza, com as suas várias árvores altas e tendas de pano entre elas, das quais saiam crianças e adultos, para fazer seus afazeres diários.

Também era possível ver claramente como são os moradores daqui, todos elfos, sendo que alguns deles tinham pele cinza e cabelos brancos e outros com pele clara e cabelos negros.

Todavia, o mais impressionante foi a arquitetura da fortaleza, que tinha um formato circular, com uma área arborizada de aproximadamente 1 hectare e uma enorme lagoa perfeitamente circular no centro, ocupando aproximando um quinto de toda a propriedade, e possuindo várias barracas de tecido postas entre as árvores, que serviam de casas para os nativos.

As únicas construções de pedra do local são um pequeno templo de designer grago-romano e 12 casas de formato cúbico, sendo uma delas a qual estou hospedado, todas postas ao redor da lagoa.

Todo o acampamento em si parecia ser muito mais rústico do que eu imaginava, principalmente porque quase havia designer da arquitetura vista nas ruínas que eu havia explorado.

— Garoto, no seu caminho até aqui, você viu sinais de civilização ? — perguntou a Sacerdotisa, com uma cara claramente abatida e cansada.

— Sim, alguns.

— …Entendo, então ainda existem construções de pé. E sinais de vida, você encontrou algum?.

— …Não, mas haviam muitas estátuas, principalmente de elfos.

De certa forma, havia um número assustador de estátuas estranhas de elfos, todas elas incrivelmente macabras e realistas.

— … Estátuas de elfos — olhando tristemente na linha do horizonte, ela continuou — aquilo que você viu não são estátuas, são elfos, e eles ainda estão vivos.

Palavras absurdas foram ditas com uma enorme facilidade, porém eu não fiquei surpreso com elas.

— Entendo. Já havia imaginado essa possibilidade — eu respondi, com um rosto apático.

As estátuas eram muito realistas e bem estruturadas. Dava para perceber visualmente que eram analogias a pessoas fugindo de algo, quase como se fossem pessoas reais com medo da morte.

— Hohoho…É a primeira vez que eu encontro um Caído tão calmo assim !!! — exclamou a Anciã, claramente eufórica com a minha resposta.

"Verdade seja dita, até eu mesmo estou surpreso. Será que isso é culpa da TV e das minhas Novels ?"

— Se for você, então talvez isso seja possível. Me siga !.

Um pequeno sorriso se formou no rosto da Sacerdotisa, como se uma pequena chama de esperança tivesse surgido no seu olhar cansado, o que trouxe de volta para o seu rosto o seu velho sorriso de raposa.

Seguindo a Sacerdotisa pelo topo da muralha, paramos de frente para o sol nascente, exatamente da mesma direção da qual eu vim.

À nossa frente estava o enorme deserto sem vida que levei dois dias para cruzar, só que desta vez haviam milhares de pequenos répteis bípedes na na minha vista, deitados no chão como cães de guarda.

— Este lugar um dia foi um pequeno santuário, habitado somente por 12 monjas, mas ,infelizmente, 200 anos atrás uma terrível guerra estourou, tirando milhares de vidas inocentes — Enquanto a Sacerdotisa contava a sua história, os répteis raptores começaram a olhar na minha direção.

— Nós, eu e as minhas irmãs, abrimos os portões de nossa casa para recebermos órfãs, crianças, mulheres grávidas e idosos; contudo, teria sido bem melhor se todos tivéssemos morrido — continuou a Anciã, com o rosto em lágrimas e uma cara extremamente triste.

— O que aconteceu? — Eu perguntei, me lembrando do a Ária havia me dito mais cedo.

— O nosso inimigo jogou sujo e lançou uma maldição sobre o nosso lar.

— Você fala sobre o deserto?.

— Observe.

Tirando uma fruta da manga de sua roupa, a Anciã a joga da muralha, fazendo ela cair no chão do deserto; milésimos de segundo depois a fruta se transforma em uma rocha.

— Inacreditável ! — exclamei, abismado com a minha visão.

A fruta havia virado pedra e lentamente estava se transformado em poeira sendo levada pelo vento.

— Hohoho… É a primeira vez que vejo você agir surpreso — ela riu, mas sem um pingo de alegria no seu rosto.

— O que aconteceu? — a questionei.

O motivo da minha reação exagerada nada mais foi porque eu havia andado naquele solo por dias, mas nada de incomum a esse nível havia me afetado.

— Nós, elfos da noite, possuímos naturalmente grande capacidades físicas e intelectuais. Aquele povo mal e cruel, vendo que não podiam nos vencer em uma guerra, usaram de magia negra para lançar uma maldição em toda a nossa nação. Todo ser vivo que pisar nesse solo instantaneamente se torna pedra e eventualmente poeira.

De certa forma eu já imaginava que magia existe neste mundo desde a nossa conversa na noite passada, mas não há um nível grande o suficiente para afetar toda uma nação.

"Espera, tem buracos nessa história."

— Por que este lugar não foi afetado, e nem eu ou aos répteis ali em baixo?

— Hohoho… Essa é uma boa pergunta. Em primeiro lugar, essa maldição drena a vitalidade dos seres vivos e vocês, Caídos, além de possuírem um vitalidade esplendorosa também possuem "poderes divinos", por isso você não foi afetado.

— Você está falando sobre as minhas habilidades de regeneração ?.

Apesar de já ter ouvido sobre isso, não cheguei a presenciar em primeira mão essas supostas habilidades, então ainda estou um pouco pé atrás sobre elas.

— Hohoho…Sim, quando as crianças que vigiavam o deserto viram você, elas ficaram muito eufóricas, já que para elas era como ver um milagre — fazendo uma pausa em suas falas, ela continuou — mas infelizmente você é humano.

"Então, supostamente, minhas habilidades regenerativas me protegem da maldição, mas isso não explica tudo."

— E esses dinossauros ? — a questionei.

— Dinossauros…? Fala dos Ghouls ali em baixo ?.

"Ghouls ? Esse não é outro nome para zumbi ?"

— Isso — confirmei, assentindo com a cabeça.

— Essas coisinhas feias são homúnculos criados por magia negra, mas não se engane por suas aparências, eles não são seres vivos, são meros bonecos de carne que armazenam e se alimentam da vitalidade dos seres vivos; carneiros que caçam os mais fracos usando uma esmagadora vantagem numérica. Mesmo agora eles estão mirando fixamente em você, por causa da sua aparência frágil e grande energia vital.

"Isso explica muita coisa, mas não tudo."

Quando despertei pela primeira vez neste acampamento, tinha 3 perguntas que não saiam da minha mente, mas uma delas ainda não havia sido respondida.

— Como vocês sobreviveram por tanto tempo — perguntei, a encarando com grande seriedade.

Essa pergunta pode parecer simples e que estou perguntando sobre como eles evitaram a maldição, porém ela implica em muitas outras coisas.

A sobrevivência de uma espécie é determinada por muitos fatores; abrigo, água, segurança, prole e "proteína".

Do topo da muralha era possível ver todo o acampamento e seus moradores, jovens adultos e crianças, mas até agora não vi nenhum idosos além da Anciã.

— Você falou que originalmente aqui era habitado por monjas, onde elas estão ?.