O sol mal havia despontado no horizonte quando Maya caminhou lentamente pelo pátio do Santuário, sentindo o frio da manhã penetrar em seus ossos. As batalhas recentes haviam cobrado seu preço; seu corpo estava exausto, e uma dor aguda latejava em seu ombro esquerdo, resultado do confronto com Nérion em Kyoto. Mesmo assim, sua determinação permanecia inabalável.
Ao entrar no salão principal, encontrou o Grande Mestre e Athena aguardando. O semblante sério de ambos indicava que algo urgente estava acontecendo.
"Maya, você deveria estar descansando", disse o Grande Mestre, com preocupação evidente nos olhos. "Sua recuperação é essencial."
Ela ergueu o queixo, tentando disfarçar o cansaço. "Estou bem, Grande Mestre. Não posso ficar parada enquanto o Caos ameaça o mundo."
Athena aproximou-se, colocando uma mão gentil no ombro dela. "Sua coragem é admirável, mas precisamos que esteja em plena forma. Há notícias que exigem ação imediata."
Neste momento, Fernando e Léo adentraram o salão, seguidos por Kaily de Áries. Léo carregava um tablet com informações que pareciam urgentes.
"Recebemos dados de uma anomalia energética nas Montanhas Rochosas", informou Léo. "Os padrões são semelhantes aos que encontramos em Istambul e Kyoto, mas desta vez a escala é muito maior."
Fernando cruzou os braços, impaciente. "Precisamos agir rápido. Cada minuto conta."
O Grande Mestre voltou-se para Maya. "Entende por que é importante que descanse? Não podemos arriscar."
Maya sentiu um nó na garganta. "Com todo o respeito, não posso ficar de fora. Minha experiência pode ser crucial. Além disso, sinto que há algo nessa missão que me chama."
Athena olhou profundamente nos olhos dela, como se buscasse algo além das palavras. Após um momento, ela assentiu. "Muito bem, mas prometa que será cautelosa."
"Eu prometo."
Kaily interveio. "Acompanharei vocês até certo ponto. Minha presença pode ser necessária."
O Grande Mestre concordou. "Então está decidido. Partam imediatamente, mas lembrem-se: a segurança de vocês é primordial."
A jornada até as Montanhas Rochosas foi longa e silenciosa. Durante o trajeto, Maya observava a paisagem passando pela janela, enquanto memórias das batalhas anteriores invadiam sua mente. Sentia-se culpada por não ter sido forte o suficiente para derrotar Nérion definitivamente.
Léo, percebendo a inquietação da amiga, sentou-se ao seu lado. "Está tudo bem?"
Ela suspirou. "Só estou pensando em tudo o que aconteceu. Sinto que estamos sempre um passo atrás."
Fernando aproximou-se, colocando uma mão no ombro de Maya. "Você é a pessoa mais determinada que conheço. Se alguém pode fazer a diferença, esse alguém é você."
Maya sorriu, sentindo-se um pouco mais aliviada. "Obrigada, pessoal."
Ao chegarem à base das montanhas, foram recebidos por um vento cortante e uma névoa espessa que limitava a visibilidade. Kaily ajustou sua Armadura, que brilhou suavemente em resposta ao cosmo dela.
"Algo está errado", disse ela, olhando em volta. "A energia aqui é instável."
Léo consultou seu dispositivo. "As leituras estão fora de escala. Nunca vi nada assim."
Fernando olhou para o topo da montanha, onde uma estranha luz pulsava entre as nuvens. "Acho que encontramos o nosso destino."
Kaily virou-se para eles. "Seguirei com vocês até onde for possível. Estejam preparados para qualquer coisa."
Enquanto subiam a trilha sinuosa, o ambiente tornava-se cada vez mais hostil. Rochas soltas, árvores retorcidas e o silêncio absoluto criavam uma atmosfera opressiva.
"Fiquem atentos", alertou Léo. "Este lugar pode estar repleto de armadilhas."
De repente, Maya parou, colocando a mão sobre o peito. "Sentem isso?"
Fernando franziu a testa. "O quê?"
"É como se algo... estivesse nos observando."
Antes que pudessem reagir, um som grave ecoou pelas montanhas, seguido por um tremor que os fez perder o equilíbrio. Do cume, uma avalanche de pedras começou a deslizar em direção a eles.
"Corram!" gritou Fernando.
Os três se lançaram para os lados, buscando abrigo atrás de rochas maiores. A chuva de pedras continuou por longos minutos, até que o silêncio retornou.
"Todos bem?" perguntou Léo, levantando-se e sacudindo a poeira.
"Sim", respondeu Maya, embora sentisse uma dor aguda no tornozelo.
Fernando aproximou-se dela. "Você está machucada."
"É apenas uma torção. Posso continuar."
Léo olhou preocupado. "Tem certeza? Não queremos arriscar."
Maya assentiu firmemente. "Não podemos parar agora."
Prosseguiram com cautela. Conforme avançavam, a névoa tornava-se mais densa, dificultando a visão. Léo ativou um scanner em seu dispositivo.
"Há algo grande se aproximando... mas não consigo identificar."
Antes que pudesse terminar, uma sombra colossal surgiu entre as árvores. Uma criatura gigantesca, composta de rocha e energia negra, ergueu-se diante deles. Seus olhos brilhavam em um vermelho intenso, e sua presença emanava pura maldade.
"O que é isso?" exclamou Fernando, preparando-se para a batalha.
Léo ajustou seus óculos, tentando analisar a criatura. "Acredito que seja um Titã das Profundezas. Criaturas invocadas pelo Caos para proteger locais sagrados."
"Então Nérion está aqui", concluiu Maya.
A criatura avançou com um rugido ensurdecedor, balançando um braço massivo em direção a eles. Os Cavaleiros saltaram para os lados, evitando o impacto que pulverizou o solo onde estavam.
"Precisamos ser estratégicos", gritou Léo. "Ataques diretos não vão funcionar."
Fernando correu em direção à criatura, usando sua velocidade para confundi-la. Aplicou uma sequência de chutes e socos nas juntas de pedra, mas parecia inútil.
"Não está funcionando!" alertou ele.
Maya tentou usar suas correntes para restringir os movimentos do Titã, mas a força da criatura era esmagadora. Com um puxão, ela foi arremessada contra uma árvore, gemendo de dor.
Léo concentrou-se, buscando uma solução. "Se é feito de rocha e energia negativa, talvez possamos neutralizá-lo com uma combinação de forças opostas."
"Precisamos atingir o núcleo dele", disse Maya, levantando-se com dificuldade. "Se conseguirmos expô-lo, podemos destruí-lo."
Fernando assentiu. "Deixe isso comigo."
Usando a Astúcia da Raposa, ele moveu-se de forma imprevisível, distraindo o Titã. Enquanto isso, Léo manipulou o terreno. "Golpe do Cinzel do Escultor!" Com golpes precisos, criou fissuras na carapaça da criatura.
Maya, aproveitando a abertura, lançou a Corrente de Andrômeda, que envolveu o braço do Titã. Com esforço, puxou, fazendo com que a criatura perdesse o equilíbrio.
"Agora, todos juntos!" gritou ela.
Fernando concentrou suas chamas. "Chamas Azuis da Raposa!" Uma raposa flamejante investiu contra o Titã, atingindo o ponto enfraquecido.
Léo elevou seu cosmo. "Escudo de Granito do Escultor!" Transformou o escudo em um aríete, golpeando o núcleo exposto.
Com o impacto combinado, o Titã desintegrou-se, espalhando poeira pelo ar.
"Conseguimos", disse Maya, ofegante.
Após um breve descanso, chegaram ao topo da montanha. Lá, encontraram Nérion diante de um altar antigo, cercado por símbolos ancestrais que brilhavam em vermelho. A energia ao redor era sufocante.
"Finalmente chegaram", disse Nérion, sem se virar.
"Acabaremos com seus planos aqui e agora", declarou Maya.
Ele virou-se, um sorriso maléfico nos lábios. "Vocês são persistentes, mas não têm chance contra o poder que adquiri."
Sem aviso, Nérion ergueu as mãos, e uma onda de energia negra os envolveu. O mundo ao redor deles desvanecia-se, sendo substituído por um vazio infinito.
Maya encontrou-se sozinha em uma floresta escura. As árvores eram altas e retorcidas, e sussurros indecifráveis ecoavam ao seu redor. De repente, viu uma figura familiar: sua irmã mais nova, Ayame, estendendo a mão para ela.
"Maya, por que me abandonou?" perguntou Ayame, lágrimas escorrendo pelo rosto.
"Não... isso não é real. Você está segura no Japão", tentou convencer-se.
"Você me deixou sozinha. Todos se foram, e é sua culpa."
Maya sentiu o peso da culpa esmagá-la. Lembranças de momentos em que priorizou o treinamento em vez da família inundaram sua mente.
Enquanto isso, Fernando estava em um cenário completamente diferente. Encontrava-se em um campo de batalha, rodeado por aliados caídos. Sua antiga equipe de treinamento estava aos seus pés, feridos.
"Fernando, você nos deixou para trás", acusou um deles.
"Não! Eu tentei salvá-los!" gritou, sentindo-se impotente.
"Você só pensa em si mesmo. Sua arrogância nos custou a vida."
Fernando sentiu-se pequeno, dominado pelo remorso e pela dúvida sobre suas próprias capacidades.
Léo, por sua vez, estava em um laboratório em chamas. Equipamentos destruídos, dados perdidos. Seu mentor estava diante dele, desapontado.
"Você falhou, Léo. Todo o conhecimento se perdeu por sua causa."
"Eu fiz tudo o que pude", respondeu ele, desesperado.
"Seu intelecto não foi suficiente. Você nunca será capaz de proteger aqueles que ama."
Cada um deles estava preso em seu próprio pesadelo, enfrentando os medos mais profundos. As palavras cortavam mais do que qualquer lâmina, minando suas forças.
De volta à realidade distorcida, Nérion observava com satisfação. "Vejam como são frágeis. Seus medos os consomem."
Mas algo começou a mudar. No fundo de suas consciências, os Cavaleiros ouviram uma voz suave, mas firme. Era Athena, conectando-se a eles através do cosmo.
"Meus queridos Cavaleiros, lembrem-se de quem vocês são. Suas forças vêm do coração, da união e da coragem para enfrentar qualquer adversidade."
Maya levantou o olhar. "Athena..."
Ela fechou os olhos, respirando profundamente. "Isso não é real. Eu sei quem sou e o que preciso fazer."
As sombras ao seu redor começaram a dissipar-se. Ela ergueu-se, o cosmo brilhando intensamente.
Fernando, ouvindo a mesma voz, encontrou força. "Não sou definido pelos erros do passado, mas pelas ações do presente."
Léo recuperou a confiança. "Meu valor não está apenas no conhecimento, mas na vontade de proteger."
Os três romperam as ilusões simultaneamente, suas energias irradiando poder.
Nérion recuou, surpreso. "Como...?"
Maya olhou diretamente para ele. "Você não pode nos deter com ilusões. Nossa determinação é maior que qualquer medo."
Fernando sorriu. "Agora é a nossa vez."