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20 - A lua III

Quando Charlotte atravessa o salão de pedra, seus passos ecoam com autoridade, enquanto ela passa por seus súditos leais. Eles se curvam em reverência, mas seus olhos estão cheios de preocupação pelo bem-estar da pessoa que ela carrega. Ao chegar ao quarto, Charlotte abre a porta pesada com um empurrão suave, revelando o interior brilhante onde Astracar ficará de repouso, em uma cama de carvalho maciço.

Com movimentos cuidadosos, ela se aproxima da cama e o coloca deitado, suas mãos brilham com uma luz suave e etérea. Ela sussurra palavras de um encantamento antigo, e uma aura azulada envolve suas mãos, se estendendo até o corpo ferido de seu irmão. No entanto, a magia de Charlotte é como uma brisa suave contra uma tempestade furiosa; ela não é suficiente para curar feridas tão profundas.

Respirando fundo, Charlotte se vira e caminha até a porta. Com uma voz que carrega a mistura de autoridade e súplica, ela diz aos dois cavaleiros de armadura que montam guarda: "Chamem Declina imediatamente."

Os cavaleiros, reconhecendo a urgência na voz de sua líder, batem os punhos contra o peito em saudação e partem sem hesitar. O corredor ressoa com o som de suas botas enquanto eles correm para cumprir a ordem.

Após um tempo que parece uma eternidade, ouve-se uma batida respeitosa na porta. "Mestra, Declina, a Guardiã do Equilíbrio, solicita permissão para entrar,"

"Entre," responde Charlotte, sua voz agora um sussurro de esperança.

A porta se abre e Declina entra, sua presença é como a calmaria após uma tempestade. Ela se ajoelha, e abaixa a cabeça em respeito, e suas vestes cinzentas fluem ao redor dela como a névoa da manhã. Os símbolos lunares bordados em seu manto capturam a luz fraca do quarto, e seu elmo, embora simples, carrega a gravidade de sua posição com a meia-lua proeminente na testa.

Seus olhos cinzentos encontram os de Charlotte, e há uma promessa silenciosa de ajuda neles. "Saúdo a lua Celestial," diz Declina, sua voz tão serena quanto sua aparência.

"Erga-se, Declina, minha amiga. Pode ajudar meu irmão?" A voz de Charlotte é um manto de tranquilidade, mas seus olhos traem sua preocupação.

"Char, deixe-me ver o estado dele," responde Declina, levantando-se. Ela se aproxima de Astracar, e suas mãos se erguem, começando a dançar com movimentos precisos. Uma luz dourada começa a emanar dela, envolvendo Astracar em um calor curativo, enquanto ela invoca suas habilidades sagradas para restaurar o equilíbrio perdido.

Declina, após um exame minucioso, percebe que o estado de Astracar não é resultado de uma maldição, mas sim de uma consequência inesperada. Ele havia tentado assumir uma forma poderosa para a qual ainda não estava preparado, e isso resultou em uma regressão de seus poderes.

Ela olha para Charlotte e diz, " é uma reação adversa. Ele forçou seus limites além do que seu corpo e espírito podiam suportar. Isso fez com que seu poder recuasse, como se estivesse tentando protegê-lo de mais danos."

Charlotte absorve as palavras de Declina, seu rosto refletindo a complexidade da situação. "Então, como podemos ajudá-lo a recuperar? Há algo que possamos fazer para reverter isso?"

A luz do crepúsculo que entrava pela janela banhava o quarto, onde Charlotte permanecia ao lado da cama de Astracar, envolta em preocupação e esperança. Declina, com sua sabedoria antiga, havia oferecido palavras de conforto, mas a incerteza ainda pairava no ar. "O tempo é um curandeiro sábio, mas suas artes não são apressadas," disse Declina, "Pode levar uma semana, talvez um ano. O despertar virá com o alvorecer de uma nova compreensão, não antes."

Charlotte olhou para seu irmão, cuja respiração era a única prova de que a vida ainda habitava seu corpo imóvel. A pele de Astracar, pálida sob o brilho dourado do sol poente, parecia quase etérea. Ela se aproximou, seus dedos tocando levemente a mão dele, sentindo a frieza de sua pele. "Eu serei a guardiã do nosso lar, do seu refúgio," ela murmurou. "Vou proteger cada pedra, cada memória, cada esperança que você depositou neste lugar."

Com um suspiro, ela se afastou, sua silhueta recortada contra a luz que agora inundava o quarto. Ela se virou para a porta, mas antes de sair, lançou um último olhar para Astracar. "Descanse agora, e deixe que seus sonhos sejam doces e sem fim. Eu estarei aqui, esperando, lutando, mantendo a chama acesa."

Charlotte então saiu do quarto, fechando a porta com delicadeza atrás de si. O quarto ficou em silêncio, exceto pelo som suave e constante da respiração de Astracar, como uma promessa sussurrada de que, apesar de tudo, a vida continua. E quando ele acordar, encontrará tudo como deixou, talvez até melhor. "Até logo, irmão," ela diz com um sorriso triste, mas esperançoso, antes de se retirar para proteger o lugar que ele chama de casa e sua nova casa.