webnovel

09 - Coronel I

João Bezerra, o Coronel do sertão, observava a cidade de Juazeiro do alto de seu quartel. As bandeiras vermelhas e brancas tremulavam nos mastros, anunciando sua chegada triunfal. Ele se sentia o senhor absoluto daquelas terras áridas, onde o sol castigava impiedosamente.

Com o apoio da igreja, dos políticos e do povo, João Bezerra caçava os marcados, aqueles amaldiçoados com poderes sobrenaturais. Seu exército, formado por milhares de soldados bem armados, estava pronto para enfrentar qualquer desafio.

Mas havia um obstáculo que o atormentava: Lampião, o líder dos cangaceiros. Lampião era o único que ousava enfrentá-lo, escapando de suas armadilhas e causando derrotas e humilhações. O marcado mais poderoso e perigoso, capaz de romper o mundo, expulso da igreja e declarado herege e traidor.

João Bezerra pegou um binóculo e observou as pessoas na cidade. Ele via fraqueza e desespero em seus olhos, buscando autoridade. Acreditava que os seres precisavam de um soberano, um tirano para governá-los. E ele estava disposto a ser esse líder, com a igreja, os políticos e a mídia ao seu lado.

Enquanto refletia sobre seu próximo alvo, alguém bateu à porta.

-Toc, Toc - disse o Capitão Francisco, com voz respeitosa. - Tenho notícias para o senhor, Coronel.

O Coronel João Bezerra ouviu atentamente as notícias trazidas pelo Capitão Francisco. O esconderijo dos cangaceiros estava em movimento novamente, e havia rumores sobre um novo membro no bando. Lampião, o líder destemido, continuava a desafiar o poder do Coronel.

Com uma expressão séria, João Bezerra ordenou que os outros capitães se reunissem para discutir a estratégia. A situação era delicada, e ele precisava agir com cautela. Os marcados eram imprevisíveis, e Lampião era o maior desafio que já enfrentara.

Após o Capitão Francisco sair, João Bezerra pegou o telefone e discou um número familiar. A voz do outro lado da linha o cumprimentou com respeito e obediência. Era hora de tomar decisões difíceis, de traçar planos e enfrentar o inimigo que ameaçava sua autoridade no sertão.

- Coronel, aqui é o Padre Antônio, seu informante na igreja. Tenho uma notícia urgente e perturbadora.

- Fale, Padre. O que o aflige?

- Como mencionei anteriormente, estou com as crianças do orfanato onde o Sol cresceu. Elas confiam em mim, e essa confiança pode ser usada para dobrar a vontade dele. O Papa, com seus olhos cansados e fé abalada, já não questiona minhas intenções; ele está sob meu controle. Assim, ninguém pode nos impedir de agir.

- Padre Antônio, como ousa? Sugerir usar crianças inocentes como peões em nosso jogo de xadrez é abominável. Onde estaria minha honra e orgulho como coronel se eu aceitasse tal plano? - o coronel respondeu, sua voz tremendo com um misto de raiva e desgosto.

- Peço perdão, Coronel. A pressão deste conflito está afetando meu julgamento. Mas precisamos de algo para prender o Sol, algo que ele não possa ignorar. - o padre falou, sua voz carregada de preocupação e um leve tremor.

- Não. Eu mesmo matarei Lampião e capturarei o Sol. Não preciso de artimanhas baixas. Então, não me atrapalhe com suas ideias insensatas, Padre. - o coronel declarou, sua convicção ecoando como um trovão ao fundo.

- Entendo, Coronel. Então, com sua permissão, enviarei os Cruzados Partidos para auxiliar em nossa causa.

- Hum…

Nesse momento, o coronel escuta um som insistente na porta.

- Toc, toc. Coronel, todos estão reunidos para a reunião. - o capitão anunciou, sua voz firme e formal.

- Padre, tenho que ir agora. A reunião me espera.

- Que Sentirama lhe guie ao desespero.

O padre desliga o telefone após dizer isso, e o coronel faz uma careta de desgosto ao ouvir a frase. Ele então se levanta, ajusta seu uniforme meticulosamente e se olha no espelho, garantindo que cada detalhe esteja perfeito para apresentar a imagem de um líder inabalável.